Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Dez sinais de que você está participando de um culto

Acreditamos que só loucos e estúpidos fazem parte de cultos ou seitas. Mas não se engane: esse é um estereótipo midiático mostrado pelas notícias sensacionalistas que nos apresentam fanáticos fazendo parte de cultos comandados por gurus enlouquecidos. Desde a década de 1930 quando a literatura de autoajuda começou a abandonar o campo da psicologia e flertar com o misticismo e esoterismo até transformar-se em técnicas motivacionais, os dispositivos de controle mental dos cultos começaram a se espalhar por empresas, movimentos políticos, grupos de autoajuda e outros tipos de organizações. Fique atento aos dez dispositivos de controle mental dos cultos, sejam eles a líderes, metas ou missões. Você pode estar dentro de um deles.

Quando ouvimos a palavra “culto” lembramos de religiões neopentecostais, manipulações religiosas de estranhas seitas ou obscuros cultos de grupos místicos cujos símbolos somente os iniciados podem compreender. Vêm-nos à mente fanáticos desequilibrados, líderes carismáticos manipuladores e suicídios grupais por causas bizarras.

No entanto essa é apenas a aparência sensacionalista e midiática que parece encobrir uma realidade de natureza bem diversa: ao lado das técnicas de manipulação de massas por meio da propaganda e do marketing político, de marcas e de consumo, uma outra forma de manipulação cresceu e vem se expandindo por todos os setores da sociedade – a manipulação das relações humanas por intermédio do controle das relações pessoais por lideranças e pequenos grupos.

Os dispositivos de controle dos cultos estariam por toda parte: não só em seitas religiosas ou esotéricas, mas em grupos motivacionais, de autoajuda, ambientes corporativos, movimentos políticos e sociais.

A origem do conceito moderno de “culto”

“Como Fazer Amigos e 
Influenciar Pessoas”: 
as origens do
culto moderno

O conceito de “culto” se tornou objeto de estudo para a sociologia na década de 1930 através de Howard P. Becker a partir de estudos que classificavam usualmente três tipos de comportamentos religiosos: na igreja, sectário e místico. Criou-se então uma quarta denominação que indicaria novos grupos (“sectos” ou “cultos”) que cultivavam crenças de natureza pessoal ou privada e com formas de organização mais simples.

                Essas “crenças de natureza pessoal” coincidem com o crescimento nessa mesma década dos grupos de autoajuda a partir da crença da salvação através do crescimento das potencialidades individuais. Em 1936 é publicado o primeiro sucesso editorial nessa área nos EUA, o livro “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas” de Dale Carnagie. Em pouco tempo essas técnicas de crescimento que exploravam conceitos dispersos da psicologia e psicanálise passaram a descambar para o campo do misticismo e do esoterismo. Rapidamente esses grupos e seus líderes transformaram-se em verdadeiros gurus que vendiam técnicas para alcançar o autoconhecimento e o sucesso profissional.  O místico e o esotérico se encontravam em uma bizarra combinação com o sucesso financeiro pessoal.

                O próximo passo foi a transformação dessa combinação entre autoconhecimento e sucesso material em técnicas motivacionais. De religião secularizada passou a se concentrar no mágico conceito de motivação. Essa palavra pode ser aplicada a qualquer organização, da escola à empresa, da Igreja a um grupo de autoajuda. O outro lado é que, perigosamente, qualquer uma dessas organizações podem se converter em cultos com dispositivos de controle mental bem específicos, já descritos nos primeiros livros de Dale Carnagie na década de 1930. Só que dessa vez instrumentalizado por organizações hierárquicas.

                O melhor exemplo é o das organizações corporativas. Em nome do princípio “vestir a camisa da empresa”, todos os dispositivos de controle mental dos cultos são adaptados. O culto pode ser tanto em relação aos novos “gurus corporativos” (como as empresas sempre estão partindo do zero após fusões ou constantes reengenharias, sempre surgem novos “visionários” com modernas técnicas e filosofias justificadas por muitos Powerpoints e planilhas Excel) como em relação a superação de metas ou o cumprimento de missões.

Se o grupo em que o leitor estiver corresponder a cinco ou mais características descritas abaixo, cuidado: certamente você está em um culto.

Você sabe que está em um culto quando…

 

1- Exclusivismo

O culto projeta a percepção de que suas ideias são o único caminho. O grupo é o único caminho para alcançar a iluminação, a verdade, a riqueza etc. Nesse esquema de pensamento está implícita a mentalidade do NÓS contra ELES.

2- Temor e intimidação

O líder cultiva uma atmosfera de temor onde ninguém pode questionar suas palavras. Vozes contrárias são tratadas com a técnica de “breaking sessions” (isolamento, acusações, denúncias e humilhação), até elas serem submetidas e conformadas.

3 – “Love Bombing”

Os cultos praticam essa forma de controle mental através do falso amor. No instante em que você ingressa em um culto, ganha novos amigos. Será abraçado e todos irão querer falar com você. Para alguém que é solitário ou chegou recentemente a uma localidade estranha é maravilhoso. Entretanto, depois de um tempo esse “amor” torna-se condicional em relação a sua performance e/ou como será avaliado em relação às normas latentes ao culto.

4 – Controle de informação

Quem controla as informações controla as pessoas. Na dinâmica de controle mental no interior do culto, qualquer informação vinda do exterior é considerada má, especialmente se é de crítica ao culto. Os membros são orientados a não lê-las ou não acreditar nelas. A única informação verdadeira é a fornecida pelo culto.

 

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

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