SP: plano propõe reestruturar cidade em 30 anos

Por Lilian Milena

A proposta, nomeada de SP 2040, foi apresentada na última sexta-feira (29) pela prefeitura da capital paulista, no Instituto de Engenharia da USP, e promete ser diferente de quaisquer promessas políticas e eleitoreiras já feitas na história da cidade. A premissa é de que, por ser um plano de longo prazo, não poderá ser ligado a partidos políticos, mas sim às instituições representantes da sociedade civil que estejam dispostas a levar o planejamento à frente.

Segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Miguel Luiz Bucalem, o trabalho teria sido desenvolvido com a ajuda de 300 especialistas e foi fundamentado nos seguintes eixos:

1 – Mobilidade (revisão dos meios de transporte);
2 – Coesão social (redução das desigualdades de redá e de acesso aos serviços públicos);
3 – Desenvolvimento urbano (equilíbrio econômico e social do espaço);
4 – Oportunidade de negócios; e
5 – Melhoria ambiental.

O prefeito Gilberto Kassab declarou que, de todos os eixos, o principal desafio está “no campo da mobilidade, em especial de transportes públicos, que é muito ausente na cidade de São Paulo, por incrível que pareça”. Além dessa novidade, considerou como segundo maior desafio as questões do “campo social”, sobretudo a oferta dos serviços públicos de educação e saúde, com qualidade.

Em relação às enchentes, Kassab afirmou que “quando há investimentos adequados, compatível com a necessidade de criar áreas que possam drenar a água que fica acumulada o problema está solucionado”. A dúvida que ficou é se “os investimentos adequados” demorarão as três décadas projetadas no SP 2040.

Parques a 15 minutos

Dentre as propostas verdes contidas no plano está a consolidação de parques por toda a cidade, o suficiente para que qualquer morador esteja próximo de um local desses numa distância de 15 minutos de caminhada.

Uma ideia apresentada pelo secretário, bastante ousada, foi o Megaparque do Sul, na região abaixo do Rodoanel, trecho sul.

“Na cidade toda temos 1 mil km² de área urbanizada. Mas também temos 400 km² que ficam [após] o trecho sul do Rodoanel e que estão praticamente preservados”, destacou. Em toda a região moram cerca de 71 mil pessoas.  O secretário entende que é possível mantê-las, pensar em modos de desenvolvimento compatíveis com o meio ambiente e restringir novas ocupações.

Comunidades e Cidade em 30 minutos

O Projeto Comunidades pretende fazer o que sempre se desejou na cidade: transformar locais precários em comunidades com infraestrutura adequada de asfalto, saneamento e eliminação de áreas de risco. Como exemplo, Bucalem mostrou imagens do bairro Cantinho do Céu, que sofreu mudanças interessantes no âmbito do Projeto Mananciais, implementado pela secretaria municipal de Habitação.

O Projeto Cidade em 30 minutos chama muita atenção, em especial de quem mora nas regiões afastadas do centro e nas cidades que compõe a Região Metropolitana de São Paulo. O objetivo é aumentar e melhorar a capacidade da rede de transportes e aproximar de 30 minutos o tempo médio que as pessoas gastam todos os dias para irem e voltarem do trabalho.

Uma pesquisa encomenda pela prefeitura em 2007 apontou que uma pessoa que tem como principal meio de transporte o trem todos os dias, leva em média 1h30 para ir ao trabalho, assim como para voltar. Pessoas que dependem mais do metrô, levam cerca de 1h27 no percurso. E aqueles que utilizam, sobretudo, o ônibus como meio de transporte, 1h08.

O atual plano de expansão do metrô promete elevar para 100 km a rede até 2014. Agora, “a ideia de rede que está sendo discutida na secretaria de Transportes Metropolitanos, no horizonte de 25 a 30 anos é uma rede de 280 km de metrô”. Isso significa aumentar a linha em 10 km ao ano, sendo que historicamente a expansão foi de 2km/ano.

“Isso não é tão agressivo se olharmos o que tem sido feito nos últimos dez anos em cidades asiáticas como Pequim, com expansão das linhas de metrô de 28 km por ano, ou Xangai, com 34 km/ano e Seul, 10 km/ano”, acalmou o secretário.

Pólos de Oportunidade

Esse projeto propõe aumentar o número de pólos de desenvolvimento econômico. Segundo Bucalem atualmente são três as regiões de maior intensidade: central, Av. paulista e distrito que engloba as avenidas Faria Lima, Berrini e Chucri Zaidan. Já as regiões identificadas para receber novos investimentos e se tornarem novos pólos são:

– Itaquera, zona leste, a partir da construção da FATEC que integrará o Pólo Cultural de Itaquera;
– Pirituba, com a construção da Expo SP, visando futuro de feiras e eventos;
– Parque tecnológico do Jaguaré, com possibilidades do desenvolvimento da indústria de alta tecnologia.

Engajamento de setores organizados

Na abertura do evento participaram entidades organizadas como Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (Asbea), Sindicato da Arquitetura e Engenharia (Sinaenco), e Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (APEOP).

O presidente da Sinaenco-SP, José Roberto Viasconi, sugeriu a criação de um conselho formado por representantes da sociedade civil organizada “para dar suporte e, de alguma forma, acompanhar para que as administrações [públicas] futuras dêem continuidade no plano”.

Para o presidente do Instituto de Engenharia da USP, Aluízio Barros Fagundes, o que garantirá a participação da sociedade nas discussões do SP 2040 “será a ousadia da sociedade civil organizada em exigir o seu espaço para discutir o tema”. Ele também destacou que não foi por acaso que o IE convidou a prefeitura para apresentar a proposta à sociedade. “A divulgação do que a prefeitura tem feito é muito mais para marcar a nossa presença como coadjuvante nesse trabalho, opinando e fazendo com que o plano dê certo”.

Gilberto Kassab se mostrou otimista quanto ao futuro do projeto, justificando que os estudos para sua concepção foram feitos com a ajuda de consultores de entidades “experientes(…). E, portanto, tenho certeza absoluta que qualquer que seja o prefeito, ao longo dos próximos vinte ou trinta anos, terá o maior interesse de usar essa ferramenta de trabalho”.

A secretaria disponibiliza um questionário composto de dez perguntas que podem ser respondidas via internet (sp2040.net.br), e através de postos que serão espalhados nas estações de metrô, de 5 a 30 de novembro. A página também mantém um fórum de debates sobre o tema.

Redação

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