Os conflitos no Oriente Médio e o fundamentalismo sunita

Por Diogo Costa

FUNDAMENTALISMO SUNITA – Quase toda vez que alguém se refere ao Oriente Médio para criticar o ‘radicalismo’ que lá existe, logo surge o termo ‘xiita’ para designar os supostos radicais.

Os xiitas são uma minoria no mundo árabe como um todo. Só são maioria no Iraque, no Bahrein e no Iêmen. 

E por falar em radicalismos…

A Al Qaeda, a Frente Al Nusra, a Irmandade Muçulmana, o Taliban, o Isis (Estado Islâmico do Iraque e do Levante) e o Hamas, entre outras organizações, são sunitas. 

O grupo árabe xiita mais conhecido hoje no mundo é o Hezbollah, do Líbano. E só. 

Perto dos outros grupos citados, todos sunitas, o Hezbollah é até bastante moderado. Incrivelmente moderado.

Na Guerra Civil da Síria, e ficarei apenas neste exemplo, todos os grupos sunitas aos quais me referi anteriormente estão combatendo para derrubar o Presidente Bashar Al Assad.
Quem apoia Assad na Síria são os xiitas do Hezbollah, os cristãos maronitas, também do Líbano, e os persas xiitas do Irã.

A Síria é um país de maioria sunita mas quem comanda o país, desde os tempos de Hafez Al Assad (pai do atual presidente), são os alauitas. Os alauitas são, digamos assim, uma variação da corrente xiita do Islã.

Nesta época em que a maioria das pessoas se preocupa, corretamente, com os 1.800 mortos na Faixa de Gaza, pergunto: e quem há de se preocupar com os 200.000 mortos na Guerra Civil da Síria?

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A QUEM INTERESSA A DIVISÃO E O FUNDAMENTALISMO? – Será que as pessoas já se deram conta de que o Ocidente é que é o responsável pelo fundamentalismo islâmico que viceja no Oriente Médio e no Norte da África?

O Partido Baath, que unificou o discurso contra o colonialismo e contra o imperialismo em vários países árabes, no passado recente, era laico e de centro esquerda. 

A Organização para a Libertação da Palestina (confederação de partidos) é um movimento laico e de centro esquerda. O maior partido dentro da OLP é o Fatah, laico, republicano e de esquerda, criado pelo legendário defensor da causa palestina, Yasser Arafat.

Vejamos alguns exemplos. 

Ao derrubar Saddam Hussein, Muammar Kaddaffi e ao tentar derrubar Bashar Al Assad, na Síria, os EUA, a OTAN e os wahhabistas da Arábia Saudita (o wahhabismo é uma das correntes sunitas, ultraconservadora) não estão criando um ninho incontrolável de fundamentalismo islâmico na região?

Não foi o próprio Estado de Israel que saudou no passado a divisão da liderança palestina, com o surgimento do Hamas para contrabalancear o poder legítimo da OLP, do Fatah e de Yasser Arafat?

Lamentavelmente este fundamentalismo está vencendo os históricos partidos laicos, de esquerda e anti imperialistas da região (a ‘Primavera Árabe’ está se revelando como um longo e tenebroso inverno…), além de estar criando uma divisão política absurda, que impede o desenvolvimento e a independência econômica e política daqueles países. 

Padecem os palestinos, em especial, e outros vários povos árabes em função deste fundamentalismo previamente fomentado (principalmente durante os anos da extinta Guerra Fria).

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ORIENTE MÉDIO, ENTRE O IMPERIALISMO E A GEOPOLÍTICA – O Hamas, que comanda a Faixa de Gaza na Palestina, está ao lado da oposição e apoiando a guerra civil contra Bashar Al Assad, na Síria.

A Irmandade Muçulmana apoiou o Hamas durante alguns poucos meses e agora, depois do golpe militar, o Egito já voltou a ser um dos principais algozes do povo da Faixa de Gaza, ao mesmo tempo em que é um dos principais aliados de Israel, junto com a Jordânia.

A Arábia Saudita arma e financia a guerra civil contra Assad, na Síria, como fez no passado recente com os opositores de Muammar Kaddaffi, na Líbia.

O Hezbollah, do Líbano, apoia Assad, que também tem o apoio do Irã.

A Turquia quer derrubar Assad e apoia a causa atual do cessar fogo na Palestina, em que pese ser há muito tempo um dos países que melhores relações diplomáticas mantém com Israel.

A Arábia Saudita nunca teve boas relações com o iraquiano Saddam Hussein e agora se vê as voltas com o radicalismo fundamentalista sunita naquele país (fundamentalismo que tem na própria Arábia Saudita o seu mais perfeito e bem acabado exemplo), não sabendo se apoiam abertamente os fundamentalistas ou se não se envolvem diretamente (o Iraque é um país de maioria xiita, mas Saddam Hussein era laico e sunita – sunita mas não wahhabista fundamentalista como os sauditas).

Enfim, é uma tarefa difícil escrever sobre o Oriente Médio sem falar em sunitas, xiitas, alauítas, católicos, ortodoxos ou judeus. E sem falar nos árabes, hebreus, turcos ou persas, fica mais difícil ainda.

As fronteiras atuais dos países do Oriente Médio foram desenhadas pelas potências imperialistas entre a I e a II Guerras Mundiais. A queda do Império Turco-Otomano libertou os árabes, mas a ingerência imperialista fez surgir ódios religiosos, étnicos e nacionais de grande monta. 

Há também uma disputa virulenta pela supremacia geopolítica da região, onde Turquia, Irã e Arábia Saudita, além do Egito, se digladiam entre si e apoiam tais ou quais países de acordo com os seus interesses estratégicos.

Pró EUA e OTAN, os mesmos de sempre: Arábia Saudita e Egito; em menor grau de subserviência vem a Turquia (em que pese ela própria fazer parte da OTAN). Sobra o Irã, o grande ‘satã’ da história aos olhos de norte-americanos e europeus.

As contradições políticas, religiosas e geopolíticas existentes no Oriente Médio é que inviabilizam a criação definitiva do Estado da Palestina e que permitem o massacre de hoje e de ontem, e de sempre, por parte de Israel.

A quem interessa toda esta desunião? Aos imperialistas, ora! 

Por isso é que a integração política, cultural, econômica e social da América Latina como um todo, e da América do Sul em especial, é uma excelente iniciativa política. 

Iniciativa que se deve sempre perseguir, manter e aprofundar.

Redação

11 Comentários

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    1. Fale isso para a China com

      Fale isso para a China com seu atual soft power que esta engolindo a Argentina e com isso atentando diretamente contra nossos interesses…

      1. Alhos e bugalhos
        Os Argentinos são livres para escolher seus parceiros comerciais. Não devemos nem podemos tratá-los como nosso “quintal”. Temos uma imensa vantagem locacional com nossos vizinhos que, com adequada logística e aperfeiçoamento das políticas de integração regional existentes, tem tudo para se transformar em diferencial competitivo imbatível. Se nós, ainda assim, nos sentirmos prejudicados por práticas comerciais distorcedoras das condições de equidade, que tomemos nossas providências utilizando as margens de manobra normais de política comercial e/ou recorrendo às instâncias internacionais de solução de contenciosos. Isso é uma coisa.
        Outra coisa é o posicionamento político e ideológico (sim, por que não?) contra a criação e manutenção de (mais) um Estado teocrático artificial propenso ao fundamentalismo e ao belicismo em uma região já bastante conflituosa, com o único e evidente propósito de fincar posições geopolíticas, mesmo ao custo de milhões de vidas (dos outros, é claro).
        Definitivamente não são duas situações de agressividade nem gravidade comparáveis.
        E que fique claro, por fim, que todo imperialismo é condenável, não importa de onde venha.

        1. A questao nao é tratar como

          A questao nao é tratar como quintal

          E tratar como se fossem retardados e por isso devemos ficar engolindo os termos deles nas tratativas do mercosul sendo que a bondade dos bestas aqui nao é reconhecida na hora dos argentinos abrirem seu mercado para os Chineses

          Essa historia de ” não tratar como quintal ” é linda no campo teorico. mas é isso mesmo que acontece.

          E a China ( no que depender dela ) só deseja da america do sul nossas commodities e nosso mercado consumidor para os manufaturados deles.

          Triste e simles assim.

          No mundo real nao ha espaço para ” visões politcamente corretos “, é um jogo onde só há justiça entre iguais.

          E se voce nao puder se defender ou se impor, vai ter que escolher apanhar de um só ou de todos…

          1. Ong Quebrando o silêncio.

            Leônidas;

            Gostaríamos de ler suas opiniões/considerações sobre esta Ong – “Breaking The Silence”, e o posicionamento dos  Shministim.

            Deixando a ideologia de lado, que é o que tem prevalecido ultimamente na Rede,  depois das agressões Isrelenses aos Palestinos, muito embora o que alguns repetem, ” é o direito de Isrel se defender”, esta Ong tem angariado uma grande admiração!

            O que voce teria a dizer?

            No aguardo.

          2. Cambalhota

            Esta discussão deu uma cambalhota monumental em relação à temática do tópico: saímos de conflitos armados no Oriente Médio para questões comerciais no Sul do continente americano.

            Mas, enfim, os dois temas são interessantes e peço licença aos leitores para mais este comentário deslocado e uma tentativa de reconduzí-lo ao eixo original.

            Durante longo tempo, desde os conflitos na Região do Prata na época do Império até o final do regime militar em meados da década de 1980, as relações diplomáticas entre o Brasil e seus vizinhos foram pautadas pela visão geopolítica, conflitiva e buscando ampliações de áreas de influência. Como vizinhos mais fortes, Argentina e Brasil polarizavam esta disputa. A construção da usina de Itaipú foi o último grande movimento desta fase, considerado vital pelos militares brasileiros para a “conquista” definitiva do Paraguai para nossa área de influência. Esta visão conflitiva acentuava muito mais as divergências entre os “grandes antagonistas” do Cone Sul do que as evidentes convergências de interesses. Na condição de países periféricos, sempre foi claro para muitos diplomatas profissionais que interessava muito mais aos dois países e demais vizinhos a união para ganhar massa crítica de porte econômico e, assim, maior poder de barganha comercial e político no plano internacional.

            Com a  redemocratização, já no governo Sarney a visão de diplomacia pragmática e cooperativa prevaleceu e foi a base para a criação do Mercosul. De 1991, ano do Tratado de Assunção – que criou o bloco, até 2012, a corrente de comércio (exportações + importações) entre os países do Mercosul cresceu 9 vezes, portanto a uma taxa média anual de 11% a.a. (Revista “Interesse Nacional” Ano 6, número 23: O Mercosul e a Integração Regional). Neste mesmo período (dados da OMC), a corrente de comércio mundial cresceu 5,1 vezes (média de 8,1% a.a.). Ou seja, o Mercosul contribuiu positivamente, ao longo do tempo, para ajudar o Brasil a atingir o excepcional crescimento comercial também de 11% a.a no neste período (dados da OMC). Com a particularidade de serem as exportações do Brasil para os demais países do bloco 90% de manufaturados, o que tem sido positivo para contrabalançar o elevado peso das commodities primárias nas exportações brasileiras.

            Em resumo, a política de diálogo pragmático em torno de interesses comuns e complementariedades econômicas com os vizinhos (e agora parceiros) tem sido altamente positiva para o Brasil em termos econômicos. É claro que o comércio internacional envolve interesses por vezes antagônicos e seria irrealista considerar que tudo correria sempre sem desgastes ocasionais neste contexto de elevada complexidade, especialmente na conjuntura volátil que se instalou após a crise de 2008. Mas acordos estratégicos não podem ser avaliados pelas situações de curto prazo. E, no longo prazo, todos os indicadores apontam para resultados positivos da política de integração regional implementada desde 1991. Importante, portanto, concluir que foi justamente a descontinuidade das relações impositivas e de “gestão pelo conflito” anteriores à fase do Mercosul que permitiu ao Brasil obter tantos frutos nas relações com a Argentina e demais países do bloco. Há muito mais semelhanças a nos unir do que diferenças a nos separar com os países vizinhos. Neste contexto, a cooperação é muito mais vantajosa do que a competição, e a prática tem demonstrado isto sobejamente, apesar das inevitáveis idas e vindas  ocasionais.

            Para finalizar, cabe tentar fazer uma ponte entre o que se discute aqui e a temática original do tópico. Com as devidas ressalvas quanto às diferenças de contexto – principalmente religiosas – parece evidente que os israelense e seus vizinhos do Oriente Médio teriam muito mais a ganhar com a paz e a cooperação mediante alianças em torno de complementariedades econômicas do que com a destruição causada pela insanidade da guerra. Juntos, seriam extremamente mais fortes e poderiam obter vantagens de desenvolvimento para seus povos inúmeras vezes superiores às ajudas militares que recebem se prestando ao papel de peões no tabuleiro de interesses dos países ricos. É claro que é difícil, mas há alguma coisa que realmente valha a pena e seja fácil? Esta é uma idéia que – mesmo difícil – vale a pena alimentar.

  1. Que confusão !

    Dificil entender o status quo da região – é muito passado ainda vivo e querendo tomar o poder por meio da força, à la homem primitivo de outrora. Infelizmente esta “família do Oriente “ainda não se mataram o suficiente para desejar a paz e entender que em vez de armas bélicas as diferenças devem ser “dueladas” no campo da razão, da filosofia, da medicina para estancar as doenças mortíferas e atéd a concorrência para ser a nação mais desenvolvida dentre asoutras.

     

    Mesmo diantre do caldeirão ideológico devemos clamar para que as grandes potências , EUA, China e Rússia realmente cumpram o seu papel, até aqui fajutos e interesseiros, de líderes da ONU e promovam diálogos e porradaria entre estes brigões e estabeleçam metas  e prazos para promoção da paz, pois do contrário, os seus próprios interesses estarão em cheque em um grau incontrolável e se  voltarão contra  os próprios líderes.

  2. Bem essa conversa mole de

    Bem essa conversa mole de imperialista para explicar o presente nao tem sentido nenhum pois sabemos que é de fundo ideologico e qualquer naçao faria o mesmo que a Europa fez na epoca, se houvessa ja a Russia Bolchevique na epoca ela tambem teria agido assim, como a China fez com o Tibet

    Entao o problema da esquerda é chamar expansionismo de paises nao socialistas de imperialista e expancionismo de paises como a China de ” missao civilizatoria ” como vergonhosamente uma fez foi defnido o papel da China no Tibet na Veja da esquerda o site O Vermelho.

    A questao é que aquele povo vive se matando a seculos e o componente principal nisso é o Islã e suas inumeras vertentes.

    Eles se matam sozinhos, o que menos conta para eles é a razão, qualquer uma serve.

    mesmo qeu EUA , Europa, Israel , China, e Russia deixassem de existir eles continuariam em suas lutas fraticidas ad eternum…

    1. Exagerei no ad eternum…
      Na

      Exagerei no ad eternum…

      Na verdade acho que eles só irão conseguir se estabilizar como sociedade no dia em que o Islã for enquadrado por eles mesmos.

      O Islã é uma religião totalitaria e isso serve para fomentar o extremismo sectario que se confunde com o politico /etnico…

      1. Nova cruzada
        Não se preocupe com aqueles terroristas sanguinários. Já está em curso a última e definitiva cruzada ocidental para erradicar de uma vez por todas os infiéis muçulmanos do oriente médio. O Brasil devia logo entrar nestas forças do bem, pois o butim é altamente interessante. Nós já temos o pré-sal mas não custa “embolsar” uns pocinhos árabes (ou persas) a mais. Vai que um dia faz falta…

  3. Excelente…………………

    Excelente artigo Diogo. Realmente uma análise impaciral do que é o caldeirão no OM e Norte da África.

    Caldeirão causado pelas potências ocidentais, diga-se subjulgadas pelo poder do ouro, e cujos governos “eleitos”, sempre fazem vista grossa, pois financiandos pelos AIPACS, da vida, ficam presos aos compromissos assumidos, e não podem se rebelar, sob pena de serem desmoralizados e depostos.

    Os desmandos praticados por Israel, nada mais são que, o cumprimento de uma Agenda pré defina, na qual, está bem claro os propósitos a alcançarem dentre os quais os vastos recursos daqueles paises, e a tática é a de sempre:

    ‘DIVIDIR PARA GOVERNAR’!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    É o clássico jogo  no qual, os interesse externos se fundem com os apátridas, e quinta-colunas, para destruírem um país, tal como esta na Agenda, “PRECISAMOS que as guerras nos dêem, tanto quanto possível, vantagens territoriais.

     ” ………………….as nações verão a fõrça de nossa supremacia e tal situação porá ambas as partes à disposição de nossos agentes internacionais, que têm milhares de olhos e que nenhuma fronteira pode deter.”

     

     

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