A valorização profissional dos engenheiros no Brasil

Comentário ao post “A falta de engenheiros no Estado brasileiro

Minha vida profissional coincide com o artigo de Bresser Pereira. Pelo menos ele faz uma autocrítica sincera e realista e aproveito para fazer uma confissão.   Estudei engenharia civil e, se tivesse ficado no Brasil, teria me arrependido com certeza de ter escolhido esta profissão. Foi exatamente neste tempo relatado no artigo do ex-ministro, quando os engenheiros no Brasil se tornaram profissionais de segunda categoria, desprezados pelo Estado e pela iniciativa privada.

Sai do Brasil para a Alemanha como recém-formado, sem sequer falar a língua, graças a uma proposta de estágio por tempo limitado, ocorrida por coincidência.  Ao término do prazo recebi a proposta para ficar e fiquei, até porque neste tempo nem saberia o que faria, voltando para o Brasil. Embora seja a Alemanha um país essencialmente técnico e uma grande escola mundial de engenharia, fui com grande esforço superando as dificuldades. Além da língua e cultura, constatei que tinha uma boa teoria de fundo acadêmico, mas um péssimo preparo para a profissão na prática, coisa que, diga-se de passagem, ainda não mudou muito.

Fui, com esforço e com apoio de meus colegas alemães, desenvolvendo rapidamente minhas aptidões e me adaptando à nova realidade. Hoje, muitos anos depois, considero que, profissionalmente, foi uma decisão muito acertada a que tomei.

Havia me especializado nos estudos, ainda na universidade e depois profissionalmente, em infraestrutura, com foco em vias,  rodovias e saneamento.  Assim consegui me estabelecer e trabalhei em projetos que jamais teria chances ou incentivo no Brasil, porque também para um engenheiro  existem objetivos e aspirações de trabalhar em determinados projetos, como um advogado sonha com determinadas causas ou um jornalista com determinadas matérias. 

Assim, após fincar os pés profissionalmente, me vi sendo requisitado para trabalhos com os quais jamais teria de outra forma oportunidade, como projetos das famosas autopistas alemães (autobahn), as perfeitas estradas federais e vias em geral. Também me estimulava os projetos de vias para complexos residenciais e comércio-industriais. Trabalhei em projetos de infraestrutura nas matrizes de montadoras como BMW e Audi, fui enviado pelo lado ocidental, para trabalhar no lado oriental, quando a poeira da queda do muro ainda pairava no ar, fui chamado para auxiliar em projetos de infraestrutura no Iemen, nos Emirados Árabes, no Sudão.

Fui incentivado e recompensado em um país que não é o meu, não investiu na minha formação, nem na minha educação, mas onde a minha profissão é valorizada, estimada e onde o povo sabe o quanto é importante para o futuro de um país a formação de engenheiro, que decididamente foram entre os que mais contribuíram para tornar o país uma potência econômica do mundo. Sem engenheiros não existe técnica, não existe know how e o desenvolvimento fica capenga, atrasado, deficiente e deficitário.

Hoje vejo, em minhas frequentes visitas ao Brasil, o potencial que o país adquiriu nos últimos anos. O caminho que o país parece ter finalmente encontrado para o futuro nunca foi tão palpável como agora, mas a displicência com uma das coisas mais importantes em uma nação que quer construir este futuro, a engenharia, prova que também neste aspecto os antigos governantes erraram de forma grosseira.  É bom ler autocríticas como a do ex-ministro.

Há muita gente capaz no Brasil, só falta vontade política para estimular a educação e a formação. Incentivar na direção certa e jamais relegar a segundo plano a imensa capacidade que o país o possui. Engenheiros formam um fundamental capital humano em qualquer sociedade que quer não apenas avançar e crescer economicamente, mas distribuir riqueza e justiça social.  

Luis Nassif

1 Comentário

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  1. excelente matéria e visão de

    excelente matéria e visão de um engenheiro, que como eu, gostaria que este país progredisse como ele poderia progredir, caso não fossem esses nossos políticos que, por egoísmo, querem que o desenvolvimento pleno não venha pois dai, consequentemente o aumento do nível cultural e escolar da população, causaria suas perdas nas urnas e por fim o seu poder.

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