Em defesa do uso do flúor na água

(Atualizado em 12 de janeiro, às 16h46)

Por Reynaldo L

Aqui um texto do Dr. Samuel Jorge Moisés, profissional “militante” (já que gostam de partidarizar determinadas questões) da Saúde Pública universal, gratuita e de qualidade, publicado originalmente no site da Aboprev-Associação Brasileira de Odontologia Preventiva:

Fluoretos e saúde humana: um debate científico sempre necessário

Samuel Jorge Moysés

Este texto tem por objetivo marcar uma posição em defesa do uso de flúor(etos), especialmente em sua forma de utilização coletiva por meio da água para consumo humano.

Aparentemente não há novidade em um texto desta natureza, considerando a volumosa produção na literatura mundial sobre o assunto. Para se ter uma idéia, só no repositório eletrônico da National Library of Medicine (Medline), uma busca genérica utilizando a expressão “water fluoridation” gera 6038 referências indexadas em fevereiro de 2008. Contudo, assumir a posição anunciada acima não é tarefa “risonha e franca”, como costuma acontecer com temas sobre os quais haja consenso solidamente firmado.

AsfoAs formas mundialmente conhecidas de consumo de flúor(etos) com finalidade  preventiva ou terapêutica, particularmente sua adição à água para abastecimento público (tendo em vista a prevenção da cárie dentária), seguem envolvidas em polêmica. Às vezes, a polêmica se dá no circuito acadêmico da investigação científica e se reveste de vistosos argumentos pró ou contra a fluoretação; mas, não raramente, também descamba para o âmbito político legislativo e/ou para a denúncia jornalística de duvidosa qualidade quanto ao rigor no tratamento da matéria.O acontecimento descrito a seguir ajudará a entender, em nosso contexto brasileiro, a polêmica mundial que envolve a fluoretação de águas para consumo humano.

Em novembro de 2007, embarco no avião que me levará de São Paulo a Porto Alegre. A longa espera para embarque (vôos atrasados na conjuntura atual não constituem novidade) e os tediosos procedimentos iniciais de decolagem me levam automaticamente a buscar, no bolsão do banco a minha frente, a revista de bordo da companhia aérea. Sendo leitor compulsivo, mesmo quando faço leituras “recreativas”, tenho o hábito de buscar logo a peça de informação mais interessante. Localizo, na página 84 do sumário, o título da matéria “O doutor das águas” (LEVENSTEIN FILHO, 2007). O tédio de minutos atrás se converte em viva curiosidade. Verifico na página 84 (e também na 85, já que duas páginas são ocupadas com a foto do “doutor”) a seguinte chamada: “O médico e pesquisador Dr. Arnoldo Velloso da Costa coleciona prêmios por seus trabalhos. Estudioso dos efeitos positivos do magnésio na saúde, ele é especialista no líquido mais precioso da atualidade, a água”.

Ótimo! Ainda não é o caso de me interessar no currículo Lattes do “doutor”, o que farei mais tarde no hotel. Por ora, apenas perscruto o teor da matéria. Verifico que nos idos de 1950 ele ganhou uma bolsa de pesquisa e foi para a Alemanha. Lá, conheceu Linus Pauling (ganhador do Nobel e entusiasta do uso de altas doses de vitamina C), além de trabalhar com Hans Eller, inventor do termo “stress”, e com Oscar Vogt que examinou os restos mortais de Vladimir Lênin. Em termos estritamente científicos, são referências biográficas ainda muito vagas, embora interessantes.

Então, aproximando mais a leitura do meu foco de interesse, vejo que o “doutor” atribuí ao magnésio presente na água efeitos benéficos para a saúde humana, incluindo menor incidência de doenças cardiovasculares e renais e aumento da quantidade de colágeno, “responsável pela constituição celular (…) bom para manter a pele jovem e saudável” [sic]. A partir da página 88, o tom da matéria torna-se mais animado: “Como médico posso dizer que a maioria dos profissionais da saúde não é pesquisadora. Eles não sabem de quase nada do que falo, não entendem os meus estudos. Por isso muita gente adora me difamar”.

Bem, agora estamos diante de declarações que merecem atenção. Parte da comunidade científica brasileira e mundial, na área da saúde, pode se sentir atingida com sua posição desafiadora. Seria este mais um caso de “doutores” (médicos) disputando corporativamente seu poder profissional e presumida superioridade científica diante da contraparte formada por outras tantas profissões de saúde (pejorativamente designadas por parte da medicina como profissionais de segunda classe, ou “paramédicos”)?

Sim, obviamente não há rigor científico na condução do texto, pois se trata de uma matéria jornalística em revista não indexada, mas por curiosidade vou verificar a circulação da revista. A tiragem é de 100.000 exemplares. Potencialmente, atinge um público diversificado e com relativa capacidade de consumo, capaz de constituir o que comumente chamamos de público “formador de opinião”.

O ponto nevrálgico da matéria, para mim, vem a seguir: “Entre as suas opiniões mais polêmicas está o resultado de seus estudos sobre o flúor, substância que é adicionada à água distribuída nas cidades brasileiras para combater as cáries dentárias”. O “doutor” continua: “Eu não concordo com a adição de flúor à água. Meus estudos comprovam que o flúor é uma substância nociva à saúde. Hoje em dia, menos de 3% dos países da Terra ainda fazem isso (…) Meu teste é simples: coloca o flúor no aquário e o peixe morre” [sic]. Para ele, o flúor pode estar ligado a doenças na tireóide, infertilidade masculina, problemas nos ossos e até disfunções cerebrais e aumento no risco de câncer. Poderíamos, então, acrescentar por nossa conta que o flúor também evitaria “peles jovens e saudáveis”, já que, segundo o “doutor”, atrapalha a absorção do magnésio! Além do que, faltou ao “doutor” esclarecer melhor o argumento de que “… menos de 3% dos países da Terra ainda adicionam flúor à água”. Ele deveria buscar esclarecer, antes de avançar em estatísticas ambíguas, aspectos como: a) O real acesso da população mundial à água tratada e de qualidade, especialmente os mais pobres que constituem maioria e estão expostos aos maiores riscos de doença e morte; b) Como interesses mercantis têm progressivamente avançado sobre o controle da água potável do planeta, privatizando-a e tornando seu consumo uma “commodity” lucrativa e destinada aos que podem pagar por ela; c)  Por que países avançados, que lideram a pesquisa mundial, continuam fluoretando suas águas? Por exemplo, recentemente o governo de Queensland, Austrália, decidiu introduzir fluoreto na água (AUSTRALIAN DENTAL ASSOCIATION (QUEENSLAND BRANCH), 2008); consideram que a ausência desta medida resultou em uma pior condição de saúde bucal dos moradores desta região, já que crianças de Queensland têm até o dobro de prevalência de cáries se comparadas às de regiões fluoretadas da Austrália. Outro exemplo é o recente relatório do Instituto de Saúde Pública do Quebec, Canadá, que afirma não haver razão para mudar sua posição favorável a fluoretação de águas, que deverá ser mantida para o período 2005-2012 (CANADA, INSTITUT NATIONAL DE SANTÉ PUBLIQUE DU QUÉBEC, 2007).

Fiquemos por aqui com o “doutor” (aliás, sobre o seu currículo oficial, procuro na Plataforma Lattes do CNPq e não o encontro… Provavelmente, o “doutor” integra uma geração que não precisa apresentar esta credencial de apresentação pessoal, tão usual na ciência brasileira contemporânea). De todo modo, é bom que saiba que sua opinião é só mais uma pequena peça no grande quebra-cabeças que envolve a polêmica mundial sobre flúor(etos) e saúde humana.

Minha viagem até Porto Alegre seguiu sem maiores sobressaltos, exceto, pela intensa atividade cerebral (a mente sim, em sobressalto). Fiquei pensando na recorrência persistente deste tema na mídia internacional, especialmente patrocinada pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos da América… Fiquei lembrando da campanha aguerrida que anti-fluoracionistas europeus estavam fazendo, em abril de 2004, na porta do edifício onde ocorreu o 10º Congresso Internacional de Saúde Pública, patrocinado pela Federação Mundial de Associações de Saúde Pública (WFPHA), em Brighton, Inglaterra; o panfleto que era distribuído pelos ativistas visava um público alvo de formadores de opinião no mundo inteiro…  Pensei na história legislativa recente do Brasil, pois como não lembrar do Projeto de Lei do Senado nº 297/2005, de autoria do Senador Antônio Carlos Valadares; ou do Projeto de Lei nº 510/2003, do Deputado Carlos Souza, ambos contrários à fluoretação das águas?

Sim, lembrei também do livro “The fluoride deception” (BRYSON, 2004). Bryson é um repórter investigativo formado pela importante escola de jornalismo de Columbia (EUA), e também conhecido produtor de televisão. Já no hotel, abro o notebook para recuperar a resenha do livro em meus arquivos. Além do título, já bastante provocativo por ser auto-explicativo das intenções do autor, também o número de páginas (272) sugere um alentado trabalho de pesquisa, na melhor tradição do jornalismo científico sério (e não a baixaria das denúncias sem comprovação, do sensacionalismo grosseiro). Outro motivo para ir verificar seu conteúdo: “(…) a leitura, análise e avaliação crítica de dados e informações”, constituem a base da formação científica em que fui treinado, ao contrário do que poderia supor o “doutor das águas”. Este treinamento impõe uma espécie de “ceticismo profissional” como marca de formação, ou seja, faz lidar com as coisas das ciências como produtos de seres falíveis, sujeitos a erros e distorções. Portanto, qualquer teoria científica seria, primariamente, objeto de desconfiança e não de adoração. Isto nos obriga a assumir a seguinte perspectiva: “ninguém deve avaliar mais duramente uma idéia, uma teoria, um fato científico, do que seus próprios formuladores, que têm a obrigação de conhecer do modo mais profundo possível os riscos, os benefícios, as implicações éticas, o “bastidor” da produção científica que move interesses fabulosos”. Transformando nossas convicções mais entusiasmadas em alvo de autocrítica, somos os primeiros a verificar se tais convicções resistem ao teste do tempo! Ciência sem testes continuados de teorias, sem comprovações e evidências que resistam às mais duras provas torna-se opinião, religião, doxomania.

O teor do livro não é novo – de fato, quase num tom blasé, poderíamos torcer o nariz e dizer: lá vem os anti-fluoracionistas de novo, com o velho cantochão! Mas, esta atitude é a pior possível, a mais arrogante, anticientífica (no fundo, covarde). Também não dá, simplesmente, para desqualificar o argumento alheio quando nos “desagrada”, sem buscar contrapor evidências qualificadas (vejo esta atitude com grande freqüência, infelizmente…). Toda vez que um assunto desperta debates apaixonados, ao longo de décadas, sem produzir o convencimento consensual dos lados em disputa, ele deve nos manter em atitude de desconfiança profissional e alerta científico. Para se ter uma idéia do clima atual de disputas, o parlamento inglês esteve debatendo a questão da fluoretação de águas para consumo público, ao longo de todo o primeiro semestre de 2004, fazendo o primeiro ministro afirmar que “não empurraria fluoretação goela abaixo da população”. Neste mesmo ano, em Manchester, foi realizado novo referendum e a fluoretação das águas, não só desta cidade, mas de outras quatro cidades circunvizinhas – Hooksett, Londonderry, Bedford e Goffstown – deverá continuar. Na comemoração da vitória, de 10455 votos a favor e 6010 contra, não se pode esquecer que restam 37% de participantes do plebiscito não convencidos do acerto da medida.

Neste caso, do livro de Bryson, pareceu-me que não era preocupação do autor polemizar gratuitamente ou querer “ficar em evidência”. Ele não abordou o tema na perspectiva das revisões críticas sistemáticas/metanálises, nem tampouco estava buscando fazer alarde para chamar a atenção sobre si. Mas, realmente o livro não acrescenta qualquer nova evidência científica rigorosa contra a fluoretação. Proveitoso no livro, apenas a descrição dos bastidores do tempo da II Guerra Mundial, o Manhattan Project, e a revelação de como cientistas ligados ao complexo industrial-militar e trabalhadores de saúde pública buscaram esconder os potenciais riscos da poluição por flúor(etos), utilizados por tais indústrias, inclusive com os riscos legais que poderiam levá-las aos tribunais.

Contudo, penso que o que realmente me inquietou foi a constatação de que há, ainda, muita formulação meramente opinativa em nosso meio, que não resiste a um confronto mais rigoroso de idéias, particularmente na esfera da “ciência dura” – quantitativa, positivista. Não basta contrapor argumentos ideológicos a esta ciência dura, já que o mundo em que vivemos, o mundo que nos avalia, é fascinado por esta ciência com suas estatísticas robustas e consistentes. Vejo, por exemplo, no reino da “Odontologia Baseada em Evidências”, que muitos artigos publicados são descartados (acabam não entrando na revisão sistemática), por insuficiências metodológicas várias, e não somente por não serem ensaios clínicos randomizados.

Por outro lado, fiquei lembrando da extensa obra do Jaime Cury (FOP/Unicamp) com seus colaboradores, num trabalho de fôlego, por décadas… Fiquei rememorando a beleza de livro “Flúor e saúde coletiva” (EMMERICH e FREIRE, 2003), comemorando os 50 anos de fluoretação da água no Brasil (teste de resistência no tempo)…. Fiquei relendo a recomendação da Comissão de experts convocada pela Organização Mundial da Saúde, endossando mais uma vez a medida WHO, FDI, IADR, 2006). Minha inquietação passou, por ora.

A fluoretação de águas de abastecimento no Brasil, de fato, é uma prova de resistência no tempo, tratando-se de uma medida de saúde pública. Ela teve início em 1953, no município de Baixo Guandu (ES), como iniciativa do governo brasileiro, sob influência da Fundação Serviços Especiais de Saúde Pública. Capitais como Curitiba, por exemplo, comemoram em 2008 os 50 anos de fluoretação de águas.

Em 1974 foi aprovada a Lei Federal nº 6050, regulamentada pelo Decreto nº 76872, de 22/12/75, que dispõe sobre a fluoretação de águas em todos os municípios brasileiros com estação de tratamento disponível (BUENDIA, 1996). A fluoretação das águas de abastecimento público apresenta um grande alcance populacional, promovendo uma efetiva redução na incidência de cárie em populações de diferentes níveis sócio-econômicos, atuando nos organismos dos indivíduos até mesmo quando estes desconhecem que estão sendo atingidos. A medida foi considerada uma das dez grandes conquistas da saúde pública no século XX (USA, 1999).

Estima-se que o custo per capita/ano da fluoretação no Brasil seja da ordem de R$ 1,00. Para alguns autores, é a melhor relação custo-beneficio dentre todas as atividades específicas da prática odontológica, já que manter um indivíduo beneficiado pela fluoretação da água ao longo de toda a sua vida custa o equivalente a uma única restauração dentária (FRIAS, NARVAI, ARAUJO et al., 2006). Tal estratégia preventiva poderia ser estendida a comunidades que não dispõem de fluoretação de águas como medida de promoção de saúde e prevenção da cárie dental, ou seja, aproximadamente 60% da população nacional, alcançando populações com maiores privações econômicas e altos índices de desigualdades sociais. Além do mais, a fluoretação de águas apresenta um enorme potencial de universalização, contribuindo para que as pessoas tenham outra medida correlata que é o acesso a água tratada, talvez a mais importante ação de saúde pública. Por isso, pode-se considerar socialmente injusta a situação de não realizá-la ou interrompê-la (KALAMATIANOS e NARVAI, 2006).

A eficácia da fluoretação de águas, sem que haja seu efeito tóxico colateral depende de um rigoroso heterocontrole da medida. Assim, o controle externo da fluoretação por instituições não envolvidas diretamente em sua operacionalização é condição básica para preservar a qualidade do processo, para que as informações tenham credibilidade e para que haja confiança no alcance dos objetivos de médio e longo prazos, uma vez que os resultados desse tipo de ação, pelas características do método, só podem ser avaliados após alguns anos de implementação da medida (MOYSÉS, MOYSÉS, ALLEGRETTI et al., 2002).

O Ministério da Saúde do Brasil entende que “o acesso à água tratada e fluoretada é fundamental para as condições de saúde da população” (BRASIL, COSAB, 2007). Neste sentido, as ações intersetoriais para ampliar a fluoretação das águas no Brasil constituem uma prioridade, sendo que até o mês de junho de 2005 foram implantados 121 novos sistemas de fluoretação da água de abastecimento público, abrangendo seis Estados e beneficiando cerca de 500 mil pessoas. Outros 430 projetos técnicos estão em análise, o que beneficiará cerca de 6 milhões de brasileiros. Este processo está sendo viabilizado através de ação conjunta com a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e mediante convênios com as Secretarias Estaduais de Saúde.

A posição oficial, acima, deve ser defendida e sustentada por todos que tenham compromisso com a saúde bucal da população. A rigor, como última observação, o importante é manter a perspectiva de abertura para as evidências científicas rigorosas que o futuro nos reserva.

Referências:
AUSTRALIAN DENTAL ASSOCIATION (QUEENSLAND BRANCH). Premier Bligh bites the bullet on water fluoridation. Disponível em:http://www.fluoridationqld.com/news-anna-bligh-water-fluoridation.html. Acessado em 18/2/2008.

BRASIL, COORDENAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE BUCAL. Fluoretação. Disponível em: http://dtr2004.saude.gov.br/dab/cnsb/outras_acoes.php. Acessado em 15/11/2007.

BRYSON, C. The Fluoride Deception: Seven Stories Press. 2004. 272 p.

BUENDIA, O. C. Fluoretação de águas: manual de orientação prática. São Paulo: American Med Editora Ltda, PNUD. 1996. 138 p.

CANADA, INSTITUT NATIONAL DE SANTÉ PUBLIQUE DU QUÉBEC.Fluoration de l’eau: analyse des bénéfices et des risques pour la santé. Disponível em: http://www.inspq.qc.ca/pdf/publications/638-FluorationEau.pdf. Acessado em 10/8/2007.

EMMERICH, A. e FREIRE, A. D. S., Eds. Flúor e saúde coletiva. Vitória: EDUFES. 2003. 185 p.FRIAS, A. C.NARVAI, P. C.ARAUJO, M. E. D., et al. Custo da fluoretação das águas de abastecimento público, estudo de caso  Município de São Paulo, Brasil, período de 1985-2003. Cadernos de Saúde Pública, v.22, n.6, p.1237-1246. 2006.

KALAMATIANOS, P. e NARVAI, P. Ethical aspects of the use of fluoride products in Brazil: a view of public health policy formulators. Ciência & Saúde Coletiva, v.11, p.63-69. 2006.

LEVENSTEIN FILHO, H. Doutor das águas. Gol Linhas Aéreas Inteligentes. 6884-88 p. 2007.

MOYSÉS, S. J.MOYSÉS, S. T.ALLEGRETTI, A. C. V., et al. Dental fluorosis: epidemiological fiction? Pan American Journal of Public Health, v.12, n.5, p.339-346. 2002.

USA. Ten great public health achievements–United States, 1900-1999.MMWR Morb Mortal Wkly Rep, v.48, n.12, Apr 2, p.241-3. 1999.

WORLD HEALTH ORGANIZATION; WORLD DENTAL FEDERATION,  INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR DENTAL RESEARCH. Global Consultation on Oral Health Through Fluoride – Call to action to promote dental health by using fluoride. WHO/FDI/IADR. Geneve, p.1. 2006

Fonte: http://www.aboprev.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=69&Itemid=69

Por Aracy_

Nassif, leitoras e leitores

Não sou cirurgiã dentista, mas gostaria de acrescentar algumas informações a essa discussão.

            Na avaliação de 861 crianças de quatro anos de idade matriculadas em 45 pré-escolas públicas de Recife (PE) verificou-se que 45% apresentavam cáries dentárias, sendo 8,9% portadoras de cáries em estágio severo. Dentre 101 pré-escolares com cáries severas, notou-se que 22% sofriam prejuízo da aprendizagem em consequência das más condições dos dentes, inclusive com maior número de faltas escolares em comparação com as crianças sem cáries.

            Para assegurar que a fluoretação da água servida à população seja efetuada sem oferecer risco à saúde das pessoas é preciso considerar diversas questões:

1. algumas localidades são abastecidas com a água de lençóis freáticos naturalmente ricos em flúor, dispensando a fluoretação;

2. o consumo de água varia de acordo com o clima. É previsível que seja maior nas regiões com temperaturas mais elevadas;

3. a população não apenas bebe a água, mas também a utiliza para cozinhar os alimentos, o que aumenta a exposição ao flúor;

4. muitos indivíduos – sobretudo crianças – ingerem também o flúor naturalmente presente nos alimentos ou adicionado às vitaminas e dentifrícios, elevando ainda mais a exposição.

            Saliba e cols. (2006) analisaram amostras de água em diversos pontos da rede pública de abastecimento em 40 cidades do noroeste paulista, coletadas mensalmente ao longo de um semestre. Foram consideradas aceitáveis as amostras cuja concentração de flúor variou entre 0,6 e 0,8 mg/l. A fluoretação foi classificada como adequada quando o ponto de coleta forneceu pelo menos cinco amostras aceitáveis ao longo do semestre.

            Para as 38 cidades que enviaram amostras de água regularmente durante o período de estudo foram catalogados 144 pontos de coleta, num total de 864 amostras. Constatou-se que 61,81% destas eram inaceitáveis, das quais 87% continham concentração de flúor abaixo da recomendada, e 79,17% dos locais de coleta tinham fluoretação inadequada, isto é, apresentaram menos de cinco amostras aceitáveis no semestre.

Portanto, pergunto aos odontologistas e estudiosos da Saúde Pública: 1. o risco de efeitos colaterais da fluoretação supera os benefícios dentro de um programa de saúde bucal? 2. Quem assegura a qualidade da fluoretação da água servida à nossa população?

Agradeço muito aos que responderem.

Fontes que consultei:

Feitosa S, Colares V. Prevalência de cárie dentária em pré-escolares da rede pública de Recife, Pernambuco, Brasil, aos quatro anos de idade. Cad Saúde Pública 2004; 20: 604-9.

Colares V, Feitosa S. O desempenho na pré-escola de crianças portadoras de cárie severa. Acta Sci 2003; 25: 129-34.

Freire MCM, Macedo RA, Silva WH. Conhecimentos, atitudes e práticas dos médicos pediatras em relação à saúde bucal. Pesq Odont Bras 2000; 14: 39-45.

Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo. Recomendações sobre uso de produtos fluorados no âmbito do SUS/SP em função do risco de cárie dentária, 2000. Disponível em:http://www.saude.sp.gov.br/resources/profissional/destaques/saude_bucal/recomendacoes_sobre_uso_produtos_fluorados_sus-sp/recomendacoes_uso_do_fluor.pdf [Acessado em 15/06/2009].

Saliba NA, Moimaz SAS, Tiano AVP. Fluoride level in public water supplies of cities from the Northwest region of São Paulo State, Brazil. J Appl Oral Sci 2006; 14: 346-50.

Brasil. Ministério da Saúde. Portaria N° 635/Bsb, de 26 de dezembro de 1975. Aprova as Normas e Padrões sobre a fluoretação da água dos sistemas públicos de abastecimento, destinada ao consumo humano. Disponível emhttp://dtr2004.saude.gov.br/dab/docs/legislacao/portaria635_26_12_75.pdf. [Acessado em 15/06/2009].

Brasil. Ministério da Saúde. Portaria N.º 518, de 25 de março de 2004. Estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências. Disponível em: http://dtr2004.saude.gov.br/dab/docs/legislacao/portaria518_25_03_04.pdf. [Acessado em 15/06/2009].

Brasil. Ministério da Saúde. Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal. Disponível em:http://dtr2004.saude.gov.br/dab/docs/zip/geral/diretrizes_politica_nacional_saude_bucal.zip[Acessado em 15/06/2009].

Luis Nassif

5 Comentários

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  1. agua floreteada

    Já está mais que comprovado que flúor, se ingerido, causa danos cerebrais. Especialmente em crianças. Recente estudo da Havard já comprova o malefício. Flúor para combate a cárie, deve ser aplicado ao dente, e não ingerido. 20% do que colocamos dentro do nosso corpo é utilizado para capacidade cerebral. Quem em sã consciência tomaria um copinho de flúor? O uso da Água fluoretada já foi banido em quase toda Europa. Seu artigo não apresenta nem os efeitos colaterais da ingestão da água com fluor. Acho um absurdo no Brasil não haver sequer a escolha de compra de água sem flúor, como existe nos Estados Unidos, país que resido. Estudos também já apontam que a saúde bucal independe da utilização do flúor. 

  2. Fluoretação

    Concordo com o comentário feito pela Louise Ganitis e acrescento dizendo que na realidade existe um grande lobby por trás da fluoretação e as novas gerações por falta de conhecimento acabam adotando erroneamente a fluoretação como uma necessidade. Estudos Chineses comprovam uma redução considerável no QI de crianças que ingerem quantidades mínimas de flúor, além disso existem diversos estudos que apontam o flúor como possível causa de diversas doenças crônicas existentes na população. Outras evidências apontam que a queda nos índices de cárie ocorreram da mesma forma em países que não fluoretam comparados com os que fluoretam, fora que o ácido fluossilícico, fluoreto responsável por aproximadamente 80% da fluoretação brasileira, possui contaminantes tóxicos como alguns metais pesados na sua composição por ser subproduto das industrias de fertilizantes fosfatados. Se analisada a fundo a  história de como o flúor foi inserido será verificado falhas de metodologia e falta de testes necessários seguros e detalhados antes da adição à população. Existem pesquisadores renomados e até laureado com premio nobel de que são contra o flúor como o Dr. Lair Ribeiro, Dr. Joseph Mercolla, Dra Phyllis Mullenix, o (respeitosamente sem aspas) DOUTOR Arnoldo Velloso e Dr Arvid Carlsson, este último citado foi laureado pelo Nobel de Medicina em 2000 disse “a fluoretação é contra todos os princípios modernos da farmacologia, completamente obsoleta”, anos antes dessa sua leitura, levando em conta seu cetissismo e afinidade pela ciência deveria levar em considerações tais estudos, nomes e fatos. Gostaria de finalizar enfatizando que certas colocações suas no texto demonstram total falta de imparcialidade cientifica e humildade que me levam a crer que o “doutor” aqui é você.

  3. O texto nao apresenta fatos,

    O texto nao apresenta fatos, estudos e evidencias, se preoculpa com os titolos do “dotorzinho” , fala mal de um livro extenso q nao acrescenta muito, mas faz a mesma coisa, so bla bla bla, hipocrita.

  4. O texto não cita NENHUMA

    O texto não cita NENHUMA pesquisa séria que comprove a correlação entre a fluoretação e a efetiva prevenção de cáries por esta substância. Mas o pior é que o texto não analisa as outras consequências negativas do flúor. 

  5. fluor na agua

    Porque não colocar magnésio na água ? Nossos solos são carentes neste mineral,  ( próprio de países onde existe vulcões)

    seu uso  assegura todos os benefícios conforme descrito acima. com certeza teria preferência

    pelo Mg. Outro fato importante como o fluoreto  é  um lixo da indústria de aluminio, de certo modo estamos contaminando

    o meio ambiente com este lixo , pois lavar as vasilhas na cozinha, cozinhar, fazer comida, o banho diário ( o fluoreto é absorvido pela pele ?) estamos nos intoxicando com este lixo , (mais do que os 0,8mg/l necessário) quem quiser que tenha o fluoreto em sua casa e faça uso dele a vontade, eu não me importaria, mas me importo de estar jogando este lixo pela rede de esgoto e contaminando os solos com esta porcaria . Precisei de usar magnésio no meu organismo, aliás Mg  no solo poderia enriquecer mais o pé de couve neste mineral. o fluoreto parece detonar a cognição das pessoas, com certeza náo é para evitar cáries, a classe de dentistas  precisa trabalhar , os médicos , a indústria farmacéutica precisa faturar, que venha o flúor , sejais pele e osso depois de dar dinheiro para essa indústria carnificina. Tira o flúor da água, use-o para sua inteligência científica.

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