Federal Reserve: falha o homem Goldman Sachs. Por enquanto

Federal Reserve: falha o homem Goldman Sachs. Por enquanto.

 
Larry Summers

Quase. Quase quase.
A ideia de Obama era simples: pôr um homem da Goldman Sach qual novo chefe da Federal Reserve. Muito simples.

O homem? Larry Summers. 59 anos, ex Secretário do Tesouro, director do United States National Economic Council do Presidente, ex director da Universidade de Harvard, ex Conselheiro económico com Reagan, ex economista-chefe do Banco Mundial, membro do Grupo dos Trinta, já trabalhou com JPMorgan Chase, Citigroup, Merrill Lynch, Lehman Brothers e, obviamente, Goldman Sachs.
Hebraico, Summers tinha tudo para ser o candidato perfeito.
Mas algo correu mal.

Obama teve que lidar com a revolta dos senadores de seu próprio partido. Única saída: rejeitar Larry Summers como substituto para a presidência de Ben Bernanke na Federal Reserve.
Uma pena. A doutrina de Summers era simples: para incentivar a economia dos Estados Unidos, tudo o que é preciso fazer é permitir que os bancos comerciais possam apostar em novos “produtos” derivados, comprar e vender títulos de hipotecas sub-prime de alto risco e cortar as reservas contra as possíveis perdas.

A desregulação

Larry Summers, um génio da Finança que evidentemente observa a crise de 2008 com imensa saudade.
Com o apoio do Presidente. Afinal, o que poderia correr mal?

Desregulação financeira global, esta é a receita, planificada com a ajuda do CEO da Goldman, Jon Corzine. A Goldman já ganhou biliões com tais planos.

Exemplo: Goldman e os seus investidores têm conseguido 4.000 milhões de Dólares com o colapso dos CDO, (Collateralized Debt Obligationobrigações que tem uma dívida como garantia). Goldman também ganhou com a implosão da dívida grega por meio dum comércio segredo de derivados, operação permitida com a despenalização de certos jogos da Alta Finança operada por Summers enquanto Secretário do Tesouro.

O colapso da Zona Euro e do mercado das hipotecas dos EUA (os subprimes) foi possível apenas pelo Secretário do Tesouro Larry Summers, que pressionou para que fosse aprovado o Commodities Futures Modernization Act: este proibiu que os reguladores controlassem o aumento de 100.000 % dos activos derivados, especialmente dos CDS (os Credit Default Swap) de alto risco.

Citibank faliu. Merrill Lynch faliu. Lehman Brothers faliu. Eram todos clientes do consultor Summers, que desta forma conseguiu um património pessoal de 31 milhões de Dólares.

Quando Summers deixou o Tesouro, em 2000, encontrou um lugar como Presidente da Universidade de Harvard, da qual foi depois despedido: tinha apostado mais de meio bilião de Dólares das doações recebidas pela Universidade naqueles derivados ele mesmo tinha legalizado.

Uma pessoa normal, nesta altura da vida, ia esconder-se atrás duma árvore, esperando não ser encontrado por ninguém. Mas não Summers, que em 2009 foi chamado pelo simpático Obama para que pudesse gerir o Tesouro em qualidade de conselheiro especial. Summers nem teve que passar pela audição no Congresso para a confirmação oficial: afinal era a vontade do Presidente. Yes, we can.

Em 2008, tanto a democrata Hillary Clinton quanto o republicano John McCain pediram os 300.000 milhões de Dólares deixados no fundo de resgate fossem utilizados para bloquear as penhoras dos cidadãos, um programa parecido com aquele de Franklin Roosevelt durante a Grande Depressão. Mas Larry Summers disse “não”, apesar dos bancos terem recebido mais de 400.000 milhões do mesmo fundo. Com a opinião de Summers e do digno assistente, Tim Geithner, Obama concedeu apenas 7 biliões dos 300 disponíveis para salvar as casas dos americanos.

Pergunta: qual a razão? Resposta: foi um plano para obrigar os bancos a cortar os preços demasiado elevados após a crise dos subprimes: sem o apoio do governo, os títulos perderam valor, o que fez que Citibank e vários grupos de investimento em apuros poupassem biliões. À custa de quem não podia pagar os mútuos. Mas isso não era um problema de Larry. 

A razão

Mas porque Obama escolheria um criminoso como Summers para presidir a Federal Reserve?
É a pergunta é que está errada. A correcta é: quem escolheu Obama?
Dez anos atrás, Barack Obama não era ninguém, um simples político local, da zona sul de Chicago. Depois algo aconteceu. O quê?

Um banco local, o Superior, foi fechado pelas autoridades reguladoras por causa das hipotecas irregulares que prejudicavam a etnia negra. A directora do banco, Penny Pritzkera, estava tão irritada com os reguladores que decidiu eliminá-los: mas isso exigia um novo Presidente.

Os bilionários colocaram Obama em contacto com Jamie Dimon, da JP Morgan, e com Robert Rubin, ex-Secretário do Tesouro e também o ex Diretor Geral da Goldman Sachs e mentor de Larry Summers. Sem a bênção de Rubin e da sua impressionante capacidade de arrecadar fundos, Obama estaria ainda em Halsted Street a falar de planeamento urbano.

Rubin escolheu Obama e Obama escolhe quem Rubin escolhe.
Porque no final, Obama sabe que tem que escolher um chefe da Fed com base na pergunta: “o que pensaria a Goldman Sachs?”.

Ipse dixit.

Nota: a base deste artigo é o trabalho de Greg Palast, investigador de fraudes corporativas e do crime organizado, reconhecido como “o mais importante repórter investigativo do nosso tempo” (Tribune Magazine) na Grã-Bretanha, onde as sua primeiras peças apareceram em programas da BBC e de The Guardian .

Relacionados:
O Grupo dos Trinta – Parte I
O Grupo dos Trinta – Parte II

Fontes: Tlaxala, Vice (1 e 2),  Wikipedia (versão inglesa)

http://informacaoincorrecta.blogspot.com.br/

 

Redação

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  1. Dilma na ONU

    Dilma fala na ONU: perdeu, cowboy! “Especialistas” brasileiros não gostam

     

    por Rodrigo Vianna

    Dilma foi à ONU e fez o esperado de uma presidenta que defende o interesse nacional: espinafrou Obama pela espionagem ao Palácio do Planalto, à Petrobrás e aos brasileiros em geral. Perdeu, cowboy! Não estamos no velho oeste. Ou estamos?

    Dilma não fez isso por ser de “esquerda”. Dos últimos presidentes brasileiros, creio que quase todos fariam o mesmo, com mais ou menos ênfase: Sarney, Itamar, Lula, até Collor. Quanto a FHC, não sei, sinceramente.

    Tão esperada quanto a postura altiva de Dilma foi a reação de certos “especialistas” ouvidos por nossa imprensa. Terminado o discurso da presidenta, ouço numa rádio em São Paulo um jovem “especialista” em relações internacionais. A avaliação dele é a seguinte (não são palavras textuais; resumo o que escuto enquanto dirijo pelas ruas engarrafadas): “tanto faz o conteúdo do discurso, fale o que quiser a presidenta isso não muda nada, espionagem é algo comum e vai ser sempre assim”. O jornalista da rádio, timidamente, insiste: “mas aí não seria tomar a atitude errada como normal?”. E o “especialista”  (da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing; não consegui anotar o nome dele) responde: “não, veja, querer acabar com espionagem é como querer proibir o drible no futebol.”

    Sofista. Da pior qualidade. Que bobagem colossal. Não, caro especialista, sua metáfora está equivocada. Se quisermos manter o debate no campo do futebol, eu diria que aceitar a espionagem como “normal” ou “comum” seria como dizer assim: “todo jogo de futebol sempre vai ter cotovelada, ou juiz comprado; então, é besteira reclamar; o negócio é dar cotovelada ou comprar o juiz também.”

    Já houve um tempo, caro especialista, em que o mundo aceitava como “comum” a tortura. Ah, se todos torturam na guerra, vamos fazer o mesmo então? Não. O mundo caminhou para estabelecer tratados que tentam banir a tortura. O caminho é longo, mas o princípio foi estabelecido.

    Não à barbárie. Sim à defesa do interesse nacional. Nada melhor do que uma presidente que já sofreu tortura de um regime autoritário para dar esse “chega pra lá” no vale-tudo. Sim, a presidenta que “não pode entrar nos EUA porque é terrorista” (lembram como ouvíamos isso em 2010, durante a campanha?) foi à ONU e disse o que os Estados Unidos não queriam ouvir: alto lá, vocês não podem tudo!

    Da mesma forma, o uso das armas químicas poderia ser encarado como “normal”. Ah, não adianta reclamar , certo? É uma arma à disposição, todos vão usar – certo? Nem Obama pensa assim (ainda que saibamos que a censura ao uso das armas químicas na Síria, por parte do EUA, seja hipócrita, já que Obama tolera armas químicas, desde que estejam nas mãos “certas”). Mas vale o mesmo raciocínio: o mundo concordou que é necessário criar regraas para evitar o uso das armas químicas numa barbárie total.

    O argumento do “especialista” da rádio é o da guerra de todos contra todos. É o vale-tudo. Na verdade, é apenas um sofisma para minimizar a ação altiva de Dilma, e para justificar a posição que durante tantos anos adotamos aqui no Brasil: “ah, os EUA são mais fortes; aceitemos a realidade, e tiremos os sapatos pra eles”. Nas redes sociais e nas ruas, esse mesmo pensamento encontra algum eco. É o servilismo travestido de “pragmatismo” rastaquera: o mundo é assim, que fazer. 

    A naturalização do uso da força já serviu pra justificar escravidão (“o mundo é assim, há senhores e escravos”), e a manutenção do domínio colonial (“o mundo é assim, há povos que nasceram para comandar, outros nasceram pra ser comandados). Ouvir essas bobagens de um inglês do século XIX ou início do século XX seria até compreensível: estaria defendendo os interesses do Império Britânico. Ouvir isso de um “especialista” brasileiro no século XXI é a constatação de que o caminho para a libertação nacional é longo. Os principais inimigos estão aqui dentro: nas universidades, na mídia, nas classes médias que compram o “ah, isso é normal, os EUA têm mais é que espionar mesmo”.

    Raciocínio subserviente; e tosco, além de tudo. Porque, se é verdade que a espionagem não vai acabar, parece óbvio que a melhor forma de criar algumas regras para evitar a barbárie completa nessa área é constranger o “espião”. Constranger o mais forte, às vezes, é uma forma de tornar o mundo menos bárbaro. Expor e denunciar o uso abusivo da força é uma estratégia inteligente e necessária. Foi assim que as mulheres conseguiram impor leis que penalizam aqueles homens que usam a força para cometer abusos sexuais. No passado, o abuso era tolerado dentro de um casal  (“normal”, o marido ou parceiro é mais forte, fazer o que…).

    Para concluir, uma ressalva: precisamos, sim, lutar contra a barbárie do vale-tudo no campo da informação e da comunicação; mas devemos estar preparados para o caso da barbárie internacional se impor. Ou seja: devemos denunciar o vale-tudo dos EUA, e ao mesmo tempo devemos equipar nosso Estado, criando sistemas de inteligência dignos desse nome. Enquanto o antigo SNI (ABIN) seguir a  concentrar esforços na espionagem de movimentos sociais (sindicatos, MST etc), em vez de defender o interesse nacional, estamos fritos.

    O mundo precisa criar regras para frear a arrogância dos EStados Unidos. Isso não é anti-americanismo. Isso é o óbvio ululante, se buscamos um mundo melhor. Gostem ou não nossos jovens “especialistas”.

     

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