Editorial do The Guardian alerta: democracia do Brasil em perigo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – O jornal britânico The Guardian publicou editorial contundente sobre as eleições no Brasil. O diagnóstico do jornal é de que a democracia do Brasil está em perigo com o extremista direitista Jair Bolsonaro em ascensão. O jornal diz: ele não é o Trump – ele é pior.

O jornal coloca que o risco, antes impensável, de que o político de extrema-direita pudesse se tornar o presidente do Brasil, é agora real. “O perigo que ele representa para a democracia é imenso”, diz o jornal, e milhões de brasileiros, sobretudo as mulheres que apelaram para o #EleNão em protestos em masso, sabem bem o que está em jogo. “Eles não estão apenas ansiosos”, diz o editorial, “estão, com razão, assustados”. 

Mas o texto aponta que o candidato teve aumento de apoio nas últimas semanas. E as pesquisas o colocam cerca de 10 pontos percentuais à frente de seu rival mais próximo, Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, na primeira rodada de votação de domingo, e até um provável vencedor no segundo turno das eleições.

“Chamá-lo de Donald Trump na América Latina, como alguns o fizeram, é muito gentil”, brada o texto. E coloca que Bolsonaro é misógino e homofóbico, e suas opiniões sobre as comunidades indígenas e o meio ambiente são tão sombrias quanto ele. “Ele elogia os torturadores e a ditadura militar que governou o Brasil de 1964 a 1985. Recentemente, ele pediu que os oponentes políticos fossem mortos. Seu fanatismo é retratado como ‘honestidade'”, alerta o jornal.

O jornal reconhece que o que acontece no Brasil, assim como aconteceu nos EUA, é um sintoma de problemas mais profundos. Congressista desde 1991, Bolsonaro era considerado ofensivo, mas irrelevante. Agora ele capitalizou os problemas do país com uma campanha populista. Recessão, corrupção, crimes violentos são ingredientes para o país ir em busca de um punho de ferro. Ser esfaqueado apenas impulsionou a campanha de Bolsonaro. E ele se apresenta como um forasteiro que vai limpar a política, construiu seu apoio atra´ves da mídia social e o faz melhor entre os jovens eleitores. Por outro lado, extrai força das antigas forças brasileiras: militares, ricos fazendeiros e os empresários, os socialmente conservadores; além de ter o apoio de peso das igrejas evangélicas.

“Sua ascensão foi alimentada pelas falhas reais e percebidas do PT, expulso do poder em circunstâncias duvidosas há dois anos com o impeachment da então presidente Dilma Rousseff”, diz o editorial. E as duras políticas de austeridade de Michel Temer, de centro-direita, que evitou julgamento por acusações de corrupção em uma votação no Congresso no ano passado, alimentam o clima antipolítica. 

O jornal aponta que, no entanto, a figura dominante do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, continua muito popular mesmo cumprindo sentença de 12 anos por corrupção. Se os tribunais permitissem que Lula resistisse, diz o jornal, o senhor Bolsonaro teria achado essa corrida muito mais difícil. Haddad, aponta o jornal, o substituto de última hora, é lembrado como o ex-prefeito de São Paulo, mas ainda pouco conhecido. E os apelos para que os candidatos centristas Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e Marina Silva se unam como alternativa unificadora, chegaram tarde demais.

Os temores são de que  Bolsonaro vença no primeiro turno, diz o editorial, com maioria absoluta. Outros ainda temem que, em um segundo turno, os candidatos derrotados – e seus apoiadores – não consigam se aproximar de Haddad em uma rejeição decisiva de Bolsonaro. Seu companheiro de chapa, relata o jornal, um general, sugeriu recentemente que, em uma situação anárquica, o governo poderia promulgar um auto-golpe. Os oponentes temem que, se Haddad vencer, seu rival afirme que o resultado é ilegítimo – e que o exército poderia intervir.

Mesmo no melhor cenário – de que Bolsonaro seja derrotado e seus aliados aceitem isso – dificilmente seria motivo de comemoração, diz o jornal. As forças que lhe deram origem não desaparecerão por si mesmas. “Reconstruir a economia, reduzir o crime e combater a corrupção será essencial para a construção de uma cultura política mais saudável”, diz o jornal, “essa é uma tarefa verdadeiramente gigantesca, mas agora é a melhor esperança do Brasil”, finaliza o editorial.

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

10 Comentários

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  1. pelo visto…

    se eleito, será o melhor governo para as indústrias da violência,

    das que vendem inicialmente como espetáculo para depois transformar em objeto de consumo

     

    que demais ser violento! queira ser também! propagarão

  2. Um aviso antevendo uma futura extorsão….

    A mídia empresarial transnacional está malandramente avisando que a falência total da nação brasileira (que inevitavelmente acontecerá se houver o emPOÇAmento do Capitão Facínora em 2019) é responsabilidade EXCLUSIVA dos brasileiros.

    Portanto, qualquer socorro financeiro internacional terá um custo extremamente alto para os bananeiros (talvez, exijam a entrega total da região amazônica)  

  3. Por incrivel que pareça, hoje
    Por incrivel que pareça, hoje ouvi de um assalariado o seguinte: não me importo em perder o 13 salário, desde que a esquerda seja derrotada….quer dizer, o cara topa passar fome em troca de uma satisfação ideológica que beneficia não ele mas tão somente o patrão dele….______________ ……um outro afirma que  a lei da oferta e procura tem que regular as relações trabalhistas______________ E justificou o fim do 13 salário com base nessa premissa______________ E todos que estavam na sala, que ganham 1 SM________________ ….. repetiu o discurso anti comunista de que com o PT o Brasil iria virar a Coreia do Norte e que o PT quebrou o Brasil e que o BozoNazi seria honesto…________________ sugeri a ele fazer uma busca no google sobe a inexplicável evolução patrimonial do coiso, e também um pesquisa sobre o PIB no governo Lula ou PIB Brasil até 2014, ano em que nossa elite assassina optou por detonar a economia para dar o golpe___________________inútil dizer isso a um bolsomio_____________ pior do que Bolsonaro é essa massa ignara que o segue, que defende a ideologia liberal do estado minimo para o povão e máximo para o banqueiro e confunde liberalismo social com comunismo_____________ Já tentei conversar com  bolsominios mas é inútil___________quando vc abre um cadeado imediatamente eles fecham outros. São verdadeiros zumbis que emergiram das trevas nas Jornadas de 2013 capitaneadas pela Globo…..______________  …escravos se fazendo de ouvidos moucos….____________ Simplesmente não tem como vc ajudar e, se tenta, torna-se inimigo________________ E quem, assim como eu, expõe seu ponto de vista,  passa a ser visto como inimigo, o vermelho, o comunista…..______________ 2103 não terminou: e promete viu….__________ 

    1. Na verdade começou faz algum

      Na verdade começou faz algum tempo, uns 100 anos. De lá para cá o golpe vem se aperfeiçoando na tarefa de destruir estados nacionais. Perto da gente, tomaram nossa democracia em ’64, bombardearam a sede do governo do Chile em ’73… e depois ainda dizem que são os comunistas os ditadores.

      Pode ser que regimes socialistas tenham sido totalitários, centralizadores… nâo dá para ter certeza, a nossa imprensa se auto-censura e mente descaradamente quando trata de regimes socialistas. Mas o que a gente vê, com certeza, e sente são ditaduras de “direita”.

  4. Democracia em perigo?

    Sou obrigado a admitir que o Bolsonaro é uma figura aglutinadora da direita orgamizada, mas também do conservadorismo pulverizado e da direita que se viu sem opção, que o tucanato não representa mais e tende a emagrecer um pouco mais. 

    Parece acertada esta observação, em que o Bolsonaro com sua apologia de extrema-direita é tratada como honestidade; porém, ela é uma continuação e uma extensão das “verdades” que gente do nível do tio Rei se colocou e também o movimento de aluguel Brazil Free Movement, com seus “pronto, falei” e quetais, estiveram em voga. O primeiro, levemente arrependido depois de um pé na bunda; o segundo, foi alugar seus serviços para outras pessoas.

    Quando o Vadimir Safatle colocou a discussão da questão da esquerda no plano cultural, num primeiro momento, estranhei; mas, na verdade, ele estava correto: o conservadorismo e o pensamento de direita – com suas acusações deslavadas, preconceituosas e infundadas – tomou um campo que era progressista e que fez parte de uma resistência feroz à arbitrariedade. 

    Talvez não possamos olhar, por enquanto, a situação do país numa ótica progressista sem considerar o pensamento liberal. A esquerda não consegue lidar com todos os aspectos destas lutas, que ocupam espaços antes tradicionais da própria esquerda (não sejamos tão tolos, a esquerda ainda é o único polo que consegue juntar estas lutas, mas pelo fato de os liberais organizados no Brasil, em sua maioria, serem mais conservadores no plano dos costumes).

    Sobre estar em perigo, o perigo sempre esteve aí, de modo consistente, de mil maneiras, uma delas na forma das “jornadas”… Agora, escancarou-se, com poderes pulverizados e tornando o poder político um exercício de força arbitrária.

  5. …dizem meus botões que

    …dizem meus botões que caminhamos para uma realidade politica do tipo Egipnéria, mistura de Egito com Nigéria: no campo poltitico, uma didatura mantida pela pecha de “eleita” quando o que há é: perseguição contra a oposição inclusive prisão politica do candidato cuja vitória era certa, censura, fake news, impedimento de exercício do voto a mais de 3 milhões de brasileiros, alta quantidade de abstenção e votos nulos e brancos….. no campo da economia, o regime golpista a ser continuado se o coiso for eleito, será uma repetição da  Nigéria:  muito petroleo e riquezas outras mas tudo nas mãos dos gringos…..enquanto isso, 90% da população no miserê e 10% de bilionários que manterão a população debaixo do relho…

    …alguém ai me dá uma carona pro Uruguai….

  6. Deu no The Guardian…

    …depois deu no New York Times. E ainda, insaciável, deu na Folha, atrás da igreja e no mato.

    Precisa ler jornal estrangeiro para saber o que está acontecendo no nosso país…

    A democracia brasileira, nossa cidadania, não está em perigo; foi estuprada e morta faz tempo. A gente gosta quando dá no estrangeiro, é isso? Que finos, nós! Aceitamos uma “prenda, qualquer coisa, sim”. Contentamo-nos com esmola. Mas esmola em dólar, hein?

     

  7. Melhor JAIR se acostumando

    Melhor JAIR se acostumando com os crimes, com a ditadura, com a xenofobia, com o desrespeito à Constituição!!! Melhor JAIR se acostumando com o fim da “democracia”, ou melhor dizendo, com o fim do Sistema Feudal como conhecemos.

  8. Estupro eleitoral
    O que dizer dos 54 milhões de votos da Dilma nas eleições de 2014? Ali a democracia não foi aviltada? Eleições são demonstração da democracia em ação. Ganhe quem ganhar. O estupro foi em 2016.

  9. Deveríamos observar com

    Deveríamos observar com atenção o exemplo da nossa vizinha Argentina. Elegeram um candidato de direita, ultraliberal, extremamente elogiado pelo Bolsonaro, e em apenas dois anos ele levou o país ao colapso total, com o dólar saindo de 8 para 40 pesos, aumento de desemprego, inflação de 65% ao ano, além de outros problemas (volta ao FMI, etc).
     

    A história recente está aí para nos mostrar, entretanto alguns preferem não enxergar o que pode ocorrer conosco em curtíssimo espaço de tempo.

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