Discutindo a oposição

Confirmando-se em 03/outubro o “hay gobierno”, já deveremos pensar na pauta de um futuro “soy contra”.

Talvez se possa discordar de que o declínio do PSDB/DEM seja classificado como tragédia. (Bom, no sentido teatral um tanto é…) É muito positivo para a nação que se aprenda que não é possível fazer oposição com o seguinte roteiro:

a) Apoio escancarado da mídia, usando-a como mais um “partido” na coligação;

b) Ausência de conteúdo programático;

c) Contradições visíveis na prática legislativa (afinal, é-se contra o fator previdenciário, e a favor de CPMF, bolsa-família, Prouni, etc ou não?);

d) “Barragem” de CPIs em estados controlados por maioria de Assembléia Legislativa;

e) Alinhamento a idéias internacionalmente superadas (neoliberalismo, desnacionalização da política externa.) O único “nacionalismo/protecionismo” do PSDB é justamente no que concerne a mídia, sendo assim também arcaico;

f) Utilização de factóides como ferramenta de propaganda.

Oposição assim, sem argumentos, messiânica, propagandística, sem sequer coesão interna, não faz falta a uma democracia. Parece haver tantos vícios assimilados que, se restarem bons quadros sem cargo legislativo, melhor montar uma nova agremiação com vistas já a 2012.

E muita coisa do passado ainda precisa ser reanalisada a partir da diminuição do viés protecionista, midiático e/ou acadêmico.

Não esqueçamos que os partidos da base governista, em especial PP, PMDB, PDT e PSB, não são “fechados” com Lula como outros partidos o eram com “FHC”. Já existe uma oposição interna, até saudável em muitos pontos, tanto “à direita” como “à esquerda”. O governo perdeu muitas votações por isso. A ausência de uma oposição formal competente não impediu que o governo se sentisse questionado nem que tivesse seus momentos de autocrítica.

Uma vez que os principais partidos no governo são centristas (PMDB, PT, PSB, PDT) e que a população pragmaticamente os reelegerá, que se continue e reforce:

1) a oposição já existente à esquerda (PSoL, etc) e ao centro (PV):

– acelerar a diminuição da concentração de terras;

– ampliar e democratizar a discussão sobre os pontos pendentes do PNDH-3;

– discutir em congresso a oligopolização da mídia e eventual exposição ao capital estrangeiro;

– retomar a Reforma Política, democratizando o acesso à propagação de idéias;

– garantir que o desenvolvimento seja ecosustentável;

– ampliar o acesso a educação, saúde e segurança;

– promover a redistribuição regional do desenvolvimento.

2) uma nova oposição à direita, mas democrática, que pode crescer a partir da própria base de governo (PR, PP) que batalhe por pontos que interessam ao capital produtivo:

– desequilíbrios nas políticas monetária e cambial;

– reforma tributária;

– investimentos proativos em infraestrutura e pesquisa;

– aplicação no âmbito do Estado do melhor em práticas de gestão.

O governo atual, como o próximo, tem muito de “pacto social branco”. Não foi oficialmente definido assim, não foi vendido à população assim. Houve, no entanto, a sensibilidade de grandes forças políticas em adotá-lo. Não é de estranhar, pois se estava em uma situação de aflição social e estagnação econômica.

Em algum momento pode haver desmembramentos da coligação governista e isso não precisará ser visto como preocupação, antes poderá ser saudado como a superação de uma fase de transição entre um país cheio de problemas para outro com muitos desafios. 

Luis Nassif

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