Crise na coalizão de direita na Itália leva à renúncia de primeiro-ministro

Matteo Salvini, líder da extrema-direita, mostra "grave desprezo pelo Parlamento" e coloca Itália em risco de " instabilidade política e financeira", acusa Giuseppe Conte

Jornal GGN – A crise na coalizão de governo, formada pelos partidos Liga (extrema-direita) e Movimento 5 Estrelas  (M5S) levou o primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conde, a entregar sua carta de demissão ao presidente do país, Sergio Mattarella, nesta terça-feira (20).

Horas antes de anunciar sua demissão, Conde fez um duro discurso acusando o vice-primeiro-ministro e ministro do Interior, Matteo Salvini, líder da Liga, de por fim ao governo populista e colocar em risco a “instabilidade política e financeira do país”.

A coalizão venceu as eleições em março do ano passado com o M5S obtendo a maior proporção de votos (33%) em comparação à Liga de SalvIni (17%). Giuseppe Conte foi convidado para assumir a posição de primeiro ministro por seu histórico de equilíbrio como professor universitário e jurista.

Há cerca de dois meses entretanto, ele e o próprio M5S passaram a sofrer ataques da Liga. Naquele momento, o partido de Salvini vencia as eleições para o Parlamento Europeu, sentindo-se fortalecido o suficiente para conseguir uma vitória em caso de convocação de eleição antecipada para o Parlamento italiano. Contribui também para a decisão da Liga de atacar a parceria, pesquisas de opinião recentes no país mostrando que o partido de Salvini tem 36% das intenções de voto.

A tensão entre os dois partidos que compõem o governo ficou mais exposta quando a Liga se colocou a favor de um projeto de trem de alta velocidade para ligar Turim à França, financiado pela União Europeia (UE). O M5S havia apresentado uma moção contra a proposta e foi vencido no Senado.

Há duas semanas, a Liga finalmente apresentou uma moção de desconfiança contra a própria coalizão da qual faz parte.

Durante seu discurso contra Salvini, Conte o chamou de “irresponsável.” “Estou dando fim aqui a essa experiência de governo”, disse acusando o líder da Liga de trabalhar para ganhar “plenos poderes” e conquistar o posto de primeiro-ministro.

“Não precisamos de homens com ‘plenos poderes’, mas de pessoas com cultura institucional e senso de responsabilidade”, pontuou Conte. O primeiro-ministro disse ainda que Salvini mostra “grave desprezo pelo Parlamento” e coloca a Itália em risco de uma “vertiginosa espiral de instabilidade política e financeira” nos próximos meses, por criar uma crise desnecessária no governo.

Ao lado de Conte durante todo o discurso, Salvini reagiu com sorrisos e revirando os olhos. Depois o líder da extrema-direita começou um debate no Senado dizendo que “faria tudo novamente” e ainda não ter medo do cenário com a dissolução do governo.

“Não quero que a Itália seja escrava de ninguém, e não quero que a Itália ande com uma coleira como um cachorrinho. Não quero correntes”, acrescentou.

Com a demissão do primeiro-ministro, o presidente Mattarella irá consultar os parlamentares sobre a possibilidade de uma nova coalizão. As consultas devem começar já nesta quarta-feira (21).

Segundo informações do jornal O Globo, desde a semana passada, o Partido Democrático, social-democrata, herdeiro do antigo Partido Comunista Italiano, está em negociações com o M5S para articular uma aliança governista alternativa.

Se não for possível formar uma nova coalizão, o presidente será obrigado a convocar novas eleições, que devem ocorrer entre 50 e 75 dias após a dissolução do parlamento.

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Redação

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