Jean-Luc Mélenchon, uma nova esquerda que nasce na França, por Rogério Maestri

por Rogério Maestri

Já nas últimas eleições presidenciais francesas aparecia no espectro político francês um movimento que hoje é denominado “La France insoumise” (A França Rebelde) porém nas eleições concorreu como Front de Gauche (Frente de Esquerda), que naquelas eleições no primeiro turno, abafada pelo chamado voto útil, no primeiro turno o candidato do Front de Gauche atingiu o quarto lugar nas eleições com 4 milhões de votos (exatamente 3.984.822).

A frente atual  “La France insoumise” conta atualmente com os mesmas adesões que na última presidencial mas ainda com a participação já na montagem do programa com os Verdes franceses que na eleições em 2012 receberam uma expressiva votação de 828 345 votos.

Esta votação se somada já é a quarta força do espectro político Francês que provavelmente devido a “debacle” completa do partido Socialista Francês, que pela primeira vez em muitas décadas o presidente da República deste partido abriu não de se candidatar a reeleição, provavelmente o efeito do voto útil ou será abandonado ou transferido à Jean Luc Mélenchon, o candidato em 2012 e que se candiará em 2017.

Porém falar em esquerda, em nome de candidatos nos dias atuais não faz muito sentido, porém falar na plataforma detalhada pelo candidato em um livro há mais de meio ano antes das eleições parece algo mais politicamente correto.

O programa da França Rebelde apresenta características que são completamente diferente do atuação do partido Socialista Francês que levou a Francois Hollande a não se recandidatar. Primeiro é claramente um programa claramente anti neoliberal, propõe um Estado forte, uma ação fiscal contra os mais ricos, a eliminação dos tratados internacionais, a saída da França da OTAN, o fim da ação militar francesa no terceiro mundo, e mais outros itens básicos como aumento do salário mínimo, investimentos públicos e uma grande bananada a União Europeia.

Não está no programa mas está em algumas entrevistas do candidato, o não pagamento da dívida interna francesa, que provavelmente seria paga em espécie (com uma inflação calculada do em torno de 4%) que livraria a França deste encargo. Também há componentes de fechamento da economia francesa, retirando uma série de incentivos de empresas que trabalham fora da França, forçando a migração do capital para o país.

O programa de governo é extenso mas há uma sólida visão de esquerda que propõe alterações no modo de produção, não só na economia formal.

Em breve teremos as primeiras pesquisas com a nova composição do cenário eleitoral que se esta nova tendência não passar para terceira força ficará muito próximo.

Redação

12 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Queira desculpar-me Rogério,

    Queira desculpar-me Rogério, mas Mélenchon é a velha esquerda radical da França.

    Não há nada de novo em Mélenchon. Eu moro em Paris, sou brasileira e francesa e acompanho a política

    francesa todos os dias. Ele não tem nenhuma change no espaço político francês.

    Se continuar decidido a disputar as eleições presidenciais sem passar pelas primárias de esquerda, ele além de dividir a esquerda, terá manos de 3% de votos nas eleições. Muito inferior ao FN que é o partido da extrema direito que tem mais ou menos 27% do eleitorado francês. 

    A próxima eleição presidendencial será catatrófica para a França se a esquerda continuar dividida, pois a esquerda vai fazer as primárias e é certo que é um dos candidatos do Partido Socialista que vai ganhar (Manuel Vaz que maior chance, ou Montbourg, tendência radical do próprio PS, com menos chance que Valls, que é o primeiro ministro até hoje, mas renuncia o cargo no dia 6 de dezembro).

    Além disso, tem o candidato Emanuel Macron que navega no centro progressista, e que decidiu disputar a eleição sem passar pela primária da esquerda, com chances de ter pelo menos 15% dos votos na eleição presidencial. Macron foi ministra da economia de Hollanda, mas resolveu sair do cargo e disputar sem partido a eleição presidencial.

    Dessa forma, o campo da esquerda terá 3 candidatos: um do PS, o Mélenchon e Macron. Eles não conseguirão chegar ao segundo turno das eleições presidenciais, pois estão divididos.

    Abrindo porta para a vitória da extrema direita da Marine Le Pen e para o candidato dos Republicanos (François Fillon), representando a direita liberal. Os dois provalmente disputarão o segundo turno, se a esquerda mantiver os 3 candidatos.

    A direita fez a primária e foi o Fillon quem ganhou, com 67% dos votos.

    O cenário é catastrófico na França porque esses dois partidos de extrema direita e de direita, que devem ficar no segundo turno, tem o discurso do ódio contra os imigrantes. São conservadores ao extremo, com uma diferença: Marine Le Pen que o isolamento da França, saída da Europa, e o Fillon não. De resto é o retorno do que é de mais retrogrado na política francesa.

    E se eles ganharam, parte da responsabilidade recairá na cabeça de Mélenchon, por dividir a esquerda. Ele está isolado no cenário francês, mas os votos que ele poderia ter mais os do Macron, poderia evitar a vitória do FN.

    Então os franceses não terão muita alternativa no segundo turno, votar direita dos Republicanos ou votar extrema direita.

    Pela união da esquerda francesa… sem Mélenchon como candidato, e sem Macron como candidato. Que os dois decidam participar da primárias, ou a França estará entregue nas mãos da direita ou da extrema direita nos próximos 5 anos. 

     

      

    1. Cara Elizabete Oliveira, primeira coisa, já morei na França…

      Cara Elizabete Oliveira, primeira coisa, já morei na França três anos e meio, retornei para falar com meus amigos franceses já duas vezes depois disto e da última vez fiquei dois meses como baby-siter de minha neta que nasceu na França e sigo notícias deste país lendo até a porcaria que se tranformou o Le Monde. Logo conheço a França muito bem e tu dissestes um monte de besteiras que vou confrontá-las.

      Jean-Luc Mélanchont não foi um radical como colocaste, foi um membro do Partido Socialista desde 1976 até 2008 (32 anos), se ser membro do partido socialista Frances é ser radical de esquerda, ou tu és uma grande humorista ou não sabes nada de política, pois não existe na Europa um partido Socialista que faz toda a política de direita como o Francês.

      Segunda coisa, não há uma primária da esquerda, há uma primária do partido socialista que junto deste parece que há outro partido de esquerda daqueles que cabe em micro-ônibus.

      O Partido Comunista Francês que foi durante anos uma espécie de “valet de chambre” do partido socialista e minguou cada vez mais exatamente por estar aliado a um partido social democrata, não vai participar desta pseudo-primária eleitoral de esquerda, e também os verdes não vão participar desta pequena farsa socialista, nem estou falando da Lutte ouvrière trotskista, logo de primária só tem bastante gente a participar porque o PS está tão dividido que vão quase uma dezena de socialistas participarem da festa.

      Quanto as chances do PS ganhar estas eleições presidenciais são minimas e principalmente com Manuel Vaz, pois a crise do PS Francês que levou a François Hollande a renunciar tem como primeiro ministro exatamente Manuel Vaz. Lembro que nas últimas sondagens de opinião do balanço do governo de Hollande é considerado negativo por aproximadamente 80% dos eleitores franceses e mais de 50% dos eleitores do PS.

      O que o PS Francês está fazendo é o tradicional Voto Útil, que no caso será um voto inútil, pois mesmo Mélanchont não concorrendo o PS não ganha.

      Fillion é o melhor adversário que a esquerda pode ter, ele abriu sua campanha com uma política completamente e deslavadamente neo-liberal e de Estado Mínimo que nem a Marine le Pen teve coragem de sugerir.

      Exatamente por erros como citar Emanuel Macron como um representante do Centro Progressista sendo ele ministro do governo Fillion, banqueiro da casa ​Rothschild, mostra como o Partido Socialista Francês e seus apoiadores brasileiros estão com os conceitos confusos.

      O problema clássico que está se pondo não só nesta situação é a identificação do que é e o que significa dizer que um partido é de esquerda, o partido Nazista se denominava nacional-socialista e não é porque no seu nome aparece o socialista que define a posição que grupos políticos diversos deveriam tratá-los, o importante é definir na prática de cada denominação que poderia ser substituída por partidos A, B, C, ….. o que cada um desses partidos fez e por consequência fará para a classe proletária, logo se o PS Francês pode ter uma prática neo-liberal como a que tem tido nos últimos anos ele é um partido neo-liberal, e PS e Fillion não farão tenta diferença.

      1. Equívocos de leitura

        Hoje Mélenchon est radical de esquerda. Isso não é menosprezo, ao contrário, eu admiro os radicais de esquerda, mas na França de hoje, a esquerda radical não tem voto. (infelizmente)

        Emanoel Macron é liberal, mas foi ministro da economia de Hollanda. Não é de nenhum partido e faz campanha sem partido, mas estava na equipe econômica do PS.

        Partido nacional socialista não tem nada a ver com o campo da esquerda. Sou professora de história, socióloga, petista no Brasil, de esquerda na França e fazendo doutorado em História na Sorbonne. Eu conheço bem a história do nazi-fascismo e da manipulação daqueles ditadores em colocar o socialismo no nome para enganar a classe trabalhadora.

        Mélenchon é do Parti Radical de esquerda (Parti radical de gauche)

        A primária é de esquerda e não apenas do partido socialista (Como Mélenchon não quer participar, ele acusa o PS). O presidente do PS fez um apelo anteontem para que Mélenchon e Macron participem da primária da esquerda.

        Leia este trecho de jornal de anteontem. PARIS (Reuters) – Emmanuel Macron et Jean-Luc Mélenchon ont à nouveau exclu de participer à la primaire de la gauche en vue de la présidentielle, malgré les appels répétés du Premier secrétaire du Parti socialiste, Jean-Christophe Cambadélis.

        ( fonte deste apelo: http://fr.reuters.com/article/topNews/idFRKBN13T0Q8)

         

        Olhe uma das manchetes de jornais franceses.

        Primaire de la gauche : le calendrier des débats

        Les candidats à la primaire de la gauche devraient s’affronter lors de deux ou trois débats avant le premier tour du 22 janvier. Selon nos informations, ceux-ci pourraient être organisés début janvier puis les 12 et 19 janvier.

         

        Aqui abaixo a lista dos candidatos que estão inscritos para a primária da esquerda. 

        As inscrições estão abertas… o PC e o Partido Verde já estão inscritos assim como alguns socialistas.

        http://www.lefigaro.fr/elections/presidentielles/primaires-gauche/2016/08/19/35005-20160819ARTFIG00243-qui-sont-les-cinq-candidats-a-la-primaire-a-gauche.php

        um abraço

        Espero que a esquerda se una na França para barrar a direita e a extrema direita.

        Eu só fiquei surpresa com o seu texto porque você exaltou o programa de Mélenchon dizendo ser algo novo.

        Não é novo e ele não tem, infelizemente, nenhuma chance de ser eleito na primária (essa é a razão de ele não querer participar) e não tem change de ganhar eleição na França, pois a maioria da população francesa infelizmente é de direita.

        1. Elizabete, fiz uma longa resposta e o sistema caiu quando fui…

          Elizabete, fiz uma longa resposta e o sistema caiu quando fui enviar, logo noutro momento quando tiver mais paciência e tempo reescrevo-a.

          Saudações.

  2. Uma francexit

    A questão é que na França a esquerda que esta à esquerda do Partido Socialista é tratada exatamente como a ultra-direita: populista. E a imprensa francesa contribuiu muito para que Mélenchon seja percebido como mais um populista-demagô-barato. Mélenchon é velha figura da cena politica francesa, tem a lingua afiada, aproxima-se de um Ciro Gomes, não hesita em dar uma claques na imprensa francesa e no sistema. Poderia ser uma saida para o surrado sistema partidario francês entre direita e esquerda, mas conhecendo o mainsteam atual, dificilmente a extrema esquerda conseguira uma vitoria. Mais provavel, nesse caso, a carta do Front National. Porém, nada neste momento de crise das instituições impeça que um Mélenchon consiga uma vitoria.

    1. Maria Luisa, a tua interpretação é boa, entretanto configurar ..

      Maria Luisa, a tua interpretação é boa, entretanto configurar Mélenchon como extrema esquerda é licensa poética, pois ele em nenhum momento propõe um movimento revolucionário que irá acabar com as classes sociais francesas e implantar uma ditadura do proletariado, longe disto, sob este ponto de vista sua posição é reformista, que como é aberta pode num futuro evoluir um pouco mais do que o puro reformismo.

  3. Esquerdas

    Não acredito mais nessas esquerdas. Tony Blair, François Hollande, todos estes eram de esquerda, ou se diziam no início. É preciso um novo paradigma e esse simplesmente ainda não é visível. Parece que chegou um caos apocalíptico no mundo todo. Por incrível que pareça, a única liderança progressista firme no mundo é o Papa Francisco. As aporias da vanguarda. Cazuza na veia: “ideologia, eu quero uma para viver.”. Prestes morreu em 1989 ou perto. Fidel em 2016. Eu acho que essas coisas são sinais.

  4. É o cara!

    Venho acompanhando a carreira política de Mélenchon há um bom tempo, suas opiniões, seus artigos, suas entrevistas e acho que é, disparadamente, a melhor opção que a França tem e não pode desperdiçá-la. Ele é o mais confiável e sólido candidato de Esquerda que a Europa tem hoje.

  5. Bom, também já morei na

    Bom, também já morei na França, por quatro anos, e volto por lá constantemente. Acompanho com atenção a esquerda francesa. Não acho correto apresentar Mélenchon como uma novidade, porque o discurso dele é pesado de fórmulas desgastadas e não sabe se colocar diante de questões centrais, tal como o problema do nuclear e da presença francesa na África ocidental, mas, por outro lado, Mélenchon é um nome interessante no processo de renovar a esquerda. Ele e o Front de Gauche dão respostas que os socialistas não conseguem para um monte de assunto. Acho difícil da sua candidatura avançar a ponto de confrontar a direita, representada por François Fillon e a ultra-direita, por Marine Le Pen, mas creio que ele deverá pautar temas importantes e ampliar seu capital eleitoral. Renovação da esquerda, penso, teria sido Besancenot, o carteiro-candidato… 

    1. Fábio, tens assistido os comícios de Mélechon, pois…

      Fábio, tens assistido os comícios de Mélechon, pois se tivesse assistido verias que as duas coisas que tu colocas como indefinidas estão claras, ele já estabeleceu um prazo para o fechamento do nuclear, por outro lado também fica claro que a França não vai intervir na África.

      Povavelmente a informação que estas tendo são informações do ou Le Monde ou do Le Figaro, mas não da boca do Mélechon, o processo que está se passando na França, principalmente pela imprensa escrita é o mesmo que ocorreu nos USA, eles publicam o que querem, mas sugiro que vás até o YouTube coloque o nome do Mélenchon na busca e coloque um filtro de tempo para não vir um monte de coisas antigas, aí tem vários comícios em que ele fala e não o que falam por ele.

      Escute e depois comente.

  6. O problema é que tudo isso é

    O problema é que tudo isso é projeto de médio prazo. O establishment está desabando no mundo todo e não vai esperar a esquerda ressurgir…

    Teremos longos anos de extrem-direita.

  7. Cara amiga, vamos a alguns comentários.

    Mélechon nunca fez parte do Parti Radical de Gauche, mas sim ao Parti de Gauche, muda só um nome mas se confunde a história.

    Quanto a numerosa lista daqueles que participarão nas chamadas impropriamente primárias da esquerda, tem-se basicamente militantes do partido socialista e alguns verdes que já participam do governo socialista, logo não há uma primária de esquerda há simplesmente uma primária do PS que ardilosamente Martine Aubry pretende encaixotar todos os que são de esquerda num pacote único onde simplesmente não há um programa único nem uma mera carta de intensões.

    Participar de uma primária em que um candidato tem um programa definido e o resto são verdadeiros franco atiradores em que a individualidade é o que vale, não é fazer política é fazer uma arapuca para pegar incautos (e Mélechon passou deste ponto).

    Se a França é de direita, como escreves no fim do teu texto, que vote a direita e depois não comecem a reclamar, é um povo bem educado politicamente e culturalmente com uma imprensa relativamente aberta, logo escolham o que acharem melhor.

    Não sei da onde tiraste que o programa de Mélenchon não é novo, leste por acaso ou conversaste sobre isto com os teus companheiros universitários do PS francês?

    Quanto ao falar que o partido nazi era nacional socialista eu sei muito bem que não era socialista, ao contrário totalmente liberal em termos de economia (antes da guerra é claro) e de extrema direita, o que quis chamar a atenção que a denominação de um partido não quer dizer da sua posição política, e o Partido Socialista Francês deixou de ser socialista a uma data, é um partido reformista com passagens periódicas por políticas econômicas de direita. Inclusive diria que a atuação do PS frente a Comunidade Européia é uma verdadeira vergonha.

    Quanto a Emanoel Macron ser um liberal, colocas claramente o que ele é LIBERAL, talvez os sociólogos ou historiadores da Sorbone tenham inventado uma nova classificação de inclinação política, porém desde que me conheço por gente, e já vai longo tempo, liberal sempre foi direita, ele pode até ser simpático e favorável a políticas LGBT e aborto (não sei, estou chutando) mas isto não o torna um homem de esquerda. Esquerda é quem luta contra a desigualdade social criada pelo capitalismo através de uma tentativa de mudança de equilíbrio de forças pondo o proletariado no poder, coisa que o PS Francês não faz ha mais de meio século (ou até mais), repito o PS é um vacilante partido reformista, mais ou menos como a Social Democracia era a décadas no passado.

    Quando procurava a origem da manchete sobre a primária da “esquerda” vi que a origem era de uma senadora do PS Marie-Noëlle Lienemann no Le point, porém isto não é o mais importante, o que chama atenção é a primeira pergunta do Le Point e a resposta da Senadora:

    Le Point.fr : En quoi la candidature de Manuel Valls diffère-t-elle de celle de François Hollande ? Marie-Noëlle Lienemann : Pas grand-chose, puisque le constat lucide qu’a fait François Hollande de son incapacité à rassembler la gauche … Para quem entende o modo francês de se comunicar quando se pergunta qual a diferença de duas coisas e ele respondem “Pas grande-chose, ….” a leitura em português para quem entende é: “Exatamente nada…” Este é o problema o PS será uma mudança em nada “Pas grande-chose…”

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador