Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
[email protected]

A bestialização do povo brasileiro, por Aldo Fornazieri

A bestialização do povo brasileiro

por Aldo Fornazieri

Diante do fracasso histórico dos setores progressistas e de esquerda é forçoso reconhecer que eles mesmos foram co-artífices desse fracasso e que contribuíram significativamente para com a manutenção das subalternidade das classes populares à hegemonia das elites econômicas e políticas do país. Em outras palavras: contribuíram para com a manutenção do povo brasileiro na condição de bestializado.

Como se sabe, a ideia de um povo bestializado foi criada pelo jornalista, jurista e político Aristides Lobo no contexto da passeata militar que proclamou a República. Ao testemunhar aquela passeata, comandada por um marechal monarquista, Lobo escreveu: “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem saber o que significava”. A coisa do povo – a res publica – nascia, desta forma, sem povo. Pior ainda, nascia sem povo, sem armas e sem terras, logo após a Abolição, levada a efeito por uma princesa que era mais uma carola de sacristia do que propriamente uma estadista.  

Assim nascera também a Independência, emergida de um grito abestalhado do filho do monarca metropolitano . O novo país que nascia não era soberano, mas uma extensão da Coroa portuguesa. Note-se ainda que todas as revoltas pré-independência se definiram por duas características: ou eram conspirações de pequenos grupos ou tinham uma dimensão popular, mas localizada e isolada em determinadas províncias. Nunca houve um movimento nacional-popular que construísse um sentido de unidade de um povo. O único movimento que conseguiu imprimir uma dimensão nacional-popular, mesmo que parcial, foi a Revolução de 1930 e varguismo.

Mas o varguismo foi também uma via estatal de modernização, assim como foi a redemocratização de 1945, o golpe militar de 1964, a campanha das diretas com seu desfecho no Colégio Eleitoral, a Constituinte e, finalmente, os governos petistas. Todos esses processos, alguns com sentido contrário aos outros como foi o caso do golpe militar, buscaram a modernização do país e a mudança pela via do Estado, pelo alto, com negociações e conciliações com as elites. As chamadas classes populares nunca tiveram um protagonismo. A nova Constituição não significou uma refundação democrática e cidadã do Brasil, pois o povo não foi chamado a se pronunciar acerca dela por meio de um referendum. O povo nunca foi o sujeito constituinte da soberania nacional.

Ao se fazer essas constatações de natureza histórica não se pretende menosprezar as importantes contribuições do varguismo, do antigo PTB e do PT em avanços sociais. O que se quer dizer é que, mesmo com esses avanços, a derrota histórica dos progressistas e das esquerdas não pode não ser assinalada. E mais do que isto: o que se quer dizer é que os progressistas e as esquerdas adotaram estratégias que podem ser inseridas no conceito de revolução passiva, elaborado por Antônio Gramsci a partir de um livro de história da Revolução Napolitana de 1799, escrito por Vincenzo Cuoco.

Mudança de Estratégia

Em síntese, Gramsci entende por revoluções passivas todos os processos de transformação que podem vir por reformas, guerras, golpes etc., sem passar por uma revolução política de tipo “radical-jacobina”. Isto quer dizer: sem uma participação efetiva das classes populares que, desta forma, não criam uma vontade coletiva nacional-popular. Em outras palavras: não há um processo constituinte, da sociedade contra o Estado, de um povo com consciência nacional. Assim, muitas revoluções têm um caráter restaurador e muitos governos progressistas terminam fracassando, abrindo as portas para a restauração conservadora. No Brasil, sequer houve uma reforma agrária radical-jacobina tal como ocorreu na França. As mudanças que ocorreram no campo ficaram muito aquém do próprio processo de distribuição de terras que ocorreu nos Estados Unidos.

Quando setores populares e progressistas participaram dessas tentativas modernização, fracassaram. Fracassaram com Vargas, com Jango, com as Diretas, com a Constituinte e com os governos do PT. Os momentos subsequentes a esses governos foram restaurações conservadoras. A singularidade desses governos, partidos e movimentos é que sempre buscaram atuar mais no Estado do que na sociedade civil e nos movimentos sociais. Nos momentos dos embates e de ruptura dos débeis processos democráticos não tinham força para resistir, não tinham força para impor um momento “radical-jacobino”.

Tudo isto indica que as esquerdas estão adotando estratégias erradas ou parciais. Não há como sustentar reformas e mudanças mais radicais sem conseguir que as classes populares e os movimentos sociais se articulem em organizações consistentes da sociedade civil, sofram um processo de mudança de cultura e de consciência por um intenso trabalho crítico e formativo e se tornem o centro das lutas e  das mobilizações políticas. Não há como criar uma vontade coletiva nacional-popular, adverte Gramsci, sem que os diversos grupos sociais urbanos e do campo irrompam na vida política.

Os progressistas e as esquerdas não conseguem tirar as camadas subalternas da hegemonia das elites conservadoras que permitem apenas definir as lutas no campo do corporativismo e, mesmo assim, com um recorrentes recuos na garantia de direitos. Gramsci preconiza que a luta anti-hegemônica e a construção de uma nova hegemonia requer uma reforma intelectual, cultural e moral associada a um programa de reforma econômica. Os partidos e os movimentos devem subverter “todo o sistema de relações intelectuais e morais”, retirando o povo de sua condição de “massa de manobra”, de bestializado.

A impotência dos partidos progressistas e de esquerda de promoverem uma reforma intelectual, cultural e moral, articulada com um programa de reforma econômica, abriu o campo das periferias para que as igrejas evangélicas e pentecostais fizessem a reforma religiosa. A reforma religiosa conduz as massas periféricas para uma condição de subalternidade ainda mais aguda, mais conservadora, aprofundado sua condição de “massa de manobra”, que se entrega a líderes, a partidos e a governos retrógrados, anti-sociais e anti-direitos.

Os partidos e movimentos sociais progressistas e de esquerda precisam ser ativos e atuantes nessa disputa de concepções de mundo e de valores através da propaganda, formação e organização dos vários grupos e segmentos sociais. Sem a criação desse terreno propício ao desenvolvimento de uma vontade e de uma força politicamente ativa nacional-popular o Brasil terá seu futuro condenado e nenhuma transformação modernizadora de sentido progressista se fará efetiva. Os campos largos da periferia ficarão a mercê da reforma religiosa conservadora e do crime organizado. Os joãos trabalhadores da demagogia e do charlatanismo e outras expressões autoritárias terão um terreno fértil para colher votos e vitórias eleitorais.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP).

 
Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

15 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. A direita dá golpe e a esquerda é culpada
    É por essas e outras que o Brasil é isto. A autoflagelação da esquerda nacional é patética. Tirando isso, o resto é perfeito.

  2. Discordancia
    É certo que a esquerda brasileira não fez tudo que poderia no debate,na comunicação.Mas os responsaveis pelo atual estado de bestialização,de odio da sociedade são anos,decadas de ensino,de doutrinação nas escolas,igreja e midia,e não so a midia nacional.O que acontece,o que é noticiado quase diariamente de fatos de corrupção,encontros,reuniões entre juizes,procuradores com investigados.Milhões de dividas perdoadas de bancos,pecuaristas.Salarios nababescos.Nas pesquisas o crescimento de um candidato que não tem nada a apresentar em projeto de país a não ser o discurso mais baixo em termos civilizatorios e humanos.Odio a negros,homosexuais,misogenia e tem emtre admiradores e sguidores nas redes componentes destes grupis da sociedade do qual prega o odio.Nossa sociedade esta doente ja ha muito tempo consequencia de doses cavalares,subliminares de incitação ao racismo,ao machismo e classismo.O que acontece foi que abriram as portas do canil apontaram o alvo (Lula/Dilma e quem estivesse ao redor).Nossa sociedade é e esta conservadora e a esquerda no governo pouco podia fazer.Mesmo agora vendo suas crenças sendo desmascaradas nega e joga a culpa em quem acham que que mostrou aquilo que não querem ver ou aceitar.O sapo barbudo.Mas a maioria do povo pobre ja sabia isto marcada na pele,na alma.A classe media brasileira esta perdida,talvez em umpais democratico em que as intituições funcionem levara 2 ou 3 gerações para surgirem uma maioria de cidadãos,não se “ungidos merecedores”.

  3. primeiro passo

    O primeiro passo é mostrar para todos (inclusive para uma classe média ingênua que acredita no canto de sereia da imprensa e nos discursos demagógicos de figuras deletérias como Doria), de forma didática, usando de forma inteligente as redes sociais, como funciona o financiamento do Estado, bancado em grande maioria pela classe média e pelos pobres, que pagam o grosso dos impostos, e que a elite é beneficiada com isenções e financiamentos públicos (além de financiar a corrupção para garantia de contratos públicos).

    Quando a maioria entender que a base do problema é o financiamento do Estado e o papel do Estado, no impulsionamento da economia e nas políticas sociais, e a importância da redução da pobreza para o desenvolvimento do país, o discurso da direita cairá no vazio. A maioria das pessoas não tem a menor noção de nada, por isso acha que o problema está na corrupção e nas mordomias dos políticos, e a solução está nos “gestores privados” que vão gerir o governo como empresa.

  4. De fato, a conjuntura atual

    De fato, a conjuntura atual parece exigir da sociedade uma resposta inovadora e ousada. Mas, me causou incômodo a prposição de uma “revolta jacobina” em oposição às inúmeras “revoluções passivas” ocorridas no decorer da História do Brasil. Façamos justiça: por mais jacobina que tenha sido a Rev. Francesa, está redundou n advento de uma burguesia elitista e hipócrta que prescindiu da prticipação popular depois de alçada ao poder, fomentando o mais alto grau de terror e virulência contra o populacho revolucionário, delimitando assim, os cânones da Revolução que viriam a permear todas as tentativas revolucionárias no ocidente. A prposta do professr Fornazieri não foge destas refrências, esperando do povo brasileiro muito mais do que nenhuma outra revolução passada pretendeu de fato. Que a esquera brasileira ficou aquém de qualquer expectativa revolucionária, não há o que discutir sobre isto. A inlusão pela via do consumo, por mais valrizada que tenha sido com se projetos  de inclusão social, não foi mais que um ggante de  pés de barro a se derrubado quando aqueles que concederam eta exceção à regra hstórica brasileira decidiram roer a corda e acabar com a brincadeira. Nada foidevidamente costurado, seja no âmbito legal, institucional ou social. Prestou-se nada mais à constrção mal ajambrada de um patimôni político destinado a fins eletorais. Criou-se um lulismo as moldes sebastianistas, que da graças a Deus de ter entrado para a História pelas mãos furadas de Dilma Roussef. Pela lógica da política de coalisão, veríamos qualquer presidente petista voltar atrás nos avanços sociais para manter a governabilidade, como ficou bemesboçado nos primeiros meses do segundo mandato de Dilma. Lula não faria diferente, sejamos francos. Nã fosse o golpe, o PT e toda a esquerda a reboque, seriam enterrados vivos, sob um epitáfio nada auspicioso: “Traidores!”

    Caberia, muito mais do que à esquerda partidarizada, uma mudança de postura da sociedade organizada e daqueles que deveriam (mas não o fazem) dar voz a estes setores. Intelectuais são menos confiáveis entre os mas desconfiáveis deste país. Deveriam, ao menos, soltar as rédeas da História e parar de conduzir os rumos e narrativas sobre o povo e seu signficado. A academia deveria ater-se a aprender e a ouvir o que o povo tem a dizer sobre si e sobre a nação. Já seria um começo.

  5. Ronaldo gorducho não aprende

    Juca Kfouri: Ronaldo Fenômeno não aprende

    21 de agosto de 2017 às 10p5

       

     

     

    Ronaldo Fenômeno não aprende

     

  6. Eternas Ondas

             Fagner: “Aécio me deve desculpas pessoalmente”

    Agência Brasil

     

    Cantor cearense Raimundo Fagner, um dos maiores nomes da música brasileira, cobrou um pedido de desculpas do senador Aécio Neves (PSDB), presidente afastado do PSDB; “Aécio não apenas me decepcionou, mas foi muito triste. Sou amigo dele e essa amizade nunca vai deixar de existir. Mas o que eu me envolvi com ele, o que eu acreditei…o que eu subi em palanque para ele, desde a campanha dele para deputado”, reclamou Fagner; “Eu emprestei muito esse trabalho para o Aécio. Para mim, foi uma punhalada. Eu não merecia isso porque emprestei o meu respeito e pisou na bola legal. Aécio me deve desculpas pessoalmente”, disse o cantor

    COMENTÁRIO ADICIONAL: uma maneira de você se reconciliar com o seu passado de lutas, Fagner, é permitir que a CARVANA DE LULA use como música tema a sua belíssima “eternas ondas”: E se teu amigo Lula não te procurar, é porque multidões ele foi arrastar.

    [video:https://youtu.be/TxjzelTLL0o%5D

  7. Ciro Gomes bem que poderia começar uma caravana dessa por Sobral

             Gilberto Maringoni: Lula atua como fio condutor da Nação consigo mesma

    Ricardo Stuckert | Reprodução

     

    O cientista político Gilberto Maringoni, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), retrata com nitidez a caravana do ex-presidente Lula pelo Nordeste; “Lula fura todas as bolhas e parece galvanizar uma vontade coletiva dos que perderam a esperança, numa espécie de retomada de um fio condutor da Nação consigo mesma”, diz Maringoni; “Desesperançados e desesperados se ligam em sua pessoa, na busca de incertos “bons tempos” existentes no imaginário coletivo e no diferencial do que é a hecatombe do governo Temer com seus anos no Planalto”

    OBS: quem resumiu bem a matéria do Aldo Fornazieri foi o internauta Antonio Victor: A DIREITA DÁ O GOLPE E A ESQUERDA É CULPADA

    Essa é bem a centésima matéria de Aldo Fornazieri culpando a esquerda pelo golpe da direita. Vire o disco, meu filho.

  8. Que me desculpe o Aldo que é

    Que me desculpe o Aldo que é sociólogo e portanto estudioso dos movimentos sociais mas todos os países são construidos a partir da sua elite. Assim os Estados Unidos mandam no mundo hoje muito mais por Thomas Jefferson, George Washington e Benjamin Franklin do que por seu “povo”. O povo se por dá satisfeito quando tem o que comer.     E quando a classe operária vai ao paraíso então…

    A Revolução Francesa foi induzida pela burguesia. E caminhou com pensadores como Robespeirre, Saint Just, Marat, Danton etc. Na semana passada vi um documentário sobre a Suécia em que foi destacado a simpatia da rainha da Suécia do inicio do século passado pelo marxismo determinando todo o estado de bem estar social do país, mais tarde acentuado pelo período dos governos socialistas que ocuparam o poder entre 1950 e 1965. 

    Pra falar do povo brasileiro, que supõe-se seja eu e os milhões sem voz e poder no país é preciso falar antes da nossa elite. Começando pela Usp, principal universidade do país que pariu FHC e Janaina Paschoal , passando pelos setubals de cujo camarote partiu o wtnk contra a presidenta da república e o golpe, caminhando pela imprensa dos mesquitas, frias e marinhos e desembocando na Justiça das carméns lucias,gilmares e barrosos. 

    Tá, eu sou sem voz. Mas vamos para o passado. Meu pai foi casmurro a vida inteira e lembrava-se da humilhação na Hospedaria dos Imigrantes quando as famílias eram dispostas e os fazendeiros “nos escolhiam feito gado’ conforme a palavra dele. Não chegaram aqui como colonos, como se deu nos Estados Unidos, chegaram como mão de obra substituta dos escravos a quem era recusado trabalho após a Abolição. E assim foi porque a elite da época composta por latifundiários e políticos (que são a mesma coisa) se anteciparam impedindo a aquisição de terras pela Lei de terras de 1850 que impediu a posse de terras para quem não tivesse poder. Mais tarde essa mesma elite que usufria do estado através do Convênio de Taubaté fez a revolução de 32 e por aí vai que o Aldo deve ser mais bem informado do que eu.

    Então não, não é o povo brasileiro que é bestializado. É nossa elite que é cruel, desumana e traidora do país. Nos mantém acorrentados e não é a toa que no golpe que fizeram uns dos primeiros atos foi retirar recursos da educação. Alguém aí da Usp cobrou dos colegas FHC e Janaina  a negociação para a manutenção das verbas  aplicadas pelos governos petistas  na Educação?

    Então não, assim como meu pai e sua família não puderam ser proprietários de um pedaço de terra porque a elite brasileira o impedia e portanto teve que ser mão-de-obra barata e se preocupar com a comida para sobreviver, nós também, o povo estamos encracados. Eu mesmo agora tenho que substituir um funcionário na injetora porque me porporcionaram um golpe de estado e mediante a queda do consumo do meu produto tive que mandar um funcionário embora. Não dá tempo de fazer revolução.

    1. E pode crer o Aldo, mesmo com

      E pode crer o Aldo, mesmo com essa bestialização meu pai tem como descendentes pessoas como minha filha, que oriunda de escola pública é bolsista graças aos seu currículo e capacidade de um curso de MBA na Itália e sempre com o senso critico do avô que, refugiado de guerra, foi escolhido como gado. Minha outra filha passou em primeiro lugar num concurso de uma empresa governamental. Manda o Aécio, membro da elite brasileira e  meritocrático, conseguir o que elas conseguiram. Manda o Frias, o FHC, ou qualquer setubal montado no estado conseguir isso e o povo brasileiro deixa de ser bestializado.

    2. Será que é por aí?

      A teoria das elites já fez muito sucesso, já recebeu muitas críticas, e meio que foi deixada de lado por cair em circunlóquios argumentativos quase sempre autorrealizáveis (o que é uma armadilha mortal para o pensamento analítico).

      Mas a questão talvez não seja se, SUBSTANTIVAMENTE, o tal sujeito da ação política sejam as elites ou os “de baixo” (recorro aqui a uma terminologia clássica no pensamento social latino-americano, cunhada pelo escritor mexicano Mariano Azuela).

      A ausência dos “de baixo” não é tanto a das “massas” imponderáveis movendo uma ação política igualmente imponderável. É a inexistência de mediação entre uma visão de mundo alternativa à da dominação oligárquica e a mobilização daqueles a quem em última instância isso interesse como agenciamento discursivo que outorgue inteligibilidade à vida social. É aí que entra a tal “reforma intelectual” de que fala o Fornazieri, ou a construção da legitimação (como prefiro eu falar), ou, simplesmente, a “hegemonia”, como falava Gramsci.

      Não se trata, crio eu, de reificar sujeitos, mas de reconhecer relações posicionais.

  9. Sim, professor, esse negócio

    Sim, professor, esse negócio de “que o povo venha ao palácio dizer o que quer do estado” nunca funcionou. E também, se pensarmos em aproximação entre poder e povo, é bem pouco eficaz a pessoa que ocupa a  presidência do executivo nacional, federal, ir pessoalmente entregar as chaves de moradia popular a beneficiado. Isso serve, no máximo, para gravar filme de propaganda desse ocupante.

    Assim, menos como tentativa de defender o PT e mais como anotação para eventual pauta democrática, talvez seja útil lembrar que durante os governos do PT houve, sim, iniciativas para promover a aproximação da pessoa comum com as instituições.

    Por exemplo o programa Bolsa Família buscava, entre outras coisas, a aproximação da pessoa comum com a prefeitura local, e o mais importante, numa relação em que o cidadão não estava lá para pedir que a administração municipal lhe concedesse algo. Quem concede a BF é o governo federal. Claro que na prática sempre haverá prefeito atravessador, privatista, mas contra isso houve intensa campanha informativa. A pessoa ia à administração municipal fazer valer um direito que a federação lhe garantia.

    Outro exemplo foi dado pela prefeitura de São Paulo ao estimular a formação de conselhos populares nos bairros. Os conselheiros eram eleitos de forma direta pelos cidadãos, e os conselhos só não tinham mais poder por causa do medo que os vereadores tiveram de dividir o poder que lhes fora, historicamente, concedido.

    Muitas outras iniciativas foram tocadas no sentido de oferecer oportunidade de educação prática – e não apenas acadêmica – para cidadania à pessoa comum e de aproximar o povo das instituições. A ideia de que política é projeto coletivo e popular permeou todos os programas do PT.

    Como disse antes, não se pode esquecer a tremenda cagada do PT, especificamente de Dilma, na resposta às manifestações de Junho de 2013. Nesse momento Dilma fez exatamente o que qualquer centralizador faria: “As portas do palácio estão abertas aos grupos organizados”. Mas o Palácio fica em Brasília e as manifestações ocorriam em quase todas as capitais…

    Muitos dirão que o estímulo a aproximação da pessoa comum foi pífia. Mas há que se considerar que é bem diferente falar do que foi e falar quando está sendo. Além disso também é, na minha opinião, de bom alvitre lembrar dos limites que as condições históricas determinam.

    Tenho certeza de que o PT ou qualquer outro partido que venha a assumir a responsabilidade pela administração dos executivos em qualquer instância – federal, estadual ou municipal – pode tirar lições importantes, erros e acertos, desses acontecimentos. Sem mea-culpa, sem auto-flagelo, apenas como lição, mesmo.

  10. Revolução passiva

    Excelente artigo.

    Diria, de forma menos pessimista, que da complexa tarefa de emancipar o sujeito (o povo, o proletariado ou as classes subalternas, como queiramos) a era petista subiu o primeiro degrau (de quatro como eu vejo,mas não é momento de aprofundar), o da vida material, da sobrevivência, sobre o qual os demais se erguem, mas não se ergueram, nem se ergueriam, em decorrência de tudo o que você coloca no artigo.

    A esquerda brasileira não se enxerga como parte da Casa Grande mas não se identifica com as periferias egressas das Senzalas e não enxerga, por maior boa vontade que tenha, que é ali o locus estratégico do protagonismo social. Então não consegue sequer perceber a necessidade de uma mudança de práticas, no mais das vezes limitada ao discurso, à aula, ao voto, às redes sociais onde vêm os iguais, etc; mas não empresta o que acumulou como experiência ou cidadania às periferias num cotidano de militância. Ou seja a nossa intelectualidade, que poderia assumir a responsabilidade de colaborar para a emancipação do nosso povo está socialmente morta. Isso lentifica ainda mais o nosso processo de transformação, talvez o inviabilize, só a história dirá. Portanto em primeiro lugar não somos uma nação sequer como projeto arraigado no interior da classe média de esquerda (generosa, militante, heróica na ditadura militar, reconheçamos) mas historicamente incapaz de enxergar o que poderia ser o seu papel histórico mais relevante.

    Se opera no Brasil,com pontos de ganho de velocidade em Lula/Dilma e em Vargas um processo secular de evolução positiva para o nosso campo permeado de derrotas, sofrimentos e milhões de vidas perdidas para a bestialização,como você diz.  Mas saímos do “Menino Morto” de Portinari para o SUS, ou de uma Esperança de Vida de 42 anos para 74. E, ainda que materializadas por aparentes “concessões” em nome da tranquilidade social, ou por “consenso” como hipocritamente é a legislaçãocontra o racismo, ainda que os negros sejam alvos prediletos de estermínio pepetrado pelo Estado, as conquistas do povo, ativas ou passivas não podem ser atribuídas a uma agenda “modernizadora” sem rosto, mas são, necessariamente, do povo.

    Cabe descortinar os eixos mais relevantes para, nesse oceanos de terríveis dificuldades para o povo, traçarmos o que queremos no longo prazo para o século XXI, subir o segundo degrau e talvez o terceiro. Com sorte elegemos Lula, mas ele também vai precisar saber o que fazer,portanto eleger Lula não resolve o problema do longo prazo que você pauta ou como eu digo,politizar e trazer as periferias para a contemporaneidade, emultiplicar por milhões os protagonistas certos: o povo.

  11. Intelectualidade que sempre culpa “os outros”

    Prezados leitores,

    Já repararam que os chamados “intelectuais esquerdistas”, de que são exemplos AF e WGS sempre dão um jeito de culpar “os outros”, os partidos de Esquerda e os líderes políticos desse espectro político, sem jamais assumir a própria culpa? Nessa confortável – acima de tudo oportunista e pusilânime – posição eles sempre mantêm abertas as portas do PIG/PV, para entrevistas e divulgação de artigos e livros de que são autores. A válvula de escape se completa com a desqualificação das massas exploradas e secularmente excluídas,  que compõem a grande maioria da população brasileira.

    Esse artigo é o velho academicismo pedante, vestido com roupa nova.

    1. Crítica

      Meu caro leitor.

      Se você de fato conseguisse extrair o que o texto propôs perceberia que o autor faz uma crítica aos progressitas, ou seja, aos partidos e grupos da esquerda por serem passivos aos acontecimentos e por acabar de se aliar as elites de forma que isso não trás nenhuma mudanças estrutural ao sistema político, apenas a manutenção do mesmo, de forma estremamente conservadora.

  12. A tolice da inteligência brasileira.

    Aldo mais uma vez repete os clichês de sempre. Sempre poupando a nossa elite escravocrata, joga a culpa na vítima.  Sempre na crença de que a política é feita ou por uma direção partidária , ou por alguns iluminados.  Se lessem o que escrevem observariam que os tais erros  da esquerda não são sequer 1/10 dos erros da direita. E se a direita está no poder, isto não quer dizer que ela acertou. Apenas, que ela continua tendo as armas . Apenas que nossas instituições ainda estão na mão desta direita. Quando o povo foi chamado as urnas, ele não elegeu quem está ai. Mesmo depois de anos e anos de campanha. Não vamos confundir as manifestações  coxinhas com o povo. 

     Aldo,  de uma tacada só,  nega a existência de qualquer movimento popular neste país. Nega que o partido dos trabalhadores, foi uma criação que surge do movimento operário do ABC. E que esta é uma experiência única  no mundo. Um movimento que não pode ser chamado de bestialização do povo brasileiro. E que teve um papel crucial  para o fim da ditadura.  Sim a realidade exigiu que houvesse um diálogo com as classes dominantes. Mas não foi por este diálogo que o país está onde está, não foi pelos erros da esquerda ou do governo petistas que o Brasil está onde está. O Brasil está onde está, muito mais pelos acertos do governo petista. e porque a nossa elite estava percebendo que se os governos petistas, ( e ou com políticas com o mesmo foco), continuassem  eles jamais voltariam ao poder. Com toda a arma da mídia e do judiciário tentaram destruir esta política desde do primeiro governo Lula.  Precisaram sim de um forte apoio externo, que também viu no Brasil e nos Brics, uma grande ameaça. Precisaram sim de uma pequena crise economica, e principalmente da usurpação de nossa instituições democráticas  para realizar este golpe. Esta elite, que comprou os deputados, que cooptou o judiciário, que se submeteu as designios do tal mercado, e criou um fosso enorme entre nossas instituiçoes e a população,o que  não é sequer mencionado por Aldo. Aldo parece querer dizer que quem não conversa com a população é a esquerda  e no  fundo está defendendo a elite  ao colocá-la sobranceira e sempre vitoriosa.  Mas ele não  vê que esta elite toda fragmentada,é apenas um conjunto de gangues, tentando dividir um butim,  e obviamente vive  imersa numa luta intestina, pois cada gangue quer uma maior parte.    Tentam desesperadamente  fazer todas as reformas e toda a privatização, antes que a política retorne às ruas. Sequestraram o país, e mesmo com a total rejeição desta população, (que Aldo classifica como bestializada), ainda permanecem no poder, porque ainda estão com as armas.  Para isto destruiram a economia do país, e todas as instituições democráticas. A direita só fica no poder através do golpe  e ou da repressão política. E se a repressão veio antes pela mão de militares, esta vem agora pela mão de juizes.  

    Este interregno, em que ora nos encontramos, não se sustenta e não restaura nada. Tentam passar o mais rapidamente possível medidas e PEC, tentam privatizar tudo que podem no curto espaço de tempo  que tem. A inépcia , a falta de escrúpulos, e a ambição desmesurada, mostra que destruir é muito mais fácil do que construir.  E o desespero é enorme, pois sabem da fragilidade de todas esta medidas, mas não sabem , a não ser pela força da repressão mantê-las.  Se existe neste artigo algo é a bestialização de alguns de nossos intelectuais, que parecem ter como objetivo central afirmar que o povo é uma besta e que todo o problema  é que o povo foi mal dirigido.  Sim diante do cano frio de uma arma, a vítima fica paralisada, mas ela não é a culpada. Talvez Aldo tenha que compreender o significado da palavra golpe. 

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador