Como são feitas as pesquisas estatísticas

Provar o sal da sopa

Com frequência, vejo pessoas questionarem pesquisas de opinião pública baseadas em pequena amostragem da população cuja opinião se queira conhecer. “O Brasil tem 200 milhões de habitantes, e 5000 municípios, e a pesquisa incluiu apenas 2000 pessoas de 150 municípios. Que significado tem essa amostragem?”, é o questionamento típico dos céticos. O questionamento revela falta de conhecimento de estatística, um ramo rigoroso da matemática aplicada.

A questão da amostragem estatística pode ser ilustrada com um exemplo simples, no qual farei diverssas afirmações cuja validade é inteiramente intuitiva. Coloque-se o leitor diante da tarefa de saber se uma sopa está boa de sal. Certamente não julgará necessário beber toda a sopa. Seu método será provar uma gotinha da sopa, no máximo uma colherinha. Seu método será válido, trate-se de uma panelinha de sopa ou de um panelão do tamanho de um tambor. 

Concorda comigo, leitor? Neste caso, você está aceitando o fato de que o tamanho da coisa a ser testada não vem ao caso, é inteiramente irrelevante. Na verdade, poderia igualmente medir a concentração de sal do Oceano Atlântico realizando a medição em uma gota da sua água. Em ambos os casos, há uma hipótese subjacente no método de medição, a de que o sistema (sopa ou água do mar) seja homogêneo. Sendo homogêneo o sistema, a única coisa que interessa é a quantidade de moléculas envolvida na amostra. Molécula é uma coisa tão pequena que em uma gota temos um número fantástico delas. O erro estatístico da medição cai com a raiz quadrada do número de elementos da amostra (desculpe-me o leitor por uma afirmação não-intuitiva). Assim, se a amostra contiver dez bilhões de moléculas, o erro estatístico será de apenas 0,001%. Claro que pesquisa de opinião se baseia em amostragens bem menores. Se 2500 pessoas forem ouvidas numa pesquisa, uma vez que a raiz quadrada de 2500 é 50, o erro estatístico é de 1/50, ou seja, 2%. Esse tipo de cifras já deve ser familiar ao leitor.

Uma questão central em amostragem estatística é a inomogeidade do sistema. A opinião pública é um sistema bem pouco homogêneo. Ela varia com a idade, o sexo, a escolaridade e a classe social dos indivíduos, e todo esse conjunto depende também da região do país. Numa região, varia com a microregião (bairro, zona urbana ou rural). Esse é um sério complicador da tarefa de se ter uma medida da opinião pública em um país. Confesso pouquíssima familiaridade com os métodos empregados pelos diversos institutos de pesquisa para resolver esse problema. Em princípio, qualquer que seja o método, é necessário que se colham amostras de cada categoria que se diferencie das outras, e depois disso se faça uma média ponderada do conjunto de dados na qual o peso de cada categoria seja a fração da população total que pertença a ela. 

A coisa funciona, prezado leitor. As companhias de seguro desenvolveram técnicas muito apuradas para a coleta e tratamento dos dados, que têm sido usadas para fins diversos. A competitividade e o lucro delas depende da precisão com que lidam com a estatística de sistemas não homogêneos. Um humorista americano comentou que se você quiser saber quando provavelmente irá morrer, peça um orçamento de seguro de vida.

Espero, prezado leitor, que lhe tenha sido útil.

 

Redação

10 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Sobre as pesquisas

    Pesquisas e sociedade vão se acertando com o tempo, uma acaba influênciando a outra. Nas eleitorais, após as primeiras pesquisas meio ano antes das eleições, os candidatos, a mídia, rede sociais, partidos, candidatos e eleitores vão se movimentando, e a cada rodada de intrevistas os números vão espelhando a realidade do momento. O problema com as pesquisas é que a qualquer hora acontecimentos possam virar tudo de cabeça para baixo. Isto aconteceu em 2014 com o passamento do candidato do PSB, com Marina assumindo a candidatura a presidência e com as manifestações de junho. Nos dois casos, o PT fez melhor leitura, enquanto que o PSDB acreditando na mídia abandonou o norte-nordeste ao adversário. Acreditando nas pesquisa o PT lutou em todas as frentes e ganhou.

  2. Sobre as pesquisas

    Pesquisas e sociedade vão se acertando com o tempo, uma acaba influênciando a outra. Nas eleitorais, após as primeiras pesquisas meio ano antes das eleições, os candidatos, a mídia, rede sociais, partidos, candidatos e eleitores vão se movimentando, e a cada rodada de intrevistas os números vão espelhando a realidade do momento. O problema com as pesquisas é que a qualquer hora acontecimentos possam virar tudo de cabeça para baixo. Isto aconteceu em 2014 com o passamento do candidato do PSB, com Marina assumindo a candidatura a presidência e com as manifestações de junho. Nos dois casos, o PT fez melhor leitura, enquanto que o PSDB acreditando na mídia abandonou o norte-nordeste ao adversário. Acreditando nas pesquisa o PT lutou em todas as frentes e ganhou.

  3. Chance de erro alta no teste de hipóteses.

    Caro debatedor  Daniel,

    valeu por disponibilizar o texto.

    Mas, desculpe-me, só há como concordar em partes com a tese sustentada. Veja porque:

     

    Ser humano, NÃO É sopa, nem SAL do mar. Nem parte de ambos.

    Portanto, vamos esquecer essa premissa porque ela não vale.

    Se estivéssemos  medindo probabilidades deste eventos SEM VIDA e SEM RACIOCÍNIO, cultura, moral, etc, aí sim, seria possível concordar com essa  tese.

    Quando  você  passou a tratar de pesquisa de opinião você mesmo disse:

    (…)A opinião pública é um sistema bem pouco homogêneo.(…)

    (…)Esse é um sério complicador da tarefa de se ter uma medida da opinião pública em um país. Confesso pouquíssima familiaridade com os métodos empregados pelos diversos institutos de pesquisa para resolver esse problema.(…)

     

    A pesquisa de opnião INTERFERE na OPINIÃO. A opinião interfere na PESQUISA. O pesquisador INTERFERE no pesquisando. O humor INTERFERE na pesquisa assim como o não humor.

    Portanto, continuo  com a tese de que essas pesquisas de opinião SERVEM mais para enganar desavisados. E,  por favor, não me enquadre no CONJUNTO DOS céticos, pois, nós, seres humanos, somos muito mais do que um enquadramento em conjunto matemático.

    Matemática é apenas uma ferramenta para nos auxiliar e , por isso mesmo, nem sempre é usada de forma correta. Nem sempre ajuda a resolver um determinado problema.

    Se sua intenção foi tentar provar que a pesquisa de opinião funciona, data venia, mas,  o efeito foi contrário. Ou seja, podemos concluir que, para apurar uma opinião de mais de 200 milhões de pessoas, uma pesquisa cuja amostra é minúscula como a sugerida, não vale. Talvez, nem mesmo o censo nos daria uma informação segura como  a que se pretente passar com tais “pesquisa” de opinião.

     

    Saudações

  4. Qualquer pesquisa baseada em

    Qualquer pesquisa baseada em estatística tem uma VIRTUDE e um DEFEITO…

    VIRTUDE… quando ela nos favorece…

    DEFEITO… quando ela favorece o adversário…

  5. A estatística tem sim sua

    A estatística tem sim sua relevância e seus métodos. Mas uma coisa é medir a concentração de sal no oceano e outra é medir o nível de aprovação de um governo logo após manifestações contrárias a esse mesmo governo. Sem contar o uso político da informação estatística, que aí já é uma outra história.

    1. Tmbem acho. Aqui em casa,

      Tmbem acho. Aqui em casa, costumo colocar uma pitadinha de sal no meu oceano, digo, na minha sopa quando vou iniciar minha pesquisa. Queria dizer, minha ceia. As vezes, distraido nao meixo o suficiente, ai o Aecio do aeroporto fica salgado, digo, mesmo assim o gajo perde a eleicao. Que diabo se passa com minhas pesquisas?

      Orlando

  6. O americano é louco por

    O americano é louco por estatística.Não dá  um passo sem ela.

       Em meados dos anos 80 percorri mais da metade do Brasil– e ficando ,pélo menos, uns 10 dias em cada cidade e subúbios.Meus interesses não eram geológicos, políticos ou mercenário.

               Tinha interesse mesmo em conhecer o Brasil de todas camadas sociais.

                    E as pesquisas borbulhavam;

                    Não encontrei UMA pessoa ou algum conhecido dela q tenha  tenha sido pesquisado

                     Quuase 20 depois  depois estava num bar tomando uma, chega um ”pesquisador”

                  Ele só precisava de Uma pesquisa pra fechar seu trabalho.

                     Éramos em 5 que relutavam pra ser entrevistado. Por votação de TODOS, eu fui i o escolhido.

                     E depois que a entrevista acabou, eu tinha contrariado todos eles(4) Mas, provalmente, só o meu pensar foi detectado.—-e eu fui 20 por cento da opinião de meus amigos, mas pro instituto eu representava todos eles.

                        Desde então tenho um pé atrás com pesquisas.

  7. Aplicativo em Smart TV para medir audiência

    Sou analista de sistema e vez por outra quando leio assuntos relativos à medição de audiência penso num aplicativo para smart TV que meça a audiência.

    É sabido que aparelhos de TV com esta funcionalidade tem aumentado significativamente. E sei que fazer com que um aplicativo meça instatanemente o que se assiste. O aplicativo mandaria a informação para um servidor na internet e teríamos a medição à nível nacional!

    Minha única dúvida sobre isto é se é legal. Ou seja, qualquer um pode fazer pesquisa ou esta área/tarefa só é reservada aos profissionais desta ciência?

  8. Pesquisa a Nível Nacional

    Eu li os dados de uma pesquisa sobre games. E nela 50% dos quase 3.000 entrevistados era de São Paulo(40,3%) e Rio(10,3%) enquanto tinham outros estados em que tinham menos de 1% dos entrevistados, como Acre, Roraima(Ambos 0,1%) e Amapá(0%). Gostaria de saber se pra uma pesquisa a nível nacional essas proporções estão corretas e também gostaria de saber o motivo da opinião das pessoas de São Paulo serem mais prestigiadas que a de outros estados do Brasil…

    Pois foi depois dessa pesquisa que a mídia brasileira começou a reproduzir matérias que diziam que existia mais mulheres que gostam de games do que homens (52 x 48 de acordo com a pesquisa). E pra qualquer pessoa que jogue um MMORPG ou FPS sabe muito bem que isso está longe de ser verdade, basta até ver os campeonatos profissionais de jogos e vamos ver que a maioria é homem e no jogo que eu participo o máximo de mulheres que eu já vi em um grupo de 12 (que é o máximo de pessoas que o jogo permite) foram 4 mulheres, e no geral tem 1~2 mulheres a cada grupo de 12 e o restante é homem.

    Se precisarem de mais informações para me responder, podem olhar os dados da pesquisa nesse site

     

    https://media.wix.com/ugd/29fc6b_bcd70218d1e94cd1ac6dc714e7f8f443.pdf

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador