Simplício e Angeline resolveram passar o fim de semana em Belo Horizonte para assistir a um show do Clube da Esquina quando, ao descer a Rua da Bahia, encontraram no cruzamento da Afonso Pena o senador Aécio Neves. “Vamos conversar?”, disse-lhes o candidato tucano à Presidência. “Claro que vamos”, retrucou Angeline.
Os dois estavam entusiasmados com o fato de que, pela primeira vez depois que Simplício iniciou sua pesquisa para saber em quem votar para presidente, um candidato de carne e osso se dispôs a uma conversa franca e esclarecedora com eles. “Vamos explorar a fundo essa oportunidade”, disse Simplício baixinho para Angeline. E atacou:
— Que proposta o senhor tem para a saúde?
— Vamos conversar.
— E para a educação?
— Vamos conversar.
— E para a economia?
— Vamos conversar.
— E para o pré-sal?
— Vamos conversar.
— O senhor acha então que só conversa resolve os problemas brasileiros?
— Democracia é um regime de muita conversa, meus amigos. Temos que conversar. Conversando com o povo resolvemos todos os problemas.
— Mas eu soube, argumentou Angeline, que, no Governo de Minas, o senhor não conversou muito. Preferiu comprar a imprensa inteira, sem deixar um único jornal, rádio ou televisão de fora, o que explicaria seus altos índices de popularidade no Estado porque não tinha nem tem ainda hoje oposição na mídia.
— Isso é intriga da oposição.
— No seu caso, observou Simplício sem perder a chance de um trocadilho, parece intriga de falta de oposição.
— Isso não quer dizer nada: temos que ter gestão. Este é o segredo do bom governo.
— Tudo bem, provocou Angeline, já tomando certa intimidade, você fala em gestão, mas gestão para quê? Em geral quando se fala nisso é para cortar salário, emprego e benefícios para os trabalhadores.
— De jeito nenhum, insistiu Aécio. Temos que esquecer o passado e olhar o futuro. Com isso mudamos, ou melhor, vocês, com seu trabalho, mudarão o Brasil.
— Será que o senhor quer esquecer o passado para não ser confundido com o governo neoliberal de FHC, grão cacique de seu partido?, cutucou Angeline. Como o senhor garante, com esse prontuário do partido, que não vai privatizar o que resta de empresas estatais, sobretudo os bancos, para prestar vassalagem à comunidade financeira mundial?
— Vamos conversar, disse o tucano encerrando o papo.
Simplício escreveu na agenda vermelha: “Confúcio disse: quem esconde seus verdadeiros objetivos adora conversar.”
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