“A história do Brasil é uma história de racismo profundo”: Silvio Almeida na TVGGN

"Até por conta da posição que o Brasil ocupa - na periferia do capitalismo - e por conta do processo de miscigenação, nunca se ousou em falar em supremacismo branco". Assista

Publicada originalmente em 23/06/2020

Jornal GGN – O advogado, filósofo e professor universitário Silvio Almeida afirmou em entrevista exclusiva ao canal do GGN no Youtube que a sociedade está cansada de viver uma vida sem perspectivas e de líderes incapazes de apontar para um futuro melhor.

Segundo ele, Estados Unidos, países da Europa e até o Brasil continuarão sendo palco de protestos do movimento negro contra o racismo estrutural, mas a crise é ainda maior, porque envolve sentimentos de insatisfação que crescem em meio à pandemia de coronavírus e à consequente crise do capitalismo.

“Você percebe que nas manifestações não está apenas a questão do anti-racismo. O que se tem de fato é uma manifestação de uma sociedade que está cansada de viver em uma vida que não tem perspectiva, não tem futuro, e que tem um elemento, que é um homem que não tem a menor condição de unificar a sociedade, de criar um discurso em relação a um futuro renovado, que é o presidente Donald Trump.”

Trump é “uma flor do ódio, ele se levanta no ódio, e o que as pessoas precisam agora é de solidariedade e amor, e ele não tem condições de oferecer isso pessoalmente.” Da mesma forma, disse Almeida, “as instituições no Brasil e na Europa – você vê que a França está virada também – não têm condições de oferecer algo novo para as pessoas.”

A entrevista de Almeida foi concedida ao jornalista Luis Nassif no começo de junho, no auge dos protestos nos Estados Unidos pela morte de George Floyd, assassinado pela polícia. Os atos anti-racistas se alastraram por outros países e também chegaram ao Brasil.

Para Almeida, essa expansão do levante ocorre “porque, me valendo de Cornel West [filósofo negro norte-americano], nós encontramos uma tempestade perfeita dentro do coração do capitalismo.” O caso Floyd “ocorreu no pior momento, ou no momento mais estrondoso que poderia acontecer, em que se juntaram vários outros elementos de insatisfação.”

INSATISFAÇÃO

“Juntou-se crise econômica que não começou hoje, a degradação das condições sociais, o encurtamento do sistema de proteção social – que aconteceu com menos violência nos EUA e na Europa, porque eles tinham grandes sistemas. Os EUA não têm sistema único de saúde, como as pessoas sabem. Isso já atinge a população negra. Aí você junta isso com pandemia e com um caso de violência policial que na verdade é a ponta de lança de uma sequência de casos que ocorrem todos os dias.”

Almeida está atualmente nos Estados Unidos, lecionando na Universidade Duke uma disciplina que, por coincidência, ele chama de Black Lives MatterBrasil e EUA, em que o especialista tenta traçar a trajetória dos movimentos negros e suas semelhanças nos dois países.

Marcando diferença no racismo estrutural visto nos Estados Unidos e no Brasil, ele citou a questão dos supremacistas brancos, cuja estética começou a ser copiada por grupos extremistas que apoiam o governo Bolsonaro e defendem o fim de instituições como o Supremo Tribunal Federal, que supostamente estariam contaminadas pela agenda da esquerda.

“O caso Floyd se soma a uma história de linchamento, história violência com a população negra, história de supremacismo branco que está nos Estados Unidos e agora quer se infiltrar na realidade brasileira”, disse Almeida.

E continuou: “A história do Brasil é uma história de racismo profundo, mas até por conta da posição que o Brasil ocupa – na periferia do capitalismo – e por conta do processo de miscigenação, nunca se ousou em falar em supremacismo branco. O que se tem é a ideia de branqueamento, (…) de superioridade branca, mas não de supremacia branca.”

Para ele, não é coincidência que essa estética supremacista aflora no Brasil justamente no governo Bolsonaro.

“O supremacismo branco é uma linha de corte radical com a qual nós não ousamos ainda, como país, estabelecer. Isso demonstra que o Brasil está fraturado e que qualquer veleidade em relação ao projeto nacional, ela foi deixada de lado. E a eleição do presidente que ocupa a cadeira no Brasil hoje é o sinal de que abandonamos qualquer tentativa de unificar o País em um projeto de desenvolvimento nacional.”

Assista a entrevista completa abaixo:

 

Redação

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