Os pintores com suas mãos decepadas
olhos infinitos de chuva invernal
podem transpor o mundo das almas
as almas alagadas em mil pontos de intercessão
atravessadas por doidos lados e ângulos
preferenciais e desprezados
as almas com seus passos gemidos
dentes travados entre culturas
as almas redefinidas
pela décima junção e separação
das casas gentes e endereços de festa
copos amassados pelos dedos
em xícaras de chá como reinos do tempo
as almas conferidas aos familiares e amigos
cumprimentos de bochecha
mãos escorregadias pela memória
almas às vezes vagarosas como pelos de gato.
Os pintores com suas mãos decepadas
concluem a cada retrato toda aparente
forma humana
extraem a única figura cabível
delimitam as primeiras e últimas
expressões admitidas
e com as quais no mundo
sabemos estar e permanecer
como se nunca fôssemos embora.
*poema escrito em agosto, 2017.
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