Numa toada mineira: Eh, Minas… eh, Minas…fazendo a travessia

Minas Gerais é muito grande ! – já me ensinava meu pai

 

 

Ligo para São Paulo a cumprimentar minha amiga pelo aniversário, ouço dela desalento, desânimo, medo, síndrome do pânico por todas as suas artérias. Infelicidade contagiante, falta de perspectivas, incapacidade para ouvir qualquer brisa de afago, som de futuro, água fresca para matar a angústia. Conversamos … tento repartir com ela um pouco do que aprendi com os anos, ouço mais um pouco e descubro que minha decisão de vir embora para Minas foi o que de melhor pude fazer por mim. E, consequentemente, por muitos que me cercam e me cercavam em São Paulo.

 

 

 

As crises individuais e coletivas ocorrem conosco a todo momento. E é uma atrás da outra. As feridas ainda estão criando uma casquinha leve, e já vem outra queda, outro arranhão, outra fissura, uma fratura… o corpo físico precisa adquirir resistência para curar todos esses machucados e depois lamber sua marcas. São as marcas que fazem o que somos- as marcas bonitas e as feias também.

 

 

Assim, lembrei de minha mãe que, estando uns meses comigo em São Paulo em 1998 e vendo a minha dedicação a um projeto interdisciplinar sobre Minas Gerais (com alunos de 3 sétimas séries (8º ano), da Escola Municipal Rui Bloem, no Jardim Santo Elias- Pirituba), matutou, matutou e disse “Você sabe mais de Minas do que eu. Nossa Senhora!”.

Respondi que tinha estudado bastante o tema para trabalhá-lo com meus colegas antes, depois estruturar o projeto e por fim chegar àquilo que agora ela via ali, no chão, em um enorme painel com fotos, atividades… e em um álbum grandão, resultado (do projeto).

Minha velha ficou calada, me olhou e disse “Você sabe muito mais que eu. De tudo, Odonir”.

Sei nada, Dona Itália. Mas vivo aprendendo.

Eh, Minas… Eh, Minas…

Hoje vou lembrar você aqui, mais uma vez, Minas.

Vou cantar você Minas, que aprendi a amar bem cedo , através da defesa compungente que meus pais sempre fizeram de seu estado de origem.

E agora, mais madura e experiente, resolvi, eu, segurar o barco também – como o filho do velho barqueiro, de A Terceira margem do rio, do também mineiro Guimarães Rosa. 

 

Fazendo a TRAVESSIA

https://www.youtube.com/watch?v=V37SPuS_Ulk]

 

TRAVESSIAS

 

Quantas ainda

haveremos de fazer

por sobre águas quase lágrimas?

 

Momentos de ir

em quantos minutos,

quantos anos

quantas décadas assim …

 

Paisagens de enfeitar infortúnios

sons de céu

sons de ar

sons de atravessar

 

Margens de sempre

chegadas de nunca

travessias intermináveis

vozes longínquas.

 

Um trem que corta destinos,

o outro lado,

a entrega,

a chegada,

Travessias,quantas ainda?

 

Odonir Oliveira

1ª e 2ª fotos: Matriz Nossa Senhora da Piedade – Barbacena 

3ª foto: Igreja Nossa Senhora da Assunção (Boa Morte ) – Barbacena

 

[video:https://www.youtube.com/watch?v=qBu4-Xe6YgA

 

Essa Barbacena

 

Barba

-acena

Sobe

Desce

Venta

Queima sol

Olha as rosas

Olha a Rua Quinze

Olha a Escola de Cadetes

Olha a Cabana da Mantiqueira.

 

Olha as pedras

Tropeça

Levanta

Cai

Levanta

Olha mais

Olha isso-aquilo, olha.

 

Que Visconde de Barbacena que nada.

Que cidade de loucos que nada

Que gente boa de tudo!

 

Ah, Barbacena!

Acena

traz teus filhos todos de volta

Que a gente muda esse negócio de política

 leite com leite

Vota de novo

Muito bem

E reconstrói esse país.

Eh, Minas,

Eh, Minas!

 

Odonir Oliveira

 

 

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.  Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

 

Dona doida

Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso

com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.

Quando se pôde abrir as janelas,

as poças tremiam com os últimos pingos.

Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,

decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.

Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,

trinta anos depois.  Não encontrei minha mãe.

A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha, 

com sombrinha infantil e coxas à mostra. 

Meus filhos me repudiaram envergonhados,

meu marido ficou triste até a morte,

eu fiquei doida no encalço.

Só melhoro quando chove.

Em Poesia Reunida, Editora Siciliano – 1991, São Paulo, p. 108.

 

 

Redação

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    1. Como somos … eu uma filha da mãe

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=xDfMQK5d5mQ%5D

       

      Dona Itália era dura. Chorava pra dentro. Nas despedidas de parentes, nas emoções dos filhos machucados ou humilhados na rua. Leoa ao defender suas crias. Lavava, passava, costurava e queria ter estudado mais que o primário “que mulher independente é outra coisa; não precisa ficar controlando dinheiro do marido pra ele não gastar com bobagem”.

      Minha mãe sempre foi o feijão; e meu pai, o sonho.

      Trabalhava com meu avô, na entrega dos pães de sua padaria, pelas casas das famílias ricas, das quais as filhas poderiam estudar mais, continuar seus estudos no Colégio Imaculada. Ela fez só o Grupo, gratuito, até hoje, 2015, no mesmo lugar.

      Minha mãe tinha medo. Certa vez quase fora agarrada, de madrugada, às quatro da manhã ” por um velho tarado que queria me pegar na charrete, quando entregava os pães na Oeste”.

       

      Certa vez, quando me viu amamentando  me disse que eu estudara, estudara tanto e no fim era uma mãezona como ela, agarrando minhas crias da mesma maneira.

      Ditados de mamãe. pois que era proverbial sempre: “Quem sai aos seus não degenera”

      1. Meu irmão mais velho… “o engenheiro mecânico”

         

        [video:https://www.youtube.com/watch?v=T13xccI2l1M%5D

         

        Quando terminou o ginásio em Petrópolis, no Colégio São Vicente, meu irmão Odecio ( que minha mãe encomendou a meu pai registrá-lo Decio, mas teimoso, queria uma família com as sílabas ODA, ODE, ODI, ODO, ODU- coisa de mineiro que gosta que fllhos tenham todos os pré-nomes com as mesmas iniciais etc.) arrostado por meu pai a fazer a EPCAR, onde? Em Barbacena.

        Não passou nos exames psicotécnicos (sei lá o que era isso no final dos anos 50), assim cursou o científico em Barbacena, no “Estadual” ,morando em casa de meus avós maternos. Sempre brilhante aluno, no começo da década seguinte ganhou uma bolsa de estudos para a PUC Rio, batalhada por meu pai, em vista de sua excelente classificação no vestibular. Estudou com bolsa o curso de engenharia inteiro, portanto, que meus pais não teriam como pagá-lo. Depois casou-se lá na capela da PUC.

        Continuou brilhante em sua carreira profissional: orgulho de meu velho sempre.

        1. Ivan Ângelo, de Barbacena (a picardia mineiríssima)

          [video:https://www.youtube.com/watch?v=n2N9a-M594U%5D

           

           

           

          Meio covarde

           

          Ivan Ângelo

          Eu devia ter dezesseis, dezoito anos no máximo. Teresa era uma vizinha nova e falada. Não eram necessários muitos motivos para uma moça ficar falada naqueles anos 50, mas Teresa conseguiu reunir quase todos: decote, vestido justo, batom vermelho, sardas, tempo demais na janela, marido noturno e bissexto, muito bolero no toca-discos e, motivo dos motivos, corpo em forma de violão, como se dizia. Entre a minha casa e a dela havia um muro. Na época da antiga vizinha, velha, feia, engraçada, amiga que eu visitava sempre, costumava pular nosso muro para encurtar caminho. Ela não se importava e eu era quase uma criança. Agora, olhando disfarçadamente a nova vizinha, eu ficava pensando como seria bom pular o muro outra vez. Mas para essas coisas sou meio covarde.

          O muro ficava na área do tanque de lavar roupa. Do lado de lá, ela cantava com uma voz sensual, inquietante. Meu pai não gostava, sabe-se lá por quê. Minha mãe também não, pode-se imaginar por quê. Talvez os motivos dele e dela convergissem para o mesmo ponto, embora diferentes, ponto que era o meu motivo para gostar tanto daquele canto. A voz ficava equilibrando-se em cima do muro: “Meu bem, esse seu corpo parece, do jeito que ele me aquece, um amendoim torradinho”. Dava para ouvir minha mãe murmurar: “Sem-vergonha”. O “torradinho” era quase um gemido rouco, talvez ela cantasse de olhos fechados. De vez em quando umas calcinhas de renda eram penduradas no varal. Minha mãe não suportava aquilo. Eu tinha vontade de espiar por cima do muro para ver o que ela estava fazendo, mas para essas coisas sou meio covarde.

          Não era casada – a suspeita era geral. Mulher casada procura as vizinhas, apresenta o marido, pede uma xícara de arroz emprestado. A independência de Teresa insultava a comunidade solidária de mães, avós e filhas, sempre se socorrendo com um molhozinho de couve, uma olhadinha no bebê, um trocadinho para o ônibus. Os homens tinham pouco que fazer naquele quarteirão: meninos jogando bola na rua, adolescentes trabalhando como office-boys ou balconistas de dia e estudando à noite, maridos trabalhando de dia e relaxando à noite com uma cervejinha — todos desejando Teresa. Quando eu voltava do colégio, perto da meia-noite, via-a no alto do alpendre, esperando o marido, o amante: o homem. Eu olhava, ela fumava, eu passava, ela ficava. Com a repetição Teresa já me sorria, mas eu desconfiava do ar zombeteiro dela e nunca acreditei no sorriso. Tinha vontade de enfrentá-la e perguntar, bem atrevido: está rindo de mim ou pra mim? Em casa, na frente do espelho, ensaiava o tom, mãos na cintura. Quando vinha no bonde, de volta do colégio, planejava: hoje eu falo. Mas nunca consegui. Sou meio covarde para essas coisas.

          Uma noite ela assoviou. Usava-se naqueles anos um assovio de galanteio, de homem para mulher, um silvo curto logo emendado num mais longo, fui-fuiiiu, que podia ser traduzido em palavras, e até era às vezes, quando a pessoa queria ser mais discreta, ou quando estava contando que assoviaram para ela, e nesse caso a garota falava: fulano fez um fui-fuiu pra mim. As mulheres às vezes usavam o assovio para imitar com certa graça o jeito cafajeste dos homens, e foi o que Teresa fez naquela noite. Tomei coragem, voltei, abri o portão, subi as escadas, parei na sua frente no alpendre. Ela vestia um penhoar azul e sorria da minha ousadia. Eu pretendia parecer desafiador, seguro, dono da situação, mas o sorriso dela não indicava nada disso. Teresa disse com malícia que o marido estava para chegar, não seria bom encontrar-me ali. Concentrei-me no papel tantas vezes ensaiado, respondi que seria ótimo se ele chegasse, que assim eu poderia explicar que ela havia assoviado, que eu havia subido para tomar satisfações, que não sou palhaço… Não creio que a representação tenha sido muito boa: ela continuava sorrindo. Recostou-se na amurada, usando a luz do alpendre como uma atriz num palco, e sua voz quente convidou: “Ele não vem hoje. Quer entrar um pouco?” Deveria ter sido mais prudente e recusado, mas para essas coisas não sou covarde.

          Entrei, conversamos sobre o meu futuro e o passado dela. Vem cá ver minhas fotos, me disse, e eu a segui até um quarto pequeno onde havia uma grande cama, um guarda-roupa, uma mesinha com um abajur. Senta, ela disse. Apanhou no guarda-roupa uma caixa e mostrou-me fotografias de quando era mocinha, cartas apaixonadas de antigos namorados, retratos deles ou de outros com declarações de amor nas costas e uns versos dedicados a ela pelo namorado atual. “Ele não é meu marido, não.” Eram sonetos copiados de Camões, palavra por palavra. Amor é ferida que dói e não se sente. Busque amor, novas artes, novo engenho. Alma minha gentil que te partiste. “Eu não gosto muito dele, mas gosto que ele me ame assim. Os meus namorados sempre me amaram muito.” Tive ciúmes deles e vontade de contar a ela que os sonetos eram de Camões, mas para essas coisas sou meio covarde.

          A roupa que Teresa vestia nem sempre estava onde deveria estar. Conversar em cima de uma cama, recostar, mudar o braço de apoio, apanhar coisas para mostrar, buscar conforto são movimentos que podem impedir um penhoar azul de cumprir seu papel, mesmo que a pessoa não queira. Quando chegou a hora de falarmos de nós, disse-lhe que seus olhares e sorrisos me pareciam zombaria e me deixavam encabulado. Que tinha vontade de perguntar a ela “o quê que há?”, em tom de briga. Que tinha só dezessete (ou dezoito?) anos. Ela falou que me achava muito sério para minha idade, muito bonitinho também, que quando ouvia barulho de bonde depois das onze corna para o alpendre para me ver e que às vezes me olhava por cima do muro. Tive vontade de contar que sonhava muito com ela. Mas para essas coisas sou meio covarde.

          Quase de manhã, pulei o muro que dava para minha casa. Ela me disse que voltasse outras vezes. Era perigoso e eu deveria ter recusado. Mas para essas coisas não sou covarde.

          Ivan Ângelo nasceu em 1936 e é mineiro de Barbacena. Começou sua carreira de escritor aos 21 anos na revista de arte e cultura editada em Belo Horizonte, “Complemento”. Publicou seu primeiro livro, “Homem sofrendo no quarto”, em 1959, conquistando o prêmio “Cidade de Belo Horizonte”. Em 1961, lançou “Duas faces”, com sete dos contos premiados, alguns novos e dois do amigo Silviano Santiago. Mudou-se para São Paulo em 1965. A revolução iniciada em abril de 1964 inibe sua produção literária. Seu romance “A festa”, iniciado em 1963, só foi concluído em 1975. Publicado no anos seguinte, conquistou o prêmio Jabuti. Outros livros do autor: “A casa de vidro”, “A face horrível” (prêmio APCA-1986), “Amor?” (prêmio Jabuti – 1995), “O comprador de aventuras e outras crônicas”, “História em ão e inha”, “O ladrão de sonhos e outras histórias”, “Pode me beijar se quiser” (prêmio APCA-1999), e “O vestido luminoso da princesa”, entre outros. Mantém coluna semanal no Jornal da Tarde – São Paulo (SP). Seus livros já foram publicados na França, EUA, Alemanha e Áustria. Na área jornalística, trabalhou no Correio de Minas, Diário de Minas e O Tempo, como colunista; no Jornal da Tarde (SP) como editor, editor-executivo e secretário de redação, e colaborador das revistas Playboy e Veja.

           

          http://www.releituras.com/ivanangelo_menu.asp

           

          1. A sensualidade das Gerais, uai.

            Um pé no sagrado, outro no profano.

             

            Bar

            Ivan Ângelo

            A moça chegou com sapatinho baixo, saia curta, cabelos lisos castanhos arrumados em rabo-de-cavalo, sorriu dentes branquinhos muito pequenos, como de primeira dentição, e falou o senhor me deixa telefonar? de maneira inescapável.

            O homem da caixa registradora estava olhando o movimento do bar, tomando conta de maneira meio preguiçosa, sem fixar muito os olhos no que o rapaz do balcão já havia servido aos dois fregueses silenciosos, demorando-os mais no bêbado que balançava-se à porta do botequim ameaçando entrar e afinal parando-os no recheio da blusinha preta sem mangas que estava à sua frente, o que o fez despertar completamente com um e a senhora o que é?

            A moça constatou contrariada que havia desperdiçado a primeira carga de charme e mostrou novamente seus pequeninos dentes, agora fazendo a precisadinha urgente, dizendo eu posso telefonar? com ar de quem entrega ao outro todas as esperanças.

            O homem falou pois não e levantou a mão meio gorda do teclado da caixa registradora, abaixou-a olhando para o bêbado que subia o degrau da porta, retirou de uma prateleira debaixo da registradora um telefone preto onde ainda estava gravado no meio do disco o selo da antiga Companhia Telefônica Brasileira e empurrou-o para a moça dizendo não demore por favor que já vamos fechar.

            A moça tirou o fone do gancho e murmurou baixinho putz, sopesou ostensivamente o aparelho e disse bajuladora pesadinho hein?

            O homem sorriu atingido pela seta da lisonja dizendo éééé antigo.

            A moça levou o fone ao ouvido e discou 277281 com um dedo bem tratado de unha lilás.

            O homem da caixa tirou os olhos do dedo, pegou um lápis enganchado na orelha direita e anotou a milhar explicando é pra o bicho, não se importando se a moça ouvia ou não e devolveu o lápis à orelha enquanto olhava o bêbado que navegava agora à beira do balcão.

            A moça falou quer fazer o favor de chamar o Otacílio e ficou esperando. 

            Um homem chegou ao lado dela cheirando a cigarro, falou para o caixa me dá um miníster, olhou intensamente os olhos dela e imediatamente os seios.

            A moça enrubesceu e se tocou rápida procurando o botão aberto que nem havia e protegeu-se expirando o ar com o diafragma e avançando os ombros para disfarçar o volume do peito.

            A caixa registradora fez tlin, um carro freou rangendo pneus e uma voz forte gritou filha da puta com um u muito longo.

            O homem da caixa deu o troco ao homem que comprara cigarros e falou faz de conta que não ouviu nada menina isso aqui é assim mesmo.

            O homem que comprara cigarros afastou-se e foi ver da porta o que estava acontecendo na rua.

            A moça voltou-se simpática para o homem da caixa mas parou atenta aos sons do fone, mudou de atenta a decepcionada e falou depois de instantes diz que é a Julinha.

            O homem que comprara cigarros parou na porta, abriu o maço de cigarros e acendeu um.

            O homem da caixa falou ô José esse aí tem de pagar primeiro e o rapaz do balcão parou de servir a cachaça para o bêbado e falou qualquer coisa com ele enquanto o homem da caixa procurava explicar-se dizendo depois não paga e ainda espanta freguês.

            A moça sorriu condescendente.

            O homem fumava à porta e olhava as pernas dela.

            A moça pôs uma perna na frente da outra defendendo-se cinqüenta por cento e falou de repente alegre oi! demorou hein? E procurando um pouco de privacidade virou-se dizendo ficou com raiva de mim?

            O homem da caixa fingia-se distraído mas ouvia o que ela dizia. 

            Pensei. Não me ligou.

            O bêbado navegou contornando arrecifes e chegou ao caixa com uma nota de quinhentos na mão.

            Mas não é isso, não é nada disso.

            O homem da caixa disse pode servir José.

            Não sei… fiquei com medo, só isso.

            O bêbado começou o cruzeiro de volta.

            Não, não. Não é de você. Acho que é assim mesmo, não é?

            A caixa registradora fez tlin marcando quinhentos cruzeiros.

            Poxa, Otacílio, pensa. O tanto de coisa que vem na cabeça da gente numa hora dessas. Vocês acham tudo fácil.

            A cara do homem da caixa estava um pouco mais desperta e maliciosa. 

            Claro que é difícil. É só querer ver o lado da gente, pô.

            O rapaz do balcão tirou o mesmo copo meio servido e a mesma garrafa e completou a dose do bêbado.

            Tá legal. Eu também acho: vamos esquecer o que aconteceu ontem. Falou.

            O bêbado olhou atentamente para o copo como se meditasse mas na verdade apenas esperando o momento certo de conjugar o movimento do navio com o de levar o copo à boca e quando o conseguiu bebeu tudo de uma vez com uma careta e um arrepio.

            A moça ouviu com ar travesso o que Otacílio dizia e sorriu excitada seus dentes branquinhos.

            O homem da caixa olhou para o homem da porta e a cumplicidade masculina brotou nos olhares.

            Não, sábado não dá. Aí já passou. Ora, como. Passou do dia, Ota, não dá. Não dá pra explicar aqui. Você não entende? Tem dia que dá e tem dia que não dá, pô.

            O homem da caixa piscou para o homem que fumava na porta como quem diz você que tava certo.

            Uai, só daqui a uns quinze dias. Lógico que eu me informei.

            A moça viu o olhar do homem da porta e virou-lhe as costas.

            Hoje!? Tá louco?

            O homem que fumava ficou olhando-a por trás.

            Papai não vai deixar. Só se… Só se eu falar com a mamãe e ela falar com ele.

            Alguém chegou e falou cobra duas cervejas e me dá um drops desse aqui ó hortelã.

            Ora, que que eu vou falar. Não sei, pô. Eu dou um jeito. Pode deixar que eu me viro.

            A caixa fez tlin e o homem foi embora sem que ela o visse.

            Não, eu vou. De qualquer jeito eu vou. Agora eu que tou querendo. 

            A moça olhou para o homem da caixa e fugiu depressa daquela cara agora debochada.

            Então me espera. Eu vou aí. Chau.

            A moça desligou e ficou uns instantes com o olhar baixo tomando coragem e depois falou para o homem posso ligar só mais unzinho?

            O homem da caixa falou pode alongando o o muito liberal e olhando fixamente de cima a sugestão do decote.

            A moça procurou um ponto neutro para olhar e achou o rapaz que lavava copos atrás do balcão, enquanto esperava o sinal do telefone, depois discou 474729 e ficou olhando o ambiente.

            Uma armadilha azul fluorescente de eletrocutar moscas aguardava vítimas.

            O rapaz do balcão olhava-a furtivamente e murmurou gostosa, de dentes trincados.

            O bêbado esperava o melhor momento de descer do degrau para a rua com um pé no chão e outro no ar, como alguém inseguro que se prepara para descer de um bonde andando.

            O homem da porta juntou os cinco dedos da mão direita e levou-os à boca num beijinho transmitindo ao homem da caixa sua opinião sobre ela.

            O homem da caixa respondeu segurando a pontinha da orelha direita como quem diz é uma delícia.

            A moça murmurou será que saíram? explicando-se para ninguém.

            Os dois homens silenciosos que bebiam cerveja encostados no balcão não estavam mais lá.

            A moça ficou de lado e o homem da caixa fez um galeio para ver um pouco mais de peitinho pelo vão lateral da blusinha sem mangas.

            A moça emitiu um ah de alívio, puxou o fio até onde dava e meio abaixou-se de costas para dizer mamãe? é Júlia com uma voz abafada por braços e mãos e concentrada no que ia dizer.

            O homem da porta, o rapaz do balcão e o homem da caixa se olharam rapidamente.

            Olha, eu jantei aqui na cidade com a Marilda. Ora, mamãe, a senhora conhece a Marilda, até já dormiu aí em casa. É, é essa. Olha: agora a gente vai ao cinema, viu? Que tarde, mamãe, tem uma sessão às dez e meia. Se ficar muito tarde eu vou dormir na casa dela. É só porque é mais perto, mamãe, senão a gente ia praí. Não tem. A senhora sabe que não tem. A senhora fala com papai pra mim? Não, eu não vou falar. Tá bom. Eu ligo depois do cinema. Só pra confirmar, hein, porque o mais certo é a gente ir pra lá. Um beijo. Bota a gatinha pra dentro, viu? Chau.

            A moça ergueu-se, desligou o telefone e perguntou quanto é.

            O homem da caixa não estava mais lá e falou pra você não é nada gostosa, atrás dela.

            A moça se voltou rápida e viu que todas as portas do bar estavam fechadas.

            Os três homens, narinas dilatadas, formavam um meio círculo em torno dela.

             

             

            Catedral em Montes Claros

             

            [video:https://www.youtube.com/watch?v=VUAy4yWcK2E%5D

             

             

          2. ESTUDANDO MINAS …

            PROJETO CIDADANIA

            “ENCONTRA-ME EM VILA RICA”

            (7ªs séries/ 8ºs anos)

             

             

            HISTÓRICO:

             

               Iniciamos o trabalho nas 3ªs séries em fevereiro e retomamos, no coletivo dos professores, questões que haviam ficado pendentes no ano anterior quanto a conceitos, valores e atitudes. Ao fazermos essa retomada, elencamos com destaque o tema CIDADANIA – seria o centro de todas as nossas atividades no ano que se iniciava. Cada componente curricular foi repensado em seus processos para atingir o que estávamos buscando.

               Havia problemas intra-escolares e extra-escolares relativos à comunidade em que se inseria a maior parte de nossos alunos – agrupamento de moradias de autoconstrução nos fundos da escola, que ano a ano vinha crescendo e modificando nossa clientela – reflexo da crise social e econômica em que vivemos. Isso nos obrigou a reconhecer a necessidade de mudança de enfoque dado aos componentes curriculares e nos embrenhamos pelos temas transversais, que já eram tão urgentes e não percebíamos.

             

            JUSTIFICATIVA:

             

               Optamos pelo trabalho com projetos globais e muito tivemos que estudar e nos reunir para desenvolvê-lo. Sabíamos, então, que a concepção de globalização vinculada ao tratamento interdisciplinar tinha a intenção de promover o trabalho dos professores de diversas matérias em equipe e de levar os alunos a descobrir que os temas estão relacionados entre si – a unidade do saber. Os alunos, após terem decidido, teriam que se engajar, assumir responsabilidades e serem agentes de suas aprendizagens.

             

            OBJETIVOS:

             

            1-Conhecer o país em que nasceram e vivem os brasileiros.

            2-Tomar consciência dos problemas do Brasil.

            3-Estudar as características físicas, históricas, antropológicas e culturais desse país.

            4-Pesquisar possíveis encaminhamentos para soluções desses problemas.

            5-Comparar valores sócio-culturais do século XVIII com os do século XX.

            6-Conhecer os movimentos revolucionários acontecidos no país.

            7- Estudar as diferenças de solo, população, vegetação e os recursos naturais existentes em

            M. Gerais no século XVIII e no século XX.

            8-Pesquisar vida e obras de autores e artistas mineiros em geral.

            9-Conhecer o barroco mineiro.

            10-Reconhecer as obras de Guignard e de Aleijadinho.

            11-Leitura de versos dos poetas árcades brasileiros.

            12- Leitura da obra “Encontra-me em Vila Rica”, de Paulo Condini, Editora Santuário.

            13-Estabelecer o hábito da pesquisa como fonte de aprendizagem.

            14-Valorizar o patrimônio histórico e cultural brasileiro.

            15-Criação de identidade entre os cidadãos e o país visando ao cumprimento de deveres e à conscientização de direitos.

             

            DESENVOLVIMENTO:

            CRONOLOGIA:

             

            -fevereiro a novembro/1999

             

            PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS:

             

            Profª Odonir Araújo de Oliveira (Português)

            Profª Maria Marilene Muradi (História)

             

            ÁREAS – COMPONENTES CURRICULARES:

             

            -Português

            -História

            -Geografia

            -Inglês

            -Educação Artística

            -Ciências

             

            1-ESCOLHA DE TEMAS: (ESTÍMULOS INICIAIS)

             

            -Projeção do filme CENTRAL DO BRASIL.

            -Projeção de vídeos turísticos sobre a REGIÂO SUDESTE – Revista Caras

            -Leitura do poema CARTAS CHILENAS de Tomás Antonio Gonzaga.

             

            2-LEVANTAMENTO DE PERGUNTAS: (avaliação inicial/ponto de partida)

            -individualmente

            -reunião em índice coletivo – por classe

             

            O que queremos saber?

            Em Mariana e Ouro Preto há favelas? (Renata)Com que idade Aleijadinho fez sua primeira escultura? (Carla)Quais os doze profetas de Aleijadinho? (Bruno)Por que Vila Rica passou a se chamar Ouro Preto? (Renan/Camila)Por que Tiradentes está com barba e cabelo comprido nas fotos em que está com a corda no pescoço? (Clélio e Joseph)As pessoas tinham racismo com o Aleijadinho? (Selma)A taxa de desemprego em Minas é igual a de S. Paulo? (Bruna e Letícia)Pedra-sabão tem sabão na sua composição? (Paulo)Onde estão os restos mortais de Tiradentes? (Paulo)Como a Prefeitura deu início às visitas à mina de Mariana? (Emanuela)Existem esculturas de Aleijadinho em outros Estados? (Juliana)Por que em Ouro Preto há tantas igrejas e esculturas barrocas? (Simony)Onde ficavam os escravos que não trabalhavam nas minas? (Amanda)O que é Barroco? (Milene/Émerson)Por que tem tantas igrejas em Ouro Preto? (Bruna/Selma)Há favelas nas cidades históricas de Minas? (Bruna/ Letícia) As pessoas dessas regiões gostam de viver lá? (Bruna Gonçalves)Com quantos anos morreu Aleijadinho? (Karina/Camila)Aleijadinho vendia as suas esculturas? (Bruna/Bruno/Karina)Quantas pessoas ajudavam Aleijadinho a esculpir? (Simony)Que medidas as administrações de Minas Gerais tomam para preservar o patrimônio histórico? (Murilo)Quem descobriu o dom de Aleijadinho? (Rodrigo)Quantas igrejas Aleijadinho esculpiu? (Glauco)Existem indústrias em Ouro Preto? (Bruno/Rodrigo)Ainda existe ouro em Mariana e Ouro Preto? (Margareth)Qual a maior igreja de Ouro Preto? (Diego)Existem muitos roubos nas cidades históricas mineiras?(Camila)Há tanta poluição nessas cidades como tem aqui em S. Paulo? (Rafael)Aleijadinho só esculpia imagens religiosas? (Juliana)Que tipo de música os mineiros mais gostam? (Isabelle)As comidas mineiras são as mesmas dos paulistas? (Beatriz)Por que teve tantos Presidentes mineiros? (Estefânia)Por que querem privatizar a USIMINAS? (Roberto)Quanto tempo se leva de S. Paulo até Ouro Preto de bicicleta? (Gracilda)O que é pepita de Ouro? (Michelle)Quais as palavras típicas dos mineiros? (Leandro/Diogo)Quem participou da Inconfidência Mineira? (Itamar)

             

            3-SEPARAÇÃO DAS PERGUNTAS:

            -por campos: áreas/disciplinas/fontes de pesquisa

             

            4-INÍCIO DAS PESQUISAS:

            -em classe (individualmente/em grupo)

            -em casa

            Professores acompanham as pesquisas oferecendo material e socializando descobertas, a fim de que os alunos enriqueçam seus índices com novas indagações, ampliando seus estudos. Propõem atividades de busca para solução de questões.

             

            (continua)

          3. (continuação do “Projeto Encontra-me em Vila Rica”)

            [video:https://www.youtube.com/watch?v=Fb9jGGwRZ1A%5D

             

             

            5-ATIVIDADES:

             

            -Leitura compartilhada, e por capítulos, da obra ENCONTRA-ME EM VILA RICA.

            -Estudo do momento histórico de que fala a narrativa da obra lida.

            -Estudo do BARROCO no BRASIL e do BARROCO MINEIRO.

            -Estudo da região histórica mineira: área, vegetação, população, produção agrícola e industrial, entre outros aspectos.

            -Estudo das variantes lingüísticas (regionalismos mineiros)

            -Pesquisa da vida de autores mineiros.

            -Leitura de textos avulsos e obras completas de autores mineiros, em verso e prosa.

            -Caracterização do texto instrucional (estudo e criação de receitas/cardápios/ guias turísticos)l

            -Pesquisa e audição de músicas de grupos mineiros de música popular e erudita.

            -Estudo das obras de ALEIJADINHO.

            -Estudo e releituras de pinturas de GUIGNARD.

             

             

            RETRATO DE UMA FAMÍLIA, de Alberto Guignard, 1930

             

             

             

                    (Releituras do aluno Clélio Gonçalves de Souza das obras de Guignard)

             

            -Estudo do texto dramático -criação de  RADIONOVELAS

             

            LIBERDADE MINEIRA

            CENA III – CAPÍTULO XV

            (A cena passa-se em 1774, em Vila Rica,

             Minas Gerais, na casa de Cláudio Manuel

             da Costa. São oito da noite)

             

            Cláudio: Querida, mande as escravas aprontarem logo o jantar que nossos convidados já estão para chegar.

            Juliana: Mas quem você chamou, afinal, Cláudio?

            Cláudio: Ora, nossos grandes amigos: Marilia, Dirceu, Maria Dorotéia e Tomás Antonio Gonzaga.

            Escrava: Senhora, os convidados chegaram.   

            Cláudio: (apressado) Depressa, Juliana, vá receber os convidados e diga que estou esperando na sala de visitas.

            Juliana: (sorridente) Amigos, há quanto tempo! Boa noite, Tomás. Como é que vai? Oi, Marília. Cláudio os está esperando na sala de visitas.

            Cláudio: (contente) Amigos, como vão? Por favor, vamos jantar?

            Marilia: Eu e Juliana temos muito que conversar.

            Maria Dorotéia: É temos que colocar a conversa em dia.

            Cláudio: E como estão indo as coisas para você, Tomás?

            Tomás: Como sempre, dando duro e os portugueses roubando mais que podem.

            Maria Dorotéia: É mesmo, estão cobrando impostos demais. E altíssimos.

            Marília: Só falta eles cobrarem impostos de nossas roupas íntimas!

            Cláudio: Eu não duvido nada. Do jeito que esses portugueses são, eles seriam bem capazes disso.

            Tomás: Se algum dia alguém se rebelasse contra o Governo de Portugal, eu certamente estaria do seu lado.

             Cláudio: Eu seria capaz de arriscar a minha vida pela liberdade.

            Juliana: (irritada) Pare com isso, Cláudio, e vamos jantar em paz.

             

            Acabado o jantar…  

             

            Maria Dorotéia: O jantar estava ótimo, Juliana.

            Marília: Precisamos nos reunir mais vezes.

            Cláudio: Até mais, amigos.

            Tomás: Foi um prazer.

            Juliana: (cansada) Eles já se foram embora. Vamos dormir, Cláudio.

            Cláudio: (sério) Mas sinceramente, Juliana, daria a minha vida pela nossa liberdade.

            Juliana: (sonolenta) Vamos dormir, por favor, Cláudio.

             

             AUTOR: Antonio Bastos do Vale – 7ª C

             

             

             

            -Estudo da linguagem televisiva: criação de programas de culinária para TV – com gravações em

            VÍDEO.

             

            SISTEMA MINEIRO DE TELEVISÃO – “TREM -BÃO” – PROGRAMA DE CULINÁRIA

             

            -Leituras de capítulos de ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA, de CECÍLIA MEIRELES.

            -Apresentação de FESTIVAL DE POESIAS. (declamação de poemas e concurso com premiação dos 20 melhores: POETAS BRASILEIROS PEDEM PASSAGEM).

             

            -Criação do JORNAL DA HISTÓRIA (manchetes e notícias do passado e do presente mineiro).

            -Simulação do julgamento de TIRADENTES. (criação da argumentação oral e escrita).

            -Criação de texto publicitário bilíngüe (inglês/português) para divulgação das cidades mineiras.

            -Utilização da ENCICLOPÉDIA ELETRÔNICA ENCARTA, em inglês, nas aulas na SALA DE INFORMÁTICA, para ler e traduzir informações para o português, sobre o conteúdo pesquisado.

            -Estudo de outros MOVIMENTOS REVOLUCIONÁRIOS brasileiros e sua comparação com a CONJURAÇÃO MINEIRA.

            -Leitura de textos jornalísticos sobre a questão do HERÓI. (entre outros “As barbas de TIRADENTES”, em AS ARMADILHAS DO PODER, de GILBERTO DIMENSTEIN).

            Comparação das cidades históricas mineiras com outras cidades históricas brasileiras.

            -Recriação de capítulos do livro ENCONTRA-ME EM VILA RICA.

            -Criação de poemas ilustrados sobre MINAS GERAIS.

             

             

             

             

             

             

            -Apresentação dos trabalhos para o autor da obra, PAULO CONDINI, em visita à ESCOLA.

             

             

             

             

             

             

             

             

             

             

             

             

             

             

             

            (Escritor Paulo Condini autografa livros de alunos)

             

            -Produção de textos narrativos escritos pelos alunos ENCONTROS COM MINEIROS FAMOSOS encadernados em livro de capa dura.

             

            MEU ENCONTRO COM JOAQUIM SILVÉRIO DOS REIS

             

              Vou contar uma conversa, uma simples conversa, mas que mudou todo um movimento.

              Lá estava eu andando pela CASA DOS CONTOS, quando avistei, ao fundo de uma sala escura, um homem. Me aproximei para ver e lá estava Joaquim Silvério dos Reis, um militar de nosso movimento. Lá estava ele, cabisbaixo. N mão, um copo e na mesa uma garrafa de vinho quase vazia.

            –          Posso me sentar? – perguntei, já puxando uma cadeira.

            –          Claro!

            –          Então, Joaquim, todos já se foram e o que você está fazendo aqui?

            –          Bebendo, bebendo, para esquecer os problemas.

            –          Mas que problemas, a Conjuração vem seguindo tão bem?

            –          Ah, a Conjuração, a maldita CONJURAÇÃO. Mas quer saber, eu sou humano e como qualquer ser humano, tenho problemas! Todos vocês só se preocupam com esse movimento e se esquecem de que têm famílias e vidas para cuidar!

               Percebi que Joaquim estava tenso. Pensei que talvez a bebida o tivesse deixado tão nervoso. Alguns minutos de silêncio e resolvi tentar descobrir o que estava havendo com ele.

            –          Me desculpe, talvez tenha sido inconveniente. Vou me retirar, com licença.

            –          Não, fique. Sinto que se eu ficar sozinho, vou acabar fazendo uma besteira.

            –          Então me conte o que está acontecendo, Joaquim, só assim poderei ajudá-lo.

            –          Ninguém nesse mundo além de mim pode me ajudar.

            –          Mas, talvez, desabafar, ajude.

            –          Pois bem, afinal não tenho nada a perder. É o seguinte: eu estava em um dilema entre a lealdade e a paz definitiva.

            –          Não entendo.

            –          Bem, tudo se concretiza assim: eu estou falido, endividado na Corte e não são dívidas pequenas, mas se por acaso eu acabasse com toda essa CONJURAÇÃO, a delatando ao Visconde de Barbacena, tenho certeza de que minhas dívidas estariam completamente quitadas.

            –          Joaquim, você tem consciência do que está dizendo? Se fizer isso, além do movimento, a vida de todos nós estará acabada.

            –          E você acha que não estou pensando nisso também?!

            –          Chega, não vou ficar aqui ouvindo isso. Faça o que vier em sua cabeça e o que você achar melhor. Só que se eu tiver que lutar por meus companheiros, vou lutar, mesmo que tenha de lutar contra você.

             Depois de me retirar da sala, pensei que talvez tivesse sido rude demais com Joaquim, mas decidi deixar que o destino levasse tudo aquilo adiante. 

                

            AUTOR: Murillo Soares Barreto – 7ª A

             

             

             

            -Estudo dos MINERAIS extrativos das regiões mineiras no século XVIII e no século XX.

             

             

            6-REGISTRO DO 3º ÍNDICE:

             

            -Recapitulação do trabalho realizado:

             

            1-Índice individual

            2-Índice coletivo

            3-Sub – temas pesquisados e organizados.

             

             

            7-CONFECÇÃO DE UM DOSSIÊ DE SÍNTESE:

             

            -O aluno reúne em um DOSSIÊ de síntese todos os aspectos tratados, pesquisados e todas as suas produções durante o PROJETO.O aluno cuida da apresentação de seus trabalhos de forma artística e criativa, como um PORTFÓLIO.(que é de sua propriedade) – elemento de auto-reflexão e avaliação.

            -Relação de QUESTÕES PENDENTES, que tenham ficado sem respostas, ao final do DOSSIÊ.

             

             

                                                                        

              (Capa do dossiê da aluna Isabelle Dourado)

             

             

            8-AUTO-AVALIAÇÃO E AVALIAÇÃO:

            -AVALIAÇÃO CONTÍNUA da evolução na solução dos problemas (perguntas a que se propôs a responder)

            -AUTO-AVALIAÇÃO (escrita) – sobre o percurso desenvolvido e o produto do seu processo de pesquisa. (constando no DOSSIÊ DE SÍNTESE- “O que eu aprendi com todo esse Projeto, hem?”

             

            Auto-avaliação

             

              Fazendo esse DOSSIÊ MINEIRO, eu me dei conta que sabia de coisas que eu nem sabia que soubesse. Eu fui escrevendo, escrevendo e quando me dei conta …Já nem sei mais de tão encantada que estou.

              Eu tenho certeza de que tudo que eu aprendi ou escrevi nessa junção de conhecimentos, não foi uma “decoreba”, eu aprendi de verdade. É claro que que eu não sou um computador que armazena informações sobre Minas, mas meu conhecimento aumentou muito.

              Assim que esse trabalho começou eu era leiga no assunto, tanto quanto desconhecia a existência desses lugares, quem dirá todas as informações registradas aqui.

              Apesar de ter sido cansativo, porque é claro, eu busquei além do que eu já sabia, tive que pesquisar um pouquinho mais, embora eu já tivesse tudo, ou melhor, quase tudo esclarecido, além das horas de sono perdidas… nada foi em vão.

              Eu fico mais contente ainda, quando lembro que tudo isso é BRASIL, o meu país, onde nasci e quero viver o resto dos meus dias, afinal, é essa a intenção: conhecer o país em que moramos, que por sinal tem histórias belíssimas para contar.

              Posso falar de todo coração, são lugares como os que “conheci” agora, que me orgulham de ser brasileira. É, mas também não posso esquecer que Minas faz parte do meu conhecimento e da minha imaginação: essa é a única parte chata – quero ir a Minas Gerais!!!

              Estou me orgulhando de mim, modéstia à parte.

              Aproveito também esse espaço para deixar um abraço bem agradecido pra professora Odonir!!!  

            Valeu muito. Ela merece! Esse não é o fim do dossiê, nem do trabalho, ainda é só o começo.

             

            Isabelle Dourado – 7ª B

             

             

            -Produção de texto individual sobre tudo o que se aprendeu durante o PROJETO (CARTA a alguém onde se enunciam as aprendizagens, constando no DOSSIÊ DE SÍNTESE).

             

             

            São Paulo, 16 de novembro de 1999

             

                             Meu amigo Ricardo:

             

               Olá, tudo bem?

               Estou lhe escrevendo essa carta para lhe contar o que estudamos na E.M.E.F. RUI BLOEM  esse ano. Não vou lhe contar tudo, mas como havia me perguntado que projeto havia estudado, vou lhe contar tim, tim, por tim, tim.

               Começamos com o projeto Cidadania, assistimos a fitas de vídeo sobre uma região que lhe interessa – sudeste – destacando-se Minas Gerais. A professora Odonir nos mostrou um livro chamado “Encontra-me em Vila Rica”, todos nós compramos o livro – muito bom por sinal – nos envolvemos num trabalho mais profundo sobre Minas Gerais, estudamos tudo ou quase tudo, levantamos perguntas sobre o projeto, Aleijadinho, Tiradentes entre outros.

              Como havia lhe dito, de Minas Gerais, só conhecia Teófilo Otoni. Hoje posso lhe dizer que conheço muitas outras cidades. Não que eu as tenha visitado, mas por estudar as suas características, a história da Inconfidência, a música, os grupos mineiros, entre eles “Só pra contrariar”, a culinária, eh….trem bão…, cada prato, cada doce! Devo ter engordado uns dois quilos, só por estudar esses pratos.

               Mineiros, seus hábitos, suas artes…Uai ! se eu for lhe contar tudo vai dar umas cinco folhas !

               Como no ano passado, a professora Odonir trouxe o autor do livro que estávamos lendo – Paulo Condini . Sabe, ele ficou muito emocionado com todo esse projeto.

               No começo, quando a professora falou Minas Gerais, lembrei-me muito de você, que justamente tinha ido morar na Grande Minas Gerais!

               Bem, o projeto ainda se desenvolve até o fim desse mês.

               Ah, não posso me esquecer dos stands. É isso aí, o nosso trabalho foi exposto na DREM, MOSTRA A TUA CARA . Foi emocionante. Eu interpretei Carlos Drummond de Andrade, nosso maior poeta, como você sabe. Fiquei muito emocionada com todo o trabalho. Pra finalizar, fizemos um dossiê, onde havia tudo que estudamos.

               Aprendi que nós, como brasileiros, temos que valorizar o nosso Brasil, pois ele, sem dúvida, é o melhor país do mundo.

               Quem sabe, um dia, eu não irei a Minas Gerais e junto com você conhecerei mais sobre a arte do nosso país e degustarei as deliciosas comidas mineiras, que me dão água na boca só em pensar.

               Sem mais, mando-lhe lembranças e estou com muitas saudades.

             

                                                                     Sua amiga,

                                                                                      Bruna Cristina

            (Desculpe se me esqueci de algo, é que o trabalho é muito extenso).

             

             

             

            São Paulo, 16 de novembro de 1999

             

                                                 Bênção, vô Manuel:

             

               Lembra que eu lhe disse que eu estava fazendo um projeto sobre Minas Gerais? Pois é, eu já estou quase terminando ele, mas pode continuar mandando curiosidades sobre Minas.

               E as enciclopédias que o senhor me deu. No começo eu não lia, mas depois descobri que lá havia bastante assunto sobre Minas.

               Na parte da música, falava de Ataulfo Alves e Ari Barroso, com as músicas “Aquarela do Brasil” e “Amélia”.

               E a receita de ambrosia que o senhor tentou ensinar para minha mãe?

               E ela aprendeu, mas foi com a Jú!

               E a literatura? Tem o Ziraldo, de quem o senhor me contava a história do Maluquinho.E o Drummond? Eu adorei a poesia “José”.

               Ah, vô, bem que o senhor podia dar uma passadinha em Ouro Preto! Pena que o senhor mora aí em Montes Claros!

               Eu também aprendi a linguagem dos mineiros: “uai”, “sô”, “trem bão”…

               Mas eu nunca vi o senhor falar assim!

               Ah, eu não posso esquecer de Guignard, um pintor mineiro! Eu aprendi a fazer um quadro dele!

               Bom, vô, acho que vou terminar por aqui.

               Depois eu escrevo falando da carta para o Itamar Franco que vamos escrever!  

             

                                                  Peço a bênção de novo e um abraço do seu neto Clélio.

             

             

            9-AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES:

            -Comparação entre a avaliação e auto-avaliação.

            -Discussão e registro, em assembléia, do próprio processo vivido e em relação ao grupo (aluno-aluno/aluno-professor/professor-professor).

             

             

            UM POUCO DE CONVERSA

               Havia, em um ano que passou, alunos, em classes diferentes, todos tão diferentes e ainda assim tão parecidos.

                Havia uma professora que desejava trabalhar os conceitos da vida, os procedimentos da vida, os valores da vida.

               Havia meninos e meninas querendo conhecer cada dia mais sobre a vida.

               Encontraram-se e durante aquele ano de 1998 e fizeram tanto, mas tanto, que não se contentavam mais com pouco. Queriam cada vez mais e melhor.

                Já sabiam a música, agora queriam a letra.Já sabiam o compasso, agora queriam os acordes e o tom. Já sabiam os versos, agora queriam a prosa.   

               Já sabiam os valores, agora queriam vivê-los. Já sabiam do tempo, agora queriam o espaço. Já sabiam da massa, agora queriam o volume. Já sabiam das paisagens, agora queriam habitá-las, percorrê-las, vivê-las. Já sabiam da escrita, agora queriam escrever. Já sabiam das cores, agora queriam colorir o mundo. Já sabiam da História, agora queriam fazer a História. Já sabiam das letras, agora queriam a autoria.

               Assim, caminharam, crescendo muito.

               Em 1999, juntaram-se a eles outros professores. Estudaram, aprenderam. Fizeram com que muitos dos quereres acontecessem e, fazendo isso, fizeram Luz.

             

                Agora? Há clarões e luzes por todos os lados!

                                                                           

                                                           Professora Odonir Araújo de Oliveira

                                                                                                     

             

             

             

            -Estabelecimento de uma nova seqüência onde se tomam decisões sobre um NOVO PROJETO sobre um NOVO TEMA (SÃO PAULO)

             

            10-EXPOSIÇÃO DO MATERIAL:

             

            -Apresentação para a COMUNIDADE ESCOLAR (alunos/professores/funcionários e pais) dos PRODUTOS do trabalho.

            -Apresentação dos alunos e seus trabalhos no CONGRESSO DE EDUCAÇÃO da DELEGACIA REGIONAL DE ENSINO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO – DREM, MOSTRA A TUA CARA – nov/1999.

            – Trabalho apresentado em diversos encontros de professores de ESCOLAS PÚBLICAS e de ESCOLAS PRIVADAS em S. Paulo.

            – Trabalho publicado em REVISTA DO PROFESSOR – R.S. nº 66/2001

             

            11-MATERIAL:

             

            -livros de literatura brasileira, enciclopédias, INTERNET, jornais, vídeos, filmes, livros didáticos dos diversos componentes curriculares, pedra-sabão, ferro, aço, fotos, gravuras, guias de agências de turismo, dicionários, TV, vídeo, aparelho para CD, retro-projetor, filmadora, máquina fotográfica, fogão, geladeira.

             

            12-OBSERVAÇÕES / CONCLUSÕES:

             

             – Das QUESTÕES PENDENTES nesse PROJETO nasceram os temas para o PROJETO-2000.

             

             

            OBSERVAÇÃO:

            Os espaços em branco referem-se a imagens e fotos dos trabalhos de criação das obras de Guignard, desde estudos etc; programas de culinária que eles gravaram em pequenos vídeos e a fotos que tiramos das apresentações de declamação de versos, jovens caracterizados como poetas mineiros.

            Tenho isso em um álbum- porfólio- do trabalho.

            VIVA MINAS GERAIS, moçadinha !

             

             

             

          4. Projeto Encontra-me em Vila Rica

            Tenho uma enorme satisfação em dizer que eu fui um dos beneficiados em participar desse projeto em 1999.
            Hoje como mais um  15/10, meu pensamento voltou-se para a professora Odonir, e na esperança de ter algum notícia sua, encontrei essa página e para minha alegria e comoção, mais especificamente vi uma apresentação muito organizada do nosso projeto. Posso dizer com toda a certeza que foi uma das melhores experiências da minha vida, por isso lembro desse período com tanto carinho.
            Professora Odonir, onde quer que eu esteja sempre levarei seu nome e seu trabalho comigo, pois os três anos que tive a felicidade de ter aulas consigo, transformaram toda a minha vida. Todos os meus interesses intelectuais foram despertados através do seu trabalho, e serei grato por toda a minha vida por isso.
            Ainda esse ano, entre 8 e 10 de dezembro, estarei de regresso ao Brasil mais precisamente em Ouro Preto e Mariana, para finalmente ver com meus olhos tudo o que estudei em 1999. 
            Por algum motivo, não consegui ter acesso aos vídeos e imagens que estavam aqui na página, vi que inclusive há um registro meu de uma releitura de uma obra do Guignard, eu ficarei ainda mais feliz e tocado se conseguisse ter acesso a esses arquivos. 
            Espero ainda em algum momento poder reecontrá-la para dar um garnde abraço e o meu agradecimento pessoal!
            Um feliz dia dos professores para a senhora!

          5. Meu querido Clelio

            Lembro-me de você com toda a sua vontade de estudar, de desenhar, de ir em frente.

            Tornou-me MUITO FELIZ HOJE, tenha certeza.

            Venha sempre ao Blog do Nassif, jornalista brilhante e pai de uma ex-aluna minha também- a Mariana.

            Estou no facebook h pouco tempo. Procure-me por lá. Odonir Araujo.

            Sua sempre professora e amiga.

            Odonir

  1. Meu pai e sua história

    Sô Plácido nasceu no Alto Rio Doce, veio menino para Barbacena, filho mais velho de uma tropa de 7. Veio a pé, e por ser o maior, carregava o menor no colo e uma gaiola com um passarinho que vira nascer. Horas depois, obrigado pelo vô Juquinha teve que soltá-lo pelas Gerais. O caminho a pé ainda era longo. Nunca mais, em lugar algum, admitiu pássaros presos. “Os bichos e os homens nasceram livres.”

    Eta pai adorado !

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=9NMgbLb3l6E%5D

    Estudou por mais de 10 anos na Escola Agrícola de Barbacena. Interno, pouco via a família. Nem mulheres. Cresceu um bobão mineiro. Não sabia como conversar direito com mulheres. Já velho, no Rio, para ter papo com elas, tímido, comprava umas balinhas a quilo nas Lojas Americanas, e nos ônibus, oferecia a uma ou outra, como passaporte pra uma conversinha ou outra. Contava, ingenuamente, à minha mãe, que morria de ciúme. Ao que contrapunha “Essa véia é braba feito onça, mas nunca me deu um beijo”, partindo pra segurar sua cabeça e, quase à força arrancar-lhe um beijo. Autoritária, minha velha, se esgueirava e dizia “Eu não, tô vendo as que beijam muito por aí, todas passadas pra trás. Comigo, se quiser, vai, mas beijo meu não terá”.

    Meus velhos.

    Que saudade!

    Cenas que vêm e vão, em momentos em que se pensa em fazer travessias. 

    “Minha véia, vamu morrer na nossa terra?”

    Quando voltaram em 1987 para Barbacena, comprou um apartamento sobrado que se abria para a SUA ESCOLA AGRÍCOLA TODAS AS MANHÃS. Reviveu assim sua infância até o fim de seus dias.

  2. O que cada um carrega em si…

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=HJonnB-H0J4%5D

     

    Meu pai nasceu em 1918, estudou nos mesmos livros que Drummond. Acreditava que tudo que conseguissemos na vida devia ser através de estudos. Exigia que fôssemos bons alunos e lêssemos. Guardo um de seus livros, era como um didático da época. Só trazia textos para serem lidos. Assim eram as aulas de português. O de meu pai, aqui em minhas mãos, é  de autoria do Professor Carlos Góis, referendado por meu poeta pai nesse poema.

     

    AULA DE PORTUGUÊS

    A linguagem
    na ponta da língua,
    tão fácil de falar
    e de entender.

    A linguagem
    na superfície estrelada de letras,
    sabe lá o que ela quer dizer?

    Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
    e vai desmatando
    o amazonas de minha ignorância.
    Figuras de gramática, esquipáticas,
    atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me.

    Já esqueci a língua em que comia,
    em que pedia para ir lá fora,
    em que levava e dava pontapé,
    a língua, breve língua entrecortada
    do namoro com a prima.

    O português são dois; o outro, mistério.

    A Rua Quinze de novembro em 1910 (principal rua de Barbacena)

     

     

  3. Drummond

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=JmnuxxL8u9k%5D

     

    Ser Mineiro 

    Ser Mineiro é não dizer o que faz, nem o que vai fazer,
    é fingir que não sabe aquilo que sabe,
    é falar pouco e escutar muito,
    é passar por bobo e ser inteligente,
    é vender queijos e possuir bancos.

    Um bom Mineiro não laça boi com imbira,
    não dá rasteira no vento,
    não pisa no escuro,
    não anda no molhado,
    não estica conversa com estranho,
    só acredita na fumaça quando vê o fogo,
    só arrisca quando tem certeza,
    não troca um pássaro na mão por dois voando.

    Ser Mineiro é dizer “uai”, é ser diferente,
    é ter marca registrada,
    é ter história.
    Ser Mineiro é ter simplicidade e pureza,
    humildade e modéstia,
    coragem e bravura,
    fidalguia e elegância.

    Ser Mineiro é ver o nascer do Sol
    e o brilhar da Lua,
    é ouvir o canto dos pássaros
    e o mugir do gado,
    é sentir o despertar do tempo
    e o amanhecer da vida.

    Ser Mineiro é ser religioso e conservador,
    é cultivar as letras e artes,
    é ser poeta e literato,
    é gostar de política e amar a liberdade,
    é viver nas montanhas,
    é ter vida interior,
    é ser gente.

     

    1. O Mineirinho é assim

                         O meu linguajar é nato
                         Eu não estou falando grego
                         Eu tenho amores e amigos de fato
                         Nos lugares onde eu chego

      [video:https://youtu.be/Ny-DyGyEY_w width:500]

  4. Preocupações educacionais

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=uvx5Ea8CuQo%5D

     

    Tenho enormes preocupações com educação, e nesse momento aqui na cidade.

    Meus meninos menores de 6 anos são praticamente forçados a escrever e, algumas escolinhas vivem mandando quantidades de tarefas para casa, que os meninos não dão conta ainda, nem querem fazer. Sobra aos pais, jovens, a tarefa de resolver os problemas.

    Já os maiores tendem a detestar escola. Explico: na semana passada um professor de português “passou” para eles o filme Macunaíma, sem nenhum preparo ou desafio anterior. O rapazinho chegou aqui com um roteiro clichê para responder (com elementos que nada tinham a ver com a obra projetada, nada). Chegou falando mal do cinema brasileiro, de Macunaíma, dizendo que não tinha entendido nada etc.

    Deu trabalho falar de cultura nacional com ele. Peguei a obra de M. de Andrade, lemos trechos, o desfecho etc.

    Ao final, entendeu que cinema (novo) usa uma linguagem; literatura, outra etc. etc. falamos de lendas etc. etc.

    Matheus é garoto brilhante. Já leu Machado de Assis etc. etc. Não permitirei que matem o prazer de ler de meus meninos e os impeçam de valorizar e gostar da cultura nacional.

         

    1. TRAVESSIA

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=VFyNyZjRPiw%5D

       

      Quando resolvi aos sessenta anos abandonar tudo que tinha e era em São Paulo, sabia que era para sempre.

      Um ano de reflexões, adaptações, choros e lágimas menores com saudades dos dois filhos e de mim em São Paulo.

      Travessias que temos que enfrentar a todo instante. Travessias físicas, emocionais, profissionais.

      Há sempre que se fazer escolhas “Ou isto ou aquilo”. 

       

      TRAVESSIA

       

      Quando você foi embora fez-se noite em meu viver

      Forte eu sou, mas não tem jeito

      Hoje eu tenho que chorar

      Minha casa não é minha e nem é meu este lugar

      Estou só e não resisto, muito tenho pra falar

       

      Solto a voz nas estradas, já não quero parar

      Meu caminho é de pedra, como posso sonhar

      Sonho feito de brisa, vento vem terminar

      Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar

       

      Vou seguindo pela vida me esquecendo de você

      Eu não quero mais a morte, tenho muito o que viver

      Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer

      Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver

       

      Solto a voz nas estradas, já não quero parar

      Meu caminho é de pedra, como posso sonhar

      Sonho feito de brisa, vento vem terminar

      Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar

       

      Vou seguindo pela vida me esquecendo de você

      Eu não quero mais a morte, tenho muito o que viver

      Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer

       

      Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver

       

      Milton Nascimento

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