TV GGN: eleições 2022, os 5 tenores e o candidato Lula

Confira a análise de Luis Nassif sobre as últimas notícias da economia e da política do Brasil nesta quinta-feira, dia 01 de abril

Jornal GGN – O programa TVGGN20h da noite de quinta (1/4) começa com os dados de covid-19 no Brasil: 91.097 casos foram registrados nas últimas 24 horas. A média de casos no País chegou a 74.239, queda de 3,6% em relação a sete dias atrás. Quanto aos óbitos registrados, 3.769 pessoas morreram de covid-19 nesta quinta-feira. A média móvel semanal chegou a 3.117, “com filas de UTIs mostrando que vai ter uma explosão mais ampla”, diz Luis Nassif.

“Estava ouvindo a live do Bolsonaro e a capacidade de mentir… Ele montou a estratégia dele em: tem fome, tem desemprego, então ele não dá renda básica. Se der renda básica, você abrevia a fome, menos pessoas vão ter que trabalhar e ele joga a conta para os estados”.

Na visão de Nassif, Bolsonaro joga a conta para os estados “confiando na desinformação – ‘então porque o governador está superavitário e não complementa renda básica? Por que não deixa o direito constitucional de trabalhar – que é um angu danado”.

“E nós tivemos alguns movimentos hoje que foi um coletivo de presidenciáveis – a mídia inventa presidenciáveis, e eles ficam presidenciáveis. Então, põem lá o Mandetta – virou presidenciável. Amoedo, Huck. Eles fazem um abaixo-assinado com o Ciro Gomes, com o João Doria e a imprensa fala ‘fato novo que ocorreu'”, diz Nassif.

Para entender esses movimentos, Nassif conversa com Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi. “A eleição não vai começar em outubro de 2022, vai começar muito mais cedo – estamos a um pouco mais de um ano do início político e de opinião pública da eleição do ano que vem”, diz Coimbra

“E estamos repetindo algo que aconteceu na eleição passada (…) Tem uma coisa em comum, que é a proliferação de nomes novos. Nomes que poderiam surgir – claro que eram uma fantasia, como se revelou ao longo do tempo”, diz Coimbra

“Durante um período longo, nós convivemos (especialmente em 2017) – até chegar no final do ano de 2017 nós ainda estávamos lidando com um monte de nomes possíveis que seriam os candidatos novos”, diz o sociólogo. “Nós tivemos o Joaquim Barbosa durante um período longo, tivemos Sergio Moro, tivemos essa turma desses milionários que não tem mais o que fazer com o dinheiro, e resolvem que vão ser candidato à presidência da República, igual esse Amoedo”.

“É a mesma fauna, somados com Ciro Gomes, candidato eterno desde 1994 (…) e Marina Silva, que durante um período longo foi sempre uma candidata possível depois de uma boa performance naquela eleição de 2010 da Dilma, a primeira eleição da Dilma”, explica Marcos Coimbra.

“A um ano da eleição de 2018, nós estávamos iguaizinhos – e, em alguns casos, exatamente com os mesmos nomes: Amoedo, Moro, Ciro Gomes, um candidato que viria do Judiciário, Luciano Huck, a mesma coisa”, diz o sociólogo. “Ou seja: entra ano, sai ano, vem eleição, passa eleição, uma parte da intelectualidade, dos intelectuais orgânicos da centro-direita brasileira se põe a pensar em alguma coisa nova, típico do sistema Globo, típico de alguns dos grandes jornais de São Paulo (…), que estão sempre procurando um novo”.

“Só que lamento dizer que não aconteceu em 2018 e nada sugere que vai acontecer em 2021. Acho que estamos vendo, mais uma vez, uma tentativa de resolver o problema da procura pelo lado da oferta”, diz o presidente do Vox Populi.

Sobre a possibilidade de se formar uma frente em torno do antipetismo com “nomes tão díspares” na visão de Nassif, Coimbra diz que não. “Sempre procurei compreender o jogo político do ponto de vista do eleitor, do que o eleitor quer (…)”.

“Se você olha desse ponto de vista do eleitorado brasileiro, nós temos algo que aconteceu de extremamente importante em 2002 que foi a vitória do Lula, que foi um risco – a maioria do eleitorado de classe de trabalhadora, do povo que votou no Lula votou com medo de não dar certo”, explica Coimbra, citando a frase de Regina Duarte ‘Eu tenho medo’.  “O que explica o sucesso subsequente do Lula, e por consequência do PT (…), tudo decorre da enorme surpresa que foi ver alguém com aquele perfil se tornar um presidente muito bom – do ponto de vista do que as pessoas achavam possível ser, e sempre com realismo”.

“Nunca ninguém ficou, assim, encantado com o Lula. Apenas comparou Lula com outros, botou na balança as coisas boas e as coisas ruins do Lula e chegou à conclusão que ele era um bom presidente da República. Aquilo é que mudou o jogo dali para frente. Para o eleitorado de classe trabalhadora brasileiro, passou a existir um personagem que satisfazia a maior parte das expectativas dessas pessoas com relação ao que seria um bom presidente”, diz Marcos Coimbra.

“Lula ganhou aquela eleição, favorito na reeleição seguinte, se quisesse teria dado um passeio na eleição de 2010 – estava cheio de gente sugerindo que ele disputasse o terceiro mandato, e ia ser um baile. Ele não quis por – somos obrigados a dizer – por convicção ideológica, por convicção democrática ele disse ‘eu não quero disputar o terceiro mandato’, contrariamente ao que o FHC tinha feito, que aceitou disputar a reeleição no cargo”, pontua Coimbra

“E (Lula) só não ganhou em 2014 porque a Dilma disse que queria sair candidata, e ele achou que ela tinha precedência, e eu respeito a decisão que ele tomou de considerar que ele não tinha o direito de tirar dela a possibilidade de disputar, que faz parte das regras do jogo”, afirma o presidente do Vox Populi.

“Ele (Lula) ganhou uma, ganhou outra, não ganhou a terceira porque não quis, e não ganhou a quarta porque a Dilma disse ‘olha, eu quero ser candidata’ – e veio nosso amigo Sergio Moro e disse ‘não’, inventou lá as maracutaias dele e o Lula não pôde ser candidato em 2018”, diz Coimbra.

Segundo Marcos Coimbra, nenhuma das pesquisas eleitorais elaboradas por diversos institutos no final de 2017 dava a Lula menos do que o dobro do Bolsonaro. “No pior resultado de pesquisa, em dezembro/17, ele tinha 35 e o Bolsonaro tinha 16”.

Para Coimbra, os bolsões de antilulismo dentro da sociedade “estão em parte da classe média, média para cima, que é anti-Lula, anti-PT, desde sempre. E são parte do que hoje o Bolsonaro tem na sua base”.

“Sempre houve uma parcela nada pequena da sociedade brasileira que não votou nele em nenhuma hipótese. O melhor resultado eleitoral do Lula e do PT em todos os tempos foi o segundo turno contra o Alckmin em 2006 – naquela eleição o Alckmin fez 39%, o Lula fez 60% para arredondar”, pontua o presidente do Vox Populi.

“O que significa dizer que, em nenhuma hipótese, 40% do eleitorado brasileiro votaria ou votou objetivamente no PT, no Lula. Não vamos confundir os números de aceitação, de popularidade do governo, com o compromisso de cravar 13 na máquina ou de escrever 13 na cédula. Então, 40% é o mínimo de antipetismo nas melhores condições possíveis do Lula, que é a reeleição dele próprio em 2006. Então, o antipetismo começa a conversa com 40%”.

Sobre fake news, discurso de ódio e a desvalorização da informação, Coimbra diz que, para discutir a sociedade brasileira, é preciso lembrar a enorme diversidade social e cultural que existe no país – “e o fato de continuarmos a ser uma sociedade pobre. Uma parte majoritária do eleitorado tem baixa escolaridade, baixa informação e baixo interesse por política, mas vota. Vota porque é assim que funciona o sistema político brasileiro, o voto é universal e obrigatório”, lembra Coimbra.

“Nós temos uma parcela muito grande do eleitorado que reage de maneira, vamos dizer, circunstancial ao processo político, ao processo eleitoral (…) Hoje, nós temos em pleno predomínio de uma cultura muito influenciada pelo dia a dia. Em grande parte, o que aconteceu na eleição de 2018 se explica assim. E é, em parte, o sucesso da estratégia de desmoralização e desconstrução do Haddad que foi fundamental para explicar a vitória do Bolsonaro, aquele processo só deu certo porque ele foi rápido e direto”.

“Não sei se isso vai acontecer de novo no ano que vem, eu acho que não. A tendência é que esse tipo de estratégia eleitoral – claro que implica em trapaça, em recurso sujo. Esse tipo de coisa funciona uma vez, mas não sei se funciona duas”, diz Coimbra.

“Nós temos um cenário em que a eleição do ano que vem, mesmo com Lula na disputa, muito improvavelmente se resolverá no primeiro turno. Nem Lula e nem Bolsonaro, que obviamente são os dois candidatos mais fortes – o fato é que nenhum dos dois parece ter condições de, no primeiro turno, liquidar a fatura com mais 50% dos votos”.

“Provavelmente, nós vamos para uma disputa em segundo turno com esses dois nomes (Lula e Bolsonaro) – é impensável, pelo que a gente conhece da sociedade brasileira – que qualquer um desses cinco cidadãos consiga (…) Quem não é, ainda, não será nesse intervalo de tempo”

“Se nós concordarmos que o Lula, provavelmente, sairia na frente dele (Bolsonaro) em um primeiro turno, nós estamos falando de 60% dos votos que os dois juntos teriam (…) O problema do Bolsonaro é que ele é um presidente horroroso, que faz um governo calamitoso e nada sugere que melhorará de agora até o ano que vem”, diz Marcos Coimbra

“O Bolsonaro vai ter que defender um governo horrível contra alguém (Lula) que o único, digamos assim, grande problema, é essa conversa de corrupção. E (Bolsonaro) ficou muito desmoralizado depois de tudo o que aconteceu”, diz Coimbra.

“Depois que as pessoas colocaram a velha coisa de colocar os defeitos do Lula em um prato da balança, coloca as qualidades dele, e vê o que é mais importante. Para a grande maioria das pessoas, ele tem muito mais qualidades do que defeitos”.

Para Coimbra, o principal problema do PT vai ter é a “narrativa que explica os problemas do presente, por conta da roubalheira, coisas erradas (…) que é uma história construída pelos adversários do Lula e que tem escassa base na realidade. É claro que isso vai perdendo aderência na medida em que o tempo vai passando. O Bolsonaro acha que, na ignorância dele, ele acha que consegue repetir o cenário cultural da eleição de 2018, e é impossível”.

“Outra coisa é achar que a conversa ‘é tudo culpa do PT’ tem base. Nesses quatro anos depois de 2018, aconteceu o oposto – ele (Bolsonaro) teve a faca e o queijo na mão e fez o que fez. A experiência brasileira com a pandemia é definitiva na demonstração da incapacidade dele (Bolsonaro) e da turma dele (…)”, ressalta Marcos Coimbra.

Redação

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