Elaborando o passado: Lula e o Golpe Militar de 64, por Bruno Alcebino da Silva

A atitude de Lula, em evitar eventos que recordem o golpe militar, é uma clara tentativa de apaziguar as relações com as Forças Armadas

Elaborando o passado: Lula e o Golpe Militar de 64

por Bruno Fabricio Alcebino da Silva[1]

O cancelamento de um ato oficial em memória dos 60 anos do golpe militar pelo Ministério dos Direitos Humanos, por determinação do presidente Lula, é um sintoma alarmante da postura do governo em relação ao passado sombrio do Brasil. Essa decisão não apenas demonstra um desrespeito às vítimas e aos defensores da democracia, mas também ressalta uma preocupante tendência de negligenciar a história em prol de acordos políticos. Como ressaltou o filósofo Herbert Marcuse (1898-1979), em seu prólogo[2] d’O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, os “fatos e personagens da história mundial que ocorrem, por assim dizer, duas vezes, na segunda vez, não ocorrem mais como ‘farsa’. Ou melhor: a farsa é mais terrível do que a tragédia à qual ela segue” (MARCUSE, 2011, p. 9).

A atitude do governo Lula, em evitar eventos que recordem o golpe militar, é uma clara tentativa de apaziguar as relações com as Forças Armadas, uma estratégia que tem sido adotada desde antes mesmo da posse do presidente. Essa política de apaziguamento é compreensível em um contexto de atritos entre o governo e os militares, mas é inaceitável quando se trata de reconhecer e enfrentar os horrores cometidos durante um dos períodos mais obscuros da história brasileira.

Outro frankfurtiano, Theodor Adorno (1903-1969), também discorre sobre o tema em seu ensaio O que significa elaborar o passado [1960]. Uma de suas principais preocupações é com a tendência da sociedade em negar ou minimizar eventos traumáticos, especialmente aqueles relacionados a atrocidades, como o nazismo na Alemanha. Adorno alerta para os perigos dessa negação, argumentando que, ao recusar confrontar honestamente o passado, a sociedade corre o risco de repetir os mesmos erros no futuro.

Além disso, Adorno destaca os mecanismos psicológicos e sociais que contribuem para a recusa em enfrentar o passado, como a culpa coletiva e a necessidade de preservar uma imagem positiva da nação. Argumentando que esses mecanismos muitas vezes levam à distorção da história e à tentativa de reinterpretar ou justificar eventos traumáticos, em vez de confrontá-los de forma honesta e aberta.

Ao cancelar o evento que homenagearia os que lutaram contra a ditadura militar, o governo Lula não apenas desrespeita a memória daqueles que foram perseguidos, torturados e mortos pelo regime, mas também perpetua um ciclo de silenciamento e negação.

É perturbador que o cancelamento do evento seja justificado como uma tentativa de evitar descontentamento por parte das Forças Armadas, especialmente em um momento em que o país enfrenta uma onda de ataques às instituições democráticas. Ao ceder às pressões dos quartéis, o governo Lula não apenas compromete sua integridade moral, mas também enfraquece os pilares da democracia brasileira.

Além disso, a declaração do presidente Lula de que prefere não “remoer as consequências” do golpe de 1964, argumentando que isso faz parte do passado, é profundamente problemática. Ignorar tempos pretéritos não os fazem desaparecer, e a recusa em confrontar os erros e crimes cometidos durante a ditadura representa um comprometimento de princípios democráticos. A questão não é remoer, é trazer os fatos à tona, Adorno já dizia que “A elaboração do passado não significa elaborá-lo a sério, rompendo seu encanto por meio de uma consciência clara. Mas o que pretende, ao contrário, é encerrar a questão do passado, se possível inclusive riscando-o da memória. O gesto de tudo esquecer e perdoar, privativo de quem sofreu a injustiça acaba advindo dos partidários daqueles que praticaram a injustiça” (ADORNO, 1960, p. 29).

A história não pode ser esquecida ou ignorada; ela deve ser confrontada e reconhecida, mesmo que isso seja doloroso. O cancelamento do evento é um lembrete sombrio de que o governo Lula parece mais interessado em manter as aparências do que em enfrentar a verdade inconveniente do passado. É hora de o governo assumir a responsabilidade por suas ações e honrar o legado daqueles que lutaram e sofreram pela democracia no Brasil. O silêncio e a omissão não são aceitáveis.

Elaborando o passado

Elaborar o passado é um empreendimento complexo e multifacetado, que envolve tanto a memória individual quanto a memória coletiva de uma sociedade.

Ao examinar o significado de elaborar a história, é fundamental compreender o contexto em que essa preocupação surge. Nos dias de hoje, estamos distantes de uma tradição de memória viva, oral, comunitária e coletiva, como destacado por Maurice Halbwachs (1950). A sensação de efemeridade das existências e das obras humanas nos leva a inventar estratégias de conservação e mecanismos de lembrança. Isso se manifesta na criação de centros de memória, organização de colóquios, publicação de livros e recolhimento de documentos, fotografias e outros registros do passado.

No início da Segunda Guerra Mundial, os pensadores da Escola de Frankfurt[3] conseguiram encontrar refúgio em outros países, escapando dos horrores iminentes que se abateriam sobre a Alemanha durante seu período de ausência. Com o fim do regime nazista, alguns deles retornaram à sua terra natal e se depararem com uma realidade que os chocou profundamente. As notícias que haviam recebido enquanto estavam no exílio não condiziam com a brutalidade e a devastação que encontraram ao voltar.

Autores como Walter Benjamin e Theodor Adorno, contribuíram significativamente para esses empreendimentos, especialmente ao destacar a importância ética de preservar a memória. No entanto, é crucial reconhecer que a preocupação contemporânea com a memória assume traços específicos devido à nossa experiência histórica e cultural única. Elaborar o passado segundo Adorno implica uma abordagem crítica e reflexiva que visa confrontar honestamente os eventos históricos traumáticos, há uma tendência na sociedade de negar ou minimizar o passado, buscando o autoengano de se encerrar a questão em vez de enfrentá-la de maneira séria e consciente. Em outras palavras, trata-se de que  “o desejo de libertar-se do passado justifica-se: não é possível viver à sua sombra e o terror não tem fim quando culpa e violência precisam ser pagas com culpa e violência; e não se justifica porque o passado de que se quer escapar ainda permanece muito vivo” (ADORNO, 2021, p. 29). 

A elaboração do passado não se resume apenas a contar a história dos vencedores; é um ato político essencial para não esquecermos as atrocidades cometidas. Trata-se de trazer dignidade e justiça àqueles que foram vítimas dessas atrocidades. A construção do passado oferece uma oportunidade de entender como a sociedade se comportou e, através dessa compreensão, construir um presente e um futuro livres da barbárie.

Essa reflexão não se limita apenas ao contexto histórico; ela também pode ser aplicada à história empresarial e à memória organizacional. Nas organizações, o poder e o capitalismo muitas vezes ditam quais eventos serão lembrados, manipulando o passado de acordo com seus interesses. Aqueles que detêm o controle sobre a construção da memória têm o poder de moldar a narrativa de acordo com suas próprias agendas, comprometendo a integridade do registro histórico.

Durante sua pesquisa sobre a construção do passado, Adorno destacou a importância de uma representação precisa da história, enfatizando a necessidade de alinhar passado, memória e história. Segundo Le Goff (1924), muitos acreditam que o presente deve seguir o modelo do passado, mas apenas uma minoria consegue escapar desse ciclo e promover mudanças verdadeiras. A memória, como apontado por Costa e Saraiva (2011), é a elaboração do passado encontrada no presente.

Adorno (1960) destaca que a recusa em lidar com o passado muitas vezes surge daqueles que praticaram a injustiça, buscando apagar ou distorcer a memória dos eventos para evitar responsabilidades e manter o status quo. Ele critica a ideia de “esquecer e perdoar”, argumentando que tal gesto, muitas vezes defendido por aqueles que sofreram injustiças, pode acabar beneficiando os perpetradores do mal. O autor ressalta que o desejo de libertar-se do passado é compreensível, pois viver à sua sombra pode ser opressivo. No entanto, ele adverte que o passado continua vivo e suas consequências persistem no presente, especialmente no caso do nazismo, que sobrevive como um fantasma do passado ou como uma disposição indizível ainda presente na sociedade. Além disso, ele reconhece que não podemos viver sob a sombra do sofrimento anterior, mas enfatiza que não podemos simplesmente esquecer ou perdoar a barbárie ocorrida. A culpa dos perpetradores e o silêncio dos espectadores também complicam a construção da memória, pois muitas vezes resultam em uma distorção da verdade histórica.

A construção do passado não é um processo neutro; ela é influenciada por uma série de fatores, incluindo interesses políticos e econômicos. É essencial reconhecer e confrontar os horrores do passado para evitar a repetição de erros no presente e no futuro. A memória não deve ser utilizada como um instrumento de manipulação, mas sim como uma ferramenta para promover a justiça e a verdade histórica.

Porém, no contexto atual, negar o passado é a melhor maneira de evitar atritos, afinal se é possível negar o golpe de 64, também é possível negar o golpe institucional contra a presidenta Dilma Rousseff em 2016 e inúmeros outros fatos históricos.

Referências Bibliográficas

ADORNO, Theodor W. O que significa elaborar o passado. In: Educação e Emancipação. São Paulo: Paz e Terra, 2021 [1960].

COSTA, Alessandra de Sá Mello da; SARAIVA, Luiz Alex Silva. Memória e formalização social do passado nas organizações. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 45, n. 6, p. 1761-1780, 2011.

HALBWACHS, Maurice, La métnoire collective, Paris, PUF, 1950.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução de Bernardo Leitão. Campinas: Editora da UNICAMP, 1990.

MARCUSE, Herbert. Prólogo. In: O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo, 2011 [1965].


[1] Bacharel em Ciências e Humanidades e graduando em Relações Internacionais e Ciências Econômicas pela Universidade Federal do ABC (UFABC). Pesquisador do Observatório de Política Externa e Inserção Internacional do Brasil (OPEB).

[2] Publicado originalmente na edição de Der achtzehnte Brumaire des Louis Bonaparte (Frankfurt, Insel, 1965, p. 143-50) na Alemanha.

[3] O Instituto de Pesquisa Social (Institut für Sozialforschung) foi fundado em 1923 associado à Universidade de Frankfurt, cujo objetivo seria debater uma nova teoria crítica da sociedade. Os expoentes do mesmo tornaram-se notoriamente conhecidos como membros da Escola de Frankfurt.

Redação

4 Comentários

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  1. Fora os “Adornos” , do golpe todos os principais atores (sobra o Delfin Neto) estão mortos, dada a encrenca atual Lula está errado em “enterrar” 64?

    Podemos “enforcar” algum subsargento que cumpriu “ordis” se for satisfatório

  2. Brasil, país sem futuro, capital: Medicilândia.

    Recentemente, o Brasil, como de hábito, juntou seu passado com seu presente.

    Corta para a longínqua e remota Amazônia, na cidade batizada com o nome de Emílio Garrastazu Médici, um dos mais sanguinários generais-presidentes do período inaugurado em 1964, cujo “aniversário” se aproxima em 1º de abril.

    Na cidade de Médici, o Partido Liberal alçou à presidência local da agremiação o autor (mandante) do assassinato de Chico Mendes.

    É mais ou menos como se o assassino de Martin Luther King, preso, condenado, e após cumprir sua pena, fosse eleito presidente do partido republicano em uma cidade do Alabama, Geórgia ou do Mississipi, e que esta cidade se chamasse Jim Crow.

    O Brasil é a certeza científica do que dizem os físicos sobre o tempo, ou seja, passado, presente e futuro, são uma coisa só, não há essa divisão linear.

    Cena dois:

    Em simbólica data redonda, no dia 1º de abril a “Redentora” estará sessentona, mas com corpinho de 20, 30 anos, talvez.

    O golpe cívico-militar de 64 rejuvenesce e se alimenta de nossa incapacidade de superá-lo, de dizer o que houve, de fato e de direito, já que quase não é mais possível punir muita gente, já que a maioria está morta, ao menos, os generais-presidentes e seus lugares-tenentes.

    Tem um ótimo filme, O Conde (Netflix), onde um Pinochet vampiro, eternizado, assombra e suga o sangue dos chilenos, mas tem por preferência o suco de corações batidos em liquidificador.

    Uma metáfora poderosa sobre a persistência de tais figuras e regimes no imaginário das sociedades.

    E olhem vocês, o Chile que revistou, e como bem disse Adorno (citado no texto), se não concluiu, ao menos tentou elaborar suas memórias.

    Somos, por assim dizer, um país de cretinos, não por golpes ou violências institucionais contra seus cidadãos e cidadãs, nada disso, todas as civilizações, de um modo ou de outro, em nome do capitalismo, já experimentaram esses processos.

    Os EUA, cinicamente, fazem até filmes disso tudo depois.

    Nossa indigência, nossa covardia, nossa podridão moral é manifestada na ausência de punição, de apuração desses acontecimentos, reparando, por pouco que seja, as feridas abertas nesses episódios, ensinando e prevenindo que gerações posteriores esqueçam e sejam tentadas a repetir esses feitos.

    Assim fizeram Argentina, Chile, Uruguai, com suas ditaduras, Alemanha com o nazismo, Itália com o fascismo.

    Não me consta que estes países tenham desintegrado após esses ajustes de contas, mesmo que haja vampiros.

    Volta para cena um:

    O que choca, no entanto, não é o fato de existir uma cidade chamada Medicilândia (há tantos outros tantos monumentos e homenagens, como Rodovia Castello Branco, Ponte Costa e Silva, etc, etc), e nesta cidade o presidente do partido de extrema-direita seja o assassino de um importante líder de movimentos dos povos da floresta.

    Pelo menos, o assassino de Chico Mendes foi julgado e cumpriu sua pena, fato raríssimo.

    A surpresa, nestes tempos incertos, é ler que o Presidente Luiz Ignácio Lula da Silva, quando perguntado sobre o 1º de abril, respondeu que está muito mais preocupado com o 8 de janeiro de 2024.

    Lula, como todo líder, fala muita estupidez, e outras coisas são retiradas do contexto para que pareçam piores que são.

    Neste caso, porém, a total de falta de empatia de Lula com as pessoas que foram mortas, torturadas e “desaparecidas” é assombrosa, e faz crer que, como dizia Leonel Brizola, seria ele uma cria de Golbery (do Couto e Silva, ex-chefe do SNI e o Rasputin da ditadura) para atrasar as esquerdas e os movimentos populares.

    De fato, mesmo que reconheçamos toda genialidade de Lula e sua habilidade de absorver rapidamente conceitos novos, ele nada mais é que um produto do “milagre econômico” de Médici, saído das linhas de montagem das carroças com motor do ABC, que só se meteu com sindicato porque a crise do modelo reduziu a quantidade de churrasco e cachaça que tinha acesso, assim como a chance de comprar, como dizia Raul Seixas, um corcel 73.

    Enquanto o pau comia nos porões da ditadura, Lula ia, com seu carisma, ao jogo de futebol.

    Por mais maldosa e cínica que seja essa fala do Brizola, um craque nessas adjetivações (lembram do sapo barbudo?), ela não se afasta da realidade.

    Ou é isso, ou Lula é um medroso, um “frouxo”.

    Em 2003, o medo era até justificável, mas se passaram dois mandatos, com enorme popularidade, e nenhum gesto do governo de Lula para mobilizar sua base (o PT chegou a 95 deputados naquela época), sequer para debater a revogação da Lei de Anistia, que o STF (nossa atual “sala da justiça” contra o “mal”) disse constitucional, em afronta a toda legislação e tratados que assinamos, dizendo a tortura crime imprescritível e inafiançável.

    Nem vou mencionar a questão técnica do sequestro, já que os desaparecidos por obra de agentes do Estado são, tecnicamente, sequestrados, crimes cuja consumação só cessa com o resgate da vítima, encontro dos seus cadáveres ou declarações de suas mortes, o que não aconteceu.

    Portanto, ainda que se considere a excrescência jurídica do argumento que a Lei de Anistia não retroceda para os crimes cometidos antes dela, os sequestros ainda estão em andamento!!!!!

    Bem, voltando ao assunto principal, o Sr Lula deu-nos uma importante dica sobre nós mesmos ao dizer: “deixa disso, isso já passou”.

    Causa certo espanto, ler em vários meios, a aparente surpresa ou espécie dos articulistas ao contarem o público da Avenida Paulista, que foi lá louvar seu mito, dizendo os analistas que o mito revelou sua força, e que ele está mais que vivo.

    Ora, me surpreende que ele não tenha levado 2, 3 milhões de pessoas para o curral paulista.

    Minha gente, se pegarmos Lula, sua covardia moral, institucional e política (ele só fala do Holocausto alheio EXTERNO) e Medicilândia, se juntarmos isso à nossa mídia, ao STF, que ora são lava jatistas, ora são democratas, se tudo isso for embrullhado com o crescente número de violência doméstica, à pedofilia tolerada e incentivada na Igreja Católica, enfim, a abissal e intocada (logo eterna) desigualdade social, às mortes de 40 mil pessoas por disparos de arma de fogo, sendo a esmagadora maioria negros e pobres, aí sim teremos um quadro espaço-tempo desse país.

    O tempo aqui não passa, seja onde for que ele esteja localizado.

    Cena três:

    Nossas capitanias eram hereditárias, e ainda são.

    Nosso rompimento com Portugal não foi rompimento, foi compadrio de pai para filho, traço de caráter que ainda norteia a determina, como em nenhum outro local do planeta capitalismo, quem vão ser os donos do país, e quem serão os lacaios.

    Um pequeno parêntese: além de sermos o último país a abolir a escravidão, ainda tentamos manter esse flagelo em outro país, quando D. Pedro II (o que dizem o ilustrado) mandou navios com ajuda militar para os estados confederados do sul dos EUA, que estavam em guerra com a União, justamente para impedir a abolição por lá.

    A república não foi movimento de massas, mas de militares.

    As eleições eram de cabresto, alternando oligarquias rurais mineiras e paulistas.

    Em 1930, outra oligarquia, a gaúcha, fez-se “revolucionária”, para tecer outro golpe, povo alheio, e desceu goela abaixo a organização do trabalho e do capital, a pauladas de DIP, estados novos, etc.

    Em 1945, novo golpe sobre o golpista Getúlio, que depois, em 1954, desta vez eleito, foi esmagado até a morte.

    Democratas o assediaram? Quem, Lacerda?

    Vem 1958, e o corvo grasna: “Juscelino não pode ganhar, mas se ganhar, não pode ser empossado, e se empossado, não pode governar”

    1961, Jânio Quadros, um tipo de Collor com Bolsonaro assume, e depois, some, varrido pela própria vassoura moralista.

    1964 todos já sabem, e depois, desembocamos no arquétipo de democracia castrada, que chegou até o golpe de 2016, e aqui estamos.

    Estes ecos do tempo não deixaram de se ouvir aqui, Campos dos Goytacazes, terra de miséria, desigualdade, poder católico conservador, e elite violenta.

    Em 1855, éramos a cidade com maior proporção de negros cativos para homens livres do país, mas aqui chegou a luz elétrica primeiro.

    Aqui queimamos os corpos dos mortos pela ditadura em fornos de usinas (cada um dá o que tem, jornal paulista emprestou carros, né?), mas somos todos gente de bem, e o álcool é o combustível moderno.

    Lá no planalto, o ministro dos banqueiros, haddad, o sábio, diz que tem que ter uma forma justa de taxar os super ricos.

    Uai, mas eu pensei que a simples existência de super ricos ou mega hiper ultra fortunas já fosse uma injustiça pornográfica, não?

    Sobem os créditos.

    Cenas adicionais pós créditos.

    Brasil, 2027, janeiro, a presidente eleita Michele Malafaia toma posse em Medicilândia.

  3. Muita análise profunda que não leva em conta o essencial. Sempre que vejo gente dizendo o que Lula deveria ou não fazer, espero um tempo e concluo que Lula tinha razão. Os corajosos que só pensam em ações que outros possam fazer, ficam presos no passado e em discussões intelectuais e ignoram o momento atual. Será que não foi a comissão da verdade a gota d’água contra Dilma? Como reagiriam os críticos na mírdia, que infelizmente tem audiência, a atos do governo, como querem os corajosos de meia pataca? Lógico que Lula não precisa de mais esta aporrinhação! Ninguém está esquecendo os crimes dos militares. Justamente agora é preciso garantir que sejam condenados pelo golpe, que não se limitou a tentativa. Pois são justamente os filhos diletos da ditadura de 64 os envolvidos agora. Espero que o debate se concentre em retirar recursos públicos do Exército, nossa força mais imprestável, e enquadra o restante a algo que tenha função. Seria a forma de acabar com a raça dos golpistas fardados, que só pensam em artimanhas por não terem trabalho a fazer e temerem que alguém perceba.

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