A hora é esta! Não há tempo a perder!, por Edmundo de Moraes

Tempestade

A hora é esta! Não há tempo a perder!, por Edmundo de Moraes

A pergunta mais relevante neste momento é como reverter essa situação? O que fazer para que a vontade soberana da maioria da nossa população, contrária ao autoritarismo, prevaleça?

Começou como uma brisa. A brisa foi se transformando em vento. Insuflado pelas zonas de instabilidade, o vento foi se intensificando até que parecia uma tempestade tropical. Quase chegou a se tornar um furacão. No dia seguinte, abro a janela para ver os estragos. Coração pulsando. Pulsa mais forte ainda quando eu vejo que a Árvore da Esperança ainda está em pé!

A Árvore da Esperança alimenta os sonhos daqueles que, como eu, acreditam que a pacificação não pode ser alcançada com mais armas e mais violência. Os sonhos daqueles que acreditam que a justiça não pode ser alcançada com discriminação e intolerância. Os sonhos daqueles que acreditam que a democracia é o instrumento mais eficiente para encontrar as soluções dos problemas coletivos e precisa ser cultivada no dia a dia, alimentada pela diversidade de ideias, condição essencial para a sua existência. Os sonhos daqueles que acreditam que esse compromisso não é só com a nossa nação, mas também da nossa nação diante do restante da humanidade, pois esses sonhos não são só nossos, brasileiros. São os sonhos de todos os comprometidos na construção de um mundo mais justo, mais fraterno, mais livre.

A Árvore da Esperança ainda está em pé. Não poderia ser de outra forma. As suas raízes estão ancoradas firmemente, adubadas pelo trabalho de muitos que dedicaram e muitos que dedicam as suas vidas para que possamos avançar nas nossas conquistas. Aqueles que nos incentivam com a viabilidade dos nossos sonhos. Vistos deste modo, os nossos sonhos estão logo ali, ao nosso alcance.

Então, entre desesperado e esperançoso, eu procuro entender a situação. Eu sinto que as nossas conquistas estão sob ataque. As nossas conquistas contrariam interesses econômicos, políticos e geopolíticos. Um país justo, acaba com privilégios. Um país democrático, coloca o poder nas mãos da maioria. Um país soberano, acaba com a submissão.

Que ataque é esse? Qual o potencial do vendaval que nos atingiu?  É claro que eu entendo que o fundamento da democracia é respeitar a opinião da maioria da população. Mas, que maioria é essa? Ao analisar os números da eleição para presidente no primeiro turno, eu vejo que o candidato que estava no olho da tempestade obteve exatamente 33,43 por cento dos votos possíveis, ou seja, considerando-se a população total de eleitores. Isso significa que a tão temida tempestade foi provocada por exato um terço dos eleitores habilitados para votar. Um terço!

Desse um terço do eleitorado que fez parte dessa tempestade, quantos realmente eram agentes ativos nesse fenômeno atmosférico? Quantos foram levados de roldão pelo vendaval?  É claro que não existem condições para se precisar essas respostas. Mas podemos fazer algumas considerações.

As últimas pesquisas realizadas com a inclusão do nome do Presidente Lula como candidato apontavam que ele era preferido por cerca de 39 por cento dos entrevistados. Fernando Haddad, candidato apoiado pelo Presidente Lula, obteve exatos 21,27 por cento dos votos possíveis no primeiro turno da eleição. O candidato Ciro Gomes, que ficou em terceiro lugar com exatos 09,06 por cento dos votos possíveis e que, em princípio, poderia ter recebido votos daqueles que inicialmente votariam no Presidente Lula, na pesquisa acima citada era preferido por 05 por cento dos entrevistados. Isso significa que um percentual considerável de eleitores que iria votar no Presidente Lula votou no candidato que chegou em primeiro lugar.

Eu tenho muita dificuldade em aceitar que alguém que votaria no Presidente Lula seria uma pessoa convicta de que a violência deve ser enfrentada com mais violência, de que a discriminação e a intolerância sejam aceitáveis e estimuladas, de que o autoritarismo e a tortura sejam justificáveis. É mais fácil admitir que essas pessoas votaram no candidato da tempestade sem convicção formada, sem concordar com as ideias por ele defendidas. Foram levadas de roldão pelo vendaval.

Assim também, outras pessoas que inicialmente não iriam votar no Presidente Lula podem também ter sido levadas pelo vendaval, sem defender as ideias do candidato. Na última pesquisa citada, o candidato que chegou na frente no primeiro turno tinha 19 por cento de intenções de votos. Não podemos negar que a tempestade se formou a partir de condições que possibilitaram a sua existência e é inegável que existam pessoas que pensam exatamente como o tal candidato e comungam com ele o viés autoritário. Mas, mesmo na ausência de uma base empírica, eu me permito afirmar que a base de sustentação ideológica do candidato da tempestade é minoritária entre a nossa população. Essa afirmação é respaldada pela pesquisa recente que mostrou ser de 12 por cento os entrevistados que apontaram um regime autoritário como opção.

Então, como o vendaval chegou a acontecer? Um elemento que eu considero inegável foi a demonização da imagem do Partido dos Trabalhadores objeto de uma campanha incansável na grande imprensa nos últimos anos, realimentada pela propaganda eleitoral de alguns candidatos e intensificada nos dias que antecederam a eleição. A avalanche de mensagens eletrônicas com informações falsas faz supor a possibilidade de terem sido utilizadas técnicas de manipulação da opinião pública empregadas nas eleições americanas e inglesas.

A pergunta mais relevante neste momento é como reverter essa situação? O que fazer para que a vontade soberana da maioria da nossa população, contrária ao autoritarismo, prevaleça?

Eu penso que só uma resposta incisiva da população pode superar o aparato midiático e tecnológico arquitetado para a implantação do autoritarismo político, econômico e moral no nosso país. Não consigo identificar a possibilidade de neutralidade nessa disputa. Deixar de votar, anular o voto ou votar em branco é manter as coisas como estão, ou seja, é se alinhar com o autoritarismo.

Eu penso que esta é a hora do nosso potencial humano prevalecer, da nossa grandeza enquanto um povo que segundo Darcy Ribeiro está se “construindo na luta para florescer amanhã como uma nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre, porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais humanidades. Mais generosa, porque aberta à convivência com todas as raças e todas as culturas e porque assentada na mais bela e luminosa província da Terra”.

Por isso, a resposta deve surgir das entranhas da nossa sociedade. Dos movimentos sociais que se organizaram na luta e se prepararam para um momento de luta como este. Uma luta pela sobrevivência dos próprios movimentos, explicitamente ameaçados. A hora é esta. Não há mais tempo a perder!

 

 

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador