Genebra II tem início sem solução à vista

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Começou nesta manhã a Conferência Internacional de Paz sobre a Síria, na Suíça, que busca encontrar uma solução política para o conflito no país.

Durante meses, diplomatas da Organização das Nações Unidas (ONU), Estados Unidos e Rússia tentaram convencer os dois lados do conflito a estabelecer um diálogo no que hoje é chamado de Genebra II.

O conflito, que já deixou mais de 100.000 mortos e 9,5 milhões de refugiados longe da Síria forçou a ONU a concentrar esforços para uma solução. As discussões, iniciada em maio de 2013, com o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergel Lavrov, tiveram diversas tentativas fracassadas.

Após o ataque com armas químicas nos arredores de Damasco, que matou centenas de pessoas, no dia 21 de agosto do ano passado, o Conselho de Segurança da ONU exigiu a destruição ou remoção de produtos químicos da Síria, pela resolução 2118. A ONU também definiu o Comunicado de Genebra que seria instituído na Conferência Internacional de Paz sobre a Síria.

Elaborado em 30 de junho de 2012, o Comunicado prevê acordo político na Síria com medidas claras estabelecidas em calendário, devendo ser implementado em clima de estabilidade e segurança, com um plano desenhado para os próximos anos e iniciado com urgência, sem mais derramamento de sangue e violência.

Para essa mudança, o Comunicado inclui a criação de um órgão de governo de transição, com plenos poderes executivos, que pode incluir membros do governo e oposição, em consentimento mútuo; participação de todos os grupos e segmentos da sociedade síria; revisão da ordem constitucional e legal; eleições livres e justas multipartidárias para os novos órgãos e instituições criados e, por último, representação integral das mulheres em todos os segmentos da transição.

Entretanto, por mais que os esforços partam da ONU, EUA e Rússia, o governo sírio já afirmou que não abrirá diálogo com a oposição “terrorista”. No dia 27 de novembro, notificou sua presença na Conferência de Paz Genebra II, mas afirmou que não iria entregar o poder a ninguém.

Uma mensagem enviada pelo ministro das Relações Exteriores afirmou que o presidente Bashar al-Assad estava enviando representantes para perseguir as “demandas do povo sírio, que antes de tudo é eliminar o terrorismo”.

Três dias atrás, em entrevista, Assad disse que havia uma grande chance de ele buscar seu terceiro mandato nas eleições de junho deste ano; descartou a partilha de poder com a oposição e pediu que o encontro de Genebra se concentre na sua “guerra contra o terrorismo”.

A oposição está em conflito. A Coalizão Nacional de Forças Revolucionárias foi convidada a participar de Genebra II sem a garantia que Assad renuncie. Na votação para discutir a participação, em Istambul, um terço dos 119 membros ativos boicotou os votos e menos da metade votou a favor, rejeitando a autoridade da Coalizão que defende a presença, justificando que o compromisso é de apenas “tirar os assassinos do poder”.

O Conselho Nacional Sírio e outros grupos anunciaram discordar da Coalizão porque o acordo era de que não haveria negociação se Assad não deixar o poder. Entre eles, o Comitê Nacional de Coordenação, que já anunciou sua ausência, assim como o Conselho Militar Supremo do Exército Sírio Livre. Também a Frente Islâmica, poderosa aliança de rebeldes islâmicos, disse que participar de Genebra II seria uma traição.

A liderança de curdos, que representa mais de 10% da população, quer enviar seus próprios representantes, sem fazer parte da delegação da Coalizão Nacional.

Um convite inesperado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, nos últimos dias gerou mais dúvidas. O convite foi destinado ao Irã, aliado do presidente Assad, por acreditar que o país é parte da solução para a crise da Síria.

Depois do comunicado, a Coalizão Nacional declarou que se recusava participar das negociações com a presença do Irã. Os Estados Unidos enxergou que o convite exigiria um apoio explícito e público do Irã ao Comunicado de Genebra, além de enfatizar que o país já havia equipado a Síria com militares e envio de caças para o movimento xiita Hezbollah.

No dia seguinte, 20 de janeiro, Ban Ki-moon retirou o convite, depois que o Irã manifestou que não iria defender o Comunicado de Genebra e nem a instalação de um governo de transição.

A Conferência Internacional de Paz sobre a Síria, em Genebra, desenhará nos próximos dias a conclusão desses inconciliáveis conflitos políticos. O próprio ministro da Reconciliação Nacional da Síria, Ali Haidar, já afirmou: “Não espere nada de Genebra II. Nem Genebra II, Genebra III ou Genebra X irá resolver a crise síria. A solução já começou e irá continuar pelo triunfo militar do Estado”.

Com informações de BBC News.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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