Manifestações dos Indignados – A Lição de Eduardo Galeano

Poucos dias atrás publiquei neste espaço um texto sobre as críticas feitas pelos comentaristas dos blogs de esquerda àqueles que, no próprio blog, defendiam idéias contrárias aos pontos de vista majoritários daquele espaço. O ponto de partida foram as passeatas contra a corrupção organizadas sem a participação da esquerda e muito criticadas nas publicações escritas e on-line assumidamente de esquerda.

Tentei deixar claro que não entraria no mérito da causa das passeatas, a crítica que eu fazia era a intolerância dos comentaristas (não dos blogueiros) dos blogs ao contraditório e que  o perigo da rejeição às passeatas era não ver o combate à corrupção e de outras bandeiras atuais da direita com anseios legítimos de parcela da sociedade e deixar esta bandeira na mão da oposição, com potencial para transformar-se em um eventual diferencial eleitoral.

Este texto foi publicado na página do Luis Nassif on-line e recebeu vários comentários que posso aglutinar em:

1 – os pouquíssimos que explicitaram seu entendimento do meu posicionamento final;

2 – os que entenderam eu estar apoiando as passeatas;

3 – os que não gostaram do texto ter classificado de intolerante os comentários nos blogs de esquerda, sendo que alguns compararam com os dos blogs de direita.

E, nesse ínterim, enquanto analisava a dificuldade da esquerda em lidar estes movimentos baseados em aspirações justas mas que, é verdade, estão sendo instrumentalizadas pela mídia e direita para impedir o governo de seguir sua agenda, chega ao meu conhecimento, via rede social, um trecho de entrevista do mito da esquerda latino-americana Eduardo Galeano(http://www.ojopelao.com/para-no-olvidar/40661-jorge-gestoso-entrevista-a-eduardo-galeano.html):

“Ellos se llaman a sí mismos los indignados. Ese movimiento que ahora está cobrando dimensión universal es el movimiento de los indignados que bueno, por lo menos yo he coincidido con ellos desde mucho antes de que ellos se llamaran así, porque yo creo que es la única frontera digna de fe y de respeto en el mundo la que separa a los indignos de los indignados. Y estos son los indignados.”

Não é uma entrevista sobre as marchas brasileiras sobre a corrupção e sim sobre as marchas globais contra a crise econômica,  mas vejo o trecho acima como um possível caminho para o diálogo da esquerda com os “indignados”. Ou seja, aprecio que vocês estejam indignados, mas saibam que nossa indignação é ainda mais antiga e não vamos esquecer quem são os que, no decorrer de nossa história, roubaram e quem são os que foram roubados.

Claro que isto somente não responde a todas nossas perguntas, dúvidas e desconfianças, mas foge do discurso negativista que mistura mensagem e mensageiro e sinaliza uma atuação viável para imprimir ao combate a corrupção um caráter verdadeiramente republicano do qual hoje parece carecer.

 

Redação

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