O desafio de atrair os trabalhadores de serviços para a política

Jornal GGN – É preciso atrair os trabalhadores de serviçõs para as manifestações e para a política. Para o economista Marcio Pochmann, tais trabalhadores têm características muito diferente dos trabalhadores industriais tradicionais. “Eles não mais se submetem à hierarquia de organização tradicional”, afirma.

Para algumas lideranças políticas, a mobilização da classe trabalhadora é uma questão crucial que desafia os movimentos de esquerda. Para Roberto Amaral, é preciso refletir sobre a dificuldade de mobilizar os trabalhadores. Temos feito mobilizações com presença preponderante da classe média. Nós não estamos conseguindo falar com as massas, as principais vítimas do novo governo. Ela continua arredia”, afirma.

Para Pochmann, esta nova classe trabalhadora, além da nova forma de organização, revela uma contradição. “Ao mesmo tempo em que essa classe aumentou, por outro lado, esses trabalhadores são submetidos a um grau de exploração muito maior”, diz, ressaltando que as instituições tradicionais, como os sindicatos, não conseguem incorporar esses segmentos, principalmente porque não conhcem seus anseios.

Da Rede Brasil Atual

Desafio da atualidade é atrair trabalhadores de serviços a manifestações e à política
 
Segundo economista Marcio Pochmann, empregados do setor não mais se vinculam à hierarquia de organizações como sindicatos, associações e partidos políticos

Segundo algumas lideranças políticas vinculadas a setores democráticos brasileiros, há uma questão crucial que desafia os movimentos de esquerda diante das manifestações contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Trata-se da mobilização do proletariado e da classe trabalhadora. Um dos coordenadores da Frente Brasil Popular, Roberto Amaral está entre os que têm defendido a necessidade de refletir sobre a dificuldade de mobilizar os trabalhadores, embora julgue que a participação da CUT e da CTB na luta contra o golpe e sua integração com movimentos sociais e partidos seja “muito produtiva” na conjuntura atual.

“O problema é que estamos com dificuldade de mobilizar os trabalhadores e as grandes massas. Temos feito mobilizações com presença preponderante da classe média”, diz. “Nós não estamos conseguindo falar com as massas, as principais vítimas do novo governo. Ela continua arredia.”

A questão é mais complexa quando se sabe que se trata de uma questão estrutural da economia do país, e que é um fenômeno mundial. Para o economista Marcio Pochmann, a economia está cada vez mais assentada no setor de serviços, composto por um conjunto de trabalhadores diferente da classe que ascendeu com a revolução industrial.

“Os trabalhadores de serviços têm uma característica muito diferente dos trabalhadores industriais tradicionais. Eles não mais se submetem à hierarquia de organização tradicional. Seus movimentos de maneira geral são horizontalizados. A estrutura de organização da velha classe trabalhadora se baseava numa estrutura hierarquizada de organizações, como é o caso dos sindicatos, associações e partidos.”

Presidente da Fundação Perseu Abramo, Pochmann diz que essa nova classe trabalhadora, além de ter uma organização horizontal, revela também uma contradição. “Ao mesmo tempo em que essa classe aumentou, por outro lado, esses trabalhadores são submetidos a um grau de exploração muito maior. Mesmo assim, as instituições tradicionais (como sindicatos) não conseguem incorporar esses segmentos. Em parte porque não conhecem muito bem os seus anseios.”

Segundo economista, esse conjunto é difícil de ser organizado, também, porque são trabalhadores de segmentos muito grandes de empresas, principalmente pequenas e médias. “É um desafio que está colocado, não apenas no Brasil, mas no mundo todo. Por isso há um esvaziamento dos sindicatos tradicionais e ao mesmo tempo uma ampliação de uma classe trabalhadora muito mais precarizada.”

Nesse contexto, os trabalhadores tradicionais perdem participação no total das pessoas que vão às ruas em atos políticos como contra o impeachment. “Não é que eles não podem se organizar, é que não se encontrou ainda uma forma pela qual isso possa ser mais facilmente superado”, avalia Pochmann. Segundo avaliação da Fundação Perseu Abramo, 40% da população “mais ou menos organizada” tem participado das manifestações, contra ou a favor do impeachment, e 60% estão fora.

Pesquisas

Um dos problemas é a falta de informação e pesquisa sobre o assunto. Um estudo da economista Vanessa Moraes Lugli junto ao Instituto de Economia (IE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), abrangendo o período de 2002 a 2012, mostra que a produtividade dos serviços atingiu 50% do valor da indústria, o salário médio chegou a 70% e a massa salarial do setor de serviços alcançou 94% do valor pago na indústria. O volume de emprego, 137%. Em 2007, de acordo com a pesquisa, a produtividade atingia 46,5% da indústria.

Uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, sobre perfis das pessoas que participaram das manifestações a favor e contra o impeachment, é reveladora. Ela mostra que 12% dos cidadãos que foram às ruas em 2015 participam de sindicatos (eram 27% em 2015), 26%, do movimento social (24% em 2015) e 11%, de partidos políticos (24%).

Entre a população que foi às manifestações pelo impeachment, a participação é irrisória. Apenas 2% participam de sindicatos (contra 6% em 2015), 5%, de movimento social (3%) e 2%, de partidos, mesmo percentual do ano passado.

A pesquisa foi realizada junto ao público presente nas manifestações dos dias 13 e 15 de março de 2015 e 13 e 18 de março de 2016, na Avenida Paulista, em São Paulo.

 

Redação

8 Comentários

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  1. DISCUSSÃO IMPORTANTÍSSIMA !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Uma das discussões mais relevantes dos últimos 50 anos, e os partidos de esquerda a ignoram.

  2. e são mais resistentes à ideologia anticapitalista

    pois, a meu ver por esterem em escritórios ou no novo modo (“autõnomo”) de trabalho em casa, sentem-se mais identificado com a classe exploradora, sentindo-se não apenas fisicamente mais próximos (ferramentas, novas máquinas não manuais, menos “suor” ( ainda que psicologicamente mais pressionados aumentando doenças tais como depressão, sentimento de culpa, e até  vestimentas “sociais”, passeios em ambientes de classe média – shopping-centers, automóveis próprios, etc etc), “sentindo-se” distintos, distinguidos da classe trabalhadora com os partidos que pretendem representá-los. Sem falar no desgaste do que se pretende ou do(s) conceito(s) de pós-capitalismo, socialismo(s).

    1. Ideologicamente se acham patrões!

      A direita vendeu bem o seu peixe, dizendo que o importante não é ter emprego mas sim ter serviço, logo um engenheiro nos dias atuais, que trabalha mais tempo que um metalúrgico qualificado dos anos 70 se acha um EMPREENDEDOR.

      Logo ele ganha a metade do que um metalúrgico ganhava, e posa de grande capitalista, indo nas reuniões das federações de indústria e comércio e as palestras dos IEEs da vida, são uns verdadeiros bostas.

    2. repensar o fazer

      Talvez a indisposição para com a política como é praticada tenha um recado muito importante dos trabalhadores: estamos repensado o que fazer, pois o apelo leninista já não nos convence. Depois da segunda guerra mundial e da política criminosa nos estados socialistas, a política convencional está sendo questionada com força. No caso do Brasil neste momento, no entanto, podemos ter grandes surpresas, pois defender a Dilma aquece nossos corações.  E aí , numa paulada só, vamos defendê-la e matar a sem vergonhice dos políticos, corruptos e autoritários. É uma questão que até mesmo ultrapassa a política. Muitos chegam a ter vergonha de pertencer a mesma humanidade que os golpistas, bandidos, fascistas.  

  3. O desafio de atrair os trabalhadores de serviços para a política

    Os sindicatos devem mudar, pois do jeito que são criam mais desconfiança do que simpatia. Os sindicalistas são atrasados culturalmente, desprezam as questões da subjetividade, desconhecem as profundas transformações do pensamento no século 20, muitas vezes são ariscos às mulheres, são machistas no coração, desconfiam da internet e das redes sociais, são muito puxa-saco dos políticos, não pensam nas questões ecológicas com sinceridade, dizem umas coisas e fazem outras, são economicistas demasiadamente, desprezam os movimentos sociais independente deles, não dão bola para a educação, ainda tratam as pessoas como recursos humanos ou como mão de obra.  . Ou seja, estão por fora. São positivistas, mesmo quando não sabem o que é positivismo. Não chegaram no século 21, talvez tenham estacionado na primeira metdade do século 20. 

    1. Infelizmente isto é a realidade.

      Mesmos os sinicatos de esquerda, assim como os partidos de esquerda, acham que a foice e martelo não tem um caráter simbólico da união das forças trabalhadoras do campo com as das cidades, eles acham que revolucionários possíveis são aqueles que ainda estão trabalhando com a foice e o martelo. Quem usa o trator e o computador, mesmo que seja explorado pelo patrão ele não é proletário!

  4. Impossível

    Nos pequenos comércios, o funcionário convive o dia todo com seus patrões, não é como ir a uma manifestação numa grande indústria. Se o cara for a algum lugar, principalmente em cidades pequenas, a cidade toda fica sabendo, imagina o patrão.

    E com uma crise destas, qualquer deslize, se o funcionário tossir diferente, é rua, é demitido. Mesmo que receba seus direitos certinho, levará anos ou décadas para achar outro emprego. Vai viver de que até lá?

    A grande vitória da elite foi aumentar o desemprego, pois assim, imobilizou qualquer coragem de classe trabalhista, reduziu salários, reduziu tudo. Só os sonháticos do PT ainda não perceberam isto.

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