Luciano Hortencio
Música e literatura fazem parte do meu dia a dia.
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O Rouxinol e o Colibri

Por Luciano Hortencio

Inicialmente quero agradecer ao jornalista pesquisador Miguel Angelo de Azevedo (Nirez) por ter enviado, a meu pedido “uma revoada de rouxinóis”. Nada menos que 12 excelentes fonogramas registrados entre os anos de 1904 e 1963.

Dentre os fonogramas há três registros da composição O ROUXINOL E O COLIBRI, também registrada como ROUXINOL E COLIBRI e ainda simplesmente como O ROUXINOL.

O primeiro fonograma, disco Odeon R-40.157, de 1904, gravado por Mário Pinheiro, registra a composição como ROUXINOL E COLIBRI e declina como compositores “Ernesto Nazareth – Catulo Cearense” (Catulo da Paixão Cearense). O segundo, na voz do mesmo intérprete Mário Pinheiro, datado de 1910, disco Victor R-98.936, simplifica o título para O ROUXINOL e não registra nome de nenhum autor. Finalmente, o terceiro fonograma, disco Brazil R-70116, de 1910, na interpretação de Orestes de Matos, registra a composição como O ROUXINOL E O COLIBRI e, a exemplo do segundo fonograma, não registra nome dos autores.

Logo após publicar o vídeo com as informações contidas no selo do disco, fui conferi-las no site ERNESTO NAZARETH – 150 ANOS, porém, como nada encontrei a respeito da composição, enviei o link para a página correspondente no facebook, sob a responsabilidade do painista e pesquisador Alexandre Dias. Esse, imediatamente, agradeceu gentilmente o envio, porém contestou a autoria de Ernesto Nazareth, fazendo no vídeo o seguinte comentário:

“Prezado Luciano, por favor explicite que no selo a autoria é erroneamente atribuída a Ernesto Nazareth. Esta música não consta em nenhum manuscrito ou publicação dele, e em nenhuma das listas que ele próprio elaborou de sua obra. Além disso, o estilo composicional é diferente. Obrigado.”

Obviamente, no mesmo instante, coloquei o nome de Ernesto Nazareth entre parentesis e acrescentei o pedido contestatório na descrição do próprio vídeo, já que retirar o nome de Nazareth do título do vídeo não teria o condão de apagá-lo do selo do disco, que equivale, guardando as devidas proporções, ao registro civil de uma pessoa.

O episódio fez com que eu permanecesse em dúvida sobre o porque dessa consignação autoral no fonograma de 1904 e as implicações acarretadas por isso. Obviamente Nazareth teve disso pleno conhecimento, já que “habitué” da Casa Edison, teve inclusive lançado em 1905 O SERTANEJO APAIXONADO, de sua autoria e Catulo da Paixão Cearense, gravado pelo próprio Mário Pinheiro. Organizado como era, consignando suas obras de próprio punho, não teria feito qualquer observação, posto algum óbice sobre o fato de ter seu nome declinado em uma composição que não era de sua lavra? Será que simplesmente ignorou o fato, incorrendo no velho ditado “Quem cala consente”?

Há que se observar que Ernesto Nazareth faleceu em fevereiro de 1934. Durante esses trinta anos jamais se posicionou sobre esse fato? São perguntas que faço aos pesquisadores e estudiosos da obra de Ernesto Nazareth, curioso que sou e interessado na história da nossa boa música brasileira.

Luciano Hortencio

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19 Comentários

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  1. Bom dia, alegria!

    O Canto do Rouxinol parece ter encantado ao homens desde ha séculos. Existem dois contos – os mais famosos – sobre o rouxinol: um é “O Rouxinol e a Rosa” de Oscar Wilde, outro é “O Rouxinol” de Hans Christien Andersen, com diversas traduções. Encontrei esse ulitmo e deixo aqui um pouco dessa historia, que nos leva para longe.

    Sabem com certeza que na China o imperador é chinês e que todas as outras pessoas são chinesas também. Esta história aconteceu há muitos anos, mas é precisamente por isso que devem ouvi-la agora, antes que seja esquecida.

    O palácio do imperador era o melhor do Mundo, todo ele construído da mais rara porcelana — não tinha preço, mas era tão frágil e delicado que era preciso tomar todo o cuidado quando se andava lá dentro. O jardim do palácio estava coberto de flores maravilhosas, nunca vistas em outro lado; as mais bonitas de todas tinham sininhos de prata, que tocavam para se saber sempre que passava alguém.

    Sim, tudo no jardim do imperador tinha sido muito bem planeado, e ele estendia-se até tão longe que nem o jardineiro fazia a menor ideia onde acabava. Se se fosse sempre andando chegava-se a uma bela floresta com árvores muito altas e lagos muito fundos. A floresta ia até ao mar, que era azul e também muito fundo; grandes navios podiam navegar mesmo por baixo dos ramos das árvores. Nesses ramos vivia um rouxinol que cantava tão bem que até o pobre pescador, com todas as suas dificuldades, parava de deitar as redes todas as noites para o ouvir.

    — Ah, que maravilha! — dizia ele.

    Mas depois tinha de continuar a trabalhar e esquecia-se da ave. Contudo, na noite seguinte, assim que o rouxinol tornava a cantar, o pescador erguia os olhos das redes e dizia mais uma vez:

    — Ah, que maravilha!

    Vinham viajantes de todos os países do Mundo para admirar a cidade, o palácio e os jardins do imperador. Mas, assim que ouviam o rouxinol, todos diziam:

    — Isto é o melhor de tudo!

    E, quando voltavam aos seus países, continuavam a falar da ave. Sábios escreveram livros sobre a cidade e o palácio, mas o rouxinol era elogiado mais do que todas as outras maravilhas, e poetas escreveram emocionantes poemas sobre a ave da floresta perto do mar.

    Estes livros eram lidos em todo o mundo, e, um dia, alguns deles chegaram às mãos do imperador. Lá ficou ele, sentado na sua cadeira dourada, a ler sem parar; de vez em quando acenava com a cabeça. Estava contente com as esplêndidas descrições do seu reino. Então, chegou à frase: “Mas, apesar de todas estas maravilhas, nada se compara ao rouxinol.”

    — Que é isto?! — exclamou o imperador. — O rouxinol? Nunca ouvi falar dele. Imaginem! As coisas que aprendemos nos livros!

    Então mandou chamar o camareiro.

    — Vi aqui neste livro que temos uma ave admirável chamada rouxinol — disse o imperador. — Parece que é a melhor coisa do meu vasto império. Por que é que ninguém me falou dele?

    — Bem — respondeu o camareiro —, nunca ouvi ninguém falar nessa criatura. De certeza que nunca foi apresentada na corte.

    — Quero que venha aqui esta noite cantar para mim — disse o imperador. — É uma vergonha que toda a gente saiba o que possuo e eu não!

    — Nunca ouvi falar nele — repetiu o camareiro —, mas vou procurá-lo e hei-de encontrá-lo!

    Sim, mas onde? O camareiro subiu e desceu todas as escadas, andou por todos os salões e corredores, mas, de todas as pessoas que encontrou, nenhuma tinha ouvido falar do rouxinol. Voltou apressado à presença do imperador e disse-lhe que aquilo devia ser uma história inventada pelos escritores.

    — Vossa Majestade Imperial não deve acreditar em tudo o que aparece escrito. As coisas que os autores inventam! É mesmo magia negra!

    — Mas o livro onde eu soube da ave — afirmou o imperador — foi-me enviado pelo poderoso imperador do Japão, portanto não pode ser mentira! Quero ouvir o rouxinol! Quero ouvi-lo esta noite.

    — Tsing-pe! — respondeu o camareiro.

    E lá foi ele outra vez escada abaixo e escada acima, por todos os salões e corredores; metade da corte andava a correr atrás dele. Por fim, encontraram uma pobre rapariguinha na cozinha.

    — O rouxinol? — perguntou ela. — Meu Deus! Claro que sei! Que bem que ele canta! A maior parte das noites deixam-me levar para casa alguns restos de comida para a minha mãe, que está doente. Vivemos perto do lago, do outro lado da floresta. E quando volto para o palácio, cansada, sento-me um bocadinho e fico a ouvi-lo cantar.

    — Rapariguinha! — exclamou o camareiro —, ofereço-te um lugar permanente na cozinha e dou-te licença para veres o imperador a jantar se nos levares até ao rouxinol. A sua presença é exigida esta noite na corte.

    Então, partiram em direcção à floresta onde o rouxinol costumava cantar; mais de metade da corte foi com eles. Enquanto iam andando, uma vaca mugiu.

    — Oh! — exclamou um pajem. — Já estou a ouvi-lo! Para um animalzinho tão pequeno faz um barulho extraordinário. Mas, sabem, tenho a certeza de já o ter ouvido.

    — Não, não, aquilo é uma vaca a mugir! — exclamou a rapariguinha. — Ainda temos de andar muito.

    As rãs começaram a coaxar num charco.

    — Maravilhoso! — exclamou o capelão do imperador. — Já estou a ouvir a canção! Parecem mesmo sininhos de igreja!

    — Não, não, isso são rãs — disse a rapariguinha da cozinha. — Mas devemos estar quase a ouvi-lo.

    Então, o rouxinol começou a cantar.

    — Lá está ele! — disse a rapariguinha. — Oiçam! Olhem! Está ali! — e apontou para um passarinho cinzento por entre os ramos.

    — Será possível? — exclamou o camareiro. — Nunca pensei que fosse assim. Parece tão vulgar! Tão simples! Talvez tenha perdido a cor quando viu todas estas visitas importantes.

    — Rouxinolzinho! — chamou a rapariguinha. — O nosso gracioso imperador gostaria muito que cantasses para ele.

    — Com o maior prazer — disse o rouxinol, continuando a cantar tão bem que era um encanto ouvi-lo.

    — Parecem mesmo sinos de vidro — disse o camareiro. — Não percebo como é que nunca o tínhamos ouvido. Vai ser um êxito na corte!

    — Querem que torne a cantar para o imperador? — perguntou o rouxinol, que pensava que uma das visitas era o imperador.

    — Excelentíssimo rouxinol — disse o camareiro —, tenho a honra e o prazer de o convidar para um concerto no palácio esta noite, onde encantará Sua Majestade Imperial com as suas lindas cantigas.

    — Soam melhor na floresta — afirmou o rouxinol.

    Apesar disso, foi com eles de boa vontade quando ouviu dizer que era desejo do imperador.

    Continua no link: http://guida.querido.net/andersen/conto-05.htm

      1. Hoje, so amanhã!

        Acho que essa vou deixar para quando ele crescer, não é, meio triste. Ele gosta mesmo de contos, ultimamente esta interessado nas culturas russas e japonesas (por causa dos amigos). Agora toda noite pede para que contemos a mesma historia… O conto das bonecas russas, que enganam a Baba Yaga (bruxa russa) e salvam os pais, camponeses da miséria (olha ai a revolução bolchevique! :)… E ao final da historia então ele faz as mesmas perguntas… Ai, que sono!!!

  2. Nem acreditei hoje quando acordei…

    e vi um passarinho dentro de casa! Estamos falando tanto deles que um resolveu parar por aqui. Eu deixei a janela aberta ontem ao ir dormir. Quando acordei vi o bichinho sobre o basculante da janela da sala. Estava batendo as asas, mas aparentemente não consegue voar. Estou preocupada, ele deve estar doente. Chegou hoje e não sai de jeito nenhum. Não sei o que fazer…

    A foto não ficou boa, por causa da claridade, da minha câmera e também da dona (hehehe). Mas aqui está ele.

    Tá vendo, Luciano. Você me ofereceu uma coleção de passarinhos ontem e olha só o que aconteceu!

        1. Consegui!

          Ela ficou super estressada quando cheguei perto. Começou a bater as asas e pular tão desesperadamente que chegou até a dar uma cagadinha! hahahhaha 

          Coloquei no batente de baixo e ela conseguiu chegar até a árvore. Agora tá lá, paradinha…

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