Jornal GGN – Enquanto um documento redigido pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) orientou diretamente a defesa de Flávio Bolsonaro para anular a investigação contra o filho do presidente no caso Queiroz, do esquema de “rachadinhas”, o procurador-geral da República, Augusto Aras, afirmou que a suposta ajuda do órgão governamental “precisa ser provada”.
Na última sexta-feira (11), documentos obtidos pela revista Época revelavam uma orientação da Abin para a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do mandatário e denunciado em inquérito por esquema de “rachadinhas”, com o desvio de salários de funcionários de seu gabinete, enquanto Flávio era deputado estadual (2003-2018).
Pelo menos dois dos documentos divulgados pela revista mostravam a Abin fazendo uma sequência de sugestões para ajudar a livrar Flávio das investigações. Em um deles, a finalidade foi explicitada como “defender FB [Flávio Bolsonaro] no caso Alerj”.
Entre as recomendações da entidade do governo federal, a Abin sugeriu substituir “postos”, em referência aos servidores da Receita Federal que investigaram Flávio Bolsonaro e obtiveram dados para o inquérito e, em um segundo relatório, a Abin traça uma “manobra tripla”, segundo a Época, para conseguir documentos para a defesa de Flávio.
Os relatórios da Abin teriam sido enviados por WhatsApp à defesa do senador, logo após uma reunião, ocorrida em agosto, entre o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, o diretor da Abin, Alexandre Ramagem, Bolsonaro e advogados de Flávio. Um inquérito sigiloso foi aberto no Supremo para apurar a reunião. A divulgação da Época vem à tona depois da abertura dessa apuração.
Nesta segunda (14), a ministra Carmen Lúcia solicitou informações do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e do diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, sobre as acusações. Ela ainda determinou um prazo de 24 horas para as respostas.
Ao se manifestar sobre o caso, o procurador-geral da República disse que o fato é grave, mas que é uma “narrativa”, do qual “não temos provas”. “Nós não trabalhamos com narrativas. Trabalhamos com fatos e provas”, disse o Augusto Aras, nesta terça.
Até o momento, o PGR somente cobrou informações da Abin sobre a acusação e disse que ficará “à mercê dessas respostas”. “O MP vai ter de fazer a investigação. Vamos fazer perguntas aos órgãos competentes, ficamos a mercê dessas respostas”, afirmou.
“Por enquanto temos fatos transmitidos pela imprensa que levamos a sério. Mas precisamos ter elementos, não podemos trabalhar apenas com a informação. Por enquanto temos as narrativas mas não temos as provas”, completou.