País vive impasse sobre quem pode liderar um projeto desenvolvimentista, diz pesquisador

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Debate parece interditado pelo establishment que sucumbiu à financeirização. Assista

O pesquisador e escritor Adriano Codato. Foto: Divulgação
O pesquisador e escritor Adriano Codato. Foto: Divulgação

Adriano Codato é professor e pesquisador na Universidade Federal do Paraná, e autor do livro “Ditadura Militar: Nove ensaios sobre a política brasileira, onde fala sobre a presença dos militares na política e a questão de enfraquecimento das democracias no mundo. Em entrevista ao jornalista Luis Nassif, da TVGGN, Codato analisou que o País vive um “impasse” porque as elites intelectual, civil, militar, política, burocrática e empresarial não parecem ter fôlego para ensaiar um projeto desenvolvimentista. Mais do que isso, o debate parece “interditado”, inclusive, por uma imprensa alinhada ao pensamento financista.

Codato também analisou a relação de Lula com os militares nos primeiros meses de governo, entre outros pontos que você pode conferir na íntegra da entrevista, ao final deste post.

Confira, abaixo, alguns pontos:

Luis Nassif: Como você está vendo os primeiros movimentos do governo Lula, de deixar a inteligência no controle dos militares?

Codato: Nós vivemos, desde o fim da ditadura, uma transição idealizada e comandada pelos militares. Veio uma revanche deles através do governo Bolsonaro e agora é muito difícil colocar a serpente de volta na caixa. É muito otimista imaginar que Lula vai resolver a questão militar neste curto período.

Nassif: Não vemos mais projeto de país no meio militar. O que aconteceu?

Cotado: Acho que se perdeu, por parte da elite da burocracia civil e militar, a visão de projeto de País e desenvolvimento. Houve, da parte dos militares desde a transição, um fechamento em si próprios e retroalimentação da sua cultura e privilégios. É um hipercorporativismo que os impedem de olhar o País como um todo.

Se há correntes desenvolvimentistas que pensam o país, de fato, a gente não percebe mais.

Nassif: Quem vai definir o projeto de País?

Codato: Temos um impasse. Também a universidade não tem cumprido esse papel, está muito subfinanciada. E a elite política, que poderia pensar nisso, é uma saída possível. Mas qualquer ensaio desenvolvimentista contra a financeirização sofre bombardeio imenso da imprensa, do establishment. É muito difícil falar disso publicamente. O debate está interditado e as elites intelectuais, militares, civis, políticas, burocráticas, nos últimos anos, deixaram de cumprir seu papel.

Nassif: A burocracia tem órgãos como Ipea, BNDES. Você acredita que eles podem voltar a ter protagonismo?

Codato: São grupos hiperespecializados em desenvolvimento econômico e social. Acho que é possível, mas vai depender da viabilidade política. Alguns projetos do BNDES dependem do Parlamento. Não vejo hoje uma coalização desenvolvimentista ou não financista, que seja. Mas vamos aguardar. O governo tem só 6 meses.

Nassif: Como vê a falta de lideranças n meio empresarial? A burocracia terá de criar uma nova elite empresarial?

Codato: Da parte das lideranças empresariais, houve muita politização à direita. Desde o primeiro governo Lula, houve tentativa de coalizões com empresários, mas o empresariado também se financeirizou. É preciso saber agora quem eles estão representando. Falta alguém para representar os interesses em grandes projetos.

Confira a entrevista completa abaixo:

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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