O Mito Pornô

 


21 de julho de 2011
The Moscow Times

É difícil ignorar quantos homens de grande visibilidade nos últimos anos (na verdade, meses) têm se comportado de maneira sexualmente autodestrutiva. Alguns homens poderosos têm sido há muito tempo sexualmente vorazes. Ao contrário de hoje, porém, eles eram muito mais discretos e geralmente utilizavam critérios melhores, a fim de cobrir seus rastros.

Certamente, o aumento da capacidade tecnológica atual para expor o comportamento privado é parte da razão para esta mudança. Mas isso é precisamente o ponto. Muitos dos homens envolvidos em escândalos sexuais nos últimos tempos se auto-expuseram – em algumas vezes literalmente – através das mensagens de texto do próprio punho, no Twitter e outras mídias indiscretas.

O que está impulsionando essa tomada de decisão estranhamente desinibida? Poderia a ampla disponibilidade e consumo da pornografia nos últimos anos estar realmente religando o cérebro masculino, afetando o julgamento dos homens sobre sexo e levando-os a ter mais dificuldade em controlar seus impulsos?

Existe um crescente grupo de evidências científicas apoiando esta idéia. Há seis anos atrás, escrevi um ensaio chamado “O Mito Pornô”, que apontava que os terapeutas e conselheiros sexuais estavam hilariamente ligando o aumento no consumo de pornografia entre homens jovens com o aumento da impotência entre a mesma população. Eles eram saudáveis ​​e não tinham nenhuma patologia orgânica ou psicológica que quebrasse a função sexual normal.

A hipótese entre os especialistas era de que a pornografia foi progressivamente insensibilizando sexualmente estes homens. De fato, a efetividade da grave pornografia em conseguir uma rápida insensibilização nos indivíduos, tornou sua presença frequente em treinamento de médicos e equipes militares para lidarem com situações muito chocantes ou sensíveis.

Sobre o efeito da insensibilização na maioria dos indivíduos do sexo masculino, os pesquisadores descobriram que eles rapidamente necessitavam níveis mais elevados de estímulos para atingirem o mesmo nível de excitação. Os especialistas que entrevistei na época estavam especulando que o uso do pornô estava insensibilizando jovens masculinos saudáveis ​​para o apelo erótico de seus próprios parceiros.

Desde então, tem-se acumulado uma grande quantidade de dados no sistema de recompensa do cérebro para explicar esta religação de forma mais concreta. Agora sabemos que a pornografia oferece recompensas para o cérebro masculino na forma de um impulso de dopamina de curta duração, que, por uma ou duas horas, eleva o humor dos homens fazendo-os, de uma maneira geral, sentir-se muito bem. O circuito neural é idêntico àqueles para outros provocadores viciosos, como jogos de azar ou a cocaína.

O potencial viciador também é idêntico: assim como jogadores e usuários de cocaína pode se tornar compulsivos, necessitando cada vez mais jogar ou “aspirar o pó” para ter o mesmo impulso da dopamina, desta mesma maneira os homens consumindo pornografia tornam-se viciados. Exatamente como esses provocadores de recompensa, depois que o estouro da dopamina se acaba, o consumidor sente uma decepção – irritação, angústia e ansiedade pela próxima reposição.

Este efeito da dopamina explica por que a pornografia tende a se tornar cada vez mais extrema ao longo do tempo. As imagens sexuais ordinárias eventualmente perdem o seu poder, levando os consumidores a necessitarem imagens que quebrem outros tabus de outras maneiras, para se sentirem bem. Além disso, alguns homens (e mulheres) possuem um “buraco de dopamina” – o sistema de recompensa de seus cérebros são menos eficientes, tornando-os mais susceptíveis a se tornarem viciados em pornografia ainda mais extrema com mais facilidade.

Como acontece com qualquer vício, é muito difícil, por razões neuroquímicas, para um viciado parar de fazer as coisas – mesmo sendo coisas muito autodestrutivas – que lhe permitem obter a próxima dose de dopamina. Poderia isto ser porque os homens que no passado conseguiam retardar seus passos que os conduziriam aos casos atrás de portas fechadas, agora não mais resistem ao impulso de enviar uma mensagem de texto auto incriminatória? Em caso afirmativo, tais homens não poderiam ser demônios ou nulidades morais, mas sim viciados que já não estão mais no controle total de si mesmo.

Isso não quer dizer que eles não tenham que ser responsáveis ​​por seu comportamento. Mas eu diria que é um tipo diferente de responsabilidade – a responsabilidade de compreender o potencial poderosamente viciador do uso da pornografia e de procurar aconselhamento e medicação, se o vício começa a afetar o cônjuge, a vida familiar, profissional ou julgamento.

Por agora, só há um modelo eficaz e detalhado para recuperar os homens pornô-viciados e restaurá-los a um estado mental mais equilibrado, diminuindo a dependência às suas compulsões: A compreensão de como a pornografia afeta o cérebro e causa estragos na virilidade masculina permitindo que as pessoas façam escolhas melhor informadas, em um mundo que se tornou mais e mais gravemente viciado.

Naomi Wolf é uma ativista política e crítica social, seu mais recente livro é “Give Me Liberty: Um Manual para os revolucionários americanos” © Project Syndicate 



 

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador