Britânica luta contra o estigma de não querer ter filhos

Jornal GGN – Holly Brockwell, uma britânica de 29 anos, luta para convencer médicos do serviço público de saúde a fazer uma laqueadura. Ela conta que sempre é questionada quando diz que não quer ter filhos, afirmando que não acha que seria uma boa mãe. Ela também diz que pretende fazer a laqueadura em razão dos efeitos colaterais causados pela pílula anticoncepcional.

Enviado por Vânia

Da BBC Brasil

Britânica descreve luta contra estigma por não querer ter filhos

Uma britânica de 29 anos que não quer ter filhos descreveu para a BBC a luta para tentar convencer médicos do serviço público de saúde a fazer uma laqueadura.

Holly Brockwell, de Londres, contou que, quando diz às pessoas que não quer ter filhos, sempre é questionada e todos reagem mal à sua decisão.

“O fato é que não há nada a respeito da criação de outro ser humano que eu ache interessante. Isto é algo emocional e quanto você traduz em termos de razões racionais, perde a força”, disse Holly à BBC.

 

“Se eu digo que não acho que seria uma boa mãe, por exemplo, as pessoas respondem: ‘todo mundo se sente assim no começo’. Se eu digo que não consigo imaginar como arrumaria tempo, energia ou dinheiro, me falam: ‘encontre um jeito para conseguir’. Se digo que quero dedicar minha vida à minha carreira, as pessoas dizem que sou ‘egoísta'”.

A britânica afirma que todos pensam que, a partir das respostas que as pessoas dão, todos os que têm filhos são extremamente felizes com suas escolhas.

“Sei, categoricamente, que isto não é verdade pois aconteceu com minha mãe”, diz. “Ela nunca escondeu o fato de que não queria ter tido filhos e apenas concordou com isso porque meu pai era desesperado para ter uma família.”

Medo

Ela afirma que, em parte, o medo de aceitar o padrão pré-estabelecido e capitular diante da desaprovação das pessoas a levou a tentar fazer a laqueadura. Mas ela encontrou vários obstáculos.

“Depois de terem me dito que eu era ‘jovem demais para pensar nisto’, apesar do fato de não haver uma idade mínima para a laqueadura na Grã-Bretanha, eu finalmente consegui um encaminhamento neste ano”, disse.

A britânica ficou muito satisfeita com a evolução do caso, até tentar marcar a operação.

“Marie Stopes, que faz o procedimento para o National Health Service (o serviço público de saúde britânico), me disse que, na prática, não havia cirurgiões disponíveis e eu teria que voltar a consultar meu clínico geral. Enquanto isto, meu caso seria enviado a uma área diferente do NHS, o que significaria que eu teria que começar todo o processo de novo.”

Holly afirma que não usa outros contraceptivos pois a pílula anticoncepcional causava efeitos colaterais que a deixou doente durante anos. Ela também ficou sabendo de efeitos colaterais terríveis entre as pessoas que usavam dispositivos intrauterinos.

“Eu não preciso de contraceptivos reversíveis. Existe uma operação não invasiva de dez minutos que pode resolver este problema para sempre e eu não acredito que, com quase 30 anos e no ano de 2015, ainda tenho que lutar para conseguir esta operação”, disse.

“Podemos escolher ficar grávidas aos 16 anos mas não podemos rejeitar a maternidade aos 29. Parece que nossas decisões apenas são levadas a sério quando elas estão de acordo com a tradição.”

Ela afirmou que recentemente criou um website de tecnologia escrito por mulheres. “Tenho orgulho de dizer que este é o único bebê que vou ter”.

Redação

14 Comentários

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    1. O corpo é dela e a decisão de

      O corpo é dela e a decisão de não ter filhos também. Não se trata de mutilação de nenhum membro, o que poderia acarretar proibições legais, tal como acontece no código civil brasileiro. Não entendo a negativa. Lá vem o Estado injustificadamente de novo decidir como devemos viver.

  1. O direito de escolha…

    Parabéns à Miss Brockwell… Uma legítima cidadã do século XXI, livre das amarras dos valores do mundo rural, que deixou de ser relevante desde o pós-2a Guerra…

  2. A polêmica é interesante; e

    A polêmica é interesante; e deve render acalorados debates sociológicos, políticos, do comportamento, dos costumes, etc. A meu ver as mulheres é que devem comentar a respeito.

  3. A GRAVIDEZ DESCARTADA.

    Ao menos por aqui em terras latino americanas com a circulação do Zika virus e a suspeita praticamente confirmada que provoca microcefalite, gravidez deixará de ser cogitada.

  4. o estado fuxiqueiro

    Não dá conta do recado, não cumpre as funções públicas que são sua obrigação, que são de foro público, e vive a meter bedelho em assuntos de foro íntimo.

  5. Controverso. Apesar de

    Controverso. Apesar de entender a questão do individualismo (no meu entender) de quem faz isso, pois cada um é dono do próprio corpo, creio que essa postura subverte a premissa natural básica de nós como membros de um ecossistema (reproduzir e morrer), independente da questão racional envolvida. Pessoalmente sou contra, embora respeite quem opte por não ter.

    Acho, no entanto, muito curioso que muitos desses “independentes” e “libertários” são os primeiros a arrumar um cachorro ou animal de estimação e tratar como um filho substituto, inclusive comprando roupas e ração selecionada e levando para um canil como se fosse escola, inclusive comendo à mesa.

    Isso posto, se ela quer fazer a laqueadura, que banque. O sistema público não deve ser usado para isso – desejos pessoais de sexo livre sem risco de gravidez através de cirurgia. Chega a ser contraditório, quando se estimula o uso do preservativo para evitar DSTs (olha a AIDS aí) e o estado bancando para que esse risco aumente, através do sexo sem camisinha.

    1. Você está dizendo que a

      Você está dizendo que a gravidez deve ser uma punição para quem faz sexo. O estado não pode negar as demandas do tratamento de saúde nem pautar suas políticas sanitárias com base em preconceitos morais que é um atraso.

  6. Na Grã-Bretanha há medicina privada também

    Com o pecado de não ter lido tudo, me parece que são 2 discussões:

    O direito dela fazer a laqueadura, que dou o mórrapoio. Ninguém deve decidr por ela, ainda que amanhã venha a se arrepender.

    E o direito de fazê-lo na rede pública que tem lá suas regras e princípios, definidos por um conjunto legal, normativo e democrático, seja lá que origem tenha. Ou mudam-se as leis e normas (até pelo seu protesto) ou cumpra-se até então …

    Assim como uma cirurgia plástica estética, pode fazê-lo com um médico particular, pois não se trata de “doença”.

  7. Ela tem a liberdade de

    Ela tem a liberdade de escolha.

    A sociedade tem o direito de questionar escolhas que não vão de encontro com a sua própria cultura.

    Não são direitos excludentes, são apenas conflitantes.

    Normalmente a fêmea da nossa espécie assim como os outros primatas tem uma empatia com filhotes, por isso a sociedade cria sempre uma expectativa que uma fêmea jovem e sadia terá filhos.

     

  8. me pergunto se haveria essa

    me pergunto se haveria essa mesma discussão se fosse um homem, mesmo que jovem e solteiro, querendo fazer uma vasectomia…

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