Ex-presidente Michelle Bachelet é favorita nas eleições chilenas

Sugerido por MiriamL

Do Sul 21

Chilenos participam, neste domingo, da eleição que pode levar Bachelet outra vez ao La Moneda

 Michelle Bachelet/Divulgação

Militantes de Michelle Bachelet farão o ato de encerramento da campanha nesta quinta-feira, em Santiago | Foto: Michelle Bachelet/Divulgação

Iuri Müller

Neste domingo (17), nove candidatos dos mais variados campos políticos disputarão a presidência do Chile numa eleição que pode adiantar, também, esperadas mudanças na Constituição do país. No sexto pleito para o palácio de La Moneda após a volta da democracia em território chileno, a ex-presidente Michelle Bachelet aparece como favorita e pode vencer ainda no primeiro turno. A principal concorrente, Evelyn Matthei, que representa o projeto político do atual mandatário Sebastián Piñera, não mostrou força nas pesquisas.

Bachelet, do Partido Socialista, lidera a coalizão chamada Nueva Mayoría, que reúne, além dos socialistas, militantes do comunismo e da social-democracia, entre outros grupos. A base política ainda é a da Concertación, que governou o Chile de 1990 a 2010, da primeira eleição democrática até a vitória de Sebastián Piñera. No entanto, a presença do Partido Comunista – que esteve no poder com Salvador Allende, em 1970 – é um dos traços de diferenciação desta Nueva Mayoría.

A ex-presidente retornou ao país depois de atuar na diretoria de Mulheres da ONU e, com os altos índices de popularidade registrados pesquisa após pesquisa, passou a ser combatida por quase todos os oponentes na reta final de campanha. Ainda assim, os resultados da última semana apontam para uma vitória no primeiro turno. Instáveis durante todo o processo eleitoral, Evelyn Matthei, Franco Parisi e Marco Enríquez-Ominami não fizeram frente à socialista em nenhum momento da campanha. A direita chilena, entretanto, ainda confia que a ex-ministra de Piñera force o segundo turno e amplie a discussão por mais algumas semanas.

 Evelyn Matthei /  divulgação

Matthei precisa ter desempenho melhor do que apontam as pesquisas para chegar ao segundo turno | Foto: Evelyn Matthei /Divulgação

Evelyn Matthei, da Unión Demócrata Independiente (UDI), iniciou a trajetória política na Renovación Nacional (RN), força algo mais moderada dentro do campo da centro-direita. Filha de Fernando Aubel, militar que chegou ao posto de comandante em chefe da Força Aérea do Chile em plena ditadura, a economista foi deputada, senadora e ministra do Trabalho do governo de Sebastián Piñera. A sua candidatura à presidência só foi oficializada após a desistência de Pablo Longueira, também da UDI, que padece de forte quadro de depressão.

Além da candidata oficialista, o candidato independente Franco Parisi e o representante do Partido Progressista (PRO), Marco Enríquez-Ominami, em algum instante se viram com chances de passar ao segundo turno, mas hoje parecem distantes da oportunidade. Parisi tornou-se conhecido em todo o país como apresentador de um programa de televisão sobre economia, mas, durante a campanha, sua imagem se enfraqueceu quando a candidata do atual governo apontou denúncias de irregularidades em alguns dos seus projetos; Parisi, entretanto, negou todas as acusações.

Enríquez-Ominami, filho de um histórico dirigente do Movimiento de Izquierda Revolucionária (MIR), que também esteve com Allende nos anos 1970, já havia sido candidato nas eleições de 2009-2010, quando alcançou importante votação, mesmo em jornada independente. O cineasta, que militou no Partido Socialista antes de se desligar da Concertación, chegou a 20% dos votos e lutou para participar do segundo turno, do qual acabou de fora. Desta vez, suas chances parecem menores: as pesquisas mais recentes apontam que Marco Enríquez-Ominami deve beirar os 10% dos votos no domingo.

 Marco Enríquez Ominami / divulgação

Oriundo das fileiras da Concertación, Enríquez-Ominami  quer surpreender como terceira opção | Foto: Marco Enríquez-Ominami /Divulgação

Também participam o candidato do Partido Humanista (PH), Marcel Claude, Ricardo Israel, do Partido Regionalista de los Independientes (PRI), Alfredo Sfeir, do Partido Ecologista, Roxana Miranda, do Partido Igualdad (PI), e Tomás Jocelyn-Holt, independente. Entre os temas que apareceram com maior intensidade no debate, estão a possibilidade de se reformar o sistema educacional, atualmente vinculado à iniciativa privada, e a proposição de se criar uma Assembleia Constituinte que remodele o texto constitucional, escrito durante a ditadura militar, em 1980.

Movimento pede que eleitores sinalizem a formação da Assembleia Constituinte nas cédulas de votação

Na internet e nas manifestações de rua, as eleições deste domingo ganham importância para além da escolha por Bachelet, Matthei ou Enríquez-Ominami. A campanha #MarcaTuVotoAC pede que os eleitores assinalem as letras “AC” nas cédulas de votação, ao lado da indicação do candidato escolhido – assim, deixarão claro que são a favor da formação de uma Assembleia Constituinte que reformula a Constituição do Chile.

O movimento – que em seu site mostra os maiores “truques” da Constituição elaborada durante o regime de Pinochet – garante que a anotação não resulta na anulação de qualquer voto e que, se ao menos 10% do total das cédulas forem alcançados, o governo eleito estará pressionado para levar a ideia adiante. Evelyn Matthei se disse contra a proposta, enquanto que Michelle Bachelet ressaltou a importância de transformar o conjunto de leis do Estado chileno. A socialista, por outro lado, assegurou num dos debates que “há várias formas” de fazer isso, desde que o processo seja “democrático, participativo e constitucional”.

O fantasma da história, sempre presente                            

 Michelle Bachelet/Divulgação

História pessoal das duas principais candidatas se mescla com a história política do Chile em 2013 | Foto: Michelle Bachelet/Divulgação

Há cerca de dois meses, no marco dos 40 anos do golpe militar de 1973 e da morte de Allende, Santiago vivenciou dois atos, organizados pelos dois maiores campos políticos. O governo de Piñera e a esquerda, com a qual se organizaram movimentos sociais, não mostram qualquer possibilidade de sintonia quando se trata da ditadura militar. A repressão, inclusive, aparece de forma assustadoramente direta quando se observa a biografia das duas principais candidatas da disputa eleitoral.

Michelle Bachelet, assim como Evelyn Matthei, é filha de um militar da Força Aérea do Chile, mas o pai da candidata socialista teve um destino bastante diferente do que coube ao da oficialista. Alberto Bachelet chegou a ser general nas Forças Armadas, mas acabou perseguido após a queda de Allende e morreu na prisão em 1974. Fernando Aubel, no entanto, cresceu na carreira, foi nomeado comandante em chefe e posteriormente acusado de ser cúmplice da morte de Alberto Bachelet. Em entrevista à imprensa chilena, em julho de 2013, Fernando Aubel afirmou que “me acusar de ter participação na morte do meu amigo general Bachelet é tão grotesco quanto acusá-lo de traição à pátria, como aconteceu na época”.

Redação

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