Rio não estava sob domínio do PMDB, mas de Picciani e Sérgio Cabral, por Janio de Freitas

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – E entre tantas ações da Lava Jato, a última investida no Rio representa benefício para a maioria da população, entende Janio de Freitas. Em sua coluna de hoje na Folha, o articulista entende que seria bom que este tipo de ação pudesse ser aplicada no país inteiro, quebrar essa associação de empresários e políticos.

Na berlinda o transporte coletivo privado, sempre envolto em fraudes sucessivas, seja na contabilidade de custos e receitas ao discutir valor de passagem, seja no ‘por fora’ ao aprovar o preço fraudado. E o trabalhador que mora na periferia desembolsando o que não tem para conseguir o ir e voltar na sua jornada diária.

E a questão teria outro contorno se o transporte fosse público, e não privado como é.

Leia o artigo a seguir.

da Folha

Rio não estava sob domínio do PMDB, mas de Picciani e Sérgio Cabral

por Janio de Freitas

A recente investida contra parte da corrupção política no Rio é o primeiro caso, nas tantas operações da Lava Jato e similares, com efeito direto em benefício da maioria da população. A lamentar, a não extensão simultânea do benefício ao restante do país, vítima da mesma extorsão há dezenas de anos aplicada por associação de empresários e políticos. E nos novos fatos ainda há, também, algum efeito higiênico no processo eleitoral.

Os preços do transporte coletivo privado são, como regra geral, resultantes de fraudes sucessivas. As primeiras, na contabilidade de custos e receitas das empresas, para discussão de valores das passagens com o poder público. Depois, os encaminhamentos nos Executivos e Legislativos, estaduais e municipais, como norma são acertos do “por fora” que aprova o preço fraudado.

Com isso, nas passagens de ida e volta do trabalho, moradores da periferia-dormitório do Rio (mas não só) chegam a gastar meio salário mínimo por mês. E quatro e mais horas diárias no desconforto e exasperação.

Os donos de empresas de ônibus constituem um poder político. Influem muito, com seus apoios financeiros e logísticos, na composição de muitas Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores.

E mais até: podem ser decisivos na eleição de prefeitos e governadores, como foram em sua aliança com empreiteiros a força que fez de Moreira Franco um pretenso e abjeto governante fluminense. Com muitos casos escandalosos e muitos mais sem escândalo, os patronos e o patrocinado ganharam fortunas.

Até aqui, as investigações preferiram apurar os bens de Sérgio Cabral, e não a origem dos meios de adquiri-los. Agora é que, chamada de “máfia dos ônibus”, tal fonte de corrupção ganha destaque no dispositivo de Cabral.

Mas toda a carreira desse político insaciável teve cada passo alimentado pelo preço das passagens fraudulentas dos ônibus. A queda de Cabral abalou o sistema político do Estado do Rio, mas não tanto quanto a queda de Jorge Picciani esperada da sua devassa pela polícia.

O Estado e a cidade do Rio não estavam sob o domínio do PMDB, como dizem. O domínio era de Picciani e Cabral, passou a ser só do primeiro, e não se sabe o que virá. Haja sucessor ou não, mais do que a eleição de governador em 2018, a de presidente é que será atingida pela derrocada de Cabral e Picciani, detentores da única máquina eleitoral capaz de sobrepor-se à dos neoevangélicos no Estado.

Huck, Bolsonaro e outros foram também atingidos, nas suas tramas eleitorais, pela recente investida contra a corrupção política no Rio: a maior e mais negociável base eleitoral está em via de colapso. Mas os milhões de usuários de ônibus estão ganhando, e isso vale muito mais.

Para quem gosta de comparações com o exterior, em Nova York e demais grandes cidades dos Estados Unidos, como em Paris e nas grandes cidades europeias, o transporte urbano de massa não é poder político, nem autor de corrupção.

Lá, nesses países exemplares de capitalismo, tal transporte não é privado, é serviço público –bom e decente.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. Rio….

    Primeiramente, então onde está a mentira na fala do Ministro da Justiça? Um Estado que funciona a crimes e corrupção, em todas as Instâncias, sem o mínimo controle da Sociedade Civil, pode refletir alguma proteção à esta mesma Sociedade? E estou falando em todo Estado Brasileiro e não somente no RJ. As Empresas de Ônibus, primeira das “Lavanderias” para o Poder Público ( dinheiro todo dia, trocado, usado, em notas pequenas. sem receibo. Aos milhões). Quando se mexeu neste Poder Paralelo? 40 anos de Redemocracia, 30 de Constituição Cidadã, 1/4 de século de governos progressistas, quando se mexeu com este poder? Celso Daniel já não tinha explicado tudo isto? Onde está o Governo para o Povo, depois da Anistia dos longinquos 1979? Entendemos então o porque de Aplicativos para liberdade de locomoção através de carros privados em concorrência com táxis, incomoa tanto. Imagina então tentar colocar luz sobre Transportes Públicos de massa através de ônibus? Quem é e quem controla o verdadeiro Crime Organizado? O Brasil é muito simples, simplório mesmo. É unicelular. De muito fácil explicação. Mas o mais importante, o que tudo isto já alterou na vida da Sociedade Civil? Tarifas extorsivas tratadas entre criminosos dentro de Gabinetets do Governo. Onde concorrência? Onde melhoria de serviços? Onde Transporte muito, mas muito mais barato? Não somente no RJ, mas em todo o páis. Os preços são muito semelhantes. Se crime lá, então nos outros lugares os preços e tarifas são realistas? Em país tropical, sucatas que nunca tiveram ventilação nem ar condicionado. A explicação não é muito fácil?! 40 anos de Redemocracia, agora tais revelações? O que já mudou nas portas das nossas casas. Aí sim Democracia. O Brasil é de muito fácil explicação.   

    1. Vai feder mais … Parece,

      Vai feder mais … Parece, parece, que o ministro não mentiu.

      Pelo menos é o que se pode supor pelo trecho de uma entrevista, a Josias de Souza publicada dia 01/11:

      — Acha que o ministro exagerou? As declarações que você divulgou já eram desagradáveis. Mas quando o ministro revela a intenção de prosseguir, não dá para ficar calado. Há todo um esforço que vem sendo feito desde maio. A gente começou o trabalho. Verificou-se que de fato tinha vazamento mesmo. Foi sugerido à procuradora-geral Raquel Dodge a composição de uma força-tarefa para os policiais que estavam cometendo crimes federais: tráfico de armas e de drogas. Poderia até se chegar a essa vinculação entre política, policiais e bandidos. Aí vem o ministro e vaza tudo antes! O que o Brasil e o Rio de Janeiro ganham com isso? Nada!

      (https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2017/11/01/rodrigo-maia-torquato-prejudicou-investigacoes/)

       

  2. Nassif: no domínio da

    Nassif: no domínio da corrupção (e outras ilicitudes) o PMDB, no Rio e no resto do Brasil, não é APENAS. É TAMBÉM, em conluio com DEM/PPS + Detritos_Sólidos_no_Congresso.

  3. Os poderosos chefões

    Pois é, fala-se sempre em privatizar porque o serviço privado é melhor que o publico, menos corrupto, aquele tralala todo. Mas vai mexer no castelo de areia do transporte publico em todo o Brasil. Picciani é a faceta da mafia entre politicos e empresarios que nas coxias decidem tudo sobre as campanhas e depois os titeres lhes beijam as mãos. Eh interessante que o Ministério Publico paulista parece não muito interessado em mexes com os velhos barões corruptos do Estado.

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