MP-SP pode brecar Lava Jato sobre gestões tucanas

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Investigadores da Operação Lava Jato admitiram que poderão ser abafados os indícios de corrupção do PSDB de São Paulo, em gestões municipais e estaduais, com contratos da Odebrecht e Camargo Corrêa. A informação é de um receio de o Ministério Público paulista (MP-SP) não aprofundar as suspeitas, originadas nas delações dos 77 executivos da empreiteira.
 
Conforme o GGN divulgou na última semana, os acordos da Odebrecht obrigaram uma devassa da Operação Lava Jato sobre os indícios de irregularidades e corrupção dos governos do PSDB e PMDB. Isso porque, após os depoimentos, os investigadores precisaram refazer a colaboração com a Camargo Corrêa, apontada em esquemas de obras em São Paulo, inicialmente investigadas na Castelo de Areia.
 
A conclusão seria de que tanto o PSDB quanto o PMDB fossem voltar à mira da Lava Jato, nos indícios de corrupção desde 1996, e destas cerca de 12 obras paulistas. Na Castelo de Areia, que investigou contratos da Camargo Corrêa, apenas o atual presidente Michel Temer foi citado 21 vezes em planilhas apreendidas em 2009. As suspeitas são de que seu envolvimento ocorreu enquanto era deputado pelo PMDB, entre 1996 e 1998, tendo recebido mais de 340 mil dólares. 
 
Além de Temer, José Agripino Maia (DEM-RN), José Aníbal (PSBD) e Flexa Ribeiro (PSDB-PA) foram mencionados na Castelo de Areia, além do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda. Mas, sobretudo, as provas apontam que irregularidades de contratos ocorreram durante a gestão Serra-Kassab (2005-2008) na Prefeitura de São Paulo e de Geraldo Alckmin no governo estadual (2001-2006), quando foi sucessor de Mário Covas (PSDB), também citado em planilhas.
 
 
Pagamentos de propinas nos contratos e obras do Rodoanel, no túnel da Avenida Jornalista Roberto Marinho e na expansão do metrô, além de suspeitas em contratos da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa), de Campinas, foram alguns dos levantamentos da investigação invalidada pela Justiça em 2011 e que havia expectativas de ser retomada pela Lava Jato.
 
Os delatores da Odebrecht voltaram a incriminar tais contratos e suspeitas da Camargo Corrêa, pressionando os investigadores da Lava Jato a renegociarem os acordos dos executivos desta última empreiteira.
 
A análise estava, contudo, no risco de se um “aditamento”, acrescentando informações no acordo, poderia invalidar toda a colaboração da Camargo Corrêa até agora. Isso porque a Justiça poderia interpretar os casos como um ocultamento intencional dos executivos e anular os depoimentos da empresa.  
 
Há uma saída viável para evitar uma anulação: criar novos acordos incluindo os já colaboradores, mas adicionando outros empresários e ex-funcionários novos para os relatos. 
 
Entretanto, esta última opção parece estar sendo ignorada pelo Ministério Público Estadual, e sem mais explicações, o órgão vem de um histórico de arquivamentos de investigações que envolvem as obras do PSDB em São Paulo, conforme revelou reportagem do Valor.
 
O jornal lembrou de um inquérito civil, em outubro de 2015, sobre a Linha 15-Prata do monotrilho de São Paulo, que aparece em uma planilha apreendida com o doleiro Alberto Yousseff, e que sugere corrupção de outras 745 obras públicas em todo o país. O inquérito foi arquivado pela Promotoria do Patrimônio Público e Social de São Paulo. Com a repercussão negativa, o caso teve que ser reaberto, mas não houve avanços desde então.
 
Também em 2015, a Promotoria de São Paulo arquivou os supostos pagamentos de propinas na obra da Arena Corinthians, concluindo pela inexistência de “indicações de prejuízo ao patrimônio público”.
 
A reportagem destaca que em caso não relacionado à Lava Jato, mas à gestões paulistas, o MP-SP “ofereceu, até março de 2016, oito denúncias contra executivos de empresas e agentes públicos acusados de cartel e fraude em licitações no Metrô e em trens de São Paulo”. Novamente, casos paralisados.
 
O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Gianpaolo Smanio, e o subprocurador-geral de Justiça para Políticas Criminas, Mario Luiz Sarrubo, negaram as falta de investigações. Pressionado, Smanio disse ao Valor que o MP-SP poderá “montar um grupo de promotores, se for necessário” específico para avançar nos desdobramentos das delações da Odebrecht. 
 
Já Sarrubo afirmou que falta verba, estrutura e pessoal para dar sequência às investigações.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

9 Comentários

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  1. mesmo ninho Tucano

    Eu, nem sabia que no TUCANISTÃO havia aliança tríplice onde o governador escolhe o chefe do MP fiscal da lei. Aqui no caso, Gianpaolo Smanio, daí porque estão todos em casa, no mesmo ninho, não é mesmo? 

  2. Mas essa é a função primordial do MP-SP:

    impedir qualquer ação contra qualquer “jestor” tucano.

    Os bancos suiços e as ilhas do Caribe agradecem

  3. “deixa que eu deixo”… ¬¬

    Isso aí é um “deixa que eu deixo” combinado entre MPF e MPE-SP.

    Ora, nessas obras tem dinheiro federal de PAC, tem financiamento de BNDES…

    O MPF nao investiga pq nao quer obviamente.

    Vai “deixar pro MPE-SP” que, por sua vez, vai deixar… pras calendas!

    Ora, por que o MPF investiga obras do Sergio Cabral, no Rio, e nao do Alckmin/Serra em SP??

    ¬¬

    Resposta: as diferentes fichas de filiação partidária de cada um!

     

     

  4. Ninho de tucanos

    O mesmo Ministério Público que, de maneira ridícula, abriu processo contra o então prefeito Haddad por causa da “pegadinha da agenda” aplicada num pseudo historiador travestido de jornalista vem agora dizer que falta pessoal para investigar as tramoias do PSDB. É muita cara-de-pau. 

    1. ninho….

      O MP/SP pode abafar? Pode? O que está fazendo nestes últimos 25 anos? Veja os nomes que compõe o MP/SP e os casos de corrupção que seus membros estão envolvidos. Qual deu  resultado? O que aconteceu com o Merendão do Capez? Desembargador liberando o maior traficante do país? Hospital Psquiátrico de Sorocaba e mais de 250 mortes em 3 anos (em hospital psquiátrico?!) Todas as mesmas empreiteiras nas obras estaduais. Morte de 7 pessoas nas obras da Privataria do Metrô? Ninguém foi indiciado? Os culpados foram os mortos !!! MP/SP é um sumidoro. É um braço do golpismo privatista. O pior é o silêncio daqueles que duzem que agora o Judiciário está dando exemplo. É gozação, loucura ou apenas chacota? Era só deixar Paulo Preto por dois dias na cadeia, para descobrir o que é o Espetáculo da Corrupção borbulhando nas contas de FHC, Serra, Covas, Alckmin, Aluisio, CovinhasDonodePedágio. É surreal. Alguém acredita que o pasís inteiro não sabe que os Tucanos estão até os fios de cabelo atolados nesta sujeira de corrupção? E pior, fazendo de tudo para entregar o país.   

  5. Investigação de tucano?

    Pra que investigar tucano? são todos limpinhos, cheirosos, fazem parte do mesmo angú, é tudo comparsa. Até parece que tem alguma meritocracia passar nesses concursos viciados, são todos como as concorrências das obras do metro, já se sabe o resultado com seis meses de antecedência.

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