O perfil dos detidos em Londres

Da Folha

Detidos em Londres incluem criança e classe A

Embora polícia britânica atribua autoria dos distúrbios a gangues juvenis, perfil dos 1.500 presos tem facetas distintas

Menina de 11 anos, que se recusou a desculpar-se, e jovem estudante de universidade da elite estão entre os vândalos

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

Com mais de 1.500 presos e ao menos 500 indiciados ou sentenciados, começa a surgir o perfil dos envolvidos nas quatro noites de saques e vandalismos que atingiram Londres e cidades no centro do Inglaterra desde sábado.

A polícia diz que muitos dos tumultos foram organizados por líderes de gangues juvenis, mas entre os presos estão pessoas de 11 a 46 anos e até uma universitária de 19 anos que estudou numa boa escola e pertence a uma família de classe alta.

PRODUTOS SAQUEADOS

A polícia diz ter encontrado no carro de Laura Johnson produtos saqueados de um shopping no sul de Londres avaliados em 5.000 libras (cerca de R$ 13 mil).

Laura estudou na escola pública que ficou entre as quatro mais bem avaliadas do país, teve ótimas notas e agora frequenta cursos de inglês e italiano na Universidade de Exeter.

Ela nega o crime, foi liberada sob fiança, terá de usar localizador e está proibida de sair de casa das 19h às 6h ao menos até 21 de setembro, quando voltará a depor.

Em Nottingham, uma menina de 11 anos também foi ouvida por um juiz. Ela foi detida junto a um grupo de 40 menores atacando lojas e atirando pedras em policiais. Questionada, disse saber que o que tinha feito era errado, mas que foi incitada pelos demais a participar.

O pai dela, presente na audiência, pediu que se desculpasse. Ela apenas sorriu. Os pais estão sendo responsabilizados pelo governo e também pela oposição por não controlarem os filhos e permitirem que participem de gangues e atos violentos.

Em Londres, uma jovem de 20 anos foi denunciada aos policiais pela própria mãe, que viu a imagem da filha na TV participando de um saque. Outra, de 14, foi levada à delegacia pelo tio.

Uma mulher de 24 anos resolveu se entregar após se arrepender de roubar uma TV. Disse que estava num McDonald’s quando viu as pessoas invadindo uma loja e decidiu tirar proveito.

A polícia começou ontem a fazer buscas em casas, à procura de itens saqueados.

Algumas pessoas foram presas em apartamentos no centro de Londres com roupas de lojas caras como Hugo Boss e Lacoste. As ações policiais, acompanhadas pela TV, e o trabalho da Justiça, que mantém expediente por 24 horas, pretendem passar a impressão de que não haverá impunidade e, com isso, evitar novas ondas de violência.

O primeiro-ministro David Cameron, que passou três horas respondendo a perguntas em uma sessão extraordinária do Parlamento, afirmou que o superpoliciamento em Londres irá continuar ao menos até domingo.

Há nas ruas 16 mil agentes, quando o normal são 3.000. Ele voltou a dizer que os “criminosos serão caçados e punidos”. A oposição pediu revisão no corte de 20% no orçamento da polícia nos próximos quatro anos.

O governo recusa. Diz que é possível fazer os cortes e aumentar o total de policiais nas ruas com a redução da burocracia. 

Luis Nassif

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