Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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O extraordinário naufrágio do encouraçado Royal Oak, por André Araújo

Por André Araújo

Em 14 de outubro de 1939, mal começada a Segunda Guerra, a Marinha alemã conseguiu um feito extraordinário que causou impacto mundial: o submarino U-47.

Comandado por Gunther Prien, a embarcação conseguiu entrar dentro da super base naval britânica de Scapa Flow, nas ilhas Orcadas, litoral da Escócia, considerada inexpugnável e inatingível,   defendida por dois anéis de artilharia antiaérea e protegida por redes de aço embaixo da água e afundou com torpedos certeiros o grande couraçado ROYAL OAK, um dos maiores da Marinha britânica.

O feito foi extraordinario e criou um clima de euforia na Alemanha nazista.

Prien foi condecorado pessoalmente por Adolf Hitler com a mais alta condecoração alemã, a Cruz de Ferro no grau de Cavaleiro, o Comandante geral da Frota de Submarinos, Almirante Karl Doenitz estava no cais esperando o U-47.

Outros submarinos tinham tentado entrar na base, mas sem sucesso. Prien aproveitou um navio entrando, quando as redes se abriam e foi por baixo do casco desse navio, de modo que não foi percebida sua entrada. Correu grande risco, mas conseguiu disparar os torpedos certeiros e escapou enquanto a rede ainda estava aberta.

O afundamento do ROYAL OAK levou junto 840 marinheiros que estavam a bordo (a tripulação total era de 1.140), porém 375 conseguiram se salvar. Portanto quase 500 pereceram.

O sucesso deu grande confiança e estimulo à Frota de Submarinos, setor da Marinha alemã comandada pelo Almirante Karl Doenitz, que depois sucedeu a Hitler até a rendição, quando Hitler se matou, em 30 de abril de 1945.

A Alemanha lançou ao mar até abril de 1945 cerca de 1.100 submarinos, quando acabou a guerra muitos ainda estavam no mar. A Frota de Submarinos foi a arma mais potente e eficaz da Alemanha no mar, uma vez que a Marinha de superficie não tinha como competir com os ingleses, apesar de seus grandes navios capitais Bismarck, Scharnhirst, Tirpitz e o couraçado de bolso Graf Spee, afundado na frente de Montevideo logo no início da guerra.

Gunther Prien virou herói nacional, mas teve seu fim dois anos depois quando o destroyer HMS Wolverine lhe despejou cargas de profundidade destruindo o U-47, sem nenhum sobrevivente. Antes Prien afundou 31 navios no Atlântico.

A taxa de mortalidade na Frota de Sumarinos foi altíssima durante a Guerra, 8 em cada 10 comandantes morreram com suas tripulações. Dos sobreviventes, por incrível que pareça, 3 morreram em 2015 com mais de 90 anos. Em 2012 morreu um com 102 anos. Grande parte dos comandantes era muito jovens, de 28 a 35 anos, os sobreviventes em sua maior parte se alistaram na Marinha da República Federal Alemã, alguns viraram empresários. A sobrevivencia deles foi como ganhar numa loteria, em nenhuma outra armada a taxa de mortalidade foi tão alta.

O choque na Inglaterra pelo afundamento do ROYAL OAK dentro da super protegida base de Scapa Flow foi um duro golpe logo no começo da guerra, mas os ingleses veriam golpes maiores ainda, quando os japoneses afundaram, em 1942, dois navios do mesmo tamanaho do Royal Oak em Singapura por meio de aviões torpedeiros a baixa altitude. Os navios tinham sido enviados exatamente para proteger essa importante base naval britânica. Foi um golpe ainda mais duro do que o afundamento do Royal Oak, só a fortaleza de Churchill conseguiu sobreviver a esses desastres.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

14 Comentários

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  1. Complementando…

    Só complementando, os dois navios afundados perto de Singapura foram o Prince of Wales e o Repulse. O afundamento do primeiro entristeceu particularmente Churchill, pois ele o havia levado até a Conferência de Newfoundland, onde se reuniu com Roosevelt.

    Um abraço.

     

    1. Agradeço o comentario, o

      Agradeço o comentario, o choque na Inglaterra com o afundamento desses dois grandes navios foi terrivel, especialmente pela facilidade demonstrada pelos japoneses em afunda-los. O lançamento de torpedos por aviões era ainda pouco usal e os japoneses, desde a preparação para o ataque a Pearl Harbor em 7 de dezembro de 41 tinha se especializado nessa tatica que exigia grande treinamento e eximia pericia para mirar os torpedos na angulação certa enquanto os aviões estavam em movimento. Assim como oa alemães por falta de opção na força de superficie se aperfeiçoaram nos ubmarinos, os niponicos

      se especializaram em aviões topedeiros mais que qualquer outra força aerea, virou sua arma preferida durante as batalhas aero-navais do Pacifico. Nem é preciso dizer que tambem foi necessario o desenvlvimento de torpedos especiais para lançamento aereo, muito diferente do toprpedo lançado por submarinos. O torpedo aereo não pode afundar e sua estabilização após o lançamento foi uma grande obra de projeto e engenharia.

      1. Era dificil e arriscado

         No periodo “entre guerras “, os paises que mais desenvolveram o ataque aereo com torpedos, foram a Inglaterra e a Itália *, os japoneses sofisticaram as táticas inglesas, principalmente após o raid de Taranto, no qual os ingleses da FAA comprovaram que ataques de torpedo eram factiveis mesmo quando em bahias abrigadas e de pouca profundidade.

          Os japoneses tambem tinham o melhor torpedo do inicio da 2a GM, tanto o lançado de submarinos e de navios, o Tipo 93/95 ” Longa Lança ” ( 21 polegadas / 2 toneladas ), como o aerolançado Tipo 91 ( 18 pol / 850 Kg ), ambos de alta velocidade quando comparados aos torpedos americanos e/ou ingleses.

           Uma aeronave torpedeira niponica Nakagima B5N2 na “corrida para o alvo ” ficava, como qualquer torpedeiro, em uma situação extremamente vulneravel a anti-aerea, pois a corrida teria que ser reta em acompanhamento da derivação possivel do alvo em movimento, e o torpedo lançado com a aeronave no maximo a 240 km/h e há no máximo 30 metros de altura, para Pearl Harbor, pouca profundidade, os japoneses inovaram ( os ingleses fizeram semelhante em Taranto ), instalando “lemes” ( 4 ) de madeira junto aos propulsores do Tipo 91, que permitiram que eles não afundassem no leito marinho.

            Atualmente torpedos aerolançados, tipo Mk-46, pesam aproximadamente 235 kg, sendo exclusivamente utilizados prara operações contra submarinos, já os submarinos utilizam torpedos bem mais pesados, como os da série MK-48, de até 1,6 toneladas.

            * Caro AA, vc. já escreveu que conhece e trabalhou para italianos, conheceu a Savoia – Marchetti e os estaleiros CANT, portanto no museu deles, deve ter visto o memorial de Carlo Emanuelle Buscaglia, dos ” aerosiluranti “.

        1. Parodiando

          Não conheço o museu, mas o Savoia Marchetti SM79 de bombardeio (adaptado de um avião comercial), era um dos aparelhos mais bizarros da 2ª Guerra Mundial, um trimotor. E por sua originalidade eu gosto dele… Depois no fim vieram o SM82, o SM84, mas aí… Já era!

           

          Um abraço.

           

           

        2. Meu caro Junior, vc é o meu

          Meu caro Junior, vc é o meu mestre nesse campo de material belico e fico impressionado com seu conhecimento profundo.

          Não vi esse museu, estive na Mostra Navale de Geneova de 1983 a convite da Oto Melara e foi lá que pela primeira vez torpedos em exposição.

          Tive um amigo , um senhor italiano que foi por toda a guerra marinheiro e timoneiro do subamarino italiano AMBRA no Mediterraneio e com ele soube muitas historias sobre os submarinos italianos. Ele participou da entrega da Marinha italiana em Malta, após a rendição da Italia, e me contou detalhes terriveis que depõe contra os ingleses por não respeitarem as formalidades protocolares acordadas para a rendição em boa ordem, o que para oficiais tem fundamental importancia.

          Por causa disso os marinheiros que voltaram a Italia e ele foi um deles, acabaram afundando os submarinos ancorados em La Spezia para que não fossem entregues aos ingleses.

          Os italianos tinham tambem submaridos oceanicos, emnora a grande maioria estivesse no Mediterraneo.

          Esse senhor depois da queda da Monarquia ficou do lado da Republica Social Italiana e se alistou na Decima Mas, a força especial naval do Principe Valerio Borghese. Veio para o Brasil em 1946 e quando o conheci tinha uma firma de maquinas rodoviarias em Guarulhos. Ele tinha orgulho de seu tempo de guerra e gostava de contar episodios.

          1. “Maiali”

               Podem falar o que quiserem das tendencias politicas de extrema direita do Principe dos “Maiali”, mas que estes caras eram corajosos, bem comandados, não dá para negar, até mesmo o Alm. Cunningham, após o raid de Alexandria, reconheceu, pois alguns britanicos queriam fuzilar os “maialis” capturados, alegando sabotagem, pois eles não “abriram a boca ” até os navios explodirem, e Cunningham admirou-se desta atitude, os reconheceu.

                E caro AA, após décadas, a OTO Melara, mesmo com sua parceira brasileira em dificuldades ( Jaragua Industrias Pesadas ), conseguiram ser selecionados para o fornecimento, com transferencia de tecnologia para a ARES ou AMRJ, de seus canhões da série 76mm/ 62 SR , para as futuras corvetas Classe Tamandaré da MB, e tambem estão bem colocados na concorrencia dos 105 ou 120mm da série “Hitfact”, para o Guarani 8 x 8.

  2. Algum tempo depois teve a

    Algum tempo depois teve a caçada ao encouraçado Bismark pela Marinha Britânica, praticamente uma vingança pelo acontecido no relato do Sr. André. Não esqueçamos também aquele que é considerado o maior encouraçado da Segunda Guerra, o japonês Yamato (que até virou desenho animado na década de 1980, com temática futurista).

    1. A caçada ao Bismarck se deu

      A caçada ao Bismarck se deu porque o grande couraçado alemão saiu do Mar Baltico em Maio de 41 e entrou no Atlantico, a Marinha britanica não podia permitir tal perigo que colocaria em risco todo suprimento essencial ao esforço de guerra, que vinha em navegaçãoo. Na caçada ao Bismarck o o maior couraçado da Marinha britanica foi afundado pelo navio alemão em 24 de maio de 1941, com 1418 tripulantes, só tres se salvaram, foi o maior desatre na historia da Marinha inglesa.

      Os ingleses então cercaram o Bismarck com toda força que puderam reunir até afunda-lo por topredos e bombardeio aereo e nval, era o maior navio da Marinha do Terceiro Reich , tinho mais tres iguais, o Scharnhorst ,  o Gneiseau e o Tirpitz, todos afundados pelos ingleses em diferentes momentos e situações, quando docados na Alemanha e na Noruega.

      1. Hms Hood
        A caçada ao Bismark começou após o naufrágio do HMS Hood, orgulho da marinha britânica, pelo coração alemão. O afundamento do Bismark tornou-se questão de honra para a Marina britânica devido à importância do HMS Hood que tornou seu naufrágio um golpe na moral daquela que era a maior marinha de guerra da época.
        Lembrando que os alemães não tinham tradição na área naval, o submarinos e que HMS é o prefixo dos navios de guerra britânicos, sendo acrônimo de Her Majesty’s Ship.

      2. Classes diferentes

         O Bismarck e o Tirpitz formaram uma classe de couraçados de mais de 40.000 toneladas livres, com artilharia principal superior a 330 mm ( tinham 380 mm ), em rompimento completo com o Tratado de Washington, já a Classe Scharnhorst/Gneisenau de 1935, ainda respeitaram o tratado que limitava couraçãdos a no maximo 36.000 toneladas livres, e foram armados na principal com artilharia de 280 mm ( semelhantes as do Forte de Copacabana ).

           Já a Classe Yamato/Musashi foi um absurdo ser construida, mais de 65.000 toneladas livres, artilharia de 460 mm, o fiasco foi tão grande, eram navios de outra época, que o 3o da classe, o Shinano, foi convertido em porta – aviões.

  3. Gruppe Monsun

       Uma história pouco conhecida e raramente comentada, é sobre a unica operação militar efetiva entre as nações do EIXO, que envolveu submarinos, alemães e italianos, que operaram no Indico e no Pacifico, baseados em Java/Batavia/Penang, entre 1942 e 1945, mais de 35 unidades alemãs e italianas participaram do Gruppe Monsun, tanto que após a rendição alemã ( maio de 45 ), 6 unidades restantes em Penang (  4 alemãs e 2 italianas ) foram incorporadas a frota japonesa, com os numerais de I – 501 a I – 506.

        O estudo do Gruppe Monsun faz parte da estratégia da “Batalha do Atlantico Sul “, travada pela US Navy ( 4th Fleet ) e a Marinha do Brasil contra os submarinos do EIXO, pois todas estas unidades passaram pelo Atrlantico Sul, tanto em seus deslocamentos de ida como de volta, inclusive alguns deles procuraram e até afundaram nas costas brasileiras ” alvos de oportunidade “, como o caso do ” Cabedelo ” que foi afundado por submarino italiano, o ” Capellini ” ou o “Torelli “, os futuros “japoneses” I-503 e I – 504

  4. Dado interessante de um “Lucky Ship “

       Um “irmão” do HMS Royal Oak ( Classe Revenge ), o HMS Royal Sovereing, em 30/05/1944 foi transferido para a Marinha Soviética como empréstimo referente as condições da rendição italiana da 1943, partiu da Inglaterra para a URSS em 17/08/44 como escolta de comboio, já com a bandeira soviética e nomeado  ” Arkhangelsk “, era um navio de “muita sorte ” ( a lucky ship ), pois em 23/08/1944, em rota para a Peninsula de Kola ( Mar Branco ), foi alvo de 4 torpedos disparados pelo  U – 711 (  Lange ), que detonaram prematuramente *.

         Comissionado em Kola/Poliyarny, em 29/08/1944, sob o comando do Almirante Levchenko, levando a “bandeira de Santo André ” ( padroeiro até hoje da Marinha Russa ), capitanea da “Frota do Norte “, sofreu uma operação de mini-submarinos alemães ( os “Bibers”) em varias ocasiões, e todas deram errado por motivos mecanicos e/ou climáticos.

         Foi navio capitanea da Frota do Norte, até ser devolvido aos ingleses em 1947, após o recebimento pela URSS do navio italiano ” Giulio Cesare “, só chegou a Inglaterra ( Rosyth – sede da Home Fleet ), em janeiro de 1949, e desmantelado em Maio do mesmo ano, o navio era tão “dificil” de “morrer”, que até 1955 suas baterias emitiam, e tiveram que ser retiradas em 1957, em operação de mergulho.

          Navios, embarcações, de qualquer tipo – não é “lenda naval” ou ” papo de marinheiro ” – podem até não acreditar , possuem personalidade, as vezes, até creio,  alma.

         * detonação prematura :  A época, torpedos possuiam dois modos de detonação, por impacto ou “pistola magnética”, e como qualquer torpedo, até hoje, a corrida ao alvo, dependia de um giroscópio, tambem com ação magnética (bussola), mas nas altas latitudes, tipo Artico, Mar Branco, até no Baltico e certas areas do Mar do Norte, quanto mais perto do polo magnético da Terra vc. se encontre ( condições de salinidade e pressão tb. influem ), o disparo, mesmo em condições de alvo propicias ( distancia, angulo, azimute ), o torpedo “pirava”, não corria reto, ou detonava antes, portanto no normal, abria-se o torpedo e desligava-se a “pistola magnética”, o que evitava a pré-detonação, e travava-se o giroscópio ( com um palito ), em “neutro”, ele só “correria” reto e quase na superficie.

  5. Piloto americano

    Araújo, tangenciando um pouco o tema, você tem alguma informação sobre o piloto norte-americano Orton William Hoover, que veio pra ao Brasil em 1916 como mecânico dos primeiros hidroplanos Curtiss da marinha brasileira, foi instrutor da aviação da Força Pública paulista nos anos 1920, projetista de aviões na pioneira EAY (Empresa Aeronáutica Ypiranga) e, por fim, diplomata dos EUA em São Paulo, Curitiba e Santos. Hoover faleceu em 1958, foi enterrado aqui em SP,  e eu estou preparando um artigo sobre esse interessantíssimo personagem. Caso você tenha alguma informação sobre ele, eu lhe agradeço.

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