Enviado por Antonio Francisco
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sexta, 26 de abril de 2024
Enviado por Antonio Francisco
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O silêncio, letra de Arnaldo Antunes
Música de Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes
O Silêncio
Arnaldo Antunes
antes de existir computador existia tevê
antes de existir tevê existia luz elétrica
antes de existir luz elétrica existia bicicleta
antes de existir bicicleta existia enciclopédia
antes de existir enciclopédia existia alfabeto
antes de existir alfabeto existia a voz
antes de existir a voz existia o silêncio
o silêncio
foi a primeira coisa que existiu
um silêncio que ninguém ouviu
astro pelo céu em movimento
e o som do gelo derretendo
o barulho do cabelo em crescimento
e a música do vento
e a matéria em decomposição
a barriga digerindo o pão
explosão de semente sob o chão
diamante nascendo do carvão
homem pedra planta bicho flor
luz elétrica tevê computador
batedeira, liquidificador
vamos ouvir esse silêncio meu amor
amplificado no amplificador
do estetoscópio do doutor
no lado esquerdo do peito, esse tambor
Bom demais!
Do tempo em que Arnaldo Antunes era realmente bom demais! Álbuns como “Ninguém”, “Um Som” e “O Silêncio” estão entre as pérolas da música brasileira nos anos 1990, anos que tiveram grandes álbuns de Chico Science e Nação Zumbi, Mundo Livre S.A., Otto, Tomzé… Num tempo em que ainda existiam álbuns, com belos encartes que traziam as letras e a indicação de todos os participantes de cada uma das faixas. “Incrível esse baixo, deixa ver quem é.” Tava lá. Um tempo em que a produção musical ainda era valorizada.
Sim, sou velha e ando saudosista. Mas é bom ter vivido os anos áureos da música popular dos anos 60 aos 90. Hoje vivemos um tempo em que as canções são lançadas no youtube e o que menos importa é a música. “Intelectuais” ficam comentando a bunda com celulite revolucionária de Anitta, a atitude de Pabblo Vitttar e não sei mais o quê. Quem são os músicos? Não importa, claro. A música é só um detalhe insignificante no meio da palhaçada. Desculpem! Quis dizer performance. E quem não gosta, porque se acostumou com música popular de outro nível – e eu não falo só do que vinha da classe média -, é chamado de reaça e elitista. Preconceituoso é quem considera que aquele lixo representa a cultura popular!