O abacaxi venezuelano do Bolsonaro tem gosto de caviar?

Esta semana Putin desafiou a lógica do futuro governo brasileiro. Bolsonaro e os filhos haviam dito que o Brasil deve invadir a Venezuela. A chegada dos bombardeiros russos TU-160 em Caracas não foi capaz de provocar qualquer reação do novo governo.

Maduro partiu para o ataque. O presidente venezuelano acusou a extrema direita brasileira de querer provocar incidentes na fronteira para iniciar uma guerra em larga escala na América Latina. O silêncio do clã bolsonariano é comprometedor.

A enrascada diplomática em que Bolsonaro se meteu é evidente. Ele foi rejeitado por 2/3 da população nas eleições e já começou a perder o apoio dos seus eleitores por causa de um escândalo de corrupção.

O chanceler que Bolsonaro escolheu é amalucado e pretende submeter a política externa brasileira às diretrizes do Departamento de Estado dos EUA. O silêncio dele em relação à ousadia do Kremlin indica que o Brasil não pode se manifestar antes que o patrão norte-americano informe o que deve ser dito?

Quais são as possibilidades do nosso país usar a força para limitar a soberania da Venezuela ou impedir Putin de defender seu aliado latino-americano? Nenhuma. Qualquer agressão brasileira seria ilegal aos olhos da ONU. A Lei Internacional só permite a guerra defensiva e o Brasil não foi agredido por ninguém. Há outro fator importante a ser considerado.

A presença dos TU-160 em solo venezuelano significa que alguns submarinos da Marinha da Rússia estão percorrendo as águas internacionais do Oceano Atlântico. A eficácia, a precisão cirúrgica e o alcance dos mísseis Kalibr (que podem ser disparados por aqueles submarinos) são suficientes para dissuadir qualquer tentativa de neutralizar os bombardeiros russos no solo venezuelano.

O Brasil poderia impor sanções à Rússia ou aderir às sanções impostas àquele país pelos EUA por causa da ação de Putin? Em tese isso seria possível, mas há um problema. O comércio bilateral entre o Brasil e a Rússia é diminuto (4,3 bilhões de reais em 2017, ou seja, menos do que 2% dos 217 bilhões exportados pelo nosso país naquele ano). Ele significa pouco para o Brasil e menos ainda para o Kremlin.

Tudo aquilo que compram dos brasileiros os russos podem encontrar em outros lugares. O que nós vendemos para a Rússia apodreceria nos celeiros dos ruralistas causando-lhes imenso prejuízo. Bolsonaro foi eleito pelos ruralistas e daria um tiro no pé se rompesse relações comerciais com a Rússia, provocando retaliações do Kremlin.

O elemento mais explosivo do problema em que clã Bolsonaro se meteu ao ameaçar a Venezuela provocando a grande jogada latino-americana de Putin é risível.  O novo governo cairá quando proibir a importação de caviar Beluga ou, pior, no dia em que os russos se recusarem a vender esse produto para o Brasil. A elite brasileira, com o Supremo com tudo, é capaz de perdoar qualquer coisa. Mas ela não perdoaria o novo governo caso as latinhas douradas e azuis russas desaparecessem dos nossos supermercados de luxo.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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