Processo criminal sobre tragédia de Mariana ainda ouve testemunhas

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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da Agência Brasil

Processo criminal sobre tragédia de Mariana ainda ouve testemunhas

Por Léo Rodrigues – Repórter da Agência Brasil  Rio de Janeiro

Passados três anos da tragédia de Mariana, a Justiça Federal ainda ouve testemunhas no processo criminal envolvendo o episódio. Entre os réus estão o então presidente da mineradora Samarco, Ricardo Vescovi, e o então diretor-geral de Operações da empresa, Kleber Terra. Também respondem pelo crime 11 integrantes do conselho de administração da empresa, que são representantes da Vale e da BHP Billiton. As duas mineradoras são acionistas da Samarco.

Distrito de Barra Longa. A comunidade foi parcialmente encoberta pela lama que chegou pelo rio Gualaxo do Norte.Na foto, casas atingidas pela lama.

Casa atingida pela lama – Tânia Rêgo/Agência Brasil

Ao todo, 21 réus são julgados pelos crimes de inundação, desabamento, lesão corporal e homicídio com dolo eventual, que ocorre quando se assume o risco de matar sem se importar com o resultado da conduta. Um 22º réu responde por emissão de laudo enganoso. Trata-se do engenheiro da empresa VogBr, Samuel Loures, que assinou documento garantindo a estabilidade da barragem que se rompeu. A Samarco, a Vale, a BHP Billinton e a VogBR também são julgadas no processo.

Na última decisão tomada no âmbito do processo, ocorrida em 15 de outubro, o juiz Jacques Queiroz Ferreira cancelou audiências que estavam marcadas para outubro e novembro. Estavam previstos depoimentos de testemunhas de defesa. O magistrado optou pelo cancelamento com o objetivo de aguardar a publicação do inteiro teor de duas decisões de habeas corpus proferidas em segunda instância, pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região. “É prudente que se suspenda a oitiva das testemunhas, visando evitar a prática de atos processuais inúteis”, escreveu o Jacques Ferreira no despacho.

Entre junho e outubro de 2018, foram ouvidas diversas testemunhas de acusação. Além das testemunhas de defesa, ainda estão pendentes depoimentos de outras testemunhas de acusação que deverão ocorrer em seus respectivos endereços. Três deles residem no Canadá. Ao todo, o processo deve ouvir mais de 200 testemunhas.

Memória

Distrito de Barra Longa. A comunidade foi parcialmente encoberta pela lama que chegou pelo rio Gualaxo do Norte.Na foto, casas atingidas pela lama.

Lama atingiu comunidade do Distrito de Barra Longa – Tânia Rêgo/Agência Brasil

A tragédia de Mariana completa três anos hoje (5). Na ocasião, uma barragem da mineradora Samarco se rompeu liberando rejeitos de mineração no ambiente. No episódio, 19 pessoas morreram e comunidades foram destruídas. Houve também poluição da bacia do Rio Doce e devastação de vegetação. A ação criminal tramita na Justiça Federal de Ponte Nova (MG) desde novembro de 2016, quando foi aceita a denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF).

No ano passado, o juiz chegou a manter a tramitação do processo suspensa por mais de quatro meses para verificar alegações feitas pelas defesas de Ricardo Vescovi e Kleber Terra. Eles pediam a anulação da ação, sob o argumento de que foram usadas provas ilegais, como escutas telefônicas que teriam sido feitas fora do período determinado judicialmente. Em novembro de 2017, o magistrado considerou a solicitação improcedente e determinou a retomada do trâmite.

Procurado pela Agência Brasil, o MPF disse em nota que espera pela marcação dos depoimentos das testemunhas de defesa. “Não é possível prever uma data para conclusão do julgamento”, acrescenta o texto. A denúncia apresentada em 2016 pede que os réus sejam submetidos ao júri popular. Além do processo criminal, o MPF também moveu uma ação civil pública voltada para a reparação ambiental e socioeconômica, onde estima os prejuízos da tragédia em R$ 155 bilhões.

No mês passado, houve um acordo com as mineradoras, que envolve mudanças na condução das ações em curso, o que implicará na extinção de pedidos que constavam na ação civil pública.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

2 Comentários

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  1. Qual nada…
    De acordo com muitos analistas de respeito (sem ironia) nossas instituições funcionam desde 1988, e o atual quadro é uma ruptura drástica da nossa normalidade democrática…

    O momento atual do judiciário é uma distorção (agora tem ironia).

    O caso Samarco é só um dentre tantos outros exemplos de como funciona a relação entre judiciário e grandes corporações…

    Direito é dinheiro… E ponto final.

  2. NÃO É BEM A HUMANIDADE QUE INTERESSA…

    Inverta o fato e coloque uma Empresa Brasileira cometendo tal Crime em terras estrangeiras. Ou mesmo uma Empresa de um país qualquer cometendo tal Crime em algum País Industrializado. Qual seria o Valor das Indenizações para as Famílias? Qual é o valor do dinheiro resgatado pela Petrobrás nestas Ações contra a corrupção? Segundo sua própria propaganda 3 bilhões. Qual é o valor do Acordo que a Petrobrás fez com a Justiça NorteAmericana?  16 Bilhões?! Qual é mesmo o valor que a Samarco já depositou por tais Crmes? Terra de Gênios. Nem a Vila de Casas dos Moradores da Cidade, construíram ainda, mesmo depos de 3 anos. País de fácil explicação.  

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