Smart grid mudará dinâmica do setor elétrico

Matéria atualizada às 18h22

Convidados do programa Brasilianas.org discutiram perspectivas das redes inteligentes

O smart grid, ou redes inteligentes, nome dado ao processo que aplica a tecnologia da informação no sistema elétrico para potencializar os serviços, integrar sistemas de comunicação e infraestrutura de modo automatizado, foi um dos temas abordados no programa Brasilianas.org, veiculado na TV Brasil, nessa segunda-feira (05), no canal da TV Brasil.

As redes inteligentes já são uma realidade para os sistemas de alta e média tensão no país (formada pelos cabos de distribuição, postes de luz e torres que levam a energia do local de onde é produzida até as cidades). Segundo a Associação Brasileira de Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee), nos próximos 15 anos, o setor irá receber investimentos da ordem de 45 a 90 bilhões de reais para ampliar smart grid nos sistemas de baixa tensão. O alto custo é explicado pela alta capilaridade, volume e potencialidades que variam até a casa do consumidor final.

Nelson Fonseca Leite, presidente da Abradee, explicou durante o programa Brasilianas.org que o principal motivador para a ampliação dos sistemas inteligentes no Brasil é a redução de perdas.

“Hoje, por exemplo, estamos com baixo nível nos reservatórios de água das hidrelétricas. A compensação está sendo feita com a queima de combustíveis fósseis nas termelétricas que, além de mais poluentes, custam muito mais caro, chegando a 425 reais a hora”.

Já para o professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (GESEL/UFRJ), as redes irão mudar a relação entre o consumidor e a distribuidora de energia.

“Cada casa terá uma célula de energia instalada e poderá vender o excedente para o sistema de elétrico”. Entretanto, ressaltou que a geração de energia descentralizada é um fator muito mais importante para os países desenvolvidos, que não possuem independência energética como o Brasil, rico em recursos naturais.

Na Alemanha, por exemplo, onde qualquer ganho de eficiência significa importar menos energia de outros países, é cada vez mais comum a instalação de células fotovoltaicas no telhado das casas, “eles vendem a energia a 300 euros o MW, ou seja, por mais de 800 reais, valor caríssimo”.

Ainda assim, para acompanhar a demanda de crescimento de energia prevista para as próximas décadas, o Brasil necessitará, no mínimo, aumentar em 6 mil MW sua capacidade instalada ao ano, com isso terá que construir milhares de quilômetros de linhas de transmissão.

“No Brasil o smart grid vai mudar a dinâmica do setor elétrico no sentido de introduzir inovações na distribuição, reduzindo perdas. Desse modo, possivelmente, vamos vencer a guerra do equilíbrio dinâmico oferta e consumo, aproveitando o potencial notadamente hidrológico e eólico do país”. Nesse sentido, Nivalde pontuou que o sistema de leilões promovido no país tem feito o custo marginal da energia decrescer estimulando a competição.

Leite declarou que ainda não está certo como as distribuidoras de energia irão agregar valor com a implantação do smart grid. “Cada uma terá que preparar seu plano de negócios. Provavelmente aquelas com níveis de perdas mais elevados irão agregar maior valor com a redução de perdas”.

Segurança energética

O professor Nivalde apontou que o país possui atualmente um dos sistemas energéticos mais eficientes do mundo, em termos de demanda, pois 90% da sua capacidade instalada vem de hidrelétricas, fonte limpa e barata. “O risco hidrológico é compensado com as usinas térmicas”.

O Brasil conta com cerca de mil hidrelétricas e, com o aumento de usinas eólicas, terá mais condições de manter a segurança energética. Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), destacou que, apesar da ampliação das usinas eólicas no país, ainda será necessário manter as usinas térmicas como backup, pois não é possível reservar os ventos em caso de intemperismos climáticos.

Ele lembrou também que mais de 400 grupos participaram dos últimos leilões de energia eólica e que oito empresas que produzem equipamentos para o setor já estão instaladas no país, barateando o custo de produção dessa matriz.

O porta-voz da Abradee, Nelson Fonseca Leite, ressaltou que não existe no mundo nenhum sistema elétrico imune a eventuais apagões e lembrou que nos últimos cinco anos milhares de quilômetros foram somados as redes de distribuição.

Para o presidente da EPE o apagão que atingiu todos os estados do Nordeste e 77% do Pará, Tocantins e Maranhão, há duas semanas, em decorrência de um problema operacional na Transmissora Aliança de Energia Elétrica (Taesa), dificilmente se repetirá. Isso porque a tecnologia smart grid prevê não apenas a localização mais rápida de trechos ou equipamentos defeituosos, mas também facilidades no isolamento de um ponto para resolução de problemas, sem necessariamente haver o desligamento de toda uma região.

Interligação energética Brasil-América Latina

O telespectador, Antônio Augusto Costa Carvalho, de Cravinhos, interior de São Paulo, mandou uma pergunta a respeito da interligação energética do Brasil com os países vizinhos. Tolmasquim explicou que a integração é positiva no sentido de estimular parcerias de ganha-ganha entre o Brasil e demais nações.

O mais antigo e famoso acordo nesse sentido é entre o Paraguai, para a construção e comercialização de energia de Itaipu. O Brasil também tem projetos em andamento de linhas de transmissão com a Argentina, além disso, mantém o projeto de construção de gasoduto com a Bolívia, além de outras propostas energéticas com a Venezuela e Peru.

Para acessar os assuntos que foram discutidos no primeiro bloco do programa Brasilianas de 5 de novembro, clique aqui.

O Brasilianas.org da próxima segunda-feira (12) irá abordar a Banda Larga no Brasil. Acompanhe o debate que será mediado pelo apresentador Luis Nassif, às 20h, no canal da TV Brasil

Redação

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