Go Biden, go!, por Gunter Zibell

Tem 22 estados que desde 1980 praticamente só votam em republicanos para majoritários e desde 1996 tem outros 21 que só votam em democratas

GO BIDEN, GO (Um post para reduzir a ansiedade de seus fãs)

por Gunter Zibell

As eleições nos EUA são definidas em 7 ou 8 estados-púrpura. Os três mais decisivos são Pennsylvania, Michigan e Wisconsin. Em 2016 Trump ganhou nesses por 1 ou 2 pp de diferença, muito mais por autoboicote de democratas a Hillary (pois Trump apenas repetiu a votação de Mitt Romney). Em 2020 foi Biden que ganhou por margens assim.

No resto do país as campanhas se ocupam principalmente de deputados. Isto porque tem 22 estados que desde 1980 praticamente só votam em republicanos para cargos majoritários e desde 1996 tem outros 21 que quase só votam em democratas.

E nos grandes estados não tem sequer a oscilação que se vê em MG, RJ, RS e RMSP. O eleitorado americano é mais cristalizado na divisão geográfica que o brasileiro.

Pelo sistema de colégio eleitoral não faz muita diferença, em estados com muitos delegados, o gap entre os partidos. Republicanos não tem chance em NY e CA, Democratas não tem chance no Texas. E tais gaps são crescentes no tempo.

Não é, portanto, como Europa e América Latina, onde a visão do público sobre os candidatos e partidos ao longo de todo o período de 4 anos e em todo o país é vital. E como o voto é optativo é importante apenas a visão em 7 ou 8 estados e a capacidade de mobilização nos últimos meses antes da eleição.

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CARTAS MAIS MARCADAS DO QUE PARECEM

Vale a pena ver a evolução do Colégio Eleitoral nas últimas 13 eleições. Embora se diga que esse sistema favoreça os Republicanos (2000, 2016), os Democratas nunca tentaram mexer nele porque sabem que no longo prazo a demografia pode levar a uma situação em que só eles vão vencer.

As eleições nos EUA costumam ter um pólo favorito por 7 a 9 ciclos seguidos. As alternâncias comuns de 8 anos para um e 8 para outro foram mais fruto de coincidências.

Houve um grande ciclo Democrata de 1932 a 1964, onde os Republicanos apenas venceram 1952 e 1956 (Eisenhower, talvez pelo desgaste de Truman com a Coreia).

Seguiu-se, após o Voting Rights de 1965, uma reação conservadora, que predominou nas eleições de 1968 a 1992. Os Republicanos (Nixon, Ford, Reagan, Bush Sr) só não venceram duas eleições. A de 1976, onde Carter venceu de raspão (e pelo desgaste dos republicanos com o Vietnã e Watergate) e a de 1992, onde poderiam ter vencido se não fosse a cisão provocada por Ross Perot. Note-se em uma coluna para 1992 como Clinton recebeu menos de 50% na maior parte dos estados.

Mas em 1996, vencendo em 32 estados (o que não mais se repetiu), Clinton inaugurou um novo ciclo Democrata, onde o perfil demográfico passou a ser decisivo. Dois aspectos foram fundamentais: a imigração (que começou em larga escala em 1980 – justamente o governo Reagan foi o que mais admitiu imigrantes na história desde a Depressão) trouxe muitas famílias, da América Latina e Ásia, que se tornariam mais democratas que republicanas; as Guerras Culturais, iniciadas pelo conservadorismo (ainda democrático de Reagan) que afastou jovens, queers e mulheres com nível superior dos Republicanos.

Nesse período 1996 a 2020, os Democratas venceram o voto popular em 6 de 7 eleições, perdendo apenas em 2004 (efeito Torres Gêmeas, Afeganistão, Iraque). Bush Jr não venceu a eleição de 2000 só por causa da polêmica Flórida (que já era um estado-púrpura onde um republicano poderia perfeitamente ser favorito), mas por ter recebido inesperadamente os 4 votos de New Hampshire, garantindo-lhe a vitória mais apertada da história (271 x 267). (A vitória de 2004 foi quase tão apertada quanto, pois Bush Jr só virou dois pequenos estados.) Do mesmo modo, Trump venceu em 2016 basicamente porque Hillary foi boicotada pelos próprios democratas, ao votarem nos verdes em Pennsylvania e Michigan, ou simplesmente não votarem. Sem esses 36 votos para Trump, Hillary seria presidenta.

De qualquer modo, de 23 eleições desde 1932, e considerando as tendências a reeleição de postulantes (Eisenhower, Clinton, Bush Jr), apenas 5 (1952, 1976, 1992, 2000 e 2016) fugiram às macrotendências políticas de sua época. E em duas os Democratas foram favorecidos pelos eventos. Grosso modo, dado que a “Blue Wall” tem 276 votos, 6 a mais que o mínimo necessário, os Democratas só perdem eleições no atual ambiente quando não se esforçam na mobilização ou quando não são fieis ao seu próprio candidato. (Eu, pessoalmente, acho a existência de Independentes muito superestimada, pois não há 30% de eleitores que oscilam, apenas 3 ou 4% por estado.)

Mas Trump, como Carter em 1976, já não se reelegeu em 2020. Será que consegue em 2024? Mas Biden não cometeu nenhum erro grave (ok, minha opinião não conta neste caso 😉 ). E a temida “Onda Vermelha” não aconteceu em 2022. O que conta mesmo é que se Biden mantiver a Pennsylvania, Nevada, Wisconsin (ou Arizona) e Michigan já consegue os 270 votos que precisa. Meu palpite (assumidamente otimista e na última coluna) é que Biden vencerá por 277 x 261 (invertendo o que ocorreu com Bush Jr em 2004). (Sabemos que Trump está na frente nas pesquisas em todos esses estados, mas é por poucos pontos e ainda é possível reverter com propaganda e mobilização em 8 meses.)

Um parágrafo sobre os pequenos estados. Não é fato de que são mais conservadores, pois tanto os Democratas quanto os Republicanos ganham, cada um, em 7 estados com apenas 3 ou 4 delegados, e isso desde 1992.

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Redação

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