O estilo ‘fake’ de ser

Na atualidade, a luta do homem pela ascensão social fez surgir a figura do fake. Fotos falsas circulam na internet, sendo usadas por aqueles que desejam apresentar uma imagem física mais vistosa, mais bela, aparentando serem mais inteligentes e sagazes.

Contudo, associar o ‘fake’ aos meios online de relacionamento é uma grande falácia. Desde muito tempo, sabemos que pessoas criam, em suas mentes, vidas paralelas e as nutrem como se fossem um retrato real de suas vidas.

Elas mentem quanto ao amor, condição financeira e até estado civil. Omitem sequelas emocionais, delitos cometidos e amores não correspondidos.

Essas pessoas inventam viagens que nunca foram feitas, e-mails de escusas e endereço residencial. São ávidos por um companheiro (a) frágil e vulnerável para nele (a) implantarem um mundo fake.

Essas imagens são comuns nas redes sociais, chats, fóruns e blogs. Nos espaços eletrônicos, as mulheres se tornam atraentes, inteligentes e irresistíveis. Os homens, em um passe de mágica, tornam-se sarados, bronzeados e, às vezes, milionários.

A pseudo-perfeição apresentada ao público alvo é protegida pela “segurança” que o computador oferece. Por ali, os ilusionistas arquitetam o seu mundo ideal e, como em um videogame, escolhem as vítimas, seja para o bem ou para o mal.

A maioria dos fakes procura fotos de mulheres e homens, sem ao menos saber quem eles são na realidade. Alguns se valem de retratos digitalizados de pessoas famosas, ícones do cinema ou de personagens famosos dos desenhos animados.

A atual necessidade de se expor para equilibrar deficiências de ordem pessoal faz com que muitas pessoas não consigam mais separar o real da ficção.

Esses ‘fakes’ tomaram a direção de um túnel sem luz onde não há retorno de fácil acesso. Algumas declarações, postagens e e-mails – alimentados de mentira – não podem mais ser revertidos.

Na web, há muitos adolescentes que fornecem suas fotos para sites que trabalham com imagens fakes. Trata-se dos financiadores de ilusão que, por representarem um objeto de desejo, nutrem as mentes fakes e lucram muito com a ilusão alheia.

Hoje, o fake é a versão moderna dos mentirosos contumazes que sempre vagaram pelo mundo, criando fatos que de tão bem contados e reproduzidos tornam-se verdade ou lenda urbana.

Antes havia um fake em cada esquina. Agora, há um em cada micro, teclando e postando suas fantasias. Enquanto isso, nós estamos correndo o risco de sermos mais um personagem fisgado pelo mundo dos sonhos fakeanos.

E como fica a mente daquele realista e racional que não faz parte desse mundo falso e montado? Como fica a pessoa chamada “pé no chão” diante de tanta superficialidade e mentira na internet?

Daqui a pouco, é provável que os psiquiatras tenham que cuidar daquele que não está inserido no mundo fake e que não compartilha ilusão, o que será uma verdadeira decadência moral.

 

Redação

6 Comentários

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  1. Isso é a pura verdade.

    Isso é a pura verdade. Convivi com uma estagiária no meu trabalho e num belo dia a vejo numa rede social. Levei um susto. A pessoa deu uma guinada de 180 graus no visual. As vezes reencontro amigas da juventude hiper produzidas no FB, quando , na vida real, são outras pessoas. Mas o que acho mais incrível são os avatar com ídolos do rock, da esquerda e afins. Tais pessoas, dependendo do perfil, se tornam verdadeiros ícones e acabam sendo venerados por uma multidão de seguidores. Quem não faria até o impossível para conhecer ao vivo e a cores o Stanley Burburinho? Aí entra a questão da beleza, da inteligência e da capacidade que a pessoa tem  em argumentar e estar por dentro de tudo que acontece.

    O muito que eu faço é passar um batom, usar óculos e um chapeu.

     

    Nassif, todo dia que entro no blog tenho sempre que me cadastrar. Isso não acontecia antes. Deve haver algum problema.

  2. Eu observava que entre
    Eu observava que entre qualquer um debate ou outro, o peso do comentario variava com os advérbios de modo usados. Notei também que fakes fakes tinham mais liberdade de usá-los. Como dizer ofensas e mentiras e outras imbecilidades.
    Apesar de opiniões modestas, sempre fiz questão de recusar fakes. Tanto pra mim, quanto pros outros. E quando se opina fake em debate político nas redes, a credibilidade cai bastante.
    Ou melhor, o peso das opiniões e influências seriam muito maiores pois é aquela coisa de escrivao de cartório. “É verdade e dou fé” .

  3. A Grande mentira

    Estou lendo um livro fascinante cujo título é esse mesmo ” A Grande mentira” o autor é José Maria Martinez Selva, pscólogo.  Cito textualmente  ” O Objetivo não é desmascarar este ou aquele mentiroso, até porque seu estudo concentra-se em grandes e rumorosos casos, amplamente conhecidos e divulgados, mas explorar e analisar o universo social que o forma, suas circunstâncias, seus intentos. E também o ambiente de credulidade que o faz vicejar e convencer a outros – muitos outros – a lhe dar crédito, poder e influência.” 

    E também me pergunto, como o autor do texto : ” e as pessoas pé no chão ? ” , na verdade acho que estas pessoas ( cada vez mais raras) estão perdendo o chão, isso sim !

  4. O fake e o Nouvel Ancién

    O fake e o Nouvel Ancién Regime

    Sobre o fake, na internet ou em qualquer meio, participando da espetacularização da vida, criando o falso por toda parte, insculpindo niilismo, e paranoia do fascismo de todo os dias, cumpre registrar o “jeito fake de ser” faz parte integrante essencial do capitalismo selvagem, despido que é de ética, porque o lucro é a meta incondicional, mesmo.

    E, como dizia Karl Polanyi, em A Grande Transformação (um dos 100 melhores livros do século passado), trata-se de sistema que faz uma população ordeira e trabalhadeira transformar-se em bando de ladrões e prostitutas.

    Ora, o fake é a cara destes tempos de competitivismo darwinista cretinizante, portanto, de obsessão estrategista, componente de “kratomania” para manipular o próximo, e realizar incontinente pulsão por posses, pois o primeiro princípio da estratégia é manter o adversário em erro, induzir ao falso.

    Logo, o horizonte que se descortina é o do vale-tudo, onde a primeira vítima é a verdade, e como buscá-la é a única função nobre da palavra, esta se perde num emaranhado de ruídos, vez que dissipado o  sentido, e, voilà, na sabedoria de Hesíodo, eis-nos recaídos a bestas-feras, serem despidos de palavras, justo o que nos diferenciava delas.

    Daí, na outra ponta, se há pontas nesse contexto, como reclamar comportamento aos Fernandinhos Beira-Mar, mesmo, espantar-nos com a violência, cada dia, parecendo, mais gratuita, que vem “de baixo”, ou com a roubalheira que se dá “em cima”, sem darmos curso a ignorância, prepotência e truculência, seja regredirmos ao Antigo Regime com toda a irracionalidade que o caracterizava?

    Será isso que estamos assistindo, ao desenrolar de Nouveau Ancien Régime? Em sendo, pior, somente há precedente histórico – e é preciso ter perspectiva histórica – na recidiva à teocracia despótica com o advento da conquista do Estado romano pelo cristianismo, jogando pá de cal sobre o Ocidente Civilizatório inaugurado pelos antigos gregos, não pitagóricos, nem platônicos ou aristotélicos, por mais de milênio, retrocesso evolutivo do qual tentamos sair, apesar da modernidade traidora, do racionalismo fascista no qual vivemos.

    É preciso assumir que, desta fruta, há muito de espinhoso e de azedo, para uma polpa, conquanto suculenta, mirrada, que dá para pouquíssimos, justo esta minoria minoritária mínima, cada vez mais acometida das Síndromes de Atlas de Rand e de Maria Antonieta, arquiteta do estreitamento da vida, no encurralamento catalizador deste estado de coisas.

    Mas, diferentemente do que querem nos fazer crer, ao homem cumpre reinventar a fruta, minimizando a concentração da riqueza, proscrevendo o uso de artifícios, os fakees, revogando a Lei de Gerson, criminalizando, isto sim suas práticas, pois ou bem restaura-se a boa ordem, ou matemo-nos todos, nesta guerra inglória, senão para aqueles maganos, potentados, estrangeiros ou estrangeirados, situados no vórtice da concentração da riqueza, donde ecoam o estalido do chicote e o som do tambor.

    Saudações humanísticas e libertárias.

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