As críticas ao domínio paulista no PT

Do Valor

Petistas do Norte e do Nordeste criticam paulistização do partido

Raquel Ulhôa | De Brasília
09/05/2011 

A retomada do comando nacional do PT pelo grupo paulista, com a eleição do deputado estadual Rui Falcão para substituir o sergipano José Eduardo Dutra na presidência da legenda, deu mais munição para reclamação de petistas das regiões Norte e Nordeste, principalmente, com o que chamam de “paulistização” do partido e do governo federal. As críticas não centram na figura do novo presidente mas na nova correlação de forças do partido.

O senador Jorge Viana (PT-AC), um dos que manifestam a preocupação, considera natural que o PT queira aproveitar um momento de crise do PSDB de São Paulo para fortalecer seus quadros e tentar retomar o controle do maior colégio eleitoral do país. Mas alerta que isso não pode significar “retrocesso” na atenção que o governo federal e o PT deram a outras regiões.

“O governo Lula ajudou a olhar mais para o Norte e o Nordeste. O PT não pode incorrer no mesmo erro do passado, em que tudo no partido era muito centrado no Sul. Isso não pode significar um retorno ao que o PT já viveu: o desequilíbrio de forças do partido, com prioridade para São Paulo”, afirma.

Presidente da Subcomissão Permanente do Desenvolvimento do Nordeste (CDRDN), o senador Wellington Dias (PT-PI) diz que Falcão está no comando do PT “emergencialmente” e que o futuro presidente do partido deve ser da mesma região de Dutra – o Nordeste. “No primeiro encontro nacional do partido, vamos discutir essa questão. O presidente eleito pela maioria foi José Eduardo Dutra. Na época, o entendimento era que precisaríamos ter outras regiões do Brasil encabeçando o partido”, afirma.

Na gestão de Dutra, que se afastou por questões de saúde, o grupo paulista do PT é que mostrava insatisfação com o distanciamento do núcleo decisório do governo. Ouvia-se que o sergipano agia mais como governo do que como PT. Os paulistas queriam interlocução direta com Dilma Rousseff. Chegaram a se unir e elaborar um documento no qual pediam audiência com a presidente. Mas o grupo recuou quando Dutra reagiu contra a manobra para desautorizá-lo.

Agora, aproveitando a saída do sergipano da presidência do partido, numa articulação atribuída principalmente ao ex-ministro José Dirceu, o grupo manobrou para voltar ao comando do partido. Os paulistas passaram por cima até da vontade de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que preferiam a eleição do senador Humberto Costa (PE), líder da bancada no Senado.

Apresentaram argumentos para mostrar a dificuldade de sua eleição. Primeiro, o fato de ser líder no Senado. Depois, a intenção de Costa disputar o governo do Estado, em 2014. Ficou claro haver uma espécie de veto ao nome do pernambucano, que reagiu. Com maioria de votos, o grupo paulista impôs o nome de Falcão. A partir dessa conversa, o grupo levou a Lula e Dilma a versão que Costa havia recusado. Tirando o período em que o PT foi presidido por Olívio Dutra (RS) e, agora, por José Eduardo Dutra (SE), que afastou-se para dedicar-se a tratamento de saúde, o controle do partido sempre foi de São Paulo.

Petistas do Norte e do Nordeste queixam-se, ainda, da pouca representação da região na composição do governo. Jorge Viana, ex-governador do Acre, diz acreditar que a presidente vai mudar essa correlação de forças na primeira reforma ministerial provavelmente a partir da saída dos candidatos nas eleições municipais de 2012.

“Há desequilíbrio de forças. Acreditamos que na primeira oportunidade de mexida do governo, Dilma vai melhorar esse equilíbrio, recompondo e não piorando. Até porque a gente deve deixar a crise no colo dos adversários”, afirma.

Para Wellington Dias, também ex-governador (Piauí) e um dos líderes de um movimento que busca unir a atuação de parlamentares do Nordeste para reforçar as reivindicações da região, há insatisfação com a baixa representação de regiões menos desenvolvidas na equipe de Dilma e receio de que isso se reflita em políticas de governo.

“O presidente Lula buscou um tratamento diferenciado, mais favorável às regiões menos desenvolvidas. O Nordeste é responsável por 10 dos 11 milhões de votos que Dilma teve de vantagem. Então, na composição da equipe, nas áreas mais estratégicas, havia expectativa de presença maior de pessoas dessa região. O sentimento é que houve uma paulistização na composição, tanto no partido da presidente quanto nos outros partidos”, afirma.

O senador Walter Pinheiro (PT-BA) não compartilha das críticas contra a chamada paulistização. Segundo ele, esses setores do partido teriam outras motivações. “Se quisermos discutir a política do governo, vamos sentar com o governo. Não é tirando o Falcão e colocando outro que vamos resolver”, afirma. Para ele, reclamar contra ocupação de espaço depois de a decisão estar tomada, não resolve nada.

A senadora Marta Suplicy (PT-SP) diz que a eleição de Falcão não se deve a nenhuma prioridade partidária. “Foi uma conjuntura. Na política, o que é natural geralmente é o certo. E ele [Falcão] era o vice”, disse. Ela acha que Falcão tem perfil adequado para conduzir o partido na eleição municipal, por ser “uma pessoa do diálogo, mas com capacidade de endurecer, quando necessário”. 

Luis Nassif

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