Empresa de assessor de Temer suborna indígenas para a mineração

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Ex-deputado líder do governo FHC, Elton Rohnelt (PSDB) já foi chamado de “Homem do Revolver de Ouro” no Amazonas, é ex-dono de garimpo, assessor de Temer e tem sociedade com outro empresário na Gold Amazon
 

Comunidade no rio Içana, na Terra Indígena Alto Rio Negro (AM) – Foto: Beto Ricardo/ISA
 
Jornal GGN – Uma empresa ligada ao ex-deputado tucano e atual assessor de Michel Temer (MDB), Elton Rohnelt (PSDB), estaria tentando subornar comunidades indígenas para praticarem mineração em uma região remota do Amazonas, na fronteira do Brasil com a Colômbia.
 
O tucano, que hoje é assessor de Temer, já havia sido vice-líder de Fernando Henrique Cardoso na Câmara dos Deputados, e ainda em 1995, quando se elegeu deputado passou a ser chamado de “Homem de Revolver de Ouro” na Amazônia, por ter sido flagrado com uma arma das Forças Armadas, que foi apreendida.
 
Em maio do ano passado, Temer o nomeou como seu assessor para atuar no gabinete pessoal do mandatário, após 14 anos fora da política. De Roraima e ex-dono de garimpo, a influência do ex-deputado na região se manteve. E, agora, reportagem de Fabiano Maisonnave na Folha de S.Paulo revela que Rohnelt e seu sócio Otávio Lacombe tentam convencer indígenas a fazer a extração de minérios.
 
De acordo com o repórter, que teve acesso às informações, os dois vêm atuando há dois anos em algumas comunidades da etnia baniua para explicar as brechas na legislação que permitiriam a prática da mineração, que seria vendida à empresa do tucano, Gold Amazon, fundada nos anos 80. Hoje, 90% da mineradora pertence ao seu sócio majoritário, Lacombe, e outros 10% estão no nome da filha do político, Carolina. 
 
Ambos teriam interesse na extração da tantalita, minério raro usado na indústria eletrônica e componente de smartphones, que vem sendo alvo de contrabando no Amazonas. Com este interesse, os empresários ficaram de olho na bacia do rio Içana, na Terra Indígena Alto Rio Negro, região aonde teria o minério.
 
Para chegar lá, a Gold Amazon se aproximou da comunidade Tunuí Cachoeira, que está a 250 quilômetros por rio de São Gabriel da Cachoeira. Até agora, os empresários já teriam convencido, por meio de “favores” e “presentes”, metade da comunidade de Nazaré.
 
A reportagem informa que Lacombe já presenteou os indígenas com uma lancha, dois motores, um computador e o patrocínio para um torneio de futebol. E todos estes bens não passam sem registro. O empresário listou todas as doações em uma lousa, com o título “melhorias já feitas”. De acordo com o jornal, os bens chegam a R$ 27.250,00.
 
Outros R$ 7 mil aparecem ao lado da descrição “titânio”. Segundo Fabiano Maisonnave, o empresário teria pedido amostras do mineral, em troca do pagamento que teria sido já feito a uma liderança da comunidade, o que é proibido por lei. 
 
E as aproximações da Gold Amazon e seus sócios, entre eles o assessor de Temer, não teriam parado em uma comunidade. Outras quatro regiões indígenas do Içana também teriam sido “convencidas” a ajudar a empresa. 
 
Ao se comunicar com o repórter, Lacombe teria confirmado as informações, mas sob a justificativa de que estaria “ajudando” as comunidades que estavam “abandonadas, largadas” pela Funai (Fundação Nacional do Índio). “Índio não paga imposto, vive do Bolsa Família. Isso me comove muito. Eu sou brasileiro, eu quero ajudá-los dentro do que é possível e do que a lei vai me permitir”, afirmou, com tom de solidariedade.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Crápula de antigos carnavais

    Conheço o senhor Otávio Lacombe de outros carnavais. Ele era o proprietário da mineradora Paranapanema, que durante a ditadura se beneficiou de fraude antropológica para o esbúlho de 500 mil hectares da terra indígena dos Waimiri-Atroari, situada na fronteira entre Roraima e o Amazonas.

    Como laudos antropológicos sérios da Funai indicavam, seguidamente, que aquele território identificado porém ainda não demarcado era de ocupação tradicional do povo Waimiri-Atroari, os antropólogos reponsáveis iam sendo demitidos e afastados e novos laudos eram encomendados. Até que, finalmente, a partir de um simples sobrevoo, a ditadura conseguiu forjar o laudo fraudulento desejado, que declarava a área desimpedida para a exploração mineral.

    Lá a Paranapanema implantou, com o beneplácito e sob os auspícios da ditadura presidida pelo assassino João Figueiredo, o famigerado Projeto Pitinga, que veio a ser a maior mina de cassiterita (de onde se extrai o estanho) do mundo.

    No Projeto Pitinga a Paranapanema praticava o que os geólogos chamam de “lavra gananciosa”, uma superexploração que, além de rebaixar o preço internacional do mineral, ocasionava graves problemas ambientais.

    Incansáveis vezes, por volta do final da década de oitenta e início da de noventa, quando trabalhava com os Waimiri-Atroari, denunciei o Projeto Pitinga aos órgãos ambientais, sem que nada de efetivo fosse feito, NADA.

    Os métodos e as desculpas que então eram utilizadas pela Paranapanema para o suborno de lideranças indígenas eram os mesmos empregados agora.

    Constatei, pessolamente, que as aldeias subornadas pela Paranapanema com a doação de alimentos industrializados, quinquilharias e demais intervenções dissociativas, abandonaram a plantação de seus roçados de subsistência e, em consequência, tais comunidades passaram a dispor de piores condições gerais em termos nutricionais e de saúde. 

    Em todos os passos, TODOS, durante todos os inúmeros desmandos praticados pelos prepostos da Paranapanema, os interesses do senhor Lacombe contavam com a colaboração de funcionários corruptos do Ministério das Minas e Energia (DNPM), da Funai, do Ibama e da Receita Federal.

    Até onde me consta, o Projeto Pitinga foi vendido para o fundo de pensão do Banco do Brasil, cerca de uma década atrás. O lamentável é que essa e outras almas sebosas, verdadeiros preadores de índios que sugam as riquezas nacionais e que contam com a CUMPLICIDADE DOS MILICOS DO PROJETO CALHA NORTE ATUANTES NA REGIÃO, sigam destruindo as culturas e os povos indígenas brasileiros.

    Felizmente, os impactos causados pela Paranapanema aos Waimiris-Atroaris foram, em grande parte, mitigados, revertidos e combatidos pelo Programa Waimiri-Atroari, sob a batuta do grande e insubstituível amigo, o indigenista José Porfírio Fontenelle de Carvalho.

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador