Bolsonaro e o convescote dos puxa-sacos

Apenas na fala de Teich, recebida com desprezo pela plateia de muares, falou-se do problema da coronavirus, o mais relevante desafio que o país enfrenta nas últimas décadas.

A reunião ministerial do dia 22 de abril escancarou o que é o governo Bolsonaro, a pequena dimensão dos Ministros, o jogo de lisonja, as tentativas de emular as tolices do chefe, para agradá-lo, a incapacidade de montar uma pauta minimamente objetiva.

Mas para quem se dispuser a escrever um tratado sobre a lisonja, há um universo completo a ser pesquisado, com várias espécimens de puxa-sacos.N

O puxa-saco biográfico

É que compara o mestre com figuras históricas. Foi o caso do Ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas, comparando Bolsonaro a Roosevelt e Churchill. Não se sabe se Bolsonaro ficou incomodado em ser comparado com aquele agente comunista infiltrado nos States. E o outro, como é o nome dele mesmo? Church, churcs, ô Tarcisio, explica melhor quem é esse.

Outra tentativa foi do chanceler Ernesto Araújo, o idiota, discorrendo sobre o destino manifesto do governo Bolsonaro, de revolucionar a diplomacia internacional com os fundamentos da religião, Deus-acima-de-tudo e Bolsonaro-acima-dos-tolos.  E houve um momento de discussões estratégicas, sobre como seria o relacionamento com aqueles chineses comunistas, de quem depende o equilíbrio da balança comercial brasileira.

O puxa-saco de emulação

Compareceram, pelo menos, três praticantes do puxa-saquismo de emulação. Consiste em um exercício de imitar tudo o que o chefe faz para agradá-lo, especialmente os movimentos inusitados. Se ele arrota em público, arrotemos. Se peida, que venha o peido.

Três candidatos se apresentaram.

O primeiro, Abraham Weintraub, o idiota, em uma catilinária contra Brasília e xingando aqueles 11 batinas pretas do Supremo. Damares, a iluminada, não deixou por menos, e propôs prisão de governadores. E o imbatível presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, aquele que fala com entonação de locutor de rádio e faz questão de emular todos os defeitos de Bolsonaro. Na lisonja, só é superado por Onyx Lorenzoni.

O chefe gosta de palavrão? Então solta um palavrão, pede desculpas, e solta outro. É o chamado peido na farinha.

O chefe gosta de taxar adversários de bostas e ladrões? Não seja por isso: o governador do Rio é um ladrão.

O chefe gosta de explosões de indignação? Então diga que irá enfrentar qualquer policial que ousar deter sua filha por boicotar o isolamento.

O chefe gosta de reação armada? Mencione então suas 15 armas e diga que as empunhará para enfrentar o covarde que ousar prender sua filha. Aconteceu algo com a filha? Não. Nada melhor do que uma hipótese para o exercício fútil da indignação vazia.

O chefe, ligado às milícias, gosta de denunciar a corrupção dos governos anteriores? Lá vai o previsível Pedro lembrar a estrondosa corrupção do governo anterior, da qual o principal agente do setor privado era Leo Pinheiro, da OAS, por coincidência seu sogro.

O puxa-saco humilde

Havia os puxa-sacos humildes, daqueles que levam broncas homéricas em público, abaixam a cabeça e dizem amem.

Foi o caso do bravo Ministro-Chefe da Casa Civil, general Braga Neto. Ele ousou chamar o programa Pró-Brasil de New Deal brasileiro – e levou uma bronca tão completa do Ministro da Economia, que se fosse em uma caserna, seria motivo para corte marcial.

Guedes, poderoso como um deus do Olimpo, lançou dardos destruidores em direção a Braga Neto. Nunca mais fale em New Deal, que será a desmoralização total do governo, disse ele. Não explicou o porquê e, daquele bando de néscios, não apareceu uma voz sequer pedindo para ele explicar afirmação tão definitiva, que deveria ter tanta lógica quanto os argumentos em defesa do terraplanismo.

Paulo Guedes, o poderoso, valia-se a todo momento da carteirada econômica, um c…regra desembestado, contando com o aval de Bolsonaro e, por isso mesmo, a submissão de um cenáculo de néscios. Arrotou absurdos econômicos sem ser questionado.

Garantiu a Bolsonaro que, mantida a abertura da economia, haveria recursos externo abundante, conforme lhe adiantou fulano de tal, do alto cargo de sei-la-o que do governo americano. E Bolsonaro, com seu melhor ar apalermado: e ele falou isso mesmo? Falou, é claro. E Bolsonaro olhou o público com aquele ar desafiador: viu só:

Guedes repetiu pela enésima vez que, se não fosse o coronavirus, o Brasil estaria explodindo com o notável crescimento de 1% ao ano.

A rigor, apenas dois Ministros mantiveram a dignidade, tão rara de encontrar como agulha em puteiro, perdão, palheiro.

Um deles, Nelson Teich, o breve. Seus olhares de espanto, a cada extravagância, ganharam uma eloquência inesperada, logo ele, que parecia desprovido de qualquer forma de emoção. E ousou dizer palavras de bom senso sobre o combate ao coronavirus, supondo estar em uma reunião séria. Foi rifado ali.

O outro Diógenes, com uma lamparina que teimava em ficar acesa, foi Rogério Marinho, Secretário Especial de Previdência e Trabalho, tentando abrir as orelhas daquele grupo indescritível, para a necessidade de aumentar os investimentos públicos. O óbvio batia naquelas cabeças de pedra e ricocheteava na lógica, partindo-a em mil pedaços.

Aí vem o bravo Ministro Tarcísio dizendo que não haveria condições de colocar tantas obras em andamento, para um governo que mal dá conta das obras atuais, com as migalhas de recursos que lhe foram destinadas pelo Ministro Guedes.

Pensando bem, tem razão. Duas tartarugas para serem vigiadas é muito para o nível de capacidade daquele grupo.

E havia, finalmente, o Ministro Sérgio Moro, sentado na mesa principal com Guedes, Braga Neto e outros. Ouviu tudo em silêncio e na ~única vez que foi provocoado disse o Ministro Guedes incluir a segurança e o combate à corrupção nos planos de governo.

Mas tem algum projeto novo no Ministério? Não, respondeu o brilhante Moro, mas é para deixar marcada a posição.

Apenas na fala de Teich, recebida com desprezo pela plateia de muares, falou-se do problema da coronavirus, o mais relevante desafio que o país enfrenta nas últimas décadas.

 

 

 

25 Comentários

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  1. o ministro da economia (sick), super pasta, dizer do Banco do Brasil, fundado por Dom João VI, em 1808 e ressuscitado em 1851, pelo Barão de Mauá: “tem que vender essa porra logo”. esse jornalismo…

  2. Tá td muito bom, tá td muito bem ..um verdadeiro bando de puxa sacos SOCIOPATAS dirigido a um maluco em permanente surto psicótico.
    Mas aí, penso, neste momento, nós, o que somos ?
    Nós que diante dos tolos e insanos assistimos a tudo isso e, vendo, incrédulos, nada fazemos, ou conseguimos fazer ?
    Que merda cumpadi, ri de que ?

  3. Caraca, o Nassif quando se irrita emerge numa explosão de lucidez ! Pequenos e surpreendentes calões não tão baixos atingindo o coração de altos coturnos. Dá até vontade de torcer para que haja mais desses convescotes para lermos mais artigos com este.

  4. Há uma longa jornada de paciência até dezembro de 2022, respirando fundo e ainda torcendo pela prevalência de alguma racionalidade no hospício, e com Bolsonaro lá, porque a alternativa é pior, a julgar pelo que o general Mourão escreveu no seu longo artigo publicado um dia desses no Estadão.
    Bolsonaro é cafajeste e mau caráter, mas pelo menos é extremamente burro, o que não se pode dizer do vice, que é sinistro.

  5. É a dura escolha entre o rato e o roto. Tudo bem ser bajulador. Só que bajular desqualificados é aceitar para si a depressividade de seguir para o abismo, como a fábula do tocador que levava os ratos para o extermínio. Só não é pior que ser puxa-saco de alguém com baixíssima estatura. Vai ser sempre arrastado pelo chão e se levantar um pouco a cara, vai cheirar o traseiro sujo do roto. Ratos hipnotizados por um roto que não pode cumprir um bom caminho aos seguidores, pois entramos em temos de construção e não mais de destruição, o que não é possível com seu plano anterior de milicianização do governo.

  6. Muito boooom ! Ontem no seu jornal das 20 h já havia adorado; escrito, inesquecível, Nassif.
    Belo Sarau, o de ontem também, com afeto, sintonia, carinhos e tudo muito natural. Tornou-o bem próximo da gente. Parecia os do Magnólia, etc. Parabéns !

  7. Uma aula de ridículo horroroso de um grupo de completos idiotas sem a menor noção, nem digo do que é governar, mas de trocar ideias que não de um botequim de fundo de bordel (deve haver).
    E havia generais ali, únicos adultos, adultos?, que desceram no ridículo e na desmoralização do grupo e assistindo um chefe tão pequeno e estúpido, e se sentindo em casa com tanta idiotice e descompromisso, nem digo com o país, que seria pedir demais, mas com um mínimo de civilidade e cerimônia pela presença na sede do governo(?).
    Os generais ali, únicos adultos, numa matilha de doentes mentais, coitados, evidenciaram a qualquer um o erro estrondoso de saírem dos quartéis. E o lado totalmente errado que tomaram, a bobagem que fizeram, o desastre que avalizaram.
    Que desgraça!

  8. Ora, o que se viu foi um grupelho cujo único objetivo é espoliar o país…..o inacreditável sinistro da economia, um desqualificado que despencou no cargo sem nenhum merecimento, quer fod…..o povo abrindo a “nobre” atividade dos cassinos, óbvio que o governo não vai permitir a lavagem de dinheiro, prostituição e outras misérias que acompanham os jogos de azar, claro que não!! Vão fiscalizar tudinho…..
    Podem ter certeza….tem miliciano morrendo de inveja…….

  9. Ai que saudade do Pasquim…
    primeira página certamente teria um enorme culhão com os ministros ao redor e todos com aquele olhar de quem está em dúvida: demo beijar, lamber, morder ou chupar?

    a página em si traria o que todos os ministros merecem, um chutão muito bem dado nos culhões

  10. É a ascensão da mediocridade. Não creio que seja algo governamental. Talvez seja um tipo social.
    Grande parte das manifestações de ojeriza se deve ao fato de não haver a liturgia do cargo, em que resvala na moral. É tema antigo, em que o Soberano deve ter determinada conduta. Vão por aí Cícero e quetais.
    Porém, não somos antigos, a moral é desvinculada da política. Mas a democracia moderna possui fins.
    Como já foi dito, não são poucas as empresas e instituições, públicas e privadas, estruturas de Estado, autarquias, fundações, etc. em que pessoas, sedentas por algum privilégio, consideração ou poder, macaqueiam seus superiores, puxam tapetes de seus pares (às vezes, mais competentes e até mais honestos), puxam o saco, esquadrinham seus pensamentos com as autoridades.
    As autoridades, bem… acostumadas a não haver oposição e nem às limitações do cargo, se esmeram em abusos de toda ordem, que vão da microgerência inepta à perseguição ou ao assédio.
    Mostram-se odiosos a quem lembra das limitações do cargo. Não somos antigos: um Soberano deve ter amigos que respeitem a República e tenham coragem da verdade, bem como ser avesso à bajulação que demonstra a sua fraqueza.
    Os puxa-sacos têm seus inimigos os mesmos das autoridades e são realmente repetidores espertos. Embora haja momentos em que o limite entre o deliberado e o compulsivo se dissolvam, o que demonstra a perda de controle mental.
    São eles os menores espertos, oportunistas, ladinos. Há um acordo mais ou menos tácito em não citar situações internas, estruturais, que façam emergir práticas duvidosas. Não obedecer a este acordo é mal visto.
    São as autoridades fracas e ansiosas por alguma espécie de orgulho, são aqueles espertos e oportunistas que tudo fazem por ele, arrancando seu quinhão.Fechados em si mesmos, tudo está muito bem, a realidade é um faz de conta. Desde que, lá fora, alguém seja parasitado por eles, está tudo sob controle. Porém, como cada um tem uma ficha corrida, cada puxa-saco também é um chantagista e vítima da chantagem. O que reina é o terror mútuo.

    1. beleza de colocação! muito obrigado pela aula…
      reforça uma das minhas primeiras conclusões a respeito de parte do que venho guardando para o tal livro.
      Segue: para medir o todo, meça o estado de submissão da mente de qualquer um

      todos são meros soldadinhos de brinquedo em uma fileira de oficiais formados de ódio, vingativos

      E ainda há quem acredita que o nosso presidente é Bolsonaro

  11. Prezado Nassif,
    Me parece urgente um amplo movimento pela DEFESA DA DEMOCRACIA E DO MEIO-AMBIENTE com a mais ampla participação de sociedades civis, membros independentes de sociedades civis, congressistas, administradores públicos e privados, e todos aqueles sensíveis a esses valores e afins.
    Não me parece conveniente ideologizar esse movimento mas sim coloca-lo em termos de valores que são caros a muitos como por exemplo a democracia.

  12. Uma correção: Guedes “proibiu” a expressão Plano Marshall e não New Deal.

    Uma constatação da reunião.

    Ficou clara a hierarquia do dito “governo”. Tem outro puxa saco não citado pelo Nassif, o próprio dito presidente. Ficou claro que ele não governa a economia, quase pediu licença ao Guedes para falar a respeito. E Guedes é um preposto dos endinheirados, uma espécie de CEO, tão idiota e sem noção de políticas públicas quanto os afortunados CEOs de empresas querendo dar conselho a respeito do que não entendem quando se metem a dar palpite sobre como deve ser a política e a economia.

    Empresários e altos executivos precisam reconhecer que são pessoas limitadas. Escolheram trabalhar em negócios, onde as coisas são simples e gente estrita pode liderar sem grande necessidade de muita inteligência. Basta ter instinto matador. Se auto privam do entendimento do que é público ao serem amestrados para serem privados.

    1. Você tem razão: O Braga Neto falou em Plano Marshall, não em New Deal. E, na verdade, ao contrário do que diz o texto, explicou o porquê: Plano Marshall é um país “ajudar” outro. O que evidentemente não é o caso do naufragado plano Braga Neto, embora o sinistro da Chácara tenha aproveitado para alfinetar a China (equivocadamente, aliás: o plano Marshall permitiu aos EUA se afirmarem como potência hegemônica; o cripto-comunista do Guedes estaria, por acaso, insinuando que quer que a China se torne potência hegemônica ?)

  13. REduzir essa reunião a um convescote de babaovos é ridículo. O cabedal de crimes cometidos pelos ministros do miliciano é o X da questão.

  14. Naquela horrorosa e desmoralizante reunião ainda houve puxa-saquismo? Puta quil pariu, tá na moda, Nassif, vc foi longe vendo o que ficou despercebido. Ainda teve puxa-saquismo!!!!! Que desgraça!
    Reunião à altura de botequim no fundo de um bordel horroroso (deve haver isto) e ainda teve puxa-saquismo de general.
    Este país não merecia esta podridão.
    Que desgraça!

  15. Depois de ler seu artigo resolvi ver o vídeo da reunião. A puxação de saco e o baixo nível não foram o ponto forte. Nunca vi uma reunião de 2 horas tão desorganizada e sem nenhum objetivo. Nem as reuniões de condomínio de prédio são assim, nada que preste pode sair dali.

    Guedes com seus 8 livros lidos sobre cada um dos principais planos de recuperação econômica, foi a grande estrela, se cacifou diante do chefe. Mas o presidente do banco do brasil também brilhou. Como grande acompanhador de números ele dizia que as 200 mortes que se repetiram durante a semana previa supor, ressalvando não ser especialista, que estávamos passando pelo pico da epidemia. Certamente vai achar emprego em aplicativo quando o bb for privatizado.

  16. Alguém me ilumine e esclareça: depois de ver e ler – aqui, lá e acolá – ainda não consegui ter a minima noção do pra quê e o porquê do convescote.

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