Apesar da fama de discreto, Marcelo Bretas mostra que tem gostado de ser popular

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Agência Brasil

O primeiro traço que tem me chamado a atenção no comportamento do juiz Marcelo Bretas é como ele tem se mostrado à vontade com a fama. Não que isso me surpreenda, sempre achei que por trás da imagem de seriedade, havia um ego sendo impulsionado. Para mim, isso ficava nítido quando ele era reconhecido ao circular pelas varas e tribunais. Chegava orgulhoso, contando quem o havia cumprimentado ou parabenizado por alguma sentença recente. Além disso, sempre demonstrava o desejo de sair do interior, chegar a uma vara na capital e trabalhar em casos de visibilidade. Soava como um sonho. Como podemos ver, foi alcançado.

Então, o que me surpreendia em sua visibilidade midiática inicial era ele ser taxado como discreto, quando começou a ganhar destaque na operação Lava Jato. Chegou até a parecer avesso a entrevistas, como foi publicado pela BBC, que tentou entrevistá-lo, mas não obteve resposta. Mas, como podemos ver, ele não tem resistido muito ao mundo da fama. Recentemente, chegou a ser entrevistado na Globo pelo Pedro Bial. Durante a conversa, ele chegou a dizer que não foi fácil convencê-lo, que pensou meses sobre isso. Mas que diferença isso faz agora, se, no fim das contas, ele estava lá, na frente do Brasil inteiro, conversando com um dos apresentadores mais famosos e respeitados do país?

Antes disso, ele já vinha se aproximando do público, inclusive pelo Twitter, desde quando verificou sua conta como oficial, em outubro. O perfil não era usado há muito tempo, mas parece que agora o juiz tem interesse em interagir com a população. Ou percebeu que pode se fortalecer pela opinião pública, que, em geral, tem apoiado suas condenações até o momento.

Minha visão, porém, é que é muito delicado um juiz federal ter tanta visibilidade. Afinal, ele nunca sabe quem julgará amanhã. Quantos casos a internet já não se viu de tweets postados que depõem contra a pessoa anos depois? Por exemplo, entre os posts do dr. Bretas – que condena políticos e empresários por corrupção – encontramos menções a políticos, como Marina Silva e Rodrigo Maia. Se acontecer de um dia ele vir a julgá-los, como defender sua imparcialidade?

Aliás, esses foram dois de seus tweets apagados. Em pouco mais de um mês, ele tinha acumulado mais de 40 posts – como podemos ver no print abaixo -, mas a maioria foi deletada e agora seu perfil não conta nem 30 tweets.

Além disso, já não tem sido difícil encontrar entrevistas do o dr. Marcelo a jornais de grande visibilidade no país, como Estadão e O Globo, ótimas oportunidades para notar seu gosto pela popularidade. Sempre que pode, ele solta frases de impacto que virarão manchetes em vários sites no dia seguinte, como em sua entrevista ao site El País, quando disse que no Brasil nasceu “uma nova forma de fazer justiça” e que “a Lava-Jato” é eterna. Doa a quem doer”. Não consigo ver, nessas declarações, qualquer intenção que não seja se promover.

Não posso deixar de citar, é claro, a presença do juiz da Lava Jato no Rio de Janeiro na pré-estreia do filme “Polícia Federal – A Lei é Para Todos”, apesar de ele sequer ser retaratado no longa. Parecia que sua função era fazer companhia a Sérgio Moro. Enquanto o principal juiz da operação chegava à sessão sob flashes e aplausos, era possível ver Bretas alguns passos atrás, apenas seguindo o mesmo caminho.

Meu último ponto de questionamento para este primeiro tema sobre o qual venho refletindo é aquela manifestação de apoio que o juiz Bretas recebeu em agosto, reunindo artistas, políticos, juízes e procuradores. Apesar de realmente ter participado do evento com certa discrição pública, sua família não fez a menor questão de esconder o orgulho em ter recebido apoio de personalidades conhecidas e influentes. Sua mulher, Simone Diniz Bretas, e seu filho Caio colocaram a foto da manifestação em seus perfis do Facebook, como imagem de capa.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

3 Comentários

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  1. O juiz não é bobo, BBC não é
    O juiz não é bobo, BBC não é Rede Globo.

    Esse é o grito de guerra de quem quer aparecer – e virar super-herói da Marvel Comics tupiniquim. Na BBC esse tipo de coisa não rolaria.

  2. Repito a pergunta, “espelho

    Repito a pergunta, “espelho espelho meu, existe país em que juizes dão mais entrevistas do que no Brasil?”

    Se houver a volta da democracia, e com ela uma reforma do judiciário, seriam essas minhas sugestões, já que em termos técnicos não sou gabaritado:

    -Fica proibido juiz dar entrevista a jornal, revista, TV, rádio, portal de internet, blog ou até para jornalzinho do colégio do neto. Sobre qualquer assunto, arte, comportamento, culinária, futebol, além de política claro. Tudo.

    -É recomendado que juiz não tenha tweeter, blog, perfil no facebook, instagran, e etc. Caso tenha, serão proibidos opiniões políticas, sobre partidos, candidatos, programas de governo, sistemas do governo e principalmente pitaco a respeita dos outros poderes, Executivo e Legislativo.

    -Todo juiz terá uma cota de palavras por ano, quando estiver fora dos tribunais. Por conta disso, nos concursos públicos constará provas para testar a capacidade de ficar calado. A tagarelice passa a reprovar o candidato. 

    PS: Para auxiliar o juiz a moldar-se no novo perfil de juiz discreto (para valer!), serão substituídas os auxilios moradia, alimentação, viagem, creche, todos, que serão abolidos, por auxílio karaokê. Todo juiz terá direito a frequentar de graça os karaokês do país, onde poderá exercer sua vaidade, e botar para fora toda sua necessidade de se exibir e ganhar aplausos. Afinal de contas juiz também é gente.

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