Brasil 2015: o modelo Prominp de articulação produtiva

 

Conforme tenho enfatizado nessa série, o modelo mais bem sucedido de política industrial é o que se inicia a partir de uma demanda firme do setor público. E, depois, estende-se pela malha industrial, valendo-se de todos os instrumentos de apoio para consolidar a cadeia de fornecedores.

O mais eficiente modelo de apoio até agora desenvolvido é o Prominp (Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural), montado para apoiar a cadeia produtiva do setor.

Vale a pena entendê-la e estender para outros setores.

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A governança do modelo começa pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e um comitê diretivo. Depois, um Comitê Executivo, que se reúne quatro vezes por ano. Debaixo deles, comitês setoriais trabalhando em quatro vertentes:

  1. Qualificação profissional.

  2. Regulação e financiamento.

  3. Fomento à PME (Pequena e Micro Empresas)

  4. Capacitação tecnológica.

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O programa definiu claramente seus objetivos:

1. Aumentar capacidade produtiva dos setores de alta competividade.

2. Desenvolver setores de media  competitividade.

3. Incentivar novos entrantes nacionais.

4. Incentivar associação com empresas estrangeiras

5. Incentivar a instalação de estrangeiras no Brasil

6. Incentivar a associação Universidade-indústria e o desenvolvimento da engenharia nacional.

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A partir dessa definição e do envolvimento de todos os atores, colocou em campo os programas específicos.

Na educação profissional, aliou-se ao Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) para qualificar 97 mil técnicos. Houve dificuldade com o excesso de categorias profissionais, 185. O ideal seria ter 35 categorias e profissionais e trabalhadores multifunção.

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Para acelerar a absorção de tecnologia, promoveu várias rodadas no exterior, buscando companhias estrangeiras com tecnologia e interesse em se associar a grupos nacionais.

Foram visitados doze países e selecionadas 184 empresas. 112 já começaram as negociações com governos estaduais para se estabelecer no país. 72 visitaram ao país, mantiveram contatos mas desistiram devido ao chamado “custo Brasil”.

Os pontos que assustaram os estrangeiros foram os seguintes:

  1. País muito caro, seja na compra de insumos até a logística para receber material e escoar a produção.

  2. Só um modal de transportes, o rodoviário. A ferrovia ainda não existe e o frete de avião é caríssimo.

  3. O custo do engenheiro e do técnico brasileiro, devido aos encargos da folha.

  4. A baixa integração da cadeia de suprimentos, impedindo de enxergar potenciais fornecedores estratégicos.

  5. Contrataram um escritório brasileiro de direito tributário e, mesmo assim, não conseguiram entender nada do emaranhado fiscal brasileiro.

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Segundo estudos da ABIMAQ (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas) o custo Brasil estaria por volta de 37% – comparando uma mesma indústria aqui e no país de origem (a comparação foi com os Estados Unidos e a Alemanha) – assim distribuídos:

a. Insumos: 20,5%;

b.  Juros sobre capital de giro: 6,5%;

c.  Impostos não recuperáveis: 4,7%;

d. Logística: 3,2%;

e. Encargos sociais e trabalhistas: 1%;

f. Burocracia e custos de regulação: 0,5%;

g. Custos de investimento: 0,4%;

h. Custos de energia: 0,2%.

 
Luis Nassif

12 Comentários

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  1. Industrialização X Autonomia da Política Monetária

    Brasil terá ou não terá um dinheiro que proteja o povo e a nação?

    Ser ou não ser? Eis a questão.

    O progresso e o bem estar do brasileiro dependem, mais do que tudo da autonomia da política monetária.

    O resto é resto mesmo.

  2. “País muito caro, seja na

    “País muito caro, seja na compra de insumos até a logística para receber material e escoar a produção.

    Só um modal de transportes, o rodoviário. A ferrovia ainda não existe e o frete de avião é caríssimo”:

    Opa, hora de tocar fogo na “industria” ferroviaria entao!

  3. centros tecnológicos

    A questão da demanda do setor público envolve nuances politico ideológicas e hoje, no Brasil, somente um candidato(a) é garantia da persistencia deste fluxo.

    Outro fator negligenciado é a criação de centros tecnológicos por empresas genuinamente brasileiras. Hoje somente a Petrobras tem esta politica. É um absurdo que a Vale não tenha seu centro tecnológico e em nada contribua neste setor. 

  4. Onde está o grosso do custo Brasil?

    Mesmo na visão dessas empresas, a história é muito diferente do discurso neo-liberal:

    Não está nos

    e. Encargos sociais e trabalhistas: 1%; 

    f. Burocracia e custos de regulação: 0,5%; 

    g. Custos de investimento: 0,4%; 

    h. Custos de energia: 0,2%.

    O total desse é de apenas 2,1%

    O grosso do custo está nos

    a. Insumos: 20,5%; 

    b.  Juros sobre capital de giro: 6,5%;

    c.  Impostos não recuperáveis: 4,7%; 

    d. Logística: 3,2%; 

     

    O total desses é de 35,9%

     

     

  5. Em termos de política
    Em termos de política industrial, a palavra “sociedade” poderia ser a qualidade comum a todos os projetos declarados membros do Estado. Para essa forma não deve ter qualquer entrave externo ao tornar a política apta a fundar os períodos simultâneos de uma nova sociedade da vida real.

    Há, porém, uma contradição entre os princípios do Estado, a vida real, e o mercado financeiro comandado pelo BC, através de interesses privados. 

    Se a sociedade civil se emancipa como classe que corresponde ao direito natural do dinheiro de sua igualdade produtiva, o Estado alcança o domínio de reproduzir, sem ônus financeiro, sua situação de crescimento constitucional para as transformações da realidade. 

                                                                                                                                                                                  A inteligência para o mercado financeiro, ao contrário, é que a vida real dentro dos limites temporais do Estado não possa se basear na automudança do dinheiro público com o Estado indutor do crescimento; mas, antes, na separação do Estado, limitado pelas articulações da “sociedade privada” pertencente ao mercado financeiro.                                                                                                                                                                               O futuro da sociedade civil, a esfera das relações de produção, desde então foram retiradas do Estado; e a existência de todas as coisas partem de pressupostos dos investimentos externos, juntamente com o lixo dos tempos entregue aos banqueiros.                                                                                                                                                                                A economia alienada depende de uma tentativa de resposta a essa pergunta: como o Estado pode comprar o dinheiro ( teoria da realidade) e, ao mesmo tempo, ter a vida real,  se o crescimento estará submisso ao predomínio do desenvolvimento para a moeda fictícia?  A ideia do Estado, em conflito com as relações de produção, tem as consequências diretas da sua própria falta de pressuposição no processo histórico do desenvolvimento econômico: As crises.                                                                                                                                                                                 A  representação da sociedade civil é determinada por alterações das operadoras do mercado financeiro, imitando o derrubamento da produção, e evitando o crescimento constitucional. A política industrial correspondente ao dinheiro fictício se despoja da sua capa política, e logrará se expressar com as dividas dos títulos públicos, anteriores ao modo da sociedade privada.

     

  6. Prominp e a ecologia profunda

    A vida necessita uma nova compreensão científica em todos os níveis dos sistemas vivos, organismos, sistemas sociais  e ecossistemas. Baseia-se numa nova percepção da realidade, que tem profundas implicações não apenas para ciência e a filosofia, mas também para as atividades comerciais,a economia, a política, a assistência à saúde, a educação e a vida cotidiana. Portanto, é mister enquadrar o Prominp num esboço do amplo contexto social e cultural da república e do Estado brasileiro.

    Quanto mais estudamos os principais prloblemas de nossa época, mais somos levados a perceber que eles não podem ser entendidos isoladamente. São problemas sistêmicos, o que significa que estão interligados e são interdependentes. Em última análise, esses problemas precisam ser vistos, exatamente, como diferentes facetas de uma única crise, que é, em grande medida, uma crise de percepção. Ela deriva do fato de que a maioria de nós, e em especial nossas grandes instituições sociais, concordam com os conceitos de uma visão de mundo obsoleta, uma percepção da realidade inadequada para lidarmos com nosso mundo superpovoado e globalmente interligado.

    O novo paradigma pode ser chamado de uma visão de mundo holística, que concebe o mundo como um todo integrado e não como uma coleção de partes dissociadas. Pode também ser denominado visão ecológica, se o termo “ecológica” for empregado num sentido muito mais amplo e mais profundo que  o usual. A percepção ecológica profunda reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos e o fato de que, enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos da natureza ( somos dependentes desses processos).

    Assim, a solução da articulação produtiva, no sistema comercial-industrial, dentro da visão constrangedora do Prominp, não engloba o fenômeno natural a que ele está associado, ficando a política pública inerente ao seu mister, comprometida de saída e ineficaz na sua implementação.

  7. O melhor caminho é o trilhado pela Embraer

    Acredito que o Estado deveria ser mais ativo no desenvolvimento industrial. No primeiro momento, quando a indústria é inexistente, o Estado deve criar usa própria industria, contratar e treinar novos engenheiros, instituir uma rede de fornecedores pública ou privada, de capital nacional ou não, desenvolvimento produtos próprios de forma a atender o prórprio setor público, principalmente o militar. Quando a indústria estiver autosuficiente e competitiva, seria então a hora de ser privatizada para o capital nacional. Tudo isso, seguindo passos dados pela Embraer.

    Um setor totalmente carente de capital nacional é o automotivo, o qual poderia ser desenvolvido pelo Estado seguindo esse modelo.

    Mas infelizmente o lobby das multinacionais instaladas no Brasil não deixaria isso acontecer, vamos ser realistas.

  8. ” 74% de nacionalização na Classe Celso Furtado “

      No PESO BRUTO do navio, por que o que importa é importado, com pouca ou nenhuma participação nacional.

      Onde já se viu, na história, um país lançar um grande programa de construção naval, como fizeram China e Coréia, adquirir os conjuntos propulsores de todas as classes previstas, de um mesmo fornecedor, a MAN B&W, e não ter convencido este fornecedor, a montar uma planta industrial no País – Cliente, estamos comprando motores alemães, fabricados na Coréia do Sul, e integrados aos sistemas do navio por chineses e/ou coreanos. Consultem: http://www.manturbodiesel.de ( MAN B&W Units power brazilian resurgence ) e http://www.marinelink.com/news/article/Sam-Taihang-to-equip-brazilian-tankers/331554.aspx

       

  9. Custo Brasil!!!

    Onde está o custo Brasil?

    Se o governo tivesse uma estatal de nível da Embraer e Petrobrás para cada setor industrial, o custo Brasil sumiria do mapa.

    Como não tem, temos que engolir esta baboseira dos gringos.

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