Estados nacionais versus interesses transnacionais, o embate

Por Waldyr Kopezky
 

Gente, o grande embate mundial que ocorre hoje é o de Estados nacionais versus interesses transnacionais. O resultado desse embate geo-político-econômico-racial é muitíssimo mais importante e decisivo para as próximas gerações do que a paz no Oriente Médio, a queda deste ou daquele governo ditatorial (seja árabe, africano, centro-americano ou polinésio), a ameaça invisível do terrorismo ou a posse/controle de arsenais nucleares. Algumas considerações:

1. Conceituando, desindustrialização é a perda da capacidade do setor industrial de um país de produzir bens que atendam a uma demanda (total ou parcial) do seu mercado interno. Ponto. Sob esta ótica, claro que houve (e há) um maior déficit industrial hoje, em comparação ao tamanho do setor produtivo nacional e sua fatia de fornecimento para o mercado interno, no final dos anos 80.

….

   2. Negar a desindustrialização (como o Zé Zinho acima, justificando que capital não tem pátria) é negar a migração de ativos produtivos (empregos, pesquisa e desenvolvimento) como ponto negativo para todo uma sociedade nacional, bem como minimizar a importância estratégica de setores  industriais que garantam autossuficiência de fornecimento e constante pesquisa de desenvolvimento tecnológico – estas áreas fundamentais para que uma nação possa ser verdadeiramente livre e soberana.

3. Respondendo especificamente ao Zé Zinho: você trabalhou no setor químico (não sei qual segmento), então conhece as empresas Sansuy e Védat, as duas com cases específicos de sucesso antecedido de quase fracassos na atuação dentro do mercado nacional (e internacional). Como tantas concorrentes suas, elas poderiam ter fechado as portas (quase fizeram isso) mas, pelas suas fortes ligações a princípios de formação (uma estreitamente ligada à comunidade nipônica imigrante e a outra a um princípio familiar de tenacidade) ambas – com perseverança e sem abrir mão de seus ativos físicos e humanos estratégicos – conseguiram seguir adiante. Mas para isso precisaram de UM VÍNCULO PODEROSO (DE RAIZ) COM A COMUNIDADE LOCAL. É a base de tudo: saber de onde veio e a que ou quem respeitar – sem isso não há ética ou prática que prenda qualquer iniciativa empresarial e humana à lei, regulação ou doutrina estabelecida. E hoje isso já deixou de existir (totalmente) nas grandes corporações multinacionais.

4. A Globalização foi (e ainda é) muito, muitíssimo mais do que um mero conceito econômico – é um conceito político e de Estado. Ao decretar a livre circulação de capitais num sistema financeiro global e  interligado, a globalização rompeu as amarras a que o capital privado era submetido por órgãos reguladores de Estado, via internacionalização de fornecimento de insumos e de infra-estrutura produtiva (tanto quanto o controle logístico e de dispersão da sua produção de bens). Isso é fatal para os Estados nacionais, que perdem controle e perspectiva sobre o capital entrante/saente de suas fronteiras – e, consequentemente, sobre as grandes empresas, agora  multinacionais de interesses transnacionais. Como exemplo: qual é a importância que a belgo-brasileira Inbev/Ambev tem na manutenção do mercado de empregos e no crescimento do seu segmento produtivo daqui? Muito pouco, quase nenhum, pois não há mais vínculo de raiz (empatia e identificação) desta empresa com qualquer obrigação de estímulo à sociedade brasileira. E, em função disso, por que ela se sentiria obrigada a submeter-se a qualquer diretriz estratégica governamental? (como, por exemplo, uma regulamentação de níveis de gradação alcoólica em suas cervejas e/ou imposição de propaganda obrigatória nos produtos de que o álcool também seria uma droga perigosa). Não seria: em um caso extremo, ela simplesmente não concordaria, fecharia suas fábricas e iria embora do Brasil – com prejuízo considerável de sua lucratividade, mas não de sua existência como empreendimento. Percebem?

4. Isso devia ser claro e cristalino – a independência total de empresas/negócios a vínculos, regulações ou controles de Estado garante a estas entidades privadas a adoção de uma agenda de objetivos próprios e não necessariamente sujeita a qualquer compromisso/sujeição a princípios/práticas positivas e de estímulo às sociedades, nações ou Estados constituídos, muito menos a entidades internacionais de (pequeno) sobrecontrole.

5. Portanto, a saída massiva de indústrias do mercado (por falência ou busca de ambientes nacionais de maior lucratividade) não somente acarreta impacto direto na redução de capital circulante para a economia interna, mas também torna a nação extremamente dependente de um fornecimento externo, sendo este um ponto de vulnerabilidade para o país. O maior exemplo disso dá-se com relação aos eletrônicos: não fazemos nem mesmo um chip, placa ou componente nacional, portanto nossos sistemas e vetores de defesa tem de ser importados; os caças do FX-2 a serem comprados (de qualquer país) podem muito bem ter um sistema de incapacitação similar ao dos mísseis Exocet (comprados pelos argentinos) e que foram utilizados com êxito até serem desabilitados remotamente na Guerra das Malvinas (por pressão da Inglaterra junto aos franceses).

6. Acham absurdo? Há outro precedente: todos os equipamentos eletrônicos (computadores, softwares e sistemas de monitoramento e banco de dados) da Polícia Federal e Abin (antes era o SNI) foram “doados” por comunidades de inteligência estrangeíra, sob a justificativa de auxílio internacional e estímulo à ampliação da nossa estrutura nacional de segurança. Baita mentira – tá tudo “bugado” (passível de rastreamento e monitoração remota) por essas mesmas “gentis” comunidades de inteligência estrangeiras – E TODO MUNDO SABE DISSO, USANDO ESSE EQUIPAMENTO COM CAUTELA!!! Porque não tem outro…

5. Portanto, interesses transnacionais não são necessariamente convergentes a interesses estratégicos de nações. Ao atingir um status de livre acesso a países, mercados, sistemas e seus recursos financeiros, as corporações não somente encontram-se aptas a manipular seus mercados atuantes (em diferentes continentes) para maximizar seus lucros, mas também estão em posição de equiparar-se aos Estados nacionais e até desafiá-los em poder de fato (controle) sobre a sociedade local. Enfraquecer os Estados nacionais é parte vital da agenda da Globalização – a desnacionalização das sociedades pela perda gradual de força do Estado e o necessário desestímulo (via mídia) a uma preservação de cultura e identidade pátria facilitam uma resposta de conformismo e aceitação populares, consolidando um ambiente propício a ações (legais e até ilegais) de apropriação e controle direto de recursos naturais inestimáveis por parte de grupos não-nativos e estranhos aos nacionais. 

Ou seja: neoliberalismo, livre-mercado, acesso estrangeiro irrestrito a recursos naturais e setores produtivos e de negócios, estímulo a gestões e grupos políticos locais que atuem no desmonte de estruturas de Estado reguladoras e/ou redes prestadoras de serviços públicos essenciais e gratuitos, como saúde e educação – estes também concorrentes diretos do setor privado (porque mesmo não sendo serviço cobrado, ainda assim supre certa demanda da população e limita a fatia de mercado e atuação dos players privados) – tudo isso faz parte de uma agenda cuja linha claríssima de atuação não é feita ao acaso: ela é extremamente dirigida e focada, subliminar e altamente insidiosa, apontando numa direção específica…

Deixo para cada um tirar suas próprias conclusões, mas já aviso: tumbling down the rabbit hole” (ver até onde vai o buraco do coelho), como Alice no País das Maravilhas, é assustador!

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador