Chile: Michelle Bachelet e governador nomeado pedem perdão aos Mapuches da Araucânia

Enterro de líder mapuche executado pela polícia, 2010

Por Frederico Füllgraf

Santiago do Chile

Com um gesto inédito na história política do Chile, a presidente recém-empossada, Michelle Bachelet, endossou o pedido de perdão ao povo Mapuche, feito na semana passada pelo novo governador da Araucânia, Francisco Huenchumilla, devido ao “despojamento e a ocupação” de suas terras por parte do Estado chileno. Mas Huenchumilla também pediu perdão aos descendentes dos colonos estrangeiros “porque o Estado chileno os trouxe a um lugar inadequado”.

A alusão de Huenchumilla – advogado descendente de Mapuches, ex-deputado do Partido Democrata-Cristão por três legislaturas, ex-prefeito de Temuco e ex-Ministro da Casa Civil do Governo Ricardo Lagos – aos emigrantes, diz respeito aos alemães, suíços, ingleses e franceses que a partir de 1880 foram assentados na Araucânia com títulos de “terras devolutas”, que na realidade tinham sido usurpadas aos Mapuches pelo Estado chileno após a eufemística “Pacificação da Araucânia” – guerra sangrenta que durou de 1861 a 1883, mediante a qual a nova elite burguesa chilena violou o Tratado de Soberania Territorial Araucana, respeitado tanto por espanhóis e libertadores, e que estabelecia o Rio Biobio como fronteira norte da Nação Araucana.

Huenchumilla deu dois passos na direção de seus irmãos de sangue: leu um documento de cinco laudas escritas de próprio punho, por ele definido como “carta náutica” das negociações que o aguardam. Depois foi reunir-se com as lideranças da Comunidade Autônoma de Temucuicui, epicentro, há alguns anos, do assim chamado “Conflito Mapuche”.

Por sua vez, em entrevista que foi ao ar pela CCN Chile, Bachelet indicou que o roteiro da autoridade regional está afinado com o programa que seu governo pretende implementar, e reconhecendo que, “se bem houve avanços durante os anos de regime democrático, há uma dívida pendente”.

Huenchumilla e Bachelet têm consciência que a Araucânia quinhentista cantada no poema de gesta de Alonso de Ercilla é hoje território devastado, do Pacífico à Cordilheira com suas matas aniquiladas por fazendas de europeus e megafúndios de monoculturas de eucalipto e pinus, que promoveram literal cerco dos seus habitantes originários e, apesar de localizado na franja subtropical-patagônica, já se ressente de secas prolongadas e e falta de água.

Foi sob os governos democráticos, pós-pinochetistas, que uma nova geração retomou a bandeira da Autonomia Territorial Mapuche, cujo setor mais radicalizado – como a “CAM- Coordinadora Arauco-Malleco” – passou à clandestinidade, cobrando a “guerra de libertação nacional”, com atos de invasão e incêndio de fazendas. Os serviços de inteligência conseguiram infiltrar o movimento com jovens Mapuches e perpetrar atos de sabotagem e atentados depois atribuídos à CAM, que têm aproximadamente dez líderes presos, processados em base à Lei Anti-Terrorista de Pinochet, um anacronismo ainda em vigor.

Por isso, durante sua reunião em uma fazenda ocupada pelos Mapuches, em Temucuicui, Huenchumilla foi enfático ao afirmar que na zona do conflito “no hay terroristas!” nem delinquentes, como quiseram fazer crer durante os últimos anos, fazendeiros, o Ministério Público e setores da imprensa.

Humildemente, Huenchumilla tomou nota das reivindicações da comunidade, que se apresentou muito determinada, dando ao governador quinze dias de prazo para retirar da zona a polícia militarizada “Carabineiros” e iniciar a distribuição de terras.

O governador aceitou as reivindicações e o prazo..

O “Conflito Mapuche” dá seus primeiros sinais de distensão.

 

Redação

5 Comentários

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  1. Demagogia do politicamente

    Demagogia do politicamente correto

    Basta administrar as coisas de modo certo para todos , esses pedidos de perdão nao passam de perfumaria para fazer ceninha.

    Nao mudam nada mas serve para fazer tipo…rs

  2. É impressionante, virou modo

    É impressionante, virou modo abaixar a cabeça e pedir perdão para qualquer ajuntamento que a historia atropelou na sua marcha inexoravel, agora o Planalto novamente se desculpa com a Bolivia por causa de uma frase da Presidente Dilma, qu simplesmente reagiu muito bem a uma imbeclilidade dita pelo Morales sobre as cheias do Rio Madeira. O Planalto tem pavor da Bolivia, já demitiu um Chanceler do Brasil por causa da cara feia de Morales no caso do senador boliviano.

    É inacreditavel o que estão fazendo com o Brasil, virou a “geni” da America do Sul, todos fzem bullying com o Brasil, que

    apanha dos grandões importantes, como a Bolivia, se fosse o Barão, mij…. na cabeça do Morales.

    O prof.Marco Aurelio Garcia é o representantes dos paises bolivarianos em Brasilia, esse é o seu verdadeiro papel.

  3. Já no Brasil, impera o tipo

    Já no Brasil, impera o tipo de mentalidade como a dos colegas abaixo. O Estado deveria reconhecer seus erros em relação aos índios. Ainda há muito por fazer, principalmente em termos de proteção aos territórios indígenas contra a sanha de ruralistas, agronegociantes, madeireiras, mineradoras, etc.

    1. Que erro em relação aos

      Que erro em relação aos indios? Então não deveria haver colonização branca no Brasil? E nós estariamos morando onde?

       

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