O discurso presidencial

Matéria muito interessante do repórter Raphael Gomide, da sucursal da Folha, no Rio, com o professor Michael Hardt – autor do livro “Império” – sobre o discurso público dos presidentes (clique aqui)

Segundo ele, “Presidente eleito traz inteligência de volta à política dos EUA”

De acordo com Hardt, desde os mandatos do republicano Ronald Reagan (1981-1989), passando pelos de George Bush pai (1989-1993) e filho (2001-2008) e do democrata Bill Clinton (1993-2001), os presidentes vinham adotando um discurso populista simples, talvez para tentar se aproximar do eleitor médio. Obama, por sua vez, faz o discurso da inteligência.

“Obama se apresenta simplesmente como inteligente. Clinton, que é muito inteligente, tinha a estratégia de falar de forma simples. Obama tem um discurso público inteligente. Não sei se funciona politicamente. Bush se faz de burro. Começou com Reagan, e o estilo passou a ser esse daí em diante. Um estilo do populismo de direita era falar diretamente às pessoas. Clinton usou a estratégia da direita, e agora há uma mudança evidente”, disse Hardt, que veio ao Brasil para o Fórum Livre do Direito Autoral, na UFRJ, no Rio.

Em sua opinião, esse discurso “inteligente” pode ter sido um dos motivos -aliado ao fato de ser negro- de Obama ter conseguido mobilizar ativamente a população e setores de esquerda em seu favor, despertando-lhes novamente o “orgulho” de ser americanos.

Sobre inclusão racial

Para Hardt, a vitória de Obama teria sido impossível sem os movimentos de direitos civis da década de 1960 e sem a política de cotas nas universidades.

“Quando mais um negro estudaria direito em Harvard?”, questionou, referindo-se à tradicional universidade norte-americana. “Obama é um exemplo de como as lutas sociais impulsionam um processo de evolução da sociedade.”

A afirmação do professor foi uma resposta à pergunta da Folha sobre se o fato de não ter havido no Brasil um confronto racial aberto poderia ser uma explicação para as dificuldades de ascensão social dos negros.

(…) Segundo Hardt, a eleição de Obama aponta o caminho no sentido de uma revolução a partir da qual “a cor da pele não teria mais relevância que a cor dos olhos”.

Luis Nassif

4 Comentários

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  1. Ninguém lê textos longos( NEM
    Ninguém lê textos longos( NEM EU)

    Mas este merece( é muito divertido)

    Líderes de 33 países da América Latina e do Caribe reuniram-se na Costa do Sauípe, na semana passada, para sessões de banhos de mar e relaxamento em que o ponto forte foi um concurso de piadas. Como manda a boa etiqueta, o nível do humor foi ditado pelo anfitrião. O presidente Lula colocou a barra lá em cima. “Gente, por favor. Ninguém tire o sapato porque, aqui, como é muito calor, a gente vai perceber antes de alguém decidir jogá-lo, por causa do chulé”, disse o presidente brasileiro, divertindo-se à custa do episódio recente em que George W. Bush, presidente dos Estados Unidos, numa visita a Bagdá, teve de se desviar de um sapato arremessado por um jornalista iraquiano. Na tentativa de manter o nível, Evo Morales, presidente da Bolívia, saiu-se com uma finíssima, ao melhor estilo Austin Powers: “Vamos dar um prazo ao novo governo dos EUA para suspender o bloqueio econômico a Cuba… Se não fizer isso… retiraremos os embaixadores”, ameaçou o “Doctor Evo” do altiplano. Em gesto de estadista, diga-se a seu favor que ele nem cogitou acionar a marinha de guerra boliviana, preferindo, por enquanto, exercer apenas pressão diplomática sobre Washington. Evitou, assim, que uma piadinha pudesse dar origem a uma crise militar entre as duas potências.

    Pena que não valia piada velha. “Doctor Evo” certamente teria repetido uma que sempre faz enorme sucesso. Ela envolve também os Estados Unidos, mas exige especial domínio de economia para ser entendida: “A queda do preço do petróleo foi um golpe do império contra Hugo Chávez”. Falando no venezuelano Chávez, é claro que ele não poderia deixar Lula e Morales dominarem a cena em uma especialidade que, todos sabem, é dele. Não senhor! Bolivariano que se preze não perde concurso de piada. Chávez, então, disparou: “Cuba é a essência do coração e da dignidade dos povos da América Latina e do Caribe…”. A piada só tem efeito cômico, claro, quando se esquece que a atual dupla de anciãos ditadores, Fidel e Raúl Castro, há meio século no poder, matou quase 100 000 cubanos – sem falar nos mortos de fome, de raiva e de tédio. Mas a platéia na Costa do Sauípe era bem selecionada, entendeu o espírito da coisa e Chávez saiu se até bem. Uma pena que só os ditadores cubanos e seus cupinchas podem sair da ilha. Se as pessoas comuns do povo cubano pudessem viajar, mais gente saberia que Fidel era chamado de “Comediante en Jefe”. Mais gente saberia por que o apelido predileto dos cubanos para Fidel é “Esteban”… Nenhum cubano vai se arriscar a vir ao Brasil para ser preso pela polícia petista e repatriado, como aqueles pobres pugilistas dos Jogos Pan-Americanos, então nós contamos: “Esteban” é a abreviatura de “este bandido…!”.

    Mas isso é piada de povo… Voltemos aos profissionais. Com a liderança ameaçada por Evo Morales e Chávez, Lula deu sua cartada final. Referindo-se à América Latina, o presidente brasileiro disse: “Éramos um continente de surdos, que não nos enxergávamos”. Não tem graça? Leia de novo. É uma variante bem mais inteligente, sutil e burilada da piada clássica do Napoleão de hospício que se dependura no lustre e se recusa a descer para não deixar o quarto às escuras. Foi nesse momento que Rafael Correa, presidente do Equador, vislumbrou uma oportunidade. Correa escolheu como tema o calote que deu no Brasil e atacou: “Foi um problema comercial e econômico lamentavelmente transformado em problema diplomático”. Em outro ambiente, teria levado uma sapatada… Mas a Bahia não é Bagdá, Correa não é Bush e todo mundo estava ali mesmo é para relaxar e se divertir. Parecia que o encontro caminharia para seu fim sem um vencedor inconteste. Não contavam com a astúcia de Chávez. Sua piada vencedora era algo reciclada, mas levou a platéia ao delírio: “O socialismo não está morto. Está mais vivo do que nunca. O que está morto é o capitalismo”. Alguém jura ter ouvido de um concorrente inconformado com a derrota um lamento inaudível: “Vai sifu…!”.

  2. O discurso de inteligente
    O discurso de inteligente cabe como uma luva em Obama porque ele eh, de fato, inteligente. Se vai ou se nao vai envergonhar a branquelada ainda nao esta claro, mas o homem eh inteligentissimo sim.

  3. “Obama é um exemplo de como
    “Obama é um exemplo de como as lutas sociais impulsionam um processo de evolução da sociedade.” Alias, um processo historico mundial – no brasil desenvolvidos principalmente com as greves do abc e com a uniao dos trabalhadores com os movimentos socais, parte da igreja progressista e os que lutavam contra a ditadura. O que permitiu que os paises da america latina pela primeira na historia se reunissem sem a presen;;a do mister butchar…E sem perigo de rolar sangue na parada, puderam exercer a humanidade de entrelacar lacos contando piadas, por que nao? Melhor do que invadir paises e criar golpes contra governos eleitos pelo povo…OU AUTOGRAMPEAR-SE E INCRIMINAR OS OUTROS…Ou criar textos que desmerecam as pessoas, sem notar que com isso estao ressaltando a sua humanidade…

  4. perdao pelo `entrelacar
    perdao pelo `entrelacar lacos`, foi de lascar..Eh que estava indignado nao com o conteudo das piadas acima, mas com a qualidade do texto encaminhado pelo anarquista – gramsci diria que alguns intelectuais competentes servem mesmo eh para garantir a hegemonia dos conservadores…

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