A necessidade de se abordar a identidade na política

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Tema tem sido constantemente usado por populistas e, caso não seja abordado, pode fazer com que política fique impossível

Foto de Joakim Honkasalo na Unsplash

Existe a crença de que a onda populista vista em muitos países vai diminuir se houver uma distribuição justa de renda, mas os populistas mais furiosos têm calcado seu discurso na construção de uma identidade nativista.

E, a menos que o conflito de identidade onde o populismo prospera seja abordado de forma séria, a política pode se tornar tão desagradável que discutir temas como inovação, combate às mudanças climáticas e a melhora dos serviços públicos se tornará impossível.

Em artigo publicado no site Project Syndicate, o ex-ministro das Finanças do Chile Andrés Velasco e Daniel Brieba, pesquisador da Universidade de Londres, dizem que o choque de identidades que ameaça destruir muitas sociedades democráticas dificulta ainda mais o trabalho em torno do crescimento econômico impulsionado pela inovação e distribuição de renda.

“Pela sabedoria convencional, uma distribuição mais justa do rendimento é a melhor forma de desfigurar as políticas de identidade”, dizem os pesquisadores.

“Na verdade, o oposto é verdadeiro: a menos que abordemos frontalmente o conflito de identidade, a política irá se tornar tão desagradável e intratável que estimular a inovação e reduzir a desigualdade econômica, e muito menos melhorar os serviços públicos e conter as alterações climáticas, poderá se tornar impossível”.

Aproximação com o eleitor

Os pesquisadores dizem que uma parte da resposta ao desafio reside na escolha do candidato, uma vez que “líderes elitistas e distantes serão vistos dessa forma pelos eleitores”.

“A chave é transmitir uma mensagem fundamental aos eleitores: o governo está trabalhando para vocês, não para algum tipo de elite ou para amigos no establishment do partido”, diz o artigo.

Entre as políticas com esse potencial, está a renovação do seguro social – que ajuda quem precisa de socorro médico ou perde o emprego. Quando essas pessoas não são acolhidas, elas ficam céticas quanto aos políticos tradicionais e se tornam um voto potencial em populistas e demagogos.

Quanto ao emprego, uma sugestão é a chamada política “ativa” do mercado de trabalho, vigente na Escandinávia e que vem sendo adotada em outros países europeus. Essa política consiste em aumentar as hipóteses para que todas as pessoas (mesmo com pouca escolaridade) consigam um emprego digno por meio da reciclagem de competências, subsídios pró-emprego e ajuda na procura de emprego.

Um terceiro ponto abordado com frequência entre políticos populistas é o combate à imigração – mesmo que as comunidades mais abertas sejam mais produtivas e livres, o impacto econômico tem sido distribuído de forma desigual entre os trabalhadores.

Para evitar que os afetados pela mão-de-obra estrangeira não virem massa de manobra populista, a recomendação é que as políticas imigratórias sejam regulamentadas e façam sentido para a população em questão.

“Estas políticas transmitem ao eleitor médio que tem um governo com o qual se pode identificar – e que se identifica com ele. A menos que os eleitores recebam essa mensagem, serão suscetíveis ao populismo nativista e às políticas de identidade em que este prospera”, ressaltam Velasco e Brieba.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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