Um desfile protagonizado por crianças e adolescentes aptos para adoção em um shopping de Cuiabá causou polêmica nesta semana. O evento “Adoção na passarela” foi alvo de críticas da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Defensoria Pública Estadual e repercutiu nas redes sociais e na imprensa internacional. Publicações de Alemanha, França, Reino Unido e Espanha afirmaram que o evento causou indignação e foi comparado a leilões de escravos ou gado.
A segunda edição do evento “Adoção na passarela”, organizado pela Associação Matogrossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara) em parceria com a Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT), ocorreu na terça-feira (21/05).
Dezoito adolescentes aptos para adoção, juntamente com um padrinho ou uma madrinha da Ampara, e 13 pais junto com seus filhos já adotados percorreram a passarela de uma área no Pantanal Shopping. Na plateia, candidatos a pais e o público comum observavam o evento.
O desfile havia recebido o aval de juízes das varas da Infância e Juventude de Cuiabá e Várzea Grande. A Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da OAB-MT e a Ampara divulgaram uma nota de esclarecimento afirmando que nunca foi objetivo do evento apresentar crianças e adolescentes a famílias para a concretização da adoção e que nenhuma família ou adolescente foi obrigado a participar do desfile.
“A falta de interessados na chamada ‘adoção tardia’ faz com que seja urgente a adoção de medidas como a Semana da Adoção, que tornam público esse problema social”, disse a nota.
Veja a repercussão na mídia internacional:
Der Spiegel: “Shopping exibe crianças para adoção”
No Brasil, um desfile de crianças para adoção realizado num shopping causou indignação. Os internautas compararam o evento “Adoção na passarela” com leilões de escravos ou gado.
“Estão sendo vendidos animais ou escravos?”, perguntou um usuário do Facebook. “Vergonhoso. É como uma exibição de crianças na forma de um mercado de gado”, escreveu outro. “Como escravos – já mostraram os dentes?”, indagou outro usuário da rede social.
Alguns usuários da internet também defenderam a campanha. “Esses desfiles de moda tornaram possível mudar a vida de muitos meninos e meninas”, argumentou um usuário do Facebook.
Daily Mail: “Órfãos são forçados a desfilar diante de potenciais pais adotivos num desfile de adoção comparado a um mercado de escravos”
Um “desfile de adoção”, que viu órfãos de apenas quatro anos desfilando diante de pais adotivos em potencial, foi comparado a um mercado de escravos em meio a uma efusão de fúria pública. A agência local de adoção descreveu o evento como “uma noite em que os pretendentes – pessoas que estão aptas para adotar – podem conhecer as crianças que são elegíveis para adoção”.
Mas o espetáculo de órfãos sendo forçados a posar na passarela foi alvo de críticas, com alguns até mesmo comparando o tratamento dado às crianças ao esperado para animais ou escravos.
Eduardo Mahon, advogado do Mato Grosso,escreveu: “As crianças na passarela para pretendentes ver o quão bonitas, simpáticas e desenvoltas são, parece-me uma antiga feira de escravos, onde os senhores viam os dentes e o corpo dos africanos para negociar o lance.”
El País: “Polêmica no Brasil por um desfile para a adoção de crianças”
O ato […] foi comparado com a venda de gado e escravos. […] O evento tem foi duramente criticado nas redes sociais. “No Brasil de @jairbolsonaro já se pode ir a um centro comercial e comprar sapatos, bolsas e crianças…”, disse o usuário @javisetero no Twitter.
Apesar de o desfile ter sido realizado no início da semana, ainda há muitos que o criticam nesta sexta-feira. Mas nem todos eram contra, embora a maioria o fosse. Alguns tuítes sublinharam que a iniciativa “era boa para as crianças”.
Diante de uma enxurrada de críticas, os organizadores ressaltaram no Facebook que o objetivo nunca foi de apresentar crianças e adolescentes às famílias para alcançar a adoção, embora tenham assegurado que duas das crianças que desfilaram naquele dia conseguiram ser adotadas.
A associação de advogados [OAB] também quis mostrar seu descontentamento com as comparações feitas com o tráfico de escravos: “Um período obscuro de nossa história – a escravidão foi abolida no Brasil em 1888 pela Lei Áurea – que rechaçamos”.
Le Monde: “No Brasil, polêmica sobre desfile de crianças esperando por adoção”
Era um desfile de moda organizado num centro comercial. Mas os modelos eram crianças à espera de uma família adotiva. O evento gerou uma polêmica acalorada no Brasil, onde os organizadores foram acusados de reproduzir cenas da venda de escravos ou gado.
A indignação de muitos usuários das redes sociais levou os organizadores a reagir, afirmando em particular que nenhuma criança tinha sido forçada a participar [do evento]. “Nunca tivemos o objetivo de apresentar as crianças às famílias para adoção”, escreveram na sua conta no Facebook. “Repudiamos qualquer tipo de distorção do evento associando-o a períodos sombrios de nossa história.”
Mais de 9.500 crianças e adolescentes estão esperando por uma família adotiva no Brasil.
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Sei lá. Este Eduardo Mahon fez uma comparação tão dura, mas não apresentou uma alternativa. Advogado “culturete”, me pergunto tb se a intenção dele foi por uma causa justa ou se foi só “causar” . Uma visibilidade para ele vender seus livros e sua revista.