Maratona GGN: José Dirceu analisa conservadorismo e próximos desafios para partidos políticos

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Para ex-ministro da Casa Civil, partidos estão completamente defasados e o PT precisa retomar as lutas sociais pelas quais ganhou força

José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil. Foto: Reprodução

Jornal GGN – O conservadorismo vinha ganhando força durante o mandato de Dilma Rousseff, mas eclodiu de vez durante o mandato de Michel Temer na presidência e ficou evidente no bolsonarismo, configurando-se assim em um grande desafio a ser gerenciado pelos partidos progressistas.

“É muito mais grave do que aquela propaganda que o PT quebrou o Brasil, que o PT era uma organização criminosa, porque agora envolve o problema da família, da religião, moral”, lembra o ex-ministro José Dirceu. “Ao mesmo em que a direita liberal incorporou a luta antirracista, igualdade das mulheres, defesa do meio ambiente, até o SUS e a educação pública, a direita conservadora com o neopentecostal criou uma imagem nossa em amplos setores populares que nós somos a favor da droga, que somos contra a família, contra a religião. Então nós temos um problema cultural grave que nós temos que cuidar”.

E um dos pontos que Dirceu afirma que precisa ser mais bem trabalhado pelo PT é a atuação dentro dos bairros. “Hoje, o braço amigo do povo não é o exército brasileiro, é a igreja neopentecostal, que socorre a mãe quando tá com o filho drogado levando para uma clínica, que tem programas de TV e rádio que cuidam de desavenças familiares, separações, traições depressão fracasso, e correm para ajudar no incêndio, na inundação (…) Essa luta social que nós fizemos na década de 70/80/90 tem que ser retomada”.

Presença digital

E trabalho é o que não falta para essa atuação ganhar força, como a digitalização da presença do PT tanto como ferramenta de mobilização como, também, de recursos para manter as atividades. “O PT tem que se democratizar via digital, tem que ter 1 milhão de petistas conectados (…) Acreditar no fundo partidário, no fundo eleitoral é um erro como foi acreditar no imposto sindical, eles acabam na hora que interessar para eles e aí os partidos ficam sem recurso nenhum”.

E essa democratização digital inclui o aumento das consultas à base filiada, pois isso permite a mobilização da base – e, para Dirceu, os partidos políticos estão completamente defasados dentro da era digital, assim como os sindicatos. “Se nós tivéssemos 1 milhão de filiados do PT conectados, nós teríamos um poder de mobilização fantástico. Então, é preciso democratizar o partido no sentido de fazer consultas”.

Ao abordar a questão da democracia dentro do PT, Dirceu lembra que isso está avançando dentro da sigla e que, evidentemente, existe resistência dentro dos núcleos de poder, além de outras burocracias e correntes, assim como em qualquer instituição. “Então, acredito que há a necessidade de uma revolução interna que está se iniciando nesse sentido. O PT já tem uma eleição direta de presidente, que foi suspensa pela gravidade da situação que nós enfrentamos em 2017 e 2019, mas está vigente no estatuto do PT”.

Segundo o ex-ministro, existe uma nova geração que tem surgido a partir dessa renovação. “Já há um movimento grande de jovens, negros, negras, LGBT+ e muita cultura, muita atividade cultural que já começa a renovar os partidos inclusive, pelo menos os mandatos, e também os partidos, que no PT tem muitos dirigentes novos que estão assumindo importância de mandatos e direções do partido”.

O ex-ministro da Casa Civil ressalta que os partidos precisam se renovar em termos de ideias: “a questão é que o Brasil mudou e o mundo mudou, e os partidos ainda não apresentaram para o país uma mensagem com relação a isso. Eles têm programa, mas é que estamos à beira de uma crise civilizatória, uma coisa mais grave”.

E essa diferença do Brasil em relação ao mundo pode ser vista na forma como a questão da pandemia de covid-19 tem sido tratada – enquanto Joe Biden, presidente dos Estados Unidos,  começa a fazer compras governamentais, rever as cadeias de fornecimento, e faz um pacote de 9 trilhões, o Brasil segue discutindo o teto de gastos e regra de ouro, como lembra Dirceu.

“Então, o atraso dessa elite brasileira só pensa nela, é um egoísmo que tem explicação, a origem nossa na escravidão e tudo que nós já passamos no Brasil, mas é uma tristeza ver essa elite apegada a ideias que nem os países capitalistas – imagina se a Grã-Bretanha, a Alemanha, estão olhando teto de gastos, regra de ouro, eles estão procurando fazer o país se salvar da pandemia e a economia não soçobrar totalmente. Mas é a nossa realidade”.

Dirceu participou da Maratona GGN – A volta de Lula e a suspeição de Moro, onde conversou com os jornalistas Luis Nassif, Patricia Faermann e Lourdes Nassif sobre Mensalão, Lava-Jato e as sucessivas perseguições que sofreu por parte do ex-ministro Sergio Moro, no que era uma espécie de modus operandi da Lava-Jato. Confira a íntegra no link abaixo

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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