Candidato da continuidade é um só

“O que está sendo feito na educação, a ampliação das vagas, tudo isso é louvável. O que não pode ser feito na educação é o que aconteceu no passado, com a escola plural”. Esta fala foi retirada do debate realizado pela Rede TV e pela Folha de S. Paulo na noite da última sexta-feira (07/09), entre os candidatos à prefeitura de Belo Horizonte. O tom do discurso é próprio do candidato da continuidade – em Belo Horizonte, este posto é ocupado pelo postulante à reeleição, Marcio Lacerda (PSB). Mas, surpreendentemente, a frase apareceu numa das respostas do candidato Alfredo Flister (PHS). Ele insistiu bastante nas críticas, mas estas não eram direcionadas ao candidato que está na frente e que, portanto, deveria ser o alvo preferencial dos ataques adversários.

Este evento da campanha na capital mineira contou ainda com a participação de Patrus Ananias (PT), que foi o destinatário das críticas de Flister, e Maria da Consolação (PSOL). A candidata, sim, parecia saber onde está situada no processo eleitoral. Ela não abandonou as menções negativas a Patrus, que já foi prefeito da capital mineira e aparece em segundo lugar nas sondagens de intenção de voto, nem tampouco defendeu o governo atual. “[…] vocês não vão melhorar porque não fizeram e não vão fazer […]. Nós temos uma candidatura independente. Por isso, teremos coragem para enfrentar o poder econômico e garantir o uso correto do dinheiro público em nossa cidade”, disse Maria da Consolação. Ela buscou evidenciar, assim, como sua candidatura se distingue das demais e porque o voto nela seria a melhor alternativa para o eleitorado de BH. E não é este mesmo (mostrar que sua candidatura é melhor que as demais) o objetivo central de uma campanha eleitoral?

Destacar o que vê de bom no mundo atual foi a escolha de Flister para desqualificar a administração do candidato petista, mas esta não é a melhor tática de campanha, sobretudo se levarmos em conta que Lacerda é bem avaliado pelos belo horizontinos e, logo, é o favorito nas urnas, o que nos leva à óbvia conclusão de que Flister reforça o favoritismo do atual prefeito ao mencioná-lo positivamente. Junte-se a isso o fato de o prefeito estar, de modo geral, bem preparado para responder as críticas que tem recebido, e Patrus Ananias parece ter mais com que se preocupar do que apenas combater o oponente que está à sua frente.

O que torna essa “estratégia” adotada por Alfredo Flister ainda mais estranha é que dificilmente os votos retirados de Patrus em virtude de suas críticas irão para ele próprio, já que, como já esclarecemos, os ataques a Ananias são acompanhados de elogios à gestão de Lacerda. Flister costuma dizer em seu horário eleitoral que o que está bom ele vai continuar e o que for preciso, ele vai melhorar. Diante dos elogios ao concorrente mais forte na disputa, qual a vantagem de votarmos no Flister e não no Lacerda?

É por isso que o próprio candidato disse, no primeiro debate televisivo deste ano, realizado pela TV Bandeirantes no dia 02/08, que tem ouvido acusações de ser o “candidato laranja”, que teria entrado na disputa apenas para tirar força da campanha de Patrus. Na perspectiva menos otimista para Lacerda, um opositor a mais fragmentaria os votos recebidos pelos postulantes contrários a ele e, assim, reduziria o percentual obtido pelo principal representante da oposição, que é Ananias. Flister está saindo melhor que encomenda, mesmo que não seja este seu intuito. Se a lógica de campanhas eleitorais prevalecer, ele não só terá dividido votos com Patrus e os demais adversários, mas terá também atuado como “cabo eleitoral” de Marcio Lacerda.

Ainda sobre a candidatura de Flister, definida na última hora (até o PT decidir lançar candidato a prefeito, a sigla dele ia apoiar Lacerda), a adversária Maria da Consolação (PSOL) quis saber, no encontro do dia 7/9, quem financia a campanha do suposto “laranja”. Ele respondeu que é financiado pelo partido e que sua campanha é humilde, que não dispõe de recursos “nem para ir às ruas”. Acompanhando o debate em tempo real, através das redes sociais e do Observatório da Web (http://observatorio.inweb.org.br/eleicoes/destaques/), pudemos notar algumas reações irônicas à fala de Flister. Os usuários da web questionavam principalmente por que ele não tem dinheiro para a campanha, já que estaria recebendo uma “mesada” para demonstrar seu apreço por Lacerda. O que temos de concreto é que, em Belo Horizonte, quem quer continuidade já sabe em quem votar – e, definitivamente, não é no Alfredo Flister.

 

* Nayla Fernanda Andrade Lopes é graduada em Jornalismo e pós-graduada em Comunicação Empresarial pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) e especialista em Marketing Político pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente, cursa o mestrado em Ciência Política, também pela UFMG, e integra o Grupo de Pesquisa Opinião Pública, Marketing Político e Comportamento Eleitoral, com sede na UFMG.

Redação

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